Mediação em Marcas: Projeto piloto entre OMPI e INPI 1
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1 Mediação em Marcas: Projeto piloto entre OMPI e INPI 1 Daniela Lippstein (1), Iolar Servi (2), Salete Oro Boff (1) (1) Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC, Brasil. dlippstein@gmail.com (2) Faculdade Meridional, IMED, Brasil. iolarjr@hotmail.com (1) Faculdade Meridional, IMED e Universidade de Santa Cruz do Sul, UNISC Brasil. salete.oro.boff@terra.com.br. 1 Trabalho submetido a área III - Ciências Sociais e Aplicadas: Direito, VII Mostra de Iniciação Científica de Iniciação Científica e Extensão Comunitária e VI Mostra de Pesquisa de Pós Graduação, realizados pela Faculdade Meridional IMED, nos dias 23, 24 e 25 de outubro de 2013.
2 Resumo: A partir do dia 15 de julho de 2013, a mediação passou a ser utilizada como um procedimento para resolução de controvérsias envolvendo oposição, recurso e processo administrativo de nulidade de registro marcário perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial do Brasil (INPI-BR), administrado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). A mediação apresenta-se como um importante instrumento para a resolução de conflitos, como uma cultura fundada na paz, visando solucionar os impasses do mundo jurídico de forma pacífica e eficaz. O trabalho justifica-se pela importância da inserção de técnicas de mediação para solucionar os impasses relativos a propriedade intelectual. O objetivo da presente pesquisa é analisar a importância e perspectiva da proposta da OMPI de implementar as práticas de mediação à resolução de controvérsias envolvendo a matéria de propriedade intelectual. O método empregado na pesquisa é o método dedutivo que a partir das premissas maiores, já existentes no Direito, acerca dos procedimentos de mediação e propriedade intelectual, constrói um caminho para analisar a proposta de unir estes dois campos do Direito. O presente trabalho conclui que a implementação das técnicas de mediação apresenta-se de forma positiva à seara de Direitos Intelectuais como forma eficaz de resolução de conflitos envolvendo questões de propriedade intelectual. Palavras-Chave: Mediação de Conflitos; Propriedade Intelectual; OMPI; INPI. Abstract: Starting on July 15, 2013, mediation began to be used as a procedure for resolving disputes involving opposition, appeal and administrative nullity proceedings trademark, registration with the National Institute of Industrial Property of Brazil (INPI-BR) administered by the World Intellectual Property Organization (WIPO). Mediation is presented as an important tool for conflict resolution, as a culture based on peace, aiming to solve the deadlocks of the legal world peacefully and effectively. The work is justified by the importance of the inclusion of mediation techniques to resolve the impasse relating to intellectual property. The goal of this research is to analyze the importance and perspective of the proposed WIPO to implement practices mediation to resolve disputes involving intellectual property. The research methodology used is that the deductive method from the major premises, existing at law, of the procedures for mediation and intellectual property, builds a path to analyze the proposal to unite these two fields of law. This paper concludes that the implementation of mediation techniques is presented in a positive way to the harvest of Intellectual Rights as an effective conflict resolution involving intellectual property issues. Keywords: Conflict Mediation, Intellectual Property, WIPO, INPI. 1. INTRODUÇÃO A justiça retributiva atualmente apresenta-se superada, seus mecanismo e formas de atuação são insuficientes para sanar todas as soluções requisitadas ao Poder Judiciário. A política de talião, "olho por olho, dente por dente" demonstrou-se ineficaz para algumas áreas do direito e novos mecanismos emergiram para suprir essa deficiência jurídica no século XXI.
3 Dentre algumas propostas, a mediação tornou-se nos últimos tempos uma alternativa positiva ao tratamento de conflitos, seu estudo tem sido desenvolvido por projetos de pesquisa e intelectuais ocupados da área, aos poucos está sendo implementada nos tribunais e modificando a cultura do litígio. A compreensão acerca de acesso à justiça precisa ser complementada, a cultura de disputas judiciais intermináveis já provou a sua ineficácia ao passo que a mediação vem ganhando espaço e sendo implementada em diversas áreas do Direito. Com esse entendimento a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) propôs um projeto piloto envolvendo os 50 primeiros pedidos de mediação em marcas, solicitados entre 15 de julho ao final de dezembro, o processo de mediação desses casos será gratuito e administrados pelo Centro de Defesa da Propriedade Intelectual do INPI (CEDPI) O pedido de mediação envolverá questões administrativas em curso no INPI, na forma de oposição, recurso ou processo administrativo de nulidade de marcas. A parceria entre INPI e OMPI foi oficializada com a assinatura do Memorando de entendimento, em 12 de setembro de 2012, no qual o CEDPI e o Centro de Arbitragem e Mediação da OMPI estabeleceram uma resolução alternativa de disputas, objetivando facilitar a mediação de conflitos envolvendo direitos de propriedade intelectual nas áreas em que o INPI possui atuação. O presente trabalho pretende demonstrar de forma breve o conteúdo que compreende a mediação de conflitos, a aplicação desse campo de tratamento de controvérsias na área do Direito de Propriedade Intelectual, bem como as disposições sobre a mediação propostas pela parceria entre OMPI e INPI em processos administrativos. 2. A MEDIAÇÃO COMO FORMA ALTERNATIVA PARA O TRATAMENTO DE CONFLITOS Os interesses antagônicos compõe o complexo mundo do qual os seres humanos fazem parte. Historicamente as pessoas discutem, contrariam-se e travam lutas por disputas de bens, ideias, opiniões dentre outros. Visando preservar o equilíbrio social, a paz e o bem estar, o Poder Judiciário é incumbido de analisar reclamações e solucionar litígios. Contudo, o sistema da justiça retributiva, onde existem vencedores e vencidos, encontrase superado e insuficiente para continuar a atender todas as demandas propostas cotidianamente ao judiciário. Alternativas à jurisdição como mediação, arbitragem, práticas de justiça
4 restaurativa, tornam-se imperiosas nos dias de hoje, buscando uma forma mais adequada de solucionar impasses. Para uma melhor compreensão do conflito toma-se a descrição de Morais e Spengler (2008, p.46): O conflito trata de romper a resistência do outro, pois consiste no confronto de duas vontades quando uma busca dominar a outra com a expectativa de lhe impor a sua solução. Essa tentativa, de denominação pode se concretizar através da violência direta ou indireta, através da ameaça física ou psicológica. No final o desenlace pode nascer do reconhecimento da vitória de um sobre a derrota do outro. Assim, o conflito é uma maneira de ter razão independentemente dos argumentos racionais (ou razoáveis), a menos que ambas as partes tenham aceito a arbitragem de um terceiro. Então, percebe-se que não se reduz a uma simples confrontação de vontades, ideias ou interesses. É um procedimento contencioso no qual os antagonistas se tratam como adversários ou inimigos. Nota-se que o conflito desperta no ser humano uma série de sentimentos negativos que podem desencadear em comportamentos impresumíveis, como raiva, ódio, orgulho, dentre outros. Para tanto, o conflito deve ser tratado para que com uma mútua soma de esforços tenhase a solução mais adequada ao caso, nesse sentido Guedes-Pinto (2009, p. 35), afirma que a mediação não pode ser compreendida como uma simples forma de solução do conflito mas sim com o objetivo que os envolvidos desenvolvam um novo modelo de inter-relação que os capacite a resolver ou discutir qualquer situação em que haja a possibilidade de conflito. Quanto aos sentimentos humanos Warat (2004, p. 27), já afirmava: Os sentimentos sente-se em silêncio, nos corpos vazios de pensamentos. As pessoas em geral fogem do silêncio. Escondem-se no escândalo das palavras. Teatralizam os sentimentos, para não senti-los. O sentimento sentido é sempre aristocrático, precisa de elegância do silêncio. As coisas simples e vitais como o amor entende-se pelo silêncio que as expressam. A energia que está sendo dirigida ao ciúme, à raiva, à dor tem que se tornar silêncio. A pessoa, quando fica silenciosa, serena, atinge a paz interior, a não violência, a amorosidade. Estamos à caminho de tornarmo-nos liberdade. Essa é a meta da mediação. Devido a demanda de pedidos protocolados todos os dias nos órgãos judiciais, o sistema judiciário está sobrecarregado e não tem respondido de forma satisfatória aos requerimentos diários, na maioria dos casos as partes saem insatisfeitas com as decisões e com o passar do tempo voltam a discutir o mesmo problema pois não compreendem e participam do processo de solução ou tratamento do conflito. Cappelletti e Garth (1988, p. 27) em sua obra Acesso à Justiça se referem a três ondas que supostamente foram criadas para facilitar o acesso à justiça, na descrição da
5 terceira onda Cappelletti e Garth enfocam uma concepção mais ampla de acesso à justiça onde incluem alterações nas formas de tratamento do conflito. Mudanças quanto a forma de enfrentamento das controvérsias interpessoais e a presença de terceiros no tratamento de conflitos apresentam-se como importantes instrumentos para evitar litígios ou facilitar sua resolução. Os litígios diferem em conteúdo e complexidade dependendo do tipo de relação entre as pessoas, assim os autores afirmam que para restaurar os laços e a harmonia dentro de um relacionamento, a mediação é o melhor mecanismo, inclusive para preservá-los. Para Warat (2004, p. 52), a mediação: [...]tem a ver com os novos contextos que tentam fortalecer visões de integridade e de humanização do homem, em termos de autonomia ou de velhas e tradicionais idéias de emancipação (terminou demasiado gasto pela modernidade). E uma negação, bastante radical, dos alicerces dos saberes da modernidade, à procura da construção das sociedades de autonomia. Tudo passa por consistentes e grandes idéias de ruptura em relação ao grande paradigma e aos paradigmas articulados da modernidade, sobretudo ruptura com relação ao paradigma jurídico e epistemológico da condição moderna. A mediação apresenta-se como uma importante ferramenta para a resolução de controvérsias, seja na esfera judicial ou em processos administrativos. Considerando essa qualidade alternativa para a solução de embates, tal medida foi absorvida pelo campo da Propriedade Intelectual para solucionar questões em vias administrativas evitando disputas judiciais desnecessárias. 3. A MEDIAÇÃO À SERVIÇO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL A propriedade intelectual é o ramo no direito que visa proteger direitos intelectuais caracterizados por serem incorpóreos. No Brasil a proteção da Propriedade Intelectual compreende a Propriedade Industrial, composta por Patentes, Desenho Industrial, Marcas, Indicações Geográficas, Nomes Comerciais, Segredos Industriais, Cultivares, Direitos Autorais, Direitos Conexos, dentre outros. Dessa forma, Pimentel (2009, p. 5), ensina que A propriedade intelectual é uma espécie de propriedade sobre os bens imateriais. No âmbito do direito, compreende um conjunto de princípios e regras jurídicas que regulam a aquisição, o uso, o exercício e a perda de direitos sobre ativos intangíveis diferenciadores. Assim, a
6 propriedade intelectual previne-se da concorrência desleal e garante proteção às criações, que por sua vez conferem exclusividade de comércio ao seu titular. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é o órgão nacional responsável por administrar questões de propriedade intelectual, enquanto a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) é o organismo internacional gestor da PI. Visando dirimir controvérsias administrativas envolvendo questões de direitos da propriedade intelectual, INPI e OMPI uniram esforços absorvendo as práticas de mediação para a resolução de tais conflitos. Para tal procedimento fora estabelecida uma resolução normativa interna que define os processos a seguir para utilização do recurso. As controvérsias envolvendo partes residentes ou sediadas no Brasil, devem ser encaminhadas por meio de um Pedido de Mediação de Marcas e Termo de Compromisso de Mediação ao Centro de Defesa da Propriedade Intelectual do INPI (CEDPI). Já quanto a controvérsias envolvendo uma parte ou ambas com sede ou residência fora do Brasil, a atuação será por parte do Centro de Arbitragem e Mediação da OMPI (Centro da OMPI), observando os dispositivos do Regulamento de Mediação da OMPI. O Regulamento de Mediação foi instituído pela Resolução 084/2013, aplica-se a todas as áreas de atuação do INPI. Já a Instrução Normativa 23/2013 faz referência ao processamento dos pedidos de mediação e demais procedimentos com relação ao direito marcário junto ao INPI. O CEDPI tem como função principal orientar e dar suporte aos processos de mediação, seguindo as seguintes etapas: 1) pré-mediação: esclarecimentos gerais e introdutórios; 2) gestão do processo de mediação (recepção, distribuição e controle) quanto aos pedidos; 3) Sobrestamento de até 180 dias para a instrução técnica; 4) Organização em fila dos processos administrativos envolvendo a mediação; 5) Realização de consulta técnica preliminar para verificar a viabilidade junto ao INPI sobre acordos de mediação que contemplem direitos intelectuais. 6) Oferecer infra-estrutura adequada com salas de reunião com isolamento acústico, nas instalações do CEDPI, no Rio de Janeiro. O pedido de mediação é encaminho de forma simples, compõe o preenchimento de um formulário intitulado de Pedido de Mediação de Marcas e do Termo de Compromisso de Mediação, que devem ser enviados pelo mediaçao@inpi.gov.br, ou em papel por Aviso de Recebimento (AR). Os primeiros 50 pedidos de mediação, que envolvem o projeto-piloto, não terão custo. Após essa fase será cobrado o valor de retribuição de R$ 500,00 (quinhentos reais). Os
7 honorários do mediador serão fixados de comum acordo entre as partes, utilizando-se a Tabela de Custas e honorários do Centro da OMPI. Dessa forma, o INPI em parceria com a OMPI está buscando aperfeiçoar seus procedimentos, aplicando técnicas de mediação para controvérsias que envolvam solicitações de Marcas, em âmbito administrativo, como uma alternativa eficaz para dirimir interesses antagônicos sem a necessidade de litígio. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Propriedade Intelectual é o âmbito do Direito que ocupa-se de direitos imateriais, como qualquer outro campo do Direito possui controvérsias e impasses que requerem soluções. Para tanto, busca-se a legislação internacional e nacional para embasar decisões que envolvam matérias do direito intelectual. O direito marcário é uma espécie do grande gênero da Propriedade Intelectual, suas questões são administradas nacionalmente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e internacionalmente pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). A marca represente um bem de importante valor econômico, com potencial para distinguir produtos, valorizar empresas, possuir reconhecimento, dentre outros benefícios. Tendo em vista à proteção legal atribuída às Marcas, as solicitações devem ser encaminhadas ao INPI para que se formalize os direitos atribuídos de exclusividade ao titular. Tal solicitação, pode enfrentar alguns impasses administrativos que envolvam oposição, recurso ou processo administrativo de nulidade de marcas. A mediação é considerada na contemporaneidade como um importante instrumento na resolução de conflitos. Atualmente é compreendida como uma eficaz alternativa a jurisdição e vem ganhando espaço em todos os âmbitos de aplicação do direito, seja ele de forma extrajudicial ou judicial. A iniciativa da parceria entre INPI e OMPI com o projeto piloto de mediação em marcas é o passo inicial para o tratamento de controvérsias em matéria de Propriedade Intelectual, evitando litígios desnecessários que possam ser solucionados em curto prazo e satisfatoriamente, desonerando o Poder Judiciário de mais um trabalho. O sucesso do projeto poderá ensejar a aplicação da mediação em outros âmbitos da Propriedade Intelectual, como matérias envolvendo software, cultivares, direitos do autor, dentre outros. Aguarda-se o
8 resultado dos 50 primeiros pedidos que compreendem o projeto piloto para a continuidade da pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOFF, Salete Oro; PIMENTEL, Luiz Otavio. Propriedade Intelectual, Gestão da Inovação e Desenvolvimento. Passo Fundo: IMED, CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Ellen Gracie Northfleet [trad]. Porto Alegre: Fabris Editor, CENTRO DE DEFESA DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DO INPI (CEDPI). O projetopiloto de Mediação em Marcas. Disponível em:< Acesso em 30 de agosto de GUEDES-PINTO, Ana C. R. Aspectos sociais da mediação. In PAULINO, Analdino Rodrigues [org]. Mediação Familiar. São Paulo: Editora Equilíbrio, MORAIS, José Luis Bolzan; SPLENGER, Fabiana Marion. Mediação e arbitragem: alternativas à jurisdição. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, p. 46. WARAT, Luis Alberto. Surfando na Pororoca: Ofício do mediador Orides mezzaroba, Arno Dal Ri Júnior, Aires José Rover, Cláudia Servilha Monteiro [coords]. Florianópolis: Fundação Boiteux, p. 27.
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