RESPOSTA DA DEMANDA NO BRASIL VIA OFERTA DE REDUÇÃO DE CARGA
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1 RESPOSTA DA DEMANDA NO BRASIL VIA OFERTA DE REDUÇÃO DE CARGA Rafael Girardi Pulgar Matheus Sabino Viana Fabiano Lucio Fuga Escola Politécnica da USP Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas Abstract: The efficient use of electricity is enhanced through effective management of demand-side resources. This paper analyses the proposal for introduction of the demand response program for industrial consumers in Brazil through demand-side bidding. The Brazilian context and international experiences are evaluated, and the potential systemic, socio-economic and environmental benefits of demand-side bidding program are presented, as well as the main items to be discussed for its feasibility. Copyright Keywords: Energy Efficiency, Demand Response, Demand-side Bidding, Energy Security, Electricity Markets, Energy Regulation. Resumo: O uso eficiente da energia elétrica é potencializado à medida que é realizada uma gestão efetiva dos recursos pelo lado da demanda. Este artigo analisa a proposta de introdução do programa de resposta da demanda de grandes consumidores industriais no Brasil via oferta de redução de carga. São avaliados o contexto brasileiro e experiências internacionais, e apresentados os potenciais benefícios sistêmicos, socioeconômicos e ambientais da implementação do programa, bem como os principais itens a serem discutidos para a sua viabilização. Palavras Chaves: Eficiência Energética, Resposta da Demanda, Oferta de Redução de Carga, Segurança Energética, Mercados de Eletricidade, Regulação de Energia. 1 INTRODUÇÃO De forma sintética, eficiência energética significa consumir menos energia para realizar a mesma tarefa. Ou seja, a eficiência energética possibilita que um bem seja produzido a partir de um consumo energético inferior ao que era necessário para produzi-lo antes da eficientização dos ativos. A eficientização também pode resultar da substituição de equipamentos antigos, e menos eficientes, por equipamentos mais novos e que consomem menos energia para realizar a mesma tarefa. Trata-se, portanto, de uma ação da demanda em que o consumo total de energia é reduzido (Sousa, 2013). Nos processos humanos e econômicos, o tempo é um fator essencial. Isto associa ao uso de energia o conceito de potência, correspondente à taxa de utilização da energia no tempo. Uma capacidade instalada qualquer atenderia qualquer necessidade energética, desde que não houvesse restrição temporal, o que, obviamente, não corresponde à realidade. Logo, a taxa de uso da energia é um importante fator a ser considerado, além de sua disponibilidade (Santos, A. H. M. e Outros, 2006). A abordagem tradicional era suprir toda demanda por energia elétrica sempre que ela ocorresse. A nova filosofia, porém, estabelece que a eficiência do sistema elétrico será maior se as variações de demanda forem as menores possíveis. Sob este aspecto, a resposta pelo lado da carga é um dos recursos de menor custo para a operação dos sistemas elétricos, cuja infraestrutura é de capital intensivo (Albadi e Outros, 2008). Criado durante a crise do petróleo de 1973 e apresentado publicamente pelo Electric Power Research Institute nos anos 1980, o termo demand side management (DSM), ou simplesmente gestão pelo lado da demanda, pode ser definido como uma alteração da energia demandada pelo consumidor por diversos métodos, como incentivos
2 financeiros, sinais econômicos em horários específicos e até mesmo a conservação da energia por meio da educação (Balijepalli et al., 2011). Geralmente, o objetivo da gestão pelo lado da demanda envolve estimular o consumidor a reduzir seu consumo total de energia sem alterar seu conforto ou estimulá-lo a consumir cada vez menos energia para produzir a mesma quantidade de um bem; ela também tem o objetivo de fazer com que o consumidor utilize menos energia durante o horário de ponta ou desloque seu consumo de energia no tempo. O gerenciamento da demanda no horário de ponta não necessariamente reduz o consumo total de energia, no entanto, pode contribuir para reduzir a necessidade de se investir no aumento da capacidade de carregamento das redes e subestações de transformação de tensão ou na construção de novas usinas de geração. Nos mercados de energia elétrica em que há competição, existe uma grande variedade de problemas, que podem ser resumidos em duas categorias (Nguyen et al., 2011): os baseados no mercado e aqueles baseados na rede. O principal desses problemas ocorre quando geradores e comercializadores enfrentam riscos financeiros causados pela volatilidade do preço de curto prazo do mercado atacadista. Os demais problemas ocorrem quando o operador necessita manter a confiabilidade do sistema durante o horário de ponta ou reduzir sua reserva de potência operativa nos momentos em que as redes estão operando no limite de sua capacidade. Historicamente, esses tipos de problemas têm sido solucionados considerando-se apenas um lado o da oferta ou geração, que deve garantir e com margem de segurança o suprimento e estar sempre disponível para o atendimento da demanda. Para que a estabilidade das redes de energia elétrica seja garantida, a demanda e a oferta desse insumo devem estar constantemente em equilíbrio. Tradicionalmente, os geradores são chamados a produzir eletricidade para atender ao aumento da demanda durante o horário de ponta. A gestão da demanda considera o outro lado da equação: ao invés de injetar mais energia na rede, esse tipo de mecanismo remunera aqueles consumidores que reduzem seu consumo. Dependendo do custo de produção, é preferível pagar pela capacidade disponível por meio da gestão pelo lado da demanda, pois sua viabilidade econômica é tipicamente mais interessante do que a geração tradicional, principalmente em se tratando daquela fonte cujo custo marginal é bastante elevado (Sousa, 2013). O gerenciamento pelo lado da demanda tem sido utilizado internacionalmente como uma ferramenta de limitação do crescimento da demanda (Grover, H. K. e Pretorius, M. W., 2007), reduzindo o poder de mercado das grandes empresas do setor elétrico, minimizando congestionamentos na rede e permitindo uma melhor operação do mercado (Valencia-Salazar e Outros, 2011). Este artigo analisa a Resposta da Demanda (RD) de grandes consumidores industriais, via incentivo financeiro, denominada Oferta de Redução de Carga (ORC) ou Demand-side Bidding, a partir da análise do contexto brasileiro e de experiências internacionais, avaliando um cenário de implantação da ORC no Brasil. São apresentados os potenciais benefícios do programa e os tópicos a serem discutidos para viabilizar sua implementação. 2 RESPOSTA DA DEMANDA 2.1 Definição A RD é a capacidade de um consumidor modificar sua carga por razões econômicas, em resposta aos preços de energia elétrica, ou por algum incentivo financeiro, ou por razões emergenciais, como a necessidade de segurança na operação do sistema elétrico (Soares, 2017). A RD tem por objetivo a redução do consumo por um determinado período e deslocamento do consumo no tempo, de forma a contribuir com a redução da ponta do sistema ou para evitar o colapso de sistemas sobrecarregados (Sousa, 2013). A Figura 1 apresenta um exemplo de RD onde há redução do pico de carga (peak clipping), com deslocamento horário do consumo de energia (valley filling), obtendo-se desta forma um consumo otimizado. Figura 1: Exemplo de RD em curva de carga. Fonte: Smart Energy Demand Coalition, A título de exemplificação, a Figura 2 ilustra a curva de oferta de geração para diversas fontes e seus respectivos preços em US$/MWh no sistema elétrico dos EUA. Figura 2: Preço da oferta de geração. Fonte: Sousa, Uma análise da Figura 2 permite observar que, quanto maior a carga, e consequentemente a geração, maior será o custo marginal de operação do sistema e maior será a contribuição do mecanismo de Resposta da Demanda ao
3 setor elétrico, tanto em termos de redução de custos quanto em termos de segurança de abastecimento. 2.2 Tipos de Resposta da Demanda Os tipos de RD podem ser classificados em (Souza, 2010): Direct Load Control (DLC): o operador do programa (operador do sistema ou distribuidora) desliga ou modifica remotamente a carga do consumidor. Interruptible/Curtailable (I/C) Service: o consumidor se compromete em reduzir carga durante períodos de contingência em troca de descontos ou créditos nas faturas de energia. Emergency Demand Response Programs: similar ao I/C Service e acionado em situações em que a reserva de capacidade do sistema se encontra baixa. Demand-side Bidding: é ofertada redução de carga pelo consumidor. Os programas de RD baseados em tarifas podem ser classificados como recursos não despacháveis pelo operador do sistema (Castro, 2016). 3 EXPERIÊNCIA BRASILEIRA EM RESPOSTA DA DEMANDA Em relação à experiência brasileira com RD, pode-se citar programas baseados em tarifas como as modalidades tarifárias azul e verde para consumidores em alta tensão (Sá, 2017), as bandeiras tarifárias para os consumidores em baixa tensão e a tarifa branca opcional para consumidores em baixa tensão, prevista a partir de 2018 (Castro, 2016). Além dos programas tarifários atualmente vigentes no Brasil, está em análise pelos principais agentes do setor elétrico brasileiro (ANEEL, EPE, ONS, CCEE) a implantação do modelo denominado Oferta de Redução de Carga (ORC). 3.1 Oferta de Redução de Carga Definição A ORC é um programa de RD baseado em incentivo financeiro, geralmente oferecido a grandes consumidores de energia elétrica, que ofertam diminuição de sua carga com base nos preços do mercado atacadista (Souza, 2009) (MME, 2017). A Figura 4 ilustra o potencial de redução de carga de um consumidor industrial. 2.3 Mecanismos de precificação associados à Resposta da Demanda A Figura 3 relaciona mecanismos de precificação de energia associados à RD com as variações de preços do mercado de curto prazo desde uma tarifa estática até uma precificação em tempo real. Figura 4: Potencial de redução de consumo de um consumidor industrial. Fonte: Ramos, Proteção às variações dos preços de curto prazo Tarifa estática (flat) Tarifa sazonal Tarifa horo-sazonal (TOU) Critical Peak Pricing (CPP) Real Time Princig (RTP) Benefícios Dentre os principais benefícios sistêmicos, sócioeconômicos e ambientais da ORC, pode-se citar: Equilíbrio do sistema elétrico, dando flexibilidade ao Operador. Postergação da necessidade de expansão da oferta e da rede elétrica. Melhoria da confiabilidade do sistema. Redução dos custos de operação e expansão do sistema. Exposição às variações dos preços de curto prazo Figura 3: Mecanismos de precificação de energia associados à RD e relação com variações de preços do mercado de curto prazo. Fonte: Souza, Redução dos custos de produção de energia. Redução das perdas técnicas de energia elétrica. Aumento da segurança de abastecimento energético pela redução da carga.
4 Redução da dependência de importação de combustíveis fósseis (ex: gás natural, derivados de petróleo). Redução da taxa de elevação de emissão de gases de efeito estufa devido à diminuição da necessidade de geração de energia elétrica a partir de fontes fósseis. Redução do CMO e do PLD. Redução do poder econômico de agentes geradores e comercializadores na formação de preços de curto prazo Contextualização no Brasil A ORC já havia sido proposta no Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (Projeto RE- SEB) de 1998 (consumidores com demanda > 10MW). No contexto brasileiro atual, uma série de desafios se impõem ao setor elétrico: hidrologia desfavorável por períodos prolongados (exemplo: região Nordeste, a partir de 2013), parque gerador com capacidade de regularização reduzida, levando à necessidade de despacho de usinas termelétricas, inclusive a óleo combustível visando atender a carga de energia e a demanda de ponta, mesmo quando em condição normais de afluência. Outra questão atual levantada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) é o aumento da participação das fontes intermitentes e a consequente necessidade em se aumentar a reserva de potência operativa girante para fazer face à geração intermitente e atender a demanda de ponta. A Figura 5 apresenta a comparação do perfil de potência para atender a carga do Nordeste brasileiro nos períodos de e Estudo de Aplicação da ORC no Brasil Os programas de incentivo à resposta da demanda, adotados em muitos mercados de energia elétrica, tem oferecido resultados importantes, contribuindo para o despacho otimizado do sistema interligado. Nesta seção será discutido e apresentado de forma suscinta um estudo de caso de aplicação da ORC proposto em um projeto de P&D Aneel realizado com participação da Estreito Energia, MRTS Consultoria e Poli/USP. O cenário apresentado a seguir considera, basicamente, a proposta de ORC apresentada em (Ramos, 2017) Objetivos O referido trabalho tem como objetivo principal o Desenvolvimento de proposta de produtos elétricos e energéticos que estimulem grandes consumidores, tais como produtores de alumínio primário, indústria petroquímica, produtores de aço e indústria de gases industriais a participar de um mecanismo de Resposta da Demanda Classe de Consumidores Elegíveis à ORC O trabalho avalia a Resposta da Demanda Industrial e sua Influência na formação dos Preços no Mercado de Energia Elétrica de Curto Prazo, aplicando-se o estudo a grandes consumidores chamados energo ou eletro intensivos. Considera-se nesta avaliação os consumidores energointensivos dos segmentos de alumínio, siderurgia/aço e petroquímica, para os quais deve ser realizado um estudo detalhado de ciclos operativos e possibilidades de flexibilização da produção, sendo determinadas suas Curvas de Utilidade (disposição a não consumir) (Ramos, 2017) Frentes de trabalho O trabalho de P&D foi realizado em três linhas de pesquisa bem definidas: Figura 5: Atendimento da carga do Nordeste nos períodos de e Fonte: Sá, Uma análise da figura anterior permite observar a grande mudança no perfil de geração e atendimento da carga do submercado elétrico Nordeste do Brasil, havendo recentemente maior participação das fontes eólica, térmica e a importação de outros submercados, quando comparados ao período Neste caso a ORC se aplica no sentido de redução da participação das fontes mais caras, como a termelétrica. A ORC se caracteriza, assim, como um recurso despachável de RD, baseado em incentivo financeiro ao consumidor participante do programa (Castro, 2016). Linha de Pesquisa 1: Estudo detalhado do funcionamento dos setores de Alumínio, Aço/Siderurgia e Petroquímica, com ênfase nos ciclos operativos e flexibilização da produção industrial. Linha de Pesquisa 2: Definição de Produtos do setor elétrico para atrair a participação de Grandes Consumidores Eletro intensivos em Mecanismo de Redução voluntária da Demanda. Linha de Pesquisa 3: Desenvolvimento de Metodologia/Modelagem e simulações computacionais para aferição da influência da ORC no comportamento energético do SIN e na formação do PLD.
5 E tem como resultados esperados: O estabelecimento das possibilidades de Resposta da Demanda das indústrias de Alumínio, Aço e Petroquímica no Brasil. A identificação de incentivos efetivos para cada indústria produtos horários / diários / semanais / mensais / limites de participação. A simulação dos efeitos da resposta da demanda na formação de preços no mercado de curto prazo Metodologia A incorporação da ORC ao sistema foi representada por meio da introdução de blocos de usinas termelétricas virtuais com potência de 800 MW e com diferentes preços de disposição para redução de carga (R$/MWh) em cada cenário (referência e conservador) Resultados do Estudo de Caso A incorporação da ORC reduziu de forma significativa os picos de preços: O CMO máximo verificado na simulação, para comparar com o valor de R$ 505,60/MWh na versão sem a ORC, foi de R$ 244,34/MWh no cenário de referência e R$ 424,67/MWh no cenário conservador. Houve também uma maior concentração de preços em faixas mais baixas, resultado do acionamento da RVC em substituição ao despacho de termelétricas com custos variáveis particularmente elevados. A Figura 6 a seguir apresenta a curva de redução do CMO do sistema em função da Redução Voluntária de Carga para o cenário de referência. Figura 7: Impacto da RD sobre o CMO Cenário Conservador. Fonte: Ramos, Uma análise das figuras anteriores permite observar o benefício econômico que a Resposta da Demanda através da Redução Voluntária de Carga gera para todo o sistema elétrico. O mecanismo de ORC possibilita a participação de RD no processo de formação dos preços de curto prazo, com a redução da volatilidade e mitigação de picos de preços. Propicia, ainda, o aumento do nível de competição e diminuição do poder de mercado dos geradores (Souza, 2009). Os consumidores que atuam no mercado livre e, assim, são elegíveis para aderir ao programa de ORC, são obrigados a contratar 100% de suas cargas (Ramos, 2017). Este é um importante fator para que os consumidores que venham a aderir à ORC não sejam pagos algo que não possuem, levando a uma ineficiência de mercado como ocorre em alguns casos da experiência internacioal (Valencia-Salazar, I. e Outros, 2011) Aspectos regulatórios Em termos de comando legal para RD, a Lei n.º /2016 deu nova redação à Lei n.º /2004, estabelecendo que na operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) será considerada a otimização do uso dos recursos eletroenergéticos para atender aos requisitos da carga considerando tanto o despacho de usinas como o de cargas que se habilitem como interruptíveis. Entende-se que o produto ORC é um produto similar ao contrato de disponibilidade de uma termelétrica, com uma receita fixa que remunere parte dos custos fixos da indústria e uma receita variável associada à curva de utilidade (Ramos, 2017). Figura 6: Impacto da RD sobre o CMO Cenário de Referência. Fonte: Ramos, E a Figura 7 apresenta a curva de redução do CMO do sistema em função da Redução Voluntária de Carga para o cenário conservador. 4 EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL Os programas de resposta pela demanda adotados em diversos mercados de energia elétrica mundo afora tem em comum os seguintes aspectos: Motivação do operador nacional, distribuidora ou do administrador de mercado em oferecer o programa; Natureza da formação do preço de mercado;
6 Remuneração de serviços do sistema elétrico; Forma de participação dos consumidores; Resultados e benefícios proporcionados por estes programas. Seguindo esta linha de raciocínio serão citados a seguir algums programas de resposta da demanda que foram utilizados como exemplo por parte da ABRACE Associacao Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia durante as discussoes com ONS, ANEEL e EPE de forma a demonstrar que as industrias estao prontas para participar de programas como estes, uma vez que a smesmas industrias já participam em outos paises. No Chile existe um programa conhecido como OPI Oferta Programada de Inverno onde os consumidores podem aderir voluntariamente em troca de uma reducao no pagamento da demanda contratada no período de um ano, para tanto entre abril e setembro a Distribuidora pode solicitar reduções de demanda no horário de ponta por 2,5 horas tendo um aviso mínimo de 30 minutos de atencedência para patamares previamente acordados, limitados a 50 chamadas de reducao por inverno. No Uruguai a regulamentação penaliza os consumidores com fator de potência inferior a 0.92, mas por outro lado bonifica os consumidores acima deste valor. Sendo que a bonificação aumenta na medida que o fator de potência se aproxima de 1. Os descontos pondem chegar até 26% na parcela de demanda e 5% na parcela energia e é aplicado para todos consumidores de média e alta tensao. Nos Estados Unidos existem diversos tipos de programas que de acordo com um levantamento realizado em 2014 pela Energy Information Administration (EIA) os programas de RD alcaçaram cerca de GWh e MW, considerando a soma dos setores residencial, comercial e industrial. onde é pago um incentivo aos consumidores que reduzem sua carga durante um evento programado. Após um cadastramento inicial da potencial carga disposta a participar do programa, os consumidores são avisados no dia anterior ao evento para submeter lances (MW; Preço) em base horária dentro do período prédeterminado onde estão dispostos a reduzir sua carga. Termos do programa para insrição: Todos os participantes devem aderir ao Termo de Conduta. Sem penalidade por não atendimento a redução solicitada durante qualquer ou todas as horas do evento programado; Quando declarada a necessidade o Programa de Reação da Demanda tem efeito entre 12:00 e 21:00 horas de Segunda à Sexta-Feira. Aviso no dia anterior às 12:00 horas; Requisito mínimo ter 200 kw de demanda contratada e reduzir pelo menos 30 kw por hora; O pagamento de incentivo é feito de acordo com o lance informado de forma respeitar a quantidade e o preço informado para a redução qualificada. 5 PROPOSTAS PARA A VIABILIZAÇÃO DA ORC NO BRASIL Dentre as propostas a serem discutidas para viabilizar a participação da Indústria Brasileira em uma Metodologia de Redução de Carga, estão: Adesão voluntária. Montante a ser reduzido deve ser definido pela unidade consumidora (UC). O preço pode ser definido tanto pelo Operador (a UC decide se participa ou não) quanto pela UC (o operador define o que é mais vantajoso para o sistema e toma sua decisão). Figura 8: Economia obtida através de programas de Resposta da Demanda nos EUA, Este mesmo levantamento traz outros números bastante interessantes como o numero total de consumidores envolvidos de 9,3 milhoes, que receberam um total de 1, 2 bilhão de dólares de incentivo neste mesmo ano. Visando ilustrar o quão avançado está o tema nos Estados Unidos, apresntamos o Programa de Oferta de Demanda promovido pelo Califórnia ISO. O programa se resume em um leilão reverso de redução da demanda Poderiam ser criados diversos produtos de Resposta da Demanda, a partir dos parâmetros: necessidade do Operador do Sistema; antecedência do aviso de ocorrência do evento; duração do evento; objetivo de redução do custo de operação do sistema. Em 23 de agosto de 2017 a ANEEL abriu a Audiência Pública (AP 43/2017) para a regulamentação do projeto piloto de Resposta da Demanda para consumidores industriais. De acordo com a Nota Técnica publicada para dar embasamento a AP os interessados terão produtos oferecidos em dois leilões: um (D-1) com aviso prévio para despacho no dia anterior à redução da carga (até as 18h); e outro (D-0) com aviso prévio dentro do mesmo dia da redução da carga (até as 9h). O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) deve utilizar os
7 produtos do D-0 somente quando as previsões de carga e de geração eólica do dia do despacho apresentarem desvios significativos em relação às previsões do dia anterior. A redução da demanda, em atendimento ao programa de Resposta da Demanda, será valorada pela diferença entre o preço da última oferta vencedora e o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). A contabilização e a liquidação serão realizadas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) por meio de Mecanismo Auxiliar de Cálculo (MAC) e o serviço prestado será remunerado por meio de Encargo de Serviço de Sistema (ESS), a ser rateado pelos agentes que suportariam os custos dos despachos fora da ordem de mérito substituídos pela Resposta da Demanda. O ONS deverá, após acordado com a CCEE, elaborar relatório mensal com as informações necessárias para permitir o pagamento aos participantes do programa. 6 CONCLUSÕES Depois de muitos anos em que o tema Resposta da Demanda e Oferta de Redução de Carga esteve deixado de lado finalmente a ANEEL abre uma audiência pública com intuito de viabilizar o tema através de um programa piloto a ser iniciado ainda em Do ponto de vista sistêmico, a região Nordeste, onde a geração eólica é bastante representativa, chegando a atender até 56% da carga da região em um dia, tem um desafio constante que é lidar com a natureza intermitente dessa fonte, uma vez que a geração pode variar MW em um intervalo de meia hora e as diferenças entre os valores programados e os verificados podem chegar a MW. Essa questão aliada à escassez hídrica enfrentada pelas hidrelétricas da região NE, tem demandado ao ONS despachar usinas térmicas fora da ordem de mérito para atender a variação da carga ao longo do dia. Nesse contexto, a criação de um programa piloto é bastante oportuno uma vez que visa testar o interesse e aferir o potencial dos consumidores em relação à participação na operação do sistema por meio da sua redução/alívio da carga e ampliar as medidas operativas disponíveis para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) operar com segurança e confiabilidade o Sistema Interligado Nacional (SIN). Faz-se necessário analisar os reflexos dessas medidas na operação eletroenergética do SIN, de forma a induzir o aprendizado das instituições e empresas envolvidas, em especial em relação aos processos referente ao despacho, à redução da carga, à contabilização e liquidação do serviço prestado, bem como ao arcabouço regulatório. O Brasil ainda não conta com preço de curto prazo horário e com uma tarifa final de granularidade horária. Assim, o programa de Resposta da Demanda também poderá, frente à atual estrutura de preços e tarifas, promover os incentivos e sinais econômicos adequados para permitir alteração do comportamento do consumidor em decorrência da racionalização dos recursos disponíveis. 7 REFERÊNCIAS Albadi, M. H., El-Saadany, E. F. (2008). A summary of demand response in electricity markets. Electric Power Systems Research, Volume n o 78 (11), Balijepalli, V. S. K. M. e Outros (2011). Review of demand response under smart grid paradigm. IEEE, PES Innovative Smart Grid Technologies, Índia. CAISO. Programas de reação da demanda. Disponível em: s/market_data/demand_response/index.jsp>. Castro, R. (2016). Resposta da demanda visão da CCEE. Apresentação da CCEE no 1º Workshop CIGRÉ de resposta da demanda, realizado em 15 de dezembro de CCEE Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (2013). Regras de Comercialização Garantia Física Versão São Paulo SP, 56 p. Dornellas, C. e Outros (2016). Evaluation of demand side management mechanisms and opportunities for their development in the Brazilian power industry. CIGEE, C5-301, EPE (2015). Plano Decenal de Expansão de Energia, disponíveis em acesso julho a setembro de 2016, Rio de Janeiro, Ferreira, L. E. B. (2017). Mecanismos de resposta da demanda: iniciativas do ONS. Workshop de energia da FIESP: setor elétrico e mecanismos de resposta da demanda, realizado em 21 de junho de Ferreira, R. e Soares J. (2016). Resposta da demanda visão da EPE. Apresentação no 1º Workshop CIGRÉ de resposta da Demanda realizado em 15 de dezembro de Grover, H. K. e Pretorius, M. W. (2007). The technology assessment of demand side bidding within the South African context. AFRICON 2007, Windhoek, 2007, páginas 1-8. MME (2017). Plano Decenal de Energia - PDE Relatório para a Consulta Pública n. º 34 de 7/7/2017. Ministério de Minas e Energia. Nguyen, D. T. e Outros (2011). Poolbased demand response exchange - concept and modeling. IEEE, Transactions on Power Systems Journal, Volume n o 26, n.º 3, páginas
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