Palavras-chave: Historiografia brasileira, Movimento operário, Anarquismo, Produção acadêmica.
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- Ana do Carmo Pinhal
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1 UM DEBATE TEÓRICO À RESPEITO DA HISTORIOGRAFIA OPERÁRIA NA DÉCADA DE Angelita Cristina Maquera (Mestranda em História UEM) Orientador: Dr. Sidnei J. Munhoz (História UEM) RESUMO Este trabalho é uma pequena parte da minha pesquisa de mestrado ainda em sua fase inicial, que tem como objeto a análise da produção acadêmica sobre o movimento operário brasileiro, mais especificamente, sobre a influência anarquista na Greve Geral de Salienta-se que, nesse trabalho, a historiografia é compreendida como uma operação (técnicas, conjunto de práticas), que está relacionada com o lugar social do historiador e os procedimentos especificos da disciplina. Essa reflexão deve ser levada em consideração, pois ao analisar a historiografia brasileira na década de 1980, alguns aspectos são relevantes, como por exemplo, percebe-se que ela direcionou o olhar aos movimentos sociais, dentre eles, o movimento operário do início do século XX. Entretanto, além do exposto, dois fatos merecem destaques, primeiramente, a influência do historiador Edward Palmer Thompson e do filósofo francês Michel Foucault nos trabalhos acadêmicos. Um segundo aspecto, não menos importante, foi a criação do acervo Edgard Leuenroth na Universidade de Campinas (Unicamp), que serviu de matéria-prima para os grupos de estudos sobre a formação do movimento operário no país, ressaltando que a maioria das obras acadêmicas de referência sobre o tema, foram escritas na Unicamp. Por fim, no desenrolar do trabalho procuraremos averiguar as possíveis relações entre a emergência dos chamados novos movimentos sociais e o incremento de estudos sobre o movimento operário brasileiro no início do século XX. Palavras-chave: Historiografia brasileira, Movimento operário, Anarquismo, Produção acadêmica. 983
2 INTRODUÇÃO É notável que a partir da década de 1980 proliferaram no Brasil diversos trabalhos acadêmicos sob a temática do trabalho, e principalmente sobre a classe operária. Assim, a pesquisa que desenvolvo pretende analisar essa produção historiográfica, buscando estabelecer quais fatores motivaram o olhar acadêmico direcionado ao inicio do século XX, e destacaram o movimento dos trabalhadores das primeiras fábricas brasileiras, um Brasil que trilhava seus primeiros passos rumo à industrialização. Salienta-se que a constituição do movimento operário no Brasil, não se deu de uma hora para outra, foi um processo lento, que aos poucos moldou o trabalhador livre que se distribuíam pelas fábricas nascentes. Ressaltam-se que as diferenças culturais proporcionadas pela imigração, assim como, um capitalismo nascente e remoto, são fatores que além de demarcar a sociedade brasileira, criam a singularidade do movimento operário nacional. As condições e os modos de vida não eram favoráveis à sobrevivência da família operária devido aos baixos salários, às profundas mudanças culturais e à própria à adaptação ao capitalismo industrial. Esses e muitos outros impasses ocasionaram incertezas, carestia de vida e tensões que contribuíram na constituição de um período de revoltas É justamente esse contexto que se tornou objeto dos historiadores na década de 1980, mantendo um enfoque, principalmente, nas greves ocorridas em Buscar compreender como os historiadores abordaram esse conflituoso período da história brasileira, é objetivo da pesquisa em exercício. UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA A pesquisa tem como objeto de análise, a produção historiográfica, assim, é necessário refletir sobre as implicações que envolvem o trabalho do historiador. Em decorrência, se faz necessário esmiuçarmos algumas idéias de Michel De Certeau, que contribui para a problematização da função do historiador. Certeau busca responder algumas indagações à respeito do historiador e sua relação com a escrita da própria história, sua 984
3 relação com o lugar social, com as instituições e a própria constituição do texto acadêmico, o autor denomina esses aspectos como, operação historiográfica 207. Primeiramente, o autor afirma que, o gesto que liga ideias a lugares é parte do trabalho do historiador, assim, todo sistema de pensamento está fundamentalmente relacionado a lugares, que podem ser, sociais, culturais, econômicos, dentre outros. É importante compreender que para Certeau a história é entendida como uma operação, isso é, buscar compreendê-la como a relação entre o lugar, os procedimentos de análise e a construção de um texto. No entanto, é importante compreender que a pesquisa historiográfica está relacionada ao seu local de produção socioeconômico, político, e cultural. Sublinha-se que esse lugar é delineado por métodos, interesses particulares e documentos. Assim, a interpretação histórica está relacionada a um sistema de referências de um determinado lugar social. Atenta-se também para a subjetividade em que está relacionada a pesquisa histórica, pois, Certeau aponta que o pensamento do historiador mantém uma subjetividade que é direcionada à autonomia do seu lugar social. Nesse lugar social está inserida a própria instituição do saber que é a relação do sjueito individual com seu objeto, um lugar científico. Esta instituição científica delimita as pesquisas e possui suas próprias leis, sistemas e símbolos especificos. Entende-se que esses fatores mencionados, por vezes, não são explicitos nos textos, eles fazem parte da categoria do não dito. Desse modo, é importante compreender que o livro de história é resultado desse lugar social, de um grupo especifico. O lugar social possui assim, uma função dupla, pois, ele permite um determinado tipo de produção científica e censura e proíbe outros. Assim, perceber as amarras às quais o historiador está envolvido, nos ajudará a entender a grande produção acadêmica que visava o movimento operário nascente, e entender também, por exemplo, os motivos que possibilitaram a um grupo de estudos da Unicamp tornar-se referência nesses estudos a partir de uma variada e robusta produção sobre o tema. 207 CERTEAU, Michel De. CAP. II: A operação historiográfica, In: A escrita da história. Rio de Janeiro, Forense,
4 Certeau nos ajuda a buscar uma maior reflexão sobre esse tripé da produção históriográfica (lugar social, prática e escrita), evidencia-se as diversas fases do trabalho historiográfico e as muitas influências e limitações em que a pesquisa está inserida, desse modo,o autor traz à tona essas reflexões sobre o próprio ofício que muitas vezes passam despercebidas. METODOLOGIA APLICADA Este trabalho ao realizar uma análise da historiografia produzida, recortará as principais teses e dissertações que foram publicadas no limite temporal que corresponde à década de 1980, e principalmente, levando em conta a repercussão de cada obra na academia. Os levantamentos feitos em relação ao tema, detectou que algumas obras atualmente ainda são listadas como referências sobre o tema do trabalho e classe operária brasileira e ainda salienta-se que a publicação desses trabalhos em livros, suscitou um destaque ainda maior. O intituito de se estudar livros que eram teses ou dissertações, também remete a analisar as demandas de pesquisa no período e o ambiente acadêmico. Assim, compreende-se porque determinadas obras tiveram maior destaque que outras, buscando responder enfaticamente: como o contexto influenciou essa produção? Ao analisar, ler e reler essas obras, busco compreender conceitos chaves utilizados por esses autores e assim entender como o pesquisador está tratando o tema. Para ilustrar, descrevo uma primeira análise que realizei na obra de Margareth Rago, Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar, Brasil 1890/ Ao ler este livro, que foi uma dissertação de mestrado defendida em 1984, orientada por Edgar Salvadori De Decca, encontrei conceitos específicos, como higienização, classe operária, disciplina, entre outros, isso demonstrou a influência da historiadora pelas obras do filósofo Michel Foucault e do historiador inglês, Edward Palmer Thompson. Assim, percebe-se a influência da historiografia estrangeira dentre os historiadores, já que isso se repete em algumas outras obras. Observa-se que o historiador Edward Thompson influenciou uma gama de trabalhos acadêmicos brasileiros sobre os 208 RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar: Brasil, 1890/1930. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
5 estudos de movimentos sociais, ou notóriamente o que define-se como história social. Thompson em seus trabalhos, afirma que a classe acontece quando os homens, como resultados de experiências herdadas ou partilhadas sentem e articulam seus interesses comuns contra outros homens cujos interesses diferem 209. O autor ressalta a ideia de classe como um fenômeno histórico, no entanto, para Thompson, a consciência de classe surge da mesma forma em tempos e lugares diferentes, mas nunca da mesma forma 210. Assim, ao analisar essa perspectiva teórica do Thompson e encontrando seus conceitos espalhados pelas fontes selecionadas, pode-se compreender parte da abordagem dos trabalhos produzidos na década de Na obra de Rago mencionada acima, observa-se também conceitos de Foucault, pensador que estava ganhando espaço nas ciências humanas nesse período. Assim, os conceitos abordados pela historiadora, estão presentes na obra vigiar e punir, em que o autor esmiuça e problematiza o conceito de corpo, que ele entende como alvo do poder, ou seja, o corpo que está aprisionado dentro de poderes apertados que lhe impõem limitações 211. O filósofo discorre nessa obra sobre como estes corpos dóceis são distribuídos e como são utilizados nas fábricas, prisões, hospitais e escolar, os conceitos empregados por Rago, higienização e disciplina, estão relacionados a essa ideia de disciplinarizar o corpo nas fábricas, para o crescimento da produção e a higienização, como um processo social de formação e constituição de uma classe. Esse exemplo da obra da historiadora Margareth Rago, apenas ilustra o que busco observar nas demais fontes também, entretanto, salienta-se que é apenas um dos aspectos observados, levando em consideração que a pesquisa ainda está em fase inicial. PRIMEIROS RESULTADOS ENCONTRADOS Como já mencionado acima, um dos resultados consistiu na percepção das influências da história social e das perspectivas da filosofia de Michel Foucault. 209 THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da Classe Operária Inglesa. Vol I. Rio de Janeiro, Paz e Terra, Ibid. Pág FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: O Nascimento da Prisão. Rio de Janeiro, Vozes,
6 Entretanto, um aspecto chamou atenção durante essa análise, foi a criação do acervo Edgard Leuenroth na Unicamp em Campinas. Segundo o historiador Claúdio Batalha e Ângela Maria Carneira Araújo 212, até 1974 não existiam fontes disponíveis sobre o movimento operário, elas estavam dispersas em diversas bibliotecas, inclusive, a Biblioteca Nacional, esse descaso era decorrente da situação política e também porque o movimento operário ainda estava começando adquirir status acadêmico 213. Entretanto, a fundação da AEL em 1974, expandiu e possibilitou estudos sobre a história do movimento operário brasileiro, segundo Batalha e Araújo: O conjunto documental que compõe o acervo do AEL abrange o período que se estende de meados do século XIX aos dias de hoje. Para o estudo do movimento operário até os anos 30, o fundo do tipógrafo, jornalista e dirigente anarquista Edgard Leuenroth continua a ser o mais significantes. 214 Existem diversos acervos universitários espalhados pelo país, salienta-se o AEL em decorrência da sua importância para os estudos da história operária nacional. Em decorrência, observa-se que os pesquisadores proporcionaram o nascimento do acervo, assim como, o acervo influenciou no surgimento e aumneto das pesquisas sobre o tema. No entanto, é notável também que esses trabalhos enfatizaram as ideologias que estavam presentes na vida desses primeiros tr abalhores industriais e impulsionaram as greves decorrentes, e principalmente, menções ao movimento anarquista. Assim, partindo de tal raciocínio, busca-se compreender como as greves ocorridas em 1917, com forte atuação anarquista, se tornou emblemática nesses trabalhos desenvolvidos por historiadores na década de ARAÚJO, Ângela Carneiro & BATALHA, Cláudio H. Preservação da memória e pesquisa: A expressão do arquivo Edgard Leuenroth (AEL). In: SILVA, Zélia Lopes Da. (org). Arquivos, Patrimônios e Memória: Trajetórias e perspectivas. São Paulo, FAPESP, MAQUERA, Angelita C. O fazer-se da classe operária: uma análise do patrimônio imaterial. Trabalho de conclusão de curso: Especialização em Patrimônio e História. Universidade Estadual de Londrina, ARAÚJO, Ângela Carneiro & BATALHA, Cláudio H. Preservação da memória e pesquisa: A expressão do arquivo Edgard Leuenroth (AEL). In: SILVA, Zélia Lopes Da. (org). Arquivos, Patrimônios e Memória: Trajetórias e perspectivas. São Paulo, FAPESP,
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados ainda são primários, eu os considero, pequenas percepções de uma primeira leitura. Entretanto, busco compreender e esse boom da produção acadêmica, está relacionado à uma necessidade da própria história de buscar uma origem aos fenômenos que ocorriam na década de 1980, como as instigantes greves no ABC paulista, uma emulação do inicio do século XX, ou até mesmo uma vontade de resgatar o anarquismo. 989
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ARAÚJO, Ângela Carneiro & BATALHA, Cláudio H. Preservação da memória e pesquisa: A expressão do arquivo Edgard Leuenroth (AEL). In: SILVA, Zélia Lopes Da. (org). Arquivos, Patrimônios e Memória: Trajetórias e perspectivas. São Paulo, FAPESP, 1999 CERTEAU, Michel De. CAP. II: A operação historiográfica, In: A escrita da história. Rio de Janeiro, Forense, FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: O Nascimento da Prisão. Rio de Janeiro, Vozes, MAQUERA, Angelita C. O fazer-se da classe operária: uma análise do patrimônio imaterial. Trabalho de conclusão de curso: Especialização em Patrimônio e História. Universidade Estadual de Londrina, RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar: Brasil, 1890/1930. Rio de Janeiro, Paz e Terra, THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da Classe Operária Inglesa. Vol I. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
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