Uma cidade que passou de nível médio nacional, a médio europeu, fruto da coragem e determinação de quem tomou as decisões da época.

Transcrição

1 Senhor presidente da assembleia e restantes membros da mesa, Senhoras vereadoras, senhores vereadores, Senhoras e senhores deputados, Público aqui presente, Corria o segundo ano, da segunda década do século XXI quando a cidade de Guimarães, outrora capital de Portugal, recebeu o título de Capital Europeia da Cultura. Naquelas terras, viviam-se tempos de festejo do presente e esperança no futuro, enquanto se mostravam, a quem visitava, as salas de estar bem preservadas, de mais de 1000 anos de história. Era um contraste com o clima de crise que atravessava aquele país e aquele continente. Ao longo dos anos que tinham antecedido a comemoração, os políticos que dirigiram os destinos da cidade souberam sempre preservar e recuperar os edifícios: O castelo, a capela onde se diz ter sido batizado o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, o Paço dos Duques de Bragança. As marcas da indústria de couros bem no centro da cidade, as memórias individuais, as memórias colectivas. As tradições e sentimentos que transpiravam de todas as pedras do centro histórico Património da Humanidade. As histórias que nos eram contadas pelas marcas do passado, e as que eram pelos vimaranenses, símbolos maiores da cultura da cidade. Aqueles a quem os seus responsáveis dedicaram a atenção necessária para que estes sentissem sempre as melhores condições para viverem naquela terra. E foram, nessa época de vida díficil, capazes de construir infraestruturas que acolhessem outras apostas, do desporto à cultura, das memórias às artes, das tecnologias à produção do conhecimento. Regeneraram, também, Guimarães para receber o ano de festa. No momento de abrir as portas à celebração, os autarcas da cidade transformaram algumas das ruas e praças principais do centro da cidade, recuperaram alguns dos antigos tanques e fábricas de couros, e outros antigos espaços industriais abandonados. Criaram também alguns dos edifícios, ainda hoje icónicos, como a Plataforma das Artes, a Casa da Memória ou o Instituto de Design. Isto, apenas uns anos mais tarde de terem construído o Centro Cultural Vila Flor.

2 Mas aqueles dias eram mais do que memórias, obras ou edifícios. Foram tempos em que todos os vimaranenses se sentiam parte da festa. Pejados de um orgulho sem igual e de um prazer e saber receber, encheram as ruas de vimaranensidade e fizeram eles próprios a celebração. Com tudo o que tinham, e com um sentimento de pertença que tornaram a Capital Europeia da Cultura, num evento único. Logo para a cerimónia de abertura, o pavilhão multiusos foi engalanado para receber a festa a preceito. Os maiores dirigentes do país estavam presentes, bem como o presidente da Comissão Europeia. Com todos a quererem fazer parte, a lotação esgotou bem cedo. E a festa foi apaixonante! Idealizado por vimaranenses, contou com o que de bom já havia em Guimarães, como um dos maiores artistas musicais da terra, Manuel d Oliveira, ou o rufar do toque Nicolino. Misturou também artistas conceituados, como Cristina Branco e Rao Kyao, como cidade que sabia receber. Acrescentou-lhe as mais valias trazidas pelo evento e apresentou a Orquestra Estúdio e o grupo Outra Voz. E como estavamos no berço da língua que unia um país mas também outras culturas, celebrou-se o Português, com o sotaque transatlântico de Chico César. Mas foi de lágrimas de emoção e sentido de pertença que aqueles momentos mais marcaram todos os que lá estiveram presentes. O palco contou com mais gentes da terra do que artistas de renome. Das bailarinas do grupo de dança às vozes do grupo outra voz, juntaramse idosos e crianças, analfabetos e doutores, num palco em forma de um coração, pequeno para tanto amor que os de Guimarães sentiam pela sua cidade. A festa continuou no renovado largo do Toural e seguiu pela noite dentro. Com um cavalo e um homem gigantes como figuras principais do grupo catalão La Fura dels baús, foi da banda filarmónica de Pevidém, de Nicolinos com caixas e bombos e de pessoas a assistir in loco, que se fez a festa. Um espetáculo digno dos maiores eventos internacionais, com a multimédia, a música e o teatro a misturarem-se com a cultura vimaranense, a história da cidade e a visão sobre o futuro, bem de frente para a muralha que assinalava o local onde nasceu Portugal.

3 Era a abertura de um momento marcante para a cidade, mas também de uma noite que só terminaria no dia seguinte. Milhares de pessoas invadiram as casas de cultura, os bares e as ruas. Conta-se, que à data, que se registaram celebrações em mais de 140 espaços informais, num total de 120 mil pessoas. Analisando os dados demográficos do concelho em 2012, estiveram nas praças e artérias da cidade quase tantos, quantos os habitantes de todo o concelho. Só durante a semana que se seguiu, registaram-se mais 15 eventos, com lotações a rondar os 80%, e alguns deles esgotados, incluindo a estreia de um filme realizado por um cineasta vimaranense. Guimarães era notícia em todos os pontos da europa. A EFE, France Press e Associated Press, o El Mundo, o El Pais, todos os órgãos de comunicação nacionais de referencia com especiais, capas e directos da cidade, contaram a história dos primeiros dias da Capital Europeia da Cultura. A estes números juntavam-se ainda uns impressionantes 200 voluntários na ajuda aos eventos, e a disponibilização de mais de 30 casas no centro da cidade, para a realização de espetáculos. Com o nome Mi casa es tu casa, dificilmente haveria slogan mais distintivo do que este para demonstrar o que se sentia entre os vimaranenses. E foi sobre esta égide, que um dos eventos mais marcantes da primeira semana, juntou artistas nacionais e elementos de orquestra a tocar em casa das pessoas. Das canções dos músicos, aos clássicos históricos, até ao hino da cidade. A esta primeira semana juntaram-se ainda um conjunto de eventos ao longo de todo o ano, que misturaram os nomes internacionais, com as associações do concelho e as escolas, as estrelas das diferentes artes com os produtores de cultura nacionais e vimaranenses. Aquele foi um ano de festa em Guimarães. Mas foi também o ponto de partida que faz daquela cidade ainda hoje, um polo de produção cultural, uma referência na transformação das industrias tradicionais através de elementos renovados, um destino apelativo para artistas, mas também turistas.

4 Uma cidade que passou de nível médio nacional, a médio europeu, fruto da coragem e determinação de quem tomou as decisões da época. Numa Europa a atravessar, naquela altura, uma crise profunda, e com repetidas políticas falhadas dos decisores centrais, partiu de Guimarães o exemplo de como uma aposta idealizada ao longo dos anos, se pode transformar num catalizador para a mudança e a recuperação. Como os investimentos em áreas específicas podiam renovar o tecido produtivo. Como a regeneração urbana cativava a população. Como a criação das condições ideias, fazia fomentar ideias e projectos. Senhoras e senhores deputados, O texto que acabo de vos ler, será em tudo semelhante ao que daqui a muitos anos será escrito por quem fizer a história da cidade, e do país, ao contar o que por cá se passava no ano de Contará a história do ano em que Guimarães foi Capital Europeia da Cultura. Fará o preâmbulo da aposta cultural que se fazia na cidade nos anos anteriores, e mostrará o trabalho feito na reconversão da cidade, no período que precedeu o evento. Explicará o que aconteceu ao Toural e à Alameda, ao monte latito e à zona de Couros. De onde apareceu a Plataforma das Artes e a Casa da Memória. Mostrará como a Universidade do Minho ganhou importância no dia-adia dos vimaranenses. Garantirá que se compreende que o fenómeno da produção cultural, e da projecção de Guimarães como polo de industrias criativas não veio do nada. Mostrará que foram vimaranenses que fizeram a festa. Que abriram as suas casas. Que foram portugueses que ajudaram a completa-la. E encheram bares e cafés de concertos. E que artistas internacionais deram também o seu brilho, nos palcos e galerias da cidade.

5 Que a tradição da calçada da rua nova, se misturou com os passeios da Av. D. Afonso Henriques e aos artistas que lá passavam. Falará do nome do presidente da Câmara, do vereador que concretizou as obras e reconverteu a cidade, da vereadora que esboçou a Capital da Cultura e a desenvolveu ou do senhor responsável que tornou o CCVF num marco da cultura nacional. Do professor das caldas da rainha que envolveu as gentes de Guimarães, do cineasta, do encenador, do pintor e do guitarrista da terra, e todos aqueles que apareceram depois. Mas também do professor e do analfabeto que cantaram juntos num projecto da CEC, a uma voz, e passaram a cantar também no Centro de Cultural de Belém a partir daí. No grupo folclórico que dançou com projeções de cinema e dj s. Daqueles que vieram e que já não saíram de cá. Do senhor vimaranense dos preguinhos às tantas da madrugada, que juntava noctívagos e estrelas da cultura nacional à volta da mesma mesa. Da senhora vimaranense que cozinhava tão bem, e injuriava os que se sentavam à sua mesa, mas também daqueles que lá iam à procura das melhores expressões. É uma história que se está a fazer, e se vai contar dos que fizeram a festa, dos que a ela assistiram, dos que eram artistas e dos que passaram a ser, dos que abriram as portas das suas casas, dos que tomaram decisões, dos que mudaram o concelho e dos que souberam acreditar. Daqueles que colocaram Guimarães à frente dos seus interesses, que mantiveram sempre a mesma confiança na aposta que escolheram, e no sucesso do evento, mesmo antes deste chegar. Que lideraram as decisões dificeis no processo e lá chegaram orgulhosos do sucesso. Sem dúvidas quanto à necessidade dos investimentos, ou à seriedade com que os mesmos eram feitos. Ou desvios de posicionamento ora no apoio, ora na maldicência. A história de 2012 em Guimarães vai-se contar assim. E nós temos o previlégio de estarmos a vivê-la.