5ª Comissão Disciplinar Processo Nº. 107/2017 Denunciados: Auditor Relator: Eduardo Affonso Mello I- Relatório

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1 5ª Comissão Disciplinar Processo Nº. 107/2017 Denunciados: José Carlos Ferreira Filho, Rosimar Amancio (Bill), Clube de Regatas Brasil, América Futebol Clube/MG Auditor Relator: Eduardo Affonso Mello I- Relatório Trata-se de denúncia oferecida pela D. Procuradoria da Justiça Desportiva contra: a) os atletas, José Carlos Ferreira Filho do CRB e Rosimar Amancio do América/MG por infração aos artigos 258 e 254-A do CBJD. b) os clubes, CRB e América/MG por infração ao artigo 258-D do CBJD. Em relação aos atletas, aduz a douta Procuradoria que ambos receberam o cartão vermelho direto após trocarem empurrões em decorrência da marcação de uma falta. Dessa forma, estariam incursos nas sanções do artigo 258. A denúncia traz ainda que após a expulsão os atletas saíram por lados diferentes do campo, porém, seguiram em direção um do outro e começaram a se agredir em frente a torcida do mandante. Tal fato causou paralização de 4 minutos no jogo. Argumenta a procuradoria que o ato dos jogadores poderia causar uma tragédia, tendo em vista o risco de invasão de campo por parte da torcida. Por fim, afirma que a atitude de ambos foi vergonhosa, irresponsável e inconsequente, um péssimo exemplo e desrespeito a todos. Dessa forma, pede a condenação dos atletas nas penas do art A.

2 Já em relação aos clubes, argumenta que por não terem esboçado qualquer reprimenda aos atletas, esses merecem ser condenados pelo art. 258-D, considerando que esses nada fizeram para combater a violência dos seus atletas. A Procuradoria pediu, ainda, a suspensão preventiva dos atletas. O pedido foi atendido pelo Presidente desta Corte, em decisão de fls. 11/12 de 08/08/17. Na sessão de julgamento a Procuradoria apresentou prova de vídeo da expulsão dos atletas e da briga fora de campo, e, por fim, reforçou os pedidos da denúncia. A defesa do atleta José Carlos e do CRB, salientou que os atletas estavam presentes à sessão de julgamento e que se cumprimentaram na chegada ao Tribunal, afirmando assim que o fato não passou de um desentendimento de jogo. Afirmou ainda que o ocorreu é coisa de futebol, e nunca deixará de acontecer. Em prova de vídeo, corroborou a afirmação de que os atletas não se cruzaram fora de campo por vontade própria, mas sim porque o funcionário que conduzia o atleta Rosimar Amâncio (Bill) para o exame antidoping o levou em direção ao túnel em que se encontrava o atleta José Carlos. Alegou ainda, que a agressão física não ocorreu, mas sim sua forma tentada. Afirmou que não é possível perceber nas provas apresentadas que os atletas acertaram os golpes deferidos. Dessa forma, pediu que em caso de condenação se aplicasse o 1º do art. 157 do CBJD. Em relação ao clube pediu a absolvição por absoluta impossibilidade de se aplicar o artigo 258-D, diante da inexistência de solidariedade do Clube nos atos do seu atleta. Por sua vez, a defesa do atleta Rosimar Amancio (Bil), alegou que outras pessoas contribuíram para o fato ocorrido. Em primeiro lugar, o árbitro, que não deveria ter expulsado os atletas de forma direta, sendo que o caso era no máximo de cartão amarelo. Em segundo lugar, a ausência de escolta

3 na saída dos atletas. E por fim, o funcionário que conduziu o atleta para o antidoping pela mesma saída onde se encontrava o atleta Zé Carlos. Traz ainda que o fato se deu no calor da partida, por mera animosidade, e que o cumprimento dos atletas e as desculpas trocadas por eles demonstram que não restou qualquer rancor pelo fato ocorrido. Aduziu ainda, que a briga não eleva o ânimo da torcida, e que não trouxe qualquer risco de confusão generalizada. Por fim, na mesma direção da defesa do outro atleta, argumentou que não houve agressão física, mas sim a mera tentativa. Em relação ao clube, disse que esse não pode ser responsabilizado pelos atos do seu atleta, pediu assim a absolvição. Ressalto que, embora presentes, os atletas não prestaram depoimento. É o relatório. II- Voto Inicio tratando da denúncia em relação aos clubes, CRB e América/MG. Nessa parte concordo com as defesas apresentadas. Não há responsabilidade solidária dos clubes pelos atos de seus jogadores. Além disso, nada fala o dispositivo exposto que os clubes devem reprimir ou censurar seus jogadores publicamente. Dessa forma, absolvo os Clubes das penas do artigo 258-D do CBJD. Já em relação aos atletas, estamos de frente a algo que não se espera ver em uma partida de futebol. Incialmente, em relação à expulsão, não tiro a razão do árbitro para expulsá-los de maneira direta. É possível ver no vídeo que os atletas não

4 estavam no lance da falta marcada pelo árbitro, sequer estavam próximos, mas ao chegarem no local do lance trocaram palavras e empurrões, quase causando uma confusão generalizada. Sendo assim, a expulsão não foi exagerada. Há apenas que se fazer incidir o artigo correto ao fato. O artigo 250 do CBJD é mais específico ao tratar dos empurrões do que o art Dessa forma, condeno os dois atletas a pena de 1(uma) partida de suspensão por força do art. 250 do CBJD. Em relação à briga já fora de campo, entendo que é necessária uma condenação mais severa. Para elucidar o fato, farei uma breve narrativa do que pude perceber nos vídeos apresentados. Após a expulsão, já contidos por seus companheiros, os atletas saíram do campo em direções opostas. Porém, o funcionário que acompanhava o atleta Bill para o exame antidoping, seja por descuido ou por ser aquela a saída adequada, levou o atleta até a saída em que estava parado o atleta Zé Carlos. Ao se cruzarem, os dois trocaram novas ofensas, novo empurrão e começaram uma briga intensa. Se observa que os policiais ou seguranças ali presentes, que aparentavam força considerável, não foram capazes de segurar os denunciados, sendo que um desses policias, inclusive, foi ao chão diante da força usada pelos atletas. Fez-se necessária a entrada do batalhão de choque para conter a confusão. Por fim, há que se reparar nas reações da torcida do CRB, que comemoravam, gritavam e apoiavam a briga, como se fosse aquele um evento de MMA. Após meu breve relato, passo a motivar meu voto. Diferentemente do que arguiu a defesa do jogador Zé Carlos, entendo que isso não é do futebol, mas sim uma selvageria que deveria ser abolida de qualquer esporte.

5 Concordo que os dois não se cruzaram novamente por vontade própria, porém isto não é motivo para iniciar uma verdadeira luta. Foram dados chutes, socos, puxões, empurrões. Se os golpes não acertaram em cheio, não foi por falta de vontade dos denunciados, mas por tentativa de contenção dos dois policiais ou seguranças ali presentes. Portanto, não há como se considerar as tentativas de agressões físicas, tendo em vista que estas aconteceram sim, apenas não causaram lesões corporais aos envolvidos. A violência com que agiram foi tanta que o batalhão de choque da Polícia Militar chegou ao local batendo os bastões ou cassetetes nos escudos, como se vê nos recentes tumultos públicos noticiados no nosso país. Temos que considerar, que esses atletas se tornam exemplo para sociedade, e um campeonato brasileiro de série B entre dois clubes de massa, é bastante visualizado. O que se passa na cabeça de uma criança que presencia aquele ato praticado pelos seus ídolos? Com certeza isso influencia em suas ações, bem como nas dos adultos também. Há que se reparar que abriga inflamou a torcida, e que, por sorte, por haver apenas torcedores do CRB naquela área não houve maiores consequências. Também precisamos considerar que a briga causou longa paralisação do jogo, cerca de 4 ou 5 minutos, ou seja, um grande prejuízo ao espetáculo. Aquele foi um verdadeiro ato de selvageria, de dois jogadores, homens experientes, e que sabem que suas atitudes se tornam exemplos. Não podemos aturar este tipo de fato que só tira a beleza do entretenimento que é o futebol. Considero ainda que não há que se individualizar as condutas e consequentemente as penas. Não há como perceber quem deu início à

6 confusão, apenas que os dois contribuíram de forma idêntica para a confusão. Dessa forma, voto por condenar os atletas nas sanções do art A, à pena de suspensão de 8 (oito) jogos. Totalizando 9 (nove) jogos, somado aquele aplicado por infração ao ar. 250 O Auditor José Nascimento acompanhou integralmente o voto do relator, aduzindo que se o direito penal tivesse a efetividade do direito desportivo, não veríamos a quantidade de crimes que vemos nas ruas. Por sua vez, o Auditor Maurício Neves, salientou que essa briga não pode ser tida como normal, e que o futebol é uma atividade privada mas o reflexo do que ocorre é público. Assim sendo, acompanhou integralmente o voto. Já o Auditor Flavio Boson salientou que o cumprimento entre os atletas não encerra a tipicidade do fato. Também acompanhou o voto. Ao final, o Auditor Presidente Rodrigo Raposo, arguiu que o ocorrido demonstrou que naquele momento os atletas perderam qualquer senso de sociedade, e que se deve considerar a intenção de brigar dos dois. Afirmou ainda que por motivos como esse famílias deixam de ir aos estádios, e pais deixam de levar seus filhos aos jogos. Por fim, levando em consideração partida a ser realizada no dia da sessão de julgamento (18/08), e para título de contagem de pena, fica esclarecido que a liminar que decretou a suspensão preventiva vigora até o dia 19/08, e que a partir daí passa a produzir efeitos a decisão proferida nessa sessão, na forma do art. 133 do CBJD. Aplica-se ainda a detração da penas já cumprida, nos termos do art. 105 do CBJD

7 IV Dispositivo Diante de todo o exposto, decide-se por: a) por unanimidade de votos, absolver o CRB e o América/MG das penas do art. 258-D do CBJD; b) por unanimidade de votos, condenar os atletas José Carlos Ferreira Filho e Rosimar Amancio como incursos nas sanções do art. 250, face à desclassificação do art. 258, ambos do CBJD, a 1(uma) uma partida de suspensão; c) por unanimidade de votos, condenar os atletas José Carlos Ferreira Filho e Rosimar Amancio a 8 (oito) jogos de suspensão, por contrariarem o art. 254-A do CBJD. Brasília, 28 de agosto de Eduardo Affonso De S. M. de F. Mello Auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol