Intervenção do Presidente do Comité Olímpico de Portugal
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- Raphaella Leila Viveiros
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1 Intervenção do Presidente do Comité Olímpico de Portugal O Governo entendeu dar ao compromisso assumido em torno do Programa de Preparação Olímpica para os Jogos de Tóquio 2020 o destaque e relevo que esta cerimónia hoje consagra, com a dignidade institucional de ser presidida pelo Primeiro-Ministro de Portugal. O Comité Olímpico de Portugal está muito grato e reconhecido por esta decisão. É um ato político do maior significado e alcance, que ultrapassa em muito a própria cerimónia. Longe vai o tempo em que as participações desportivas nacionais tinham apenas uma leitura desportiva e se limitavam ao círculo restrito das organizações desportivas. Hoje os países também se medem e se comparam pelo que alcançam no contexto desportivo internacional. E se isto é verdade em termos gerais, ainda mais o é em termos da participação olímpica. De pouco vale a Carta Olímpica afirmar que os Jogos são uma competição entre atletas, que não entre países. Os Jogos Olímpicos são a melhor competição desportiva à escala mundial para conduzir a uma leitura política dos resultados desportivos. Pelas modalidades que envolvem. Pela mediatização a que estão sujeitos. Pelo cariz geopolítico e diplomático cunhado na história dos Jogos desde os tempos da Antiguidade E se é verdade que não são os governos que treinam, que correm, que saltam ou que nadam, em suma, que competem, não é menos verdade que não são alheios ou interlocutores neutros ao que o País alcança em termos desportivos internacionais. Em certo sentido não são apenas os atletas que são avaliados. São também as políticas públicas de desporto que estão sob escrutínio. São as políticas federativas. É o Comité Olímpico. Todos somos avaliados. 1
2 E nessa avaliação o desporto é das mais implacáveis atividades que se pode conhecer. Por uma fração de segundo ou de milímetro, muito se ganha ou tudo se perde. É deste modo que o presidente do Comité Olímpico de Portugal interpreta esta cerimónia e a forma institucionalmente escolhida confere-nos a todos - Governo e parceiros desportivos - uma acrescida responsabilidade perante os desafios que temos pela frente. Em primeiro lugar, a responsabilidade organizacional das entidades desportivas assente numa cultura de diálogo, de gestão transparente e eficaz dos recursos públicos que são disponibilizados. Em segundo lugar, uma atitude construtiva perante as dificuldades que ultrapasse a retórica das disfuncionalidades e debilidades estruturais do sistema desportivo e apresente soluções concretas para as corrigir. Em terceiro lugar, a criação de sinergias entre as políticas públicas e as políticas desportivas, envolvendo os interlocutores à construção de uma cultura de responsabilidade partilhada. Em quarto lugar, uma cultura de compromisso como o sucesso desportivo afastando tudo o que, estando ao nosso alcance, o pode limitar. Em quinto lugar, um foco permanente nos atletas, razão final de todo este processo e perante os quais nos cabe criar as condições adequadas à plena expressão e desenvolvimento das suas capacidades competitivas. O programa que hoje aqui celebramos, e que é do conhecimento público, é disso um feliz exemplo, porque congrega, numa lógica de parceria colaborativa, Governo, Comité Olímpico e Federações Desportivas, no âmbito do apoio à preparação desportiva dos nossos atletas. O Governo assumindo competências de natureza regulatória e de escrutínio quanto ao modo como são utilizados os recursos públicos disponibilizados e alcançados os objetivos traçados, deixando às organizações desportivas Comité Olímpico e Federações Desportivas - aquilo que é a operacionalização do programa de acordo com sua missão e vocação. O desporto de alto rendimento (e muito em especial uma preparação olímpica) são atividades de custos muitos elevados. 2
3 A competitividade atingida pelo alto rendimento é muito determinada pelas economias dos respetivos países e o que elas libertam (de forma pública e privada) para a respetiva preparação desportiva. Há países que gastam apenas com uma modalidade o que outros gastam com todas as modalidades para um ciclo olímpico. Em Portugal, por razões que se prendem com o modelo de financiamento público ao desporto, o esforço principal de apoio à preparação olímpica recai sobre o Orçamento do Estado. Este modelo tem naturais constrangimentos, políticos, estratégicos, operacionais e financeiros. Mas, como tenho amiúde afirmado, o financiamento é uma questão relevante, mas que não assegura por si só a excelência desportiva de um país. O retorno do investimento financeiro dependerá, em grande parte, da renovação e gestão organizacional que, cabendo às organizações desportivas desenhar e implantar, exige dos órgãos de Governo, e particularmente da administração pública desportiva, a disponibilidade para superar inércias burocráticas e intervenções avulsas e distanciadas, a favor de estratégias devidamente articuladas. O COP, decorrente do balanço que fez à participação nacional nos Jogos Olímpicos do Rio, procedeu a ajustes no seu modelo orgânico, reforçando as dimensões técnico-desportiva e médica, e procurando deste modo estar à altura dos novos desafios. Dito isto, importa destacar que, quer o modelo de apoio à preparação, quer os meios financeiros que o Governo coloca à disposição para este ciclo olímpico melhoraram. Traduzem mesmo um aumento significativo em relação ao ciclo olímpico anterior. E, aqui, mais importante do que a quantidade será a qualidade da despesa, exigindo a garantia de que a preparação desportiva dos atletas e a criação de valor desportivo será o critério fundamental do que se gasta e como se gasta. É devido um reconhecimento ao Governo pela atitude que demonstrou no que respeita às propostas que apresentámos, sem usar a posição dominante de financiador, para impor os seus pontos de vista. 3
4 E neste particular cabe uma palavra especial de muito apreço ao senhor secretário de Estado, pessoa em quem o Governo delegou a interlocução com o Comité Olímpico. Um apreço pela disponibilidade manifestada, pelo interesse demonstrado e pela busca de soluções consensualizadas quando as posições à partida não eram coincidentes. Quis também o Governo associar a este ato uma mostra sobre inovação no desporto, juntando os vários centros de avaliação e controlo do treino com alguma da inovação tecnológica criada por empresas portuguesas que operam no setor. Trata-se de uma iniciativa que revela que o nosso sistema desportivo tem à sua disposição um conjunto de disponibilidades tecnológicas que podem ajudar significativamente à sua modernização e desenvolvimento. Para que isso se concretize exige-se, nesta lógica de parceria colaborativa, a capacidade de suprir as barreiras que comprometem a abertura ao conhecimento e a propensão para a aprendizagem, melhoria contínua e interdisciplinaridade. A tomada de decisões baseadas em evidências sólidas, desde o processo de treino do jovem atleta à estratégia de política desportiva nacional. A competitividade para conseguir acompanhar o progresso incessante, os níveis de exigência e a complexidade dos desafios que hoje enfrentam as organizações, atletas e técnicos comprometidos num Programa de Preparação Olímpica. Barreiras que nos condicionam a tirar o melhor proveito da inovação e do desenvolvimento que, como se constata nesta exposição, são um fator preponderante de desempenho e performance. O desporto tem sido, aliás, um incubador fértil de inovação e os Jogos Olímpicos um palco privilegiado de desenvolvimento tecnológico, conforme ficou patente na candidatura vencedora de Tóquio. Oxalá estes exemplos ajudem a suprir as tradicionais dificuldades na circulação do conhecimento e do saber no seio do sistema desportivo, para que se possa tirar o melhor partido desta capacidade existente em Portugal e assim projetar o país para os níveis de competitividade que aspiramos para o futuro, com esperança e ambição reforçada rumo a
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