Decisão->Determinação

Transcrição

1 Decisão->Determinação A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, SECCIONAL MATO GROSSO interveio às fls. 2176/2178 aduzindo que foi provocada pela Comissão Pastoral da Terra CPT MT e o FDHT Fórum de Direitos Humanos e da Terra sobre a situação de violência que 200 famílias estão vivenciando na zona rural do Município de Colniza-MT, conforme ofício n. 08/2018. Aduz que pode estar havendo a criação de fatos que apresentados de forma invertida podem estar induzindo este juízo a proferir decisões equivocadas. Ao final pugna pela realização de inspeção in loco e não sendo esta possível, que seja determinado o auxílio e acompanhamento do Comitê Estadual de Conflitos Agrários, solicitando ao mesmo que realize novo estudo de situação, antes de cumprir a decisão proferida por este Juízo. Juntou documentos de fls. 2179/2218. É o breve relato. Fundamento e Decido. Em que pese a louvável iniciativa da OAB-MT, preocupada com a grave situação de risco em que se encontram as famílias e com os conflitos sociais envolvendo a posse de área localizada na zona rural do Município de Colniza-MT, os pleitos devem ser indeferidos. A inspeção judicial é espécie de prova que confere ao magistrado o contato direto com o lugar, a coisa ou a pessoa, por meio da qual é o próprio juiz quem realiza o exame, objetivando verificar as características e situações das pessoas ou coisas e usualmente realiza após a produção das outras provas, já que sua finalidade é o esclarecimento de pontos duvidosos da demanda.

2 O art. 481 do CPC prescreve que o juiz pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sofre fato que interesse a decisão da coisa. E o art. 483, também do CPC, enuncia que o juiz irá ao local onde se encontre a pessoa ou a coisa quando: I - julgar necessário para a melhor verificação ou interpretação dos fatos que deva observar. Ocorre que o presente feito já se encontra sentenciado desde o ano de 2016, sendo a inspeção judicial, nessa quadra processual, totalmente desnecessária. Consoante dispõe o art. 370 do CPC, ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, cabe determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias. Nesse sentido, Em outros termos, a inspeção judicial é faculdade conferida ao juiz, e não uma imposição legal. O art. 440 do CPC usou o tempo verbal pode, sinalizando que tal meio de prova não é imperativo, e sim facultativo (Ap. Cív /000, rel. Des. Darcio Lopardi Mendes, j ). Destaco que já houve cumprimento da medida de reintegração de posse em dezembro de 2017, conforme se verifica às 2040/2041. Logo, a luz dos elementos de convicção constantes dos autos, mostra-se prescindível a inspeção judicial requerida. Isto porque não há como esse magistrado prolatar nova sentença ou revogar a anterior em face de uma nova invasão, sendo que qualquer revisão do comando sentencial deve ser feito pela instância superior. No que tange ao pedido de realização de novo estudo de situação o mesmo também deve ser indeferido.

3 Isto porque o cumprimento da medida, liminar ou definitiva, se realiza em face daqueles que ocupam o imóvel e contra quem quer que lá esteja, intervenham ou não no processo, pois em decorrência da ordem mandamental o bem fica sub judice e qualquer ocupação subsequente atenta à ordem do processo e à autoridade judiciária. A desocupação deve ocorrer espontaneamente com a publicização da sentença, sob pena de evacuação forçada da área; independentemente de intimação de cada ocupante por se tratar de ocupação coletiva organizada sendo suficiente a ciência formal daqueles que compareceram aos autos e ainda estejam no bem quando do cumprimento da sentença. Neste sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSE (BENS IMÓVEIS). AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PEDIDO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E DE EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DECISÃO NÃO ACOLHIDA NA ORIGEM, ANTE O FUNDAMENTO DE QUE NOVOS INVASORES, QUE NÃO AQUELES CITADOS PARA A AÇÃO, ESTARIAM OCUPANDO O IMÓVEL. PROVIMENTO JURISDICIONAL REFORMADO. SITUAÇÃO QUE, POR SI, NÃO OBSTA A REINTEGRAÇÃO. A sentença, na ação possessória, em face das particularidades que lhes é inerente, tem sua eficácia projetada não só em relação aos réus identificados e citados, mas, também, a todos aqueles que ocuparam ilicitamente o bem no transcorrer da lide. DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº , Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 16/04/2015) AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSE (BENS IMÓVEIS). AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. MANDADO REINTEGRATÓRIO. DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL E INDIVIDUAL DE TODOS OS INVASORES/OCUPANTES PARA O INÍCIO DA FLUÊNCIA DO PRAZO DE DESOCUPAÇÃO COMPULSÓRIA DO IMÓVEL. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS À RGE E CORSAN. PEDIDOS MERAMENTE PROTELATÓRIOS DO CUMPRIMENTO DO MANDADO. - Correta a decisão monocrática que negou seguimento ao agravo de instrumento, devendo ser mantida por seus próprios fundamentos. - Mostra-se desnecessária a intimação pessoal e individual de todos os invasores da área sob litígio acerca do prazo para desocupação compulsória das terras para que se dê o início da fluência de tal providência, quando, além de todos os invasores estarem cientes de que deverão desocupar o local, a ocupação por inúmeras pessoas torna inviável exigir-se a

4 qualificação e a citação de cada uma delas. - Comprometendo-se o Município de Passo Fundo às providência necessárias para a instalação dos serviços de água e energia elétrica no local onde serão alojadas as famílias que desocuparão a área invadida, resta mantido o indeferimento do pedido do ora agravante de expedição de ofícios à RGE e CORSAN, no sentido de que estas informem o andamento da obras de instalação de tais serviços. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (Agravo Nº , Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 27/03/2014). Cabe ressaltar, na hipótese de ocupação organizada por movimentos sociais, que estes (ainda que respeitados no estado democrático de direito por exteriorizarem manifestações da cidadania e apontarem às organizações políticas formais as carências que devem ser supridas pelo Estado por meio de reparação legislativa, fomento e execução de políticas públicas coerentes com a realidade social) tem o limite e o dever de se pautar por instrumentos de ação sem afronta à ordem jurídica; e respeitar iguais valores de cidadania e a autoridade que representa o conjunto social. Neste contexto é legítima a reintegração em face de esbulho possessório, ainda que se reconheça o direito abstrato à habitação. A autoridade judiciária e a condição de agente político do Estado requerem sensibilidade do juiz para administrar a justiça e adotar as medidas necessárias ao cumprimento das decisões sopesando as peculiaridades do caso concreto, inclusive quanto aos prazos e meios à desocupação forçada e diligências que incumbem aos auxiliares da justiça sem transferir ao ofendido obrigações que são do Estado. Com efeito, a ação possessória por invasão plúrima, coletiva ou em massa se volta contra todos e quaisquer invasores e a eficácia da sentença se dá contra quem quer que esteja no bem quando do cumprimento do interdito, seja de manutenção ou reintegração, sob pena de tornar inútil a tutela alcançada ao ofendido; e ferir a coisa julgada, a ordem jurídica e a autoridade do Estado. No caso dos autos, trata-se de ação de reintegração de posse ajuizada em 07 de janeiro de 2004 e que foi julgada procedente em 07 de novembro de 2016.

5 E mais, conta com recurso de apelação que ainda não foi remetido à instancia superior para apreciação, tamanha a litigiosidade instalada. Um novo estudo de situação a cada nova invasão importaria na eternização do feito em clara ofensa aos princípios constitucionais da efetividade estatal e da duração razoável do processo. Como já dito na decisão de fls. 2158/2160, em que pese o receio de deflagração de um conflito, desponta, com efeito, a possibilidade de que a demora no cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse permita o agravamento da situação com o restabelecimento do contingente inicial de ocupantes na área o que viria a dificultar a atuação do Poder Público na sua consecução. A ordem reintegratória constante da sentença já foi cumprida há menos de 01 (um) ano, podendo ser utilizado pela Polícia Militar o estudo de situação n. 012/2017/8CR/PMMT, acostado às fls. 2091/2155. Além do mais, a sentença de reintegração de posse deverá ser cumprida em face de quem estiver na posse da área naquele momento. No mesmo sentido é a jurisprudência: RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE PEDIDO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NÃO CONHECIDO REDISCUSSÃO DA MATÉRIA ACOBERTADA PELA COISA JULGADA CONSTATAÇÃO PRETENSÃO A OBTENÇÃO DE NOVA TUTELA POSSESSÓRIA INADMISSIBILIDADE RECURSO DESPROVIDO. Mantém-se a decisão que não conheceu do pedido de cumprimento de sentença formulado pelo réu na ação de reintegração de posse, quando se extrai do seu conteúdo a pretensão de rediscutir a matéria acobertada pela coisa julgada, e de obter nova tutela possessória. (TJMT, AI 58725/2016, DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO, SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 24/08/2016, Publicado no DJE 02/09/2016).

6 AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE EXECUÇÃO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - REINTEGRAÇÃO DE POSSE DE ARÉA DE GRANDE EXTENSÃO TERRITORIAL SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO INVASÃO DE NOVAS PESSOAS EM PARTE DA ÁREA NO DECORRER DO PROCESSO E DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA - DESNECESSIDADE DE NOVA AÇÃO EFEITOS DA SENTENÇA ACOBERTADA PELO MANTO DA COISA JULGADA DEVEM ALCANÇAR A TODOS (NOVOS E/OU ANTIGOS ESBULHADORES) ARTIGO 42 DO CPC AUSÊNCIA DE BOA-FÉ DOS POSSEIROS - RECONHECIMENTO CITAÇÃO POR EDITAL DOS RÉUS INCERTOS E DESCONHECIDOS POSSIBILIDADE - PERÍCIA PARA LEVANTAMENTO DOS PREJUÍZOS - PERDAS E DANOS ADMISSIBILIDADE - DECISÃO RECORRIDA REFORMADA RECURSO PROVIDO. Desnecessária a propositura de nova ação possessória contra novos invasores da mesma área no decorrer da instrução processual e/ou no cumprimento do julgado, devendo os efeitos da sentença transitada em julgado alcançar a todos indistintamente (novos e/ou antigos esbulhadores), sob pena de perdurar "ad eternum" a reintegração de posse, visto que sempre é possível que novos invasores ocupem a área, principalmente aquelas de grande extensão territorial. A sentença proferida entre as partes originárias estende-se aos seus adquirentes ou cessionários. Sendo público e notório na região que a área litigiosa é objeto de inúmeras invasões no decorrer do tempo, não se pode considerar que novos invasores são portadores de boa-fé. É viável a citação por edital por edital de pessoas incertas e desconhecidas que invadiram áreas marcadas por inúmeros esbulhos, cuja citação pessoal é praticamente impossível devido a sua grande imensidão. É possível a realização de perícia técnica para averiguar os prejuízos Advindos da invasão, a fim de possibilitar ao possuidor proprietário ressarcimento por perdas e danos no futuro. (TJMT, AI 92365/2014, DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO, SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 30/09/2015, Publicado no DJE 06/10/2015) grifei. RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE DECISÃO QUE, EM RAZÃO DO TRANSITO EM JULGADO DA SENTENÇA, DETERMINOU A EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE REINTEGRAÇÃO EM FACE DE QUEM QUER QUE ESTEJA NA POSSE DO IMÓVEL E OFICIOU À AUTORIDADE POLICIAL SOLICITANDO ESTUDO DA ÁREA ALEGAÇÃO DE AUSENCIA DE COMPROVAÇÃO DE POSSE DESCABIMENTO COISA JULGADA ALEGAÇÃO DE INCOMPETENCIA TERRITORIAL COISA JULGADA RECURSO NÃO CONHECIDO. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide. Inteligência do art. 505 do CPC. (TJMT, AI , DES. DIRCEU DOS SANTOS. TERCEIRA CAMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 13/12/2017, Publicado no DJE 18/12/2017).

7 Quanto à possível prática de atos criminosos, este Juízo falece de competência na seara criminal, sendo que os fatos já foram comunicados aos órgãos de segurança, incumbindo a estes a adoção das medidas cabíveis, sem prejuízo da atuação da OAB junto aos mesmos. Ante o exposto: a) INDEFIRO os pedidos de fls. 2176/2178; b) Certifique-se se todas as disposições contidas na sentença de fls. 1526/1537 foram devidamente cumpridas; c) Em caso positivo, cumpra-se o despacho de fls. 2056/2057; d) Intime-se a OAB-MT, na pessoa de seu Presidente, para que, no prazo de 05 (cinco) dias, esclareça ao Juízo qual a forma de intervenção de terceiros que pretende adotar no presente feito; e) Dada a urgência do caso, determino que o Presidente da OAB-MT seja cientificado via telefone ou da presente decisão, ficando registrado que eventual prazo processual somente passará a contar da publicação via DJE; Intime-se. Cumpra-se.