Possibilidade de percepção simultânea de subsídio de cargo eletivo de vereador e vencimento pelo exercício de cargo efetivo, emprego ou função pública
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1 RELATORA: CONSELHEIRA ADRIENE ANDRADE Possibilidade de percepção simultânea de subsídio de cargo eletivo de vereador e vencimento pelo exercício de cargo efetivo, emprego ou função pública DICOM TCEMG EMENTA: CONSULTA MUNICÍPIO VEREADOR NO ESTADO DE MINAS GERAIS SERVIDOR PÚBLICO EM ESTADO DIVERSO PERCEPÇÃO SIMULTÂNEA DE VENCIMENTOS E SUBSÍDIOS I. CARGO EFETIVO POSSIBILIDADE COMPATIBILIDADE DE HORÁRIOS RESIDÊNCIA FIXA NO MUNICÍPIO DA VEREÂNCIA II. CARGO COMISSIONADO IMPOSSIBILIDADE 1. É possível a percepção simultânea de subsídio de cargo eletivo de vereador em Município do Estado de Minas Gerais e de vencimentos de cargo público efetivo exercido em Estado diverso, desde que, por haver compatibilidade de horários e residência fixa no município da vereância, os cargos sejam acumuláveis. 2. É vedado, por ofensa ao princípio da moralidade, acumulação de cargo em comissão com exercício de mandato eletivo de vereador, ainda que em municípios ou estados distintos. RELATÓRIO Tratam os autos de consulta subscrita pelo Sr. Dilmar José Guimarães, então Presidente da Câmara Municipal de Barão do Monte Alto, por meio da qual formula a seguinte indagação: É admissível que um servidor público de outro Estado da Federação, eleito vereador no Estado de Minas, perceba simultaneamente os subsídios do cargo de vereador e os vencimentos do cargo público? Em 09/04/08, a consulta foi distribuída à minha relatoria, conforme despacho do Conselheiro Presidente a fls. 4-5, e, em 11/07/08, encaminhada ao Auditor Licurgo Mourão para emissão de parecer, com fulcro no inciso V do art. 27 da Lei Complementar n. 102/
2 Em 23/11/10, recebi os autos com o parecer a fls , em que o auditor opinou pela possibilidade de É o relatório, em síntese. acumulação do cargo de vereador com outro cargo, função ou emprego de outro Município, do Estado ou da União, desde que haja compatibilidade de horários e que não seja fixada residência fora do município onde exerce o mandato, nos termos do art. 7º, II, do Decreto-Lei n. 201/67. PRELIMINAR Preliminarmente, conheço da consulta porque presentes os requisitos de admissibilidade elencados no art. 212 do RITCEMG, o Presidente da Câmara Municipal tem legitimidade para formular consulta, a matéria examinada é de competência deste Tribunal e não versa sobre caso concreto. MÉRITO Acolhida a preliminar, passo ao exame do quesito formulado, para respondê-lo em tese. Conforme determina o art. 214 do RITCEMG, cumpre salientar que este tema já foi examinado, em parte, por este Tribunal, na Consulta autuada sob o n , de relatoria do Conselheiro em exercício Gilberto Diniz. Naquela oportunidade, o Tribunal Pleno adotou o entendimento de que o vereador não pode aceitar ou exercer, concomitantemente à vereança, cargo em comissão, mesmo que de secretário municipal, ainda que em município diverso daquele no qual foi eleito e que haja compatibilidade de horários. De acordo com o disposto no inciso XVI do art. 37 da Constituição da República, é vedada a acumulação remunerada de cargos, funções ou empregos, salvo as hipóteses previstas na própria Constituição, quando houver compatibilidade de horários e for respeitado o teto remuneratório. Entre as exceções arroladas pela CR/88, destaca-se a possibilidade de o servidor público exercer o mandato de vereador, nos termos do inciso III do art. 38, in verbis: Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: [...] III investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior. Todavia, para o exercício concomitante da vereança e de cargo, função ou emprego público, além da compatibilidade de horários, devem ser observadas as restrições impostas ao vereador por força do disposto no inciso IX do art. 29 da CR/88, nesses termos: Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: 150
3 IX proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da Assembleia Legislativa. O art. 54 da CR/88, por seu turno, dispõe o seguinte: Os Deputados e Senadores não poderão: I desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades constantes da alínea anterior; II desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades referidas no inciso I, a; c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, a; d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo. (grifo nosso). O questionamento do consulente diz respeito à possibilidade de um servidor público de outro estado da Federação, eleito vereador, perceber, simultaneamente, os vencimentos do cargo público e os subsídios do cargo eletivo, razão pela qual apenas a hipótese em que a ocupação do cargo público antecede o exercício do mandato eletivo será analisada nestes autos. Para o deslinde da questão, o primeiro ponto a ser examinado é a compatibilidade de horários. De acordo com o disposto no inciso III do art. 38 da CR/88, havendo compatibilidade de horários, o vereador perceberá a remuneração do cargo público e os subsídios do vereador. Se não houver compatibilidade, o vereador será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração. Revista TCEMG jan. fev. mar PARECERES E DECISÕES É importante destacar que, além da carga horária de cada atividade, o tempo gasto no deslocamento entre os dois municípios também deve ser considerado para aferição da compatibilidade de horários. Em seguida, será necessário verificar se as restrições previstas no art. 54 da CR/88 são aplicáveis ao caso. Nesse ponto, há que se distinguir a forma de investidura do servidor no cargo público, uma vez que a Constituição da República estabeleceu restrições distintas para os ocupantes de cargo efetivo e os ocupantes de cargo em comissão. Para os primeiros, a regra é menos rígida e admite-se a acumulação de cargos, desde que haja compatibilidade de horários. Os ensinamentos de José Nilo de Castro, 1 a seguir transcritos, confirmam esse entendimento: 1 CASTRO, José Nilo de. Direito Municipal Positivo. 6. ed. rev. e atual., Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p
4 Sendo servidor público (empossado em virtude de concurso público), nos termos do art. 38, item III, CF, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e não havendo compatibilidade, fará opção por uma das remunerações. A possibilidade de acumulação do cargo efetivo e do mandato eletivo, quando houver compatibilidade de horários, encontra-se pacificada nesta Corte, nos termos do parecer proferido na Consulta autuada sob n , de relatoria do Conselheiro Simão Pedro, em 25/08/99, in litteris: EMENTA: Vereador e servidor público. A percepção das duas remunerações só cabe no caso em que haja compatibilidade de horários para o exercício das duas funções; não havendo essa compatibilidade, necessidade de licenciar-se do cargo efetivo podendo optar pela sua remuneração. Já para os ocupantes de cargos de provimento em comissão, ainda que haja compatibilidade de horários, a CR/88 não permite a acumulação. Buscou-se, com tal proibição, preservar a autonomia e a independência dos Poderes Legislativo e Executivo, ante a transitoriedade dos cargos em comissão. Esse é o entendimento adotado por este Tribunal, conforme se extrai de trecho do parecer exarado pelo Conselheiro em exercício Gilberto Diniz na Consulta autuada sob o n , aprovada por unanimidade na Sessão de 23/04/2008, in verbis: Nesse contexto, isto é, quanto à acumulação de mandato com cargo exonerável ad nutum, o tratamento constitucional encontra-se regulado no art. 54, de observância obrigatória para a vereança nos termos do inciso IX do art. 29 da Carta Política. Verifica-se que as limitações funcionais previstas nas alíneas b, dos incisos I e II do sobredito art. 54, contidas nos verbos nucleares aceitar, exercer ou ocupar ampliam a regra geral da inacumulação de cargos, empregos ou funções públicas para os parlamentares, interditando-os desde a diplomação ou desde a posse. Assim, os senadores, deputados e vereadores não podem, desde a diplomação, aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad nutum, em pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, ou empresa concessionária de serviço público (art. 54, I, b); e, desde a posse, ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum naquelas mesmas entidades (art. 54, II, b), ressalvado o de Ministro, de Governador de Território, de Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária (art. 56, inciso I). Ressalta-se que, mesmo na hipótese do sobredito inciso I do art. 56, os parlamentares estarão sujeitos à restrição do 3º do mesmo dispositivo que lhes impõe a regra da inacumulação, facultando-lhes, todavia, a opção pela remuneração do mandato. O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, no julgamento da Apelação Cível n /001, de relatoria do Desembargador Fernando Botelho, assim deliberou sobre a possibilidade de acumulação da remuneração de cargo em comissão e do subsídio do mandato de vereador: ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. NULIDADE DA SENTENÇA. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. VEREADOR. CUMULAÇÃO DE REMUNERAÇÃO E SUBSÍDIO. CARGO EM COMISSÃO. VEDAÇÃO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA MORALIDADE. I À luz do art.131 do CPC, que consagra princípio da persuasão racional, o juiz é livre para julgar o processo, fundamentando sua decisão, de modo que, expressas na sentença as razões motivadoras 152
5 da convicção formada, não há falar em nulidade do decisum. Rejeitar a preliminar de nulidade da sentença. II Constitui ato de improbidade administrativa, pois violador dos princípios da legalidade e moralidade, ex vi do art.11 da Lei 8.429/92, a cumulação de remunerações advindas do exercício de cargo comissionado e de mandato eletivo de vereador. (grifo nosso). No tocante ao local de exercício das atividades, não obstante alguns autores, a exemplo de José de Nilo de Castro, de Hely Lopes Meirelles e do Auditor Licurgo Mourão, afirmarem que a impossibilidade de acumulação de cargo em comissão e mandato eletivo tem aplicação somente no município em que o vereador se elegeu, a meu ver, o impedimento alcança também outros municípios, uma vez que os membros do Poder Legislativo necessitam de independência para o exercício pleno da vereança. Convém destacar que tal matéria encontra-se pacificada no âmbito deste Tribunal, nos termos do voto do Conselheiro em Exercício Gilberto Diniz, nos autos da consulta acima citada, aprovado por unanimidade pelo Pleno, na Sessão do dia 23/04/08: Por imperioso, é necessário consignar, uma vez mais, que o acúmulo da vereança com o exercício de cargo ou emprego público comissionado impede a almejada neutralidade das funções legiferantes, maculando, reflexamente, a independência do Poder Legislativo, mácula essa que se agrava, substancialmente, se o acúmulo ocorrer em município distinto. É que a moralização da atividade pública reclama homens probos e comprometidos com interesses específicos da comunidade que os elegeu, não comportando a ocupação de posições que comprometam eticamente sua atuação. Os meandros da questão são tão sutis que exigem toda cautela possível. Como agiria, por exemplo, um vereador que porventura ocupasse cargo de confiança no município A, limítrofe do município B, no qual detém o mandato, se houvesse conflito de interesses entre essas duas cidades? Na primeira, ele é pessoa de confiança de quem administra os interesses dos munícipes; na outra, é representante do povo que lhe delegou poder para, em nome dele e para ele, legislar e fiscalizar. A meu juízo, no suposto caso, não é lícito a esse vereador escolher entre a defesa dos interesses nem de um, nem de outro município por razões de legitimidade e, principalmente, de moralidade, corolários do Estado Democrático que nos rege a todos. Para evitar situações de tal ordem é que a Lei Maior da República, sabiamente, impede o nefasto acúmulo. Revista TCEMG jan. fev. mar PARECERES E DECISÕES Por derradeiro, não se pode olvidar que o vereador, em todas as hipóteses, deve residir no município no qual foi eleito, por força do Decreto-Lei n. 201/67, que dispõe sobre a responsabilidade dos prefeitos e vereadores, in verbis: Art. 7º A Câmara poderá cassar o mandato de Vereador, quando: [...] II - Fixar residência fora do Município. Conclusão: Um servidor público de outro estado da Federação, ocupante de cargo efetivo, eleito vereador no Estado de Minas Gerais, pode perceber simultaneamente os subsídios do mandato eletivo e os vencimentos do cargo público, desde que haja compatibilidade de horários e que não seja fixada residência fora do município onde exerce o mandato. Para os ocupantes de cargos de provimento 153
6 em comissão, mesmo que haja compatibilidade de horários, a acumulação não é permitida, ainda que em município diverso daquele em que se elegeu. Assim, tenho por respondido o questionamento e, considerando que essa matéria foi parcialmente examinada no Processo n , determino que seja enviada ao consulente cópia das respectivas notas taquigráficas. É o parecer que submeto à consideração deste Colegiado. A consulta em epígrafe foi respondida pelo Tribunal Pleno na Sessão do dia 15/02/2012, presidida pelo Conselheiro Antônio Carlos Andrada; presentes o Conselheiro Eduardo Carone Costa, Conselheiro Wanderley Ávila, Conselheira Adriene Andrade, Conselheiro Sebastião Helvecio, Conselheiro Cláudio Terrão e Conselheiro Mauri Torres. Foi aprovado, por unanimidade, o parecer exarado pela relatora, Conselheira Adriene Andrade. 154
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