RELATÓRIO. 1º Denunciado

Transcrição

1 Processo: 127/2017 Órgão Julgador: 2ª COMISSÃO DISCIPLINAR Auditor Relator: MARCELO VIEIRA PAULO Denunciante: Procuradoria de Justiça Desportiva Denunciados: VINICIUS DOS SANTOS DA CUNHA, atleta do MOTO CLUB DE SÃO LUIS, incurso no art. 258, do CBJD, e BOTAFOGO F.C. (PB), incurso no art. 211, do CBJD Evento: partida realizada em 13 de agosto de 2017, entre Botafogo F.C. (PB) X Moto Club de São Luis (MA), pelo Campeonato Brasileiro Série C, profissional. RELATÓRIO 1º Denunciado Trata-se de denúncia formulada contra VINICIUS DOS SANTOS DA CUNHA, atleta do MOTO CLUB DE SÃO LUIS, incurso no art. 258, do CBJD. Narra a denúncia, em vista do que consta na Súmula da partida, que o 1º Denunciado levou cartão vermelho direto, sendo expulso de campo de jogo, nos acréscimos do segundo tempo, com a bola fora de jogo, em decorrência de ter ido em direção ao gandula e o empurrado, após o mesmo ter jogado a bola para reinício do jogo. Súmula e denúncia não apresentam mais elementos sobre o fato. O 1º Denunciado não possui antecedentes. Foi apresentada defesa escrita pelo MOTO CLUB DE SÃO LUIS, alegando, em apertada síntese, que o jogo estava 3 x 2 para o Botafogo, quando a luz do estádio se apagou, causando a interrupção do jogo, em momento em que sua equipe exercia forte pressão sobre a adversária.

2 Que com o recomeço do jogo, 16 minutos depois, os gandulas passaram a retardar a devolução das bolas para as cobranças de laterais, em atitude antidesportiva, não coibida pelo árbitro da partida. No lance em questão, aduz que não houve empurrão; que o atleta apenas reclamou com o gandula, que estava segurando a bola propositalmente. Por fim, ante a negativa do fato, pugna pela absolvição do atleta, ou, em caso de condenação, que seja aplicada a pena mínima, de suspensão por uma partida, substituída pela advertência. 2º Denunciado Trata-se de denúncia formulada contra BOTAFOGO F.C. (PB), incurso no art. 211, do CBJD. Narra a denúncia, em vista do que consta na Súmula da partida, que aos 42 minutos do segundo tempo houve uma queda de energia. Que após 16 minutos de interrupção, as condições normais foram restabelecidas e a partida pode prosseguir. Súmula e Denúncia não trazem mais detalhes do ocorrido. O 2º Denunciado possui antecedentes, conforme ficha disciplinar de fls. 7/9. O nobre patrono do 2º Denunciado requereu o adiamento do julgamento, a fim de que pudesse apresentar informações prestadas pela Concessionária de Serviço Público fornecedora de energia, com o intuito de fazer prova de que o apagão teria ocorrido em razão de falha na prestação do serviço da Concessionária. Em sua defesa, afirmou que o fato se deu por falha na prestação de serviços da Concessionária de Serviço Público, que deixou de fornecer a energia elétrica durante a partida, o que constituiria fortuito externo, apto a afastar a responsabilidade do clube mandante. É o relatório.

3 VOTO 1º Denunciado Como bem salientado na denúncia, os gandulas muitas vezes são atletas de base, que se espelham nos atletas profissionais que observam em campo e fora dele. A atitude do Denunciado, tal como narrada, se mostra violenta, desarrazoada e desproporcional, com potencial de causar danos físicos e psicológicos no agredido. Não obstante os argumentos apresentados, a defesa não trouxe provas que afastasse a presunção de veracidade da Súmula. Assim sendo, entendo que a conduta do Denunciado se amolda ao tipo previsto no art. 258, do CBJD, não havendo como deixar de acolher a denúncia e condenar o Denunciado. Em que pese a conduta ser de razoável gravidade, há que se considerar a imaculada ficha do Denunciado, de modo que a ele deve ser imposta a pena mínima, mas sem a substituição pela advertência. Isto posto, em relação ao 1º Denunciado, considerando o fato e sua ficha disciplinar, voto no sentido de julgar procedente a denúncia, condenando-o à pena de suspensão por uma partida, na forma do art. 258, do CBJD. 2º Denunciado Não obstante os princípios da garantia ampla defesa e contraditório, e da busca da verdade real, o pedido de adiamento do julgamento não merece acolhida. Isto porque o 2º Denunciado não trouxe a menor prova de que sequer tenha solicitado informações à Concessionária. A partida ocorreu no dia 13 de agosto, tempo suficiente para, ao menos, encaminhar um ofício ou comunicado à Concessionária, cobrando explicações sobre a queda de energia.

4 Assim, como não há nenhum documento ou argumento que justifique o adiamento do julgamento, o pedido merece ser indeferido. Pois bem. Narra a súmula que a partida ficou interrompida por 16 minutos, a partir dos 42 minutos do segundo tempo, por conta de falta de energia. Em sua defesa, sem apresentação de provas, o Clube alega que a queda de energia se deu por falha na prestação de serviços da Concessionária de Serviço Público, o que, segundo a defesa, seria caracterizado fortuito externo, afastando sua responsabilidade. Com o devido respeito, esta Comissão não tem este entendimento. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva é voltado não apenas para o futebol, mas para outras diversas modalidades de esporte, praticadas em arenas, estádios, ao ar livre, em locais fechados, durante o dia ou durante a noite. Se a iluminação artificial é necessária para a realização do evento esportivo, é dever do mandante providenciar para que ela funcione a contento, e de forma ininterrupta. Ainda que se considere a falha da Concessionária fornecedora de energia, esta falha não pode ser um excludente de responsabilidade absoluto. Ora, tais falhas não são tão raras assim. Basta observar a quantidade de processos que são julgados pelo mesmo motivo. Ou seja, é um fato previsível. Sendo a queda de energia um fato previsível, e sendo dever do clube mandante manter o local que tenha indicado para realização do evento com a infraestrutura necessária a garantir sua realização, responde ele não pela falha da Concessionária, mas por ter permitido que a falha da Concessionária (repita-se, previsível) prejudicasse o normal andamento do evento. Há, na verdade, em casos que são comprovadas a falha da Concessionária, uma concorrência de causas: a Concessionária falha no fornecimento da energia, e o clube falha em não adotar medidas para suprir a deficiência da Concessionária.

5 A concorrência de causas, quando comprovada, serve para aquilatar a pena a ser aplicada. Ademais, e precioso ter sempre em vista que o futebol é hoje um grande espetáculo, que envolve cifras astronômicas em todas as suas divisões profissionais, investidas pelos patrocinadores. Contratos de publicidade, grades de televisão... vários fatores envolvidos que não podem ficar reféns de simples queda de energia, sob pena de não se chegar nunca a um nível de profissionalismo razoável. No caso em tela, não obstante o Almeidão ser um estádio dos mais importantes do Brasil, de propriedade do Governo do Estado da Paraíba, é dever do clube mandante tomar as medidas cabíveis para manter o local de jogo com plenas condições para realização da partida. Caberia ao clube comprovar que o ocorrido se deu por fato de terceiro ou qualquer outro fato excludente ou que reduzisse sua responsabilidade. Não o fez. Assim sendo, à falta de outros elementos, resta claro que o 2º Denunciado não manteve o local de jogo com infra-estrutura necessária para realização da partida, razão pela qual a denúncia fundada no Art. 211, do CBJD, merece ser. Assim sendo, acolho a denúncia, para condenar o 2º Denunciado na pena pecuniária que fixo em R$2.000,00, com prazo de 07 (sete) dias para pagamento, na forma do Art. 211, do CBJD. Rio de Janeiro, 22 de agosto de Marcelo Vieira Paulo - Auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva