PROVA ESCRITA DE DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO (Artigo 16º nº 4, da Lei nº 2/2008, de 14 de Janeiro) 1ª Chamada

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1 PROVA ESCRITA DE DIREITO E PROCESSO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO (Artigo 16º nº 4, da Lei nº 2/2008, de 14 de Janeiro) 1ª Chamada DURAÇÃO DA PROVA 03 horas (o tempo de duração da prova conta-se decorridos trinta minutos após a entrega do enunciado aos candidatos). COTAÇÃO ATRIBUÍDA A CADA CASO: Caso I 7 valores: 1ª questão 2,5 valores 2ª questão 4,5 valores Caso II 3 valores Caso III 6 valores Caso IV 4 valores: Questão da alínea a) 1 valor Questão da alínea b) 1 valor Questão da alínea c) 1 valor Questão da alínea d) 1 valor 1

2 Caso I A) Admita que Daniel reside há mais de vinte anos num prédio rústico localizado no distrito de Aveiro, no qual possui uma casa em perfeito estado de conservação e uma exploração agrícola da qual retira os meios de subsistência necessários para si e para a sua família. Em 15 de Maio de 2008, foi notificado do despacho do Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, publicado na II Série do Diário da República, que declarou a utilidade pública da expropriação do seu imóvel, com carácter urgente, determinando a respectiva posse administrativa, em ordem à concretização de um programa de requalificação da zona na qual ele se insere, que desde há muitos anos se encontra degradada e para a qual foram sendo, ao longo do tempo, elaborados sucessivos projectos de requalificação, nunca entretanto concretizados. Em 30 de Junho de 2008, Daniel requereu a suspensão da eficácia do despacho junto do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu. O requerimento cautelar foi admitido, tendo o juiz, no respectivo despacho liminar, ordenado a citação do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, que ocorreu em 4 de Julho de Entretanto, em 4 de Agosto de 2008, o Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, adoptou uma resolução pela qual decidiu dar seguimento à decisão expropriativa, justificando essa decisão com a especial urgência de que, para o interesse público, se revestiria a concretização do programa de requalificação. Determinou, assim, a publicação do anúncio de um concurso público para a adjudicação da empreitada de demolição de um conjunto de construções abrangidas pelo referido programa, entre as quais se incluem as existentes no imóvel de Daniel. B) No âmbito do processo cautelar, o Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional apresenta os seguintes argumentos: a) O despacho não é passível de suspensão jurisdicional de eficácia, sob pena de ilegítima intromissão dos tribunais no exercício da função legislativa, na medida em que a utilidade pública das expropriações necessárias para concretizar o programa de requalificação em causa e a atribuição às mesmas do carácter urgente resulta de expressa previsão contida no acto legislativo que aprovou o referido programa; b) No plano da ponderação dos interesses em presença, os valores da protecção do ambiente e do ordenamento do território, enquanto instrumentos de realização humana e garantes do direito à vida e à integridade, não podem deixar, por definição, de prevalecer sobre o direito de propriedade privada; c) Como a decisão de expropriação é um acto discricionário praticado no exercício de poderes administrativos, a sua suspensão jurisdicional seria incompatível, sob pena de ilegítima intromissão do Poder Judicial na apreciação do mérito da actuação administrativa, com o dever que aos tribunais se impõe de respeitarem os espaços de valoração próprios do exercício da função administrativa, dever que decorre do princípio da separação de poderes. 2

3 1ª - Aprecie a legalidade da resolução do Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional de 4 de Agosto de 2008 e refira por que meio processual poderia Daniel reagir contra ela. (2,5 valores) 2ª - Pronuncie-se sobre a pertinência de cada um dos três argumentos apresentados pelo Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, procedendo ao respectivo enquadramento jurídico. (4,5 valores) Caso II A) Suponha que o Centro Regional de Segurança Social (CRSS) do Norte, instituto público com sede no Porto, lançou um concurso público de adjudicação de um contrato de empreitada de obra pública, dirigido à realização de reparações urgentes na estrutura do edifício no qual funcionam os respectivos serviços centrais. Por deliberação de 20 de Outubro de 2008, o Conselho Directivo do referido CRSS homologou a lista de classificação final elaborada pelo júri do concurso. B) Inconformada com a classificação que lhe foi atribuída, a empresa classificada em segundo lugar no concurso decidiu deduzir impugnação administrativa do acto homologatório da lista para o Secretário de Estado da Segurança Social, o que fez em 27 de Outubro de E, como não obteve resposta no âmbito desta impugnação, propôs, em 9 de Dezembro de 2008, uma acção de impugnação da deliberação do Conselho Directivo do CRSS. Pronuncie-se sobre a conduta adoptada pela empresa, apreciando as questões relevantes para aferir da admissibilidade da impugnação contenciosa deduzida em 9 de Dezembro de (3 valores) Caso III Suponha que o Governo, visando uma mais justa repartição dos encargos fiscais, perante a constatação de que a situação económica gera crescentes dificuldades às empresas e à maior parte dos cidadãos, mas há cidadãos menos afectados ou mesmo beneficiados, delibera, em Conselho de Ministros, tomar as seguintes medidas, através de Decreto-Lei, ao abrigo da competência atribuída pela alínea a), do n.º 1 do art. 198.º da Constituição da República Portuguesa: 3

4 a) Criar um tributo, com a taxa de 25%, a incidir sobre a valorização de terrenos beneficiados com a construção de obras públicas durante os anos de 2005 a 2009, a pagar no ano de 2010; b) Alterar as taxas de IRS a partir de , diminuindo-as em 1 ponto percentual em todos os escalões; c) Reduzir em 10% a taxa de justiça a cobrar nos processos judiciais, com efeito a partir do dia seguinte ao da publicação do diploma em Diário da República. Emita opinião fundamentada sobre a validade constitucional destas medidas. (6 valores) Caso IV A) António adquiriu a Bento, em , um prédio de que este era proprietário e que este habitava há mais de 10 anos. O prédio foi entregue por Bento a António na data da aquisição, passando este imediatamente a habitá-lo. A partir dessa data, Bento não recebeu qualquer comunicação da Administração Fiscal relativa ao prédio referido. B) Em , António foi citado num processo de execução fiscal, em que a administração tributária visava a cobrança coerciva de Imposto Municipal sobre Imóveis referente àquele prédio e relativo ao ano de 2005, no montante de 240 euros. António tinha sido notificado, em Março de 2008, da liquidação dessa quantia, relativa a esse imposto e ano, sendo-lhe indicado o prazo de pagamento de 30 dias e sendo informado de que podia reclamar ou impugnar a liquidação, nos prazos previstos nos arts. 70.º e 102.º do CPPT. Porém, entendendo que não estava obrigado a pagar o referido imposto, António não efectuou o pagamento, nem reclamou, nem impugnou a liquidação. António continua convencido de que não está obrigado a pagar a quantia referida. Diga fundamentadamente, com menção da norma ou normas aplicáveis: a) Que meio contencioso pode António utilizar para defender a sua posição no processo de execução fiscal e qual o prazo para a sua utilização; (1 valor) b) Se, não tendo reclamado ou impugnado o acto de liquidação que lhe foi notificado dentro dos prazos legais, a defesa de António podia ter êxito; (1 valor) c) Qual ou quais as consequências imediatas, a nível do processo de execução fiscal, teria a eventual procedência do meio processual a utilizar por António; (1 valor) 4

5 d) Qual ou quais as consequências imediatas, a nível do processo de execução fiscal, teria a eventual improcedência do meio processual a utilizar por António. (1 valor) 5