CLUBE ATLÉTICO MINEIRO (MG) X FLUMINENSE FOOTBALL CLUB (RJ)

Transcrição

1 Processo nº 119/2017 Jogo: CLUBE ATLÉTICO MINEIRO (MG) X FLUMINENSE FOOTBALL CLUB (RJ) categoria amadora, realizado em 02 de agosto de 2017 Campeonato Brasileiro Sub 20 Denunciante: PROCURADORIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA DO FUTEBOL Denunciado: JOSÉ MARCOS COSTA MARTINS, atleta do Clube Atlético Mineiro, incurso no art. 243-F do CBJD Relator: AUDITOR VANDERSON MAÇULLO DENÚNCIA. CAMPEONATO BRASILEIRO SUB-20. ATLÉTICO-MG 1 X 2 FLUMINENSE. ESTÁDIO SENADOR ZEZÉ PERRELLA, NOVA SERRANA-MG. MEIA-ATACANTE DO ATLÉTICO-MG. EXPULSÃO COM CARTÃO VERMELHO DIRETO APÓS O TÉRMINO DA PARTIDA. "VOCÊ É MUITO RUIM, LADRÃO, FILHO DA PUTA" DIRECIONADO AO ÁRBITRO. INCURSÃO NO ART. 243-F DO CBJD. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O ART. 258, 2º, INCISO II DO CBJD. ATLETA COM 17 (DEZESSETE) ANOS DE IDADE. DESABAFO EM FORMA DE RECLAMAÇÃO DESRESPEITOSA À ARBITRAGEM. CIRCUNSTÂNCIAS DO JOGO. EQUIPE VISITANTE QUE FEZ OS DOIS GOLS NO SEGUNDO TEMPO, VIRANDO O PLACAR DA PARTIDA E CONQUISTANDO A VITÓRIA NA CASA DO ADVERSÁRIO. PEQUENA GRAVIDADE DA INFRAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE ANTECEDENTES DESPORTIVOS DO INFRATOR. INFRATOR MENOR

2 DE DEZOITO ANOS NA DATA DA INFRAÇÃO. NÃO TER O INFRATOR SOFRIDO QUALQUER PUNIÇÃO NOS DOZE MESES ANTERIORES À DATA DO JULGAMENTO. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES. CONDENAÇÃO DO DENUNCIADO À PENA DE 01 (UMA) PARTIDA DE SUSPENSÃO. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos do processo em referência, em que constam como partes as acima indicadas, acordam os Auditores que integram a Terceira Comissão Disciplinar deste Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol, por maioria de votos, suspender por 01 (uma) partida, Jose Marcos Costa Martins, atleta do Clube Atlético Mineiro, por infração ao art. 258, 2º, inciso II, face a desclassificação do art. 243-F, ambos do CBJD, contra os votos do Auditor Dr. Otacílio Araújo que suspendia por 02 (duas) partidas e Dr. Jurandir Ramos de Sousa, que mantinha o art. 243-F do CBJD e suspendia o atleta por 04 (quatro) partidas e multa de R$ 1.000,00 (um mil reais). R E L A T Ó R I O Cuida-se de denúncia ofertada pela Procuradoria da Justiça Desportiva do Futebol, por intermédio do Sub-Procurador-Geral Glauber Navega Guadelupe, que tem assento nesta colenda 3ª (Terceira) Comissão Disciplinar deste e. Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol, em face de JOSÉ MARCOS COSTA MARTINS, atleta do Clube Atlético Mineiro, incurso no art. 243-F do CBJD.

3 Na súmula da partida, o árbitro Jerferson Antônio da Costa (CD / MG) informou os motivos que motivaram a denúncia contra o atleta. No campo cartões vermelhos da súmula, descreve o árbitro que expulsou, com cartão vermelho direto, referido jogador por após o término da partida, dirigiu-se ao árbitro em contestação às decisões tomadas durante a partida, ao aproximar-se desferiu os seguintes dizeres: "você é muito ruim, ladrão, filho da puta", de imediato o atleta foi expulso e contido por sua equipe. Confira-se o relato do árbitro (fl. 9): O denunciado foi incurso no art. 243-F do CBJD, por ofender alguém em sua honra, por fato relacionado diretamente ao desporto. Mencionado artigo, no seu parágrafo 1º, prevê suspensão mínima de 04 (quatro) a 06 (seis) partidas, se for praticada por atleta contra árbitros. O atleta denunciado é primário (fl. 4), nunca tendo passado por este Superior Tribunal. Em sustentação oral, o douto Procurador Cláudio Mariano Peixoto Dias, desta colenda 3ª (Terceira) Comissão Disciplinar, manteve na integralidade os termos da denúncia e requereu a condenação do denunciado nas iras do art. 243-F do CBJD.

4 Brito. Funcionou na defesa técnica oral do denunciado, o Doutor Renato Não houve apresentação de qualquer prova pela defesa técnica. É o relatório. V O T O Nos termos do art. 58 do CBJD, a súmula da partida goza de presunção relativa de veracidade. Presunção esta que somente pode ser ilidida mediante idônea prova contrária. Em que pese a defesa técnica oral ter tentado desconstituir os fatos narrados na denúncia, a ausência de produção de uma prova mínima a corroborar as alegações defensivas tornaram os fatos incontroversos. Isto porque "fato alegado e não provado é o mesmo que fato inexistente". (Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, Forense, 1999, 26ª ed., v. 1, p. 423). Consoante o artigo 65 do CBJD, outros meios de prova são admitidos podendo assim impedir, extinguir ou modificar a verossimilhança do que fora disposto no documento oficial da partida. Provas fotográficas, fonográficas, cinematográficas, de vídeo tape e as imagens fixadas por qualquer meio ou processo eletrônico são os exemplos. Ou mesmo as provas testemunhais. Destaque-se que o denunciado, natural de Cajari, Maranhão, é

5 meia-atacante da equipe do Clube Atlético Mineiro. Embora já seja titular da equipe sub-20 do Clube Atlético Mineiro, possui apenas 17 (dezessete) anos de idade (nascido em ). Em junho do corrente, o denunciado foi titular e um dos destaques da equipe que conquistou a Copa do Brasil Sub-20 de 2017 pelo Clube Atlético Mineiro. Sobre a conduta praticada pelo denunciado, os impropérios pronunciados "você é muito ruim", "ladrão", "filho da puta" soam a este Relator muito mais como um desabafo, em forma de uma reclamação desrespeitosa de um menino de 17 (dezessete) anos à arbitragem ao término de uma partida, de cabeça quente por ter pedido, em casa, a partida para o Fluminense Football Club por 1x2, com os dois gols do visitante e a consequente virada do placar ocorrendo no segundo tempo (o primeiro tempo se encerrou com 1x0 favorável ao Clube Atlético Mineiro), do que o ânimo de ofender diretamente a honra do árbitro. O tipo infracional do art. 243-F do CBJD exige o dolo específico, isto é, o intuito de ofender a honra alheia (animus injuriandi ou inffamandi). A respeito disso, entende este Relator com norteamento que a narração de fatos, ou mesmo a elaboração de críticas descaracterizam o ilícito desportivo, mormente ao tipo infracional específico que tutela a honra do árbitro. O fundamento para tanto advém da ausência do dolo específico, uma vez que o sujeito ativo da infração desportiva não visa afetar a honra alheia, mas tecer apontamentos sobre o tema discutido. Saliente-se que, a princípio, esta também foi a percepção do próprio árbitro Jerferson Antônio da Costa, que em nenhum momento redigiu na súmula qualquer menção a uma "ofensa" recebida e praticada pelo atleta do Clube Atlético

6 Mineiro, tal como este Relator já presenciou na confecção de outras súmulas por árbitros diversos. Ao revés, o próprio árbitro descreveu na súmula sua percepção de que o atleta denunciado "dirigiu-se ao árbitro em contestação às decisões tomadas durante a partida" (grifou-se). Decerto, à toda evidência, cuida-se a conduta perpetrada pelo denunciado do tipo infracional disposto no art. 258, 2º, inciso II do CBJD: "Art (...) 2º Constituem exemplos de atitudes contrárias à disciplina ou à ética desportiva, para os fins deste artigo, sem prejuízo de outros: (...) II - desrespeitar os membros da equipe de arbitragem, ou reclamar desrespeitosamente contra suas decisões." (grifou-se) Dessa forma, imperiosa se faz a desclassificação da imputação no art. 243-F do CBJD para o art. 258, 2º, inciso II do CBJD, que melhor se amolda aos fatos narrados na súmula e às circunstâncias fáticas do caso. Passo à dosimetria. Na forma do art. 178 do CBJD, o órgão judicante, na fixação das penalidades entre limites mínimos e máximos, levará em conta a gravidade da infração, a sua maior ou menor extensão, os meios empregados, os motivos determinantes, os antecedentes desportivos do infrator e as circunstâncias agravantes e atenuantes.

7 Destaque-se que nenhuma das circunstâncias agravantes do art. 179 do CBJD são aplicáveis no caso. De outro lado, incidem na hipótese as circunstâncias atenuantes do art. 180, inciso I (ser o infrator menor de dezoito anos, na data da infração) e do inciso IV (não ter o infrator sofrido qualquer punição nos doze meses imediatamente anteriores à data do julgamento), ambos do CBJD. Convém salientar que a infração é de pequena gravidade e a inexistência de antecedentes desportivos do infrator. Fixo a pena, portanto, tendo em vista a pequena gravidade, a inexistência de antecedentes desportivos do infrator, ser o infrator menor de dezoito anos na data da infração e não ter o infrator sofrido qualquer punição nos doze meses imediatamente anteriores à data do julgamento, no patamar mínimo previsto no art. 258, 2º, inciso II do CBJD, em 01 (uma) partida de suspensão. Ante o exposto, vota-se no sentido de JULGAR PROCEDENTE EM PARTE o pedido, desclassificando a imputação do denunciado José Marcos Costa Martins do art. 243-F do CBJD para o art. 258, 2º, inciso II do CBJD, para condená-lo na pena de suspensão por 01 (uma) partida. Rio de Janeiro, em sessão de 16 de agosto de 2017.

8 Vanderson Maçullo Braga Filho Auditor Relator