5ª Comissão Disciplinar Processo Nº. 012/2017 Denunciados: Auditor Relator: Eduardo Affonso Mello I- Relatório Fluminense de Feira 2)

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1 5ª Comissão Disciplinar Processo Nº. 012/2017 Denunciados: Fluminense de Feira FC, Santa Cruz FC e Roberto Almeida de Araújo (delegado da partida) Auditor Relator: Eduardo Affonso Mello I- Relatório Trata-se de denúncia oferecida pela D. Procuradoria da Justiça Desportiva contra as agremiações Fluminense de Feira FC, Santa Cruz FC, e o delegado da partida, Roberto Almeida de Araújo. Em relação ao primeiro denunciado, Fluminense de Feira, a peça de acusação e sua emenda narram seis fatos diversos, baseados na súmula da partida e em relatório posterior da Polícia Militar da Bahia. Na denúncia original: 1) aos 4 minutos do primeiro tempo uma bomba caseira foi arremessada de fora do estádio para a arquibancada onde estava localizada a torcida da equipe visitante, Santa Cruz. Por sorte, a bomba explodiu em local sem torcedores. Por fim, a súmula afirma que não houve necessidade de paralisação da partida. Por esse fato o clube restou denunciado por infração ao art. 213, III, do CBJD. 2) durante o intervalo, houve um conflito entre as torcidas. Narra a denúncia que a torcida organizada do Fluminense de Feira saiu de sua área e foi em direção à parte da arquibancada onde se encontrava a torcida do Santa Cruz. Ressalta a acusação que as cenas não foram relatadas na

2 súmula da partida, e nem no Relatório do Delegado do Jogo. Por fim, pede que o clube mandante, Fluminense de Feira, seja condenado na forma do art. 213, I, 1º do CBJD. 3) por conta desses fatos, a procuradoria pede que seja aplicado, também, o art. 211 do CBJD, para que se interdite o estádio por falta de infraestrutura que assegure a segurança e a normal realização da partida. Em emenda à denúncia original, provocada por relatório da Polícia Militar da Bahia após o jogo: 4) iluminação precária na área externa do estádio, especialmente entre as portarias de entrada 1 e 2, e 3 e 4. Por esse motivo, a procuradoria entende que há falta de infraestrutura necessária para garantir a segurança dos torcedores, e pede a interdição do estádio com base no art. 211 do CBJD. 5) ausência e não funcionamento das câmeras de monitoramento em diversos pontos cruciais do estádio. Por este motivo, resta violado o art. 18 do Estatuto do Torcedor, uma vez que estádios com capacidade para mais de torcedores devem viabilizar monitoramento por imagem. Por este motivo, o clube restou denunciado no art. 191, I do CBJD. 6) arremesso de pedras e diversos objetos em direção da torcida visitante na área externa do estádio, mais exatamente, no portão de entrada destes. Restou denunciado por infração ao art. 213, I do CBJD. 7) invasão de campo por parte da torcida do Fluminense de Feira, após a briga durante o intervalo do jogo. A equipe mandante restou denunciada por violação ao art. 213, II do CBJD. Em relação à equipe visitante, Santa Cruz Futebol Clube, narra a denúncia que por conta da briga entre torcidas, a agremiação deve ser igualmente responsabilizada, por infração ao art. 213, I, 2º do CBJD.

3 Por fim, em relação ao delegado da partida, a procuradoria entende que este, pode deixar de relatar a briga de torcidas, uma anormalidade durante a realização do jogo, deixou de cumprir os ditames do art. 9º, IX do RGC/18, violando assim o art. 191, I do CBJD. Foi apresentado vídeo comprovando a briga entre as torcidas no intervalo da partida. É o relatório. II- Voto - Fluminense de Feira FC: 1) Em relação ao primeiro fato, o arremesso de um bomba caseira de fora do estádio em direção à torcida visitante, entendo que não há provas suficientes para se condenar o Fluminense de Feira. Não há como saber quem arremessou o artefato, e também não há como responsabilizar a equipe pela ausência de segurança do lado de fora do estádio, uma vez que o Pleno deste Tribunal já definiu, em julgamento do recurso de número 353 no pleno (processo nº 99 desta 5ª Comissão) que a praça de desporto, ou o local da partida, se limita da entrada do estádio para dentro deste. Dessa forma, não há responsabilidade da equipe pelo o que ocorre do lado de fora do estádio. Por estas razões, absolvo a agremiação nesta parte da denúncia. 2) Em relação à briga entre as torcidas, fica claro no vídeo apresentado pela procuradoria que vários torcedores do Fluminense saem de

4 seu local na arquibancada e invadem o local destinado à torcida do Santa Cruz, provocando uma grande confusão. Há que punir severamente a briga entre torcedores no estádio a fim de erradicar fatos como este do esporte. Enquanto houver brigas, o torcedor de bem, as famílias e as crianças ficarão longe dos estádios, e estes continuaram recebendo públicos mínimos na maioria dos jogos. Por este motivo, e levando em consideração também a situação financeira do clube, condeno este ao pagamento de multa no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), mais a perda de uma partida de mando de campo. 3) Entendo que os fatos narrados anteriormente não fariam jus à interdição do estádio, como requerido pela acusação. Portanto, absolvo a agremiação desta imputação do art. 211 do CBJD. 4 e 5) Julgo em conjunto estes dois fatos por entender que ambos alertam sobre a falta de infraestrutura do estádio. A pouca iluminação e a ausência de monitoramento efetivo, geram enorme insegurança à todos os presentes e dificultam o trabalho da Polícia Militar. Entendo que não seja de responsabilidade da equipe mandante a fiscalização e manutenção da infraestrutura do estádio Alberto de Oliveira, mais conhecido como Joia da Princesa, uma vez que este pertence ao município de Feira de Santana, que o aluga aos clubes da cidade para seus jogos. Saliento que, diferentemente de outros casos, como o do Botafogo/RJ que detém a concessão do estádio Nilton Santos e tem o dever de conserválo, o Joia da Princesa é alugado jogo a jogo, portanto, cabe à prefeitura manter o estádio em condições de receber uma partida. Embora acabe punindo indiretamente o clube, não vejo, pelo relatório da Polícia Militar de fls. 17 e 18, condições mínimas de segurança

5 para que se realize partidas de futebol naquele local. Inclusive, isso é fácil de se notar pelo narrado no item de número 6 do relatório deste acórdão. Desta forma, determino a interdição do estádio até que se resolvam as pendências narradas no relatório acima citado. Por outro lado, absolvo o clube das sanções do art. 191, I do CBJD, uma vez que não é de sua responsabilidade a manutenção da infraestrutura do estádio. 6) Não vejo como condenar o clube pelo arremesso de pedras e objetos em direção da torcida visitante na área externa do estádio. Como já afirmado anteriormente, o Pleno deste STJD entendeu que a área externa não é de responsabilidade do clube mandante, uma vez que não faz parte do conceito de praça desportiva contido no art. 213 do CBJD. Dessa forma, absolvo o clube das imputações do art. 213, I do CBJD. 7) Por fim, em relação à invasão de campo por parte da torcida do Fluminense de Feira, entendo que esta não causou maior prejuízo ao espetáculo, por ter ocorrido durante o intervalo da partida. Porém, houve sim infração ao art. 213, II do CBJD, e desta forma, deve o clube ser condenado ao pagamento de multa no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais). - Santa Cruz Futebol Clube Em relação à participação da torcida visitante na briga que ocorreu no intervalo da partida, entendo que não se podia esperar reação diferente da que ocorreu. É notório no vídeo apresentado pela douta procuradoria que a torcida do Fluminense de Feira foi em direção e invadiu o local destinado à

6 torcida do Santa Cruz, e esta, aparentemente, apenas se defendeu das agressões sofridas, ou seja, agiu em legítima defesa. Dessa forma, invoco o princípio da inexigibilidade de conduta diversa, previsto no art. 161 do CBJD, para absolver o Santa Cruz das sanções do art. 213, 2º do CBJD. - Roberto Almeida de Araújo (delegado da partida) É evidente que o delegado da partida deixou de cumprir seu papel ao omitir de seu relatório fato tão gravoso como uma briga entre torcidas. Embora a tentativa da defesa, ao afirmar que o mesmo não presenciou a briga, é certo que este recebeu notícia de um fato como este. Portanto, é verdade que o delegado da partida deixou de cumprir os mandamentos do art. 9º, IX do RGC/18. Porém, não entendo que a aplicação da multa prevista no art. 191, I do CBJD seja a pena mais correta. Por isso, tendo em vista a lacuna no CBJD em relação às infrações cometidas pelos delegados das partidas, aplico por analogia o art. 266 do CBJD para suspender o Sr. Roberto Almeida de Araújo por 30 (trinta) dias. IV Dispositivo Diante de todo o exposto, decide-se, por unanimidade: a) absolver o Fluminense de Feira das imputações do art. 213, III do CBJD; b) condenar o Fluminense de Feira por infração ao art. 213, I, 1º do CBJD ao pagamento de multa no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), cumulado com a perda de um mando de campo;

7 c) determinar a interdição do estádio Alberto de Oliveira (Joia da Princesa), por força do art. 211 do CBJD, até que se resolvam as pendências constantes do Relatório da Polícia Militar da Bahia (fls. 17 e 18); d) absolver o Fluminense de Feira das sanções do art. 191, I e 213, I do CBJD; e) condenar o Fluminense de Feira por infração ao art. 213, II do CBJD, ao pagamento de multa no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais); f) absolver o Santa Cruz das sanções do art. 213, 2º do CBJD; g) condenar o delegado da partida, Roberto Almeida de Araújo, à trinta dias de suspensão com base no art. 266 do CBJD (por analogia). Brasília, 02 de março de Eduardo Affonso De S. M. de F. Mello Auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol