PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO (RNE)

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1 ORDEM DOS ADVOGADOS CNEF / CNA Comissão Nacional de Estágio e Formação / Comissão Nacional de Avaliação PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO (RNE) ÁREAS OPCIONAIS (3 valores) 29 de Abril de 2011

2 Das áreas seguintes deverá responder apenas a duas: P.P. TRIBUTÁRIAS 1,5 valores I António, com domicílio fiscal em Viseu, era em 2004 proprietário de um terreno, situado nessa cidade, terreno que havia adquirido em 2002, tendo decidido construir nele um edifício constituído por rés-do-chão destinado a comércio e 1º andar destinado a habitação, com intenção de habitar o apartamento no 1º andar e afectar o rés-do-chão a arrendamento. O prédio ficou concluído em 2005 e António passou a habitar o imóvel nesse mesmo ano. Em 2006 António ficou desempregado, mas passados dois meses recebeu uma proposta de trabalho vantajosa no Algarve, onde arrendou um apartamento para habitação. Ainda em 2006, António vendeu ao seu conterrâneo Daniel, o primeiro andar do prédio e ao seu primo José o rés-do-chão destinado a comércio. António obteve um bom preço nas duas vendas o que lhe permitiu pagar ao banco o empréstimo obtido para a compra do terreno e construção do imóvel e auferir um generoso ganho. Na sua declaração de IRS respeitante ao ano de 2006, António declarou os ganhos como mais-valias (que apenas são consideradas em 50% do seu valor), tendo a liquidação de IRS sido efectuada em conformidade. Posteriormente, em consequência de nova análise da situação tributária de António a Administração Fiscal veio a considerar que a actuação de António teve motivação empresarial e após notificar o contribuinte para o exercício do direito de audição, considerou os ganhos de António como enquadrados na categoria B (rendimentos empresariais). Em consequência, António foi notificado de liquidação adicional de IRS no valor de António não concorda e entende que os ganhos em questão não têm natureza empresarial, mas sim de mais-valias. Tendo em conta os dados do enunciado, pretende-se que responda às seguintes questões, fundamentando juridicamente as suas respostas: 1. Quais os meios processuais que António pode utilizar para reagir contra a liquidação? (0,25 valores) 2. Quais respectivos prazos? (0,25 valores) 3. Qual o local de apresentação? (0,25 valores) 2

3 4. Caso António tenha lançado mão da reclamação graciosa em caso de indeferimento expresso desta, o que pode fazer? (0,25 valores) II António pretende apresentar reclamação graciosa da liquidação em questão, não pretende pagar o valor antes da decisão sobre a sua legalidade e não tem meios económicos para prestar garantia (o dinheiro que lhe restou do produto das vendas foi gasto no pagamento duma intervenção cirúrgica da sua companheira de longa data, Laura). António, no entanto, quer evitar a penhora de parte do seu vencimento que poderá ocorrer em consequência da execução fiscal. Pretende-se que responda às seguintes questões, fundamentando legalmente as suas respostas: 1- Não podendo prestar garantia, tem António alguma outra possibilidade de suspender a execução fiscal? (0,25 valores) 2- Em caso de resposta afirmativa, em que momento deve ser exercitada tal possibilidade? (0,25 valores) P.P. ADMINISTRATIVAS 1,5 valores Imagine que, na zona de Mirandela, em Trás-os-Montes, em paisagem protegida, foi licenciada pela Câmara Municipal de Mirandela, em 3 de Março de 2011, uma grande fábrica de produtos químicos, propriedade da Química, Lda., que irá criar, na região, mais de 200 postos de trabalho. A LPDA Liga para a Defesa do Ambiente, que tomou logo conhecimento da licença atribuída no dia em que a mesma foi emitida, defende que a construção e exploração da fábrica irá destruir irreversivelmente determinados habitats naturais que considera irrepetíveis, ainda para mais quando tal licenciamento foi feito sem que previamente tivesse existido o necessário procedimento de impacte ambiental. Assim, LPDA necessita da apoio jurídico para, nos Tribunais, impedir o início da construção da referida fábrica. 3

4 1. Suponha que foi contratado, enquanto advogado, pela LPDA: 1.1. que meio processual principal e que pedido seriam adequados para a tutela dos interesses em causa (fundamente com a devida previsão legal)? (0,15 valores) 1.2. Até que data poderia a acção ser prposta no Tribunal (fundamente com a devida previsão legal)? (0,15 valores) 1.3. Qual a providência cautelar que utilizaria para acautelar a tutela dos interesses prosseguidos pela LPDA (fundamente com a devida previsão legal)? (0,15 valores) 2. Suponha que a LPDA não dispõe de toda a documentação sobre o processo de licenciamento que, enquanto advogado, necessita para analisar o caso e preparar o processo judicial. O que poderá fazer (fundamente com a devida previsão legal)? (0,2 valores) 3. Podendo adicionar ao caso os elementos de facto que entender necessários, elabore o requerimento inicial da providência cautelar que identificou no ponto 1.3. (0,85 valores) P.P. LABORAIS 1,5 valores A) Um trabalhador recebeu, em mão, a carta que se junta como Anexo 1, na qual lhe é comunicada a extinção do seu posto de trabalho com efeitos imediatos, cessando o contrato de trabalho em 31 de Março de B) Nessa data, a entidade empregadora não efectuou o pagamento de qualquer crédito, designadamente, a retribuição relativa ao mês de Março de C) O trabalhador tem conhecimento de que a entidade empregadora está a vender alguns dos seus bens, sendo certo que o seu património tem um valor diminuto. 4

5 Responda ás seguintes questões: 1- Como poderá o trabalhador acautelar os seus interesses tendo em conta o facto referido em C)? Justifique sucintamente. (0,25 valores) 2- Quais os direitos que o trabalhador tem em consequência da cessação do seu contrato de trabalho efectuada pelo empregador nos termos referenciados em A) e B)? (0,75 valores) 3- O trabalhador exercia, inicialmente, as funções correspondentes à sua categoria profissional de técnico de informática. Mais tarde, a entidade empregadora decidiu que o trabalhador passasse a efectuar, cumulativamente, serviços de expediente geral de escritório. O empregador podia exigir do trabalhador o exercício cumulativo destas funções? (0,5 valores) Anexo 1 (carta referida em A) Serviços Informáticos, Lda. Contribuinte fiscal Rua C, Bloco A, nº Cascais Cascais, 31 de Março de 2011 Exmo. Senhor João Silva Rua do Sol, nº 1, S. Domingos de Rana Exmo. Senhor Serve a presente para lhe comunicar que, em virtude das actuais dificuldades financeiras da empresa, não é possível manter o seu posto de trabalho, pelo que o mesmo é extinto Por tal motivo, prescindimos dos seus serviços a partir desta data. Finalmente, juntamos a Declaração Mod. RP 5044-DGSS devidamente preenchida e assinada Com os nossos cumprimentos O Gerente P. INSOLVÊNCIA 1,5 valores 5

6 António, sócio-gerente de Cascalhos - Construções Ldª e Bento, actual contabilista da mesma sociedade, no dia 18 de Março de 2011, pediram-lhe, como Advogado, o seu conselho e ajuda para a situação seguinte: a sociedade Via Larga - Construção Civil e Obras Públicas, Ldª, com sede na Comarca de Lisboa foi declarada insolvente por sentença de 22 de Fevereiro de 2011, que nomeou também o correspondente administrador, designou o prazo de 30 dias para a reclamação de créditos e o dia 16 de Maio para a reunião da assembleia de credores para apreciação do relatório, contendo ainda as demais informações legalmente exigidas. O pedido de insolvência foi requerido por Joaquim Barrosinho, materiais de construção, na sequência da execução de uma letra no valor de ,00 para pagamento da qual não foram encontrados bens do devedor livres de penhoras e suficientes para satisfação do crédito. De acordo com o último balanço aprovado (2009), e dados da petição, Via Larga tem um passivo não inferior a ,00 e o activo rondará os 2.100,00, dos quais são créditos sobre diversas autarquias locais, todos eles dados como garantia dos empréstimos concedidos por 4 instituições bancárias. Além dos empréstimos bancários, integram ainda o passivo, dívidas do IVA no valor de ,00, contribuições para a Segurança Social no valor de ,00, salários não pagos no valor de ,00 e outras, entre as quais se contam os ,00 devidos à subempreiteira Cascalhos Ldª, de que António é sócio-gerente. Bento foi chefe de contabilidade da Via Larga até 15 de Novembro de 2010, data em que suspendeu o seu contrato de trabalho por ter já 4 salários em atraso, no valor de 6.000,00. No dia 25 de Março de 2009, na sequência de um pagamento importante efectuado por uma Câmara Municipal, a gerência de Via Larga Ldª restituiu ,00 correspondentes aos suprimentos efectuados dois anos antes, pelos seus três sócios-gerentes Leopoldo, Marcolino e Olegário. Responda sucinta, mas fundamentadamente: a) Terá sido vantajoso para o Joaquim Barrosinho, de acordo com a Lei, ter requerido a insolvência da Via Larga Ldª? (0,25 valores). 6

7 b) Que indícios resultam do enunciado que impusessem aos gerentes o dever de apresentação à insolvência? (0,25 valores). c) Elabore uma reclamação de créditos como advogado de Cascalhos Ldª e de Bento. Caso entenda possível e adequado, elabore uma só reclamação para os dois créditos. Caso entenda inadequada ou impossível uma só reclamação, opte por um dos créditos. Na reclamação deve qualificar o crédito ou créditos. (1,00 valor). CONTRATOS 1,5 valores Em 2009, António, emigrante na Bélgica, fez um acordo com Bernardo, através do qual lhe entregou a sua habitação, mobilada, para que este aí ficasse a residir, de forma gratuita e provisória. Acordaram ainda que o pagamento das despesas inerentes ao consumo de água, electricidade e gás ficaria a cargo de Bernardo. António retornou a Portugal em finais de Março de 2011, pretendendo voltar a residir, de forma permanente, na sua habitação. No entanto, Bernardo recusase a abandonar o imóvel, apesar dos pedidos insistentes de António. António pretende agora reagir judicialmente contra Bernardo. 1- Qualificando juridicamente o acordo celebrado entre António e Bernardo, explicite se António terá o direito de obter de Bernardo a imediata restituição do imóvel. (1,5 valores) 7

8 REGISTOS E NOTARIADO 1,5 valores Imagine que, como Advogado, lhe é pedido que conduza um aumento do capital de uma sociedade comercial por quotas, com duas novas entradas, uma em dinheiro e a outra em espécie, com um bem imóvel. a) Que forma aconselharia para o acto e quem teria, em consequência, competência para intervir na respectiva outorga? (0,5 valores) b) Que obrigações fiscais teriam de estar asseguradas (não se esqueça de esclarecer sobre quem recairia o dever de as assegurar e a que título, nos diferentes impostos que poderiam estar em causa)? (0,5 valores) c) Com apelo à forma de adoptou, em resposta à alínea a), explique que espécies de registos teriam de ser realizados. (0,5 valores) DIREITO DAS SOCIEDADES 1,5 valores A, accionista da sociedade financeira anónima XXX, SA, pediu elementos ao respectivo Conselho de Administração, em Assembleia Geral, sobre a identificação de um determinado beneficiário e cliente da mesma sociedade que, num lapso de tempo rápido acumulara um passivo por dívidas em mora, o que A atribuía a falta de critérios de isenção na concessão de crédito. O Conselho de Administração recusou sem justificações a pretendida prestação de informações. 1 - Indique fundamentadamente como aconselharia A a reagir? (1,5 valores) 8