TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante AIG SEGUROS BRASIL S/A, é apelado TRANSPORTES AEREOS PORTUGUESES S/A - TAP. ACORDAM, em 24ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JONIZE SACCHI DE OLIVEIRA (Presidente), DENISE ANDRÉA MARTINS RETAMERO E SALLES VIEIRA., 24 de maio de JONIZE SACCHI DE OLIVEIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante: Aig Seguros Brasil S/A Apelado: Transportes Aereos Portugueses S/A - Tap Comarca: Voto n APELAÇÃO Ação regressiva de danos Transporte aéreo internacional de passageiros Extravio de bagagens Improcedência Apelação da seguradora autora - Após o recebimento da indenização securitária, o segurado ajuizou ação indenizatória contra a transportadora Transação amigável homologada judicialmente nos autos da ação indenizatória ajuizada pelo passageiro Pagamento realizado pela transportadora antes da propositura desta ação regressiva Descabimento da condenação da ré também nesta demanda Precedentes desta Corte Sentença mantida - Recurso desprovido. Trata-se de apelação interposta por AIG SEGUROS BRASIL S.A. contra a r. sentença de fls. 281/284, que julgou improcedentes os pedidos formulados em ação regressiva de danos e condenou a autora a suportar os encargos sucumbenciais, incluídos os honorários advocatícios arbitrados em 15% sobre o valor da causa. Sustenta a apelante (fls. 287/310), em resumo, que: (i) o pedido se ancora na sub-rogação operada a partir do pagamento da verba securitária; (ii) o objeto da ação indenizatória n , ajuizada pelo segurado em face da companhia aérea, não se confunde com esta lide; (iii) a coisa julgada material apenas surte efeitos inter partes; (iv) a sub-rogação da seguradora Apelação nº Voto nº 2

3 ocorreu previamente à transação realizada entre a apelada e segurado na demanda indenizatória; (v) o código consumerista deve ser aplicado à espécie. fls. 316). Transcorreu in albis o prazo para contrarrazões (cf. certidão de É o relatório. Cuida-se de ação regressiva de danos proposta por Aig Seguros Brasil S.A. contra TAP Transportes Aéreos Portugueses S.A. A demandante se comprometeu perante Mastercard do Brasil Ltda. a fornecer cobertura securitária para atrasos e extravios de bagagens em transportes aéreos de passageiros portadores do cartão de crédito com a bandeira Mastercard. Segundo narrado, em , o segurado Rafael D'Avila Navarro Lins foi transportado pela ré de Paris a, com conexão em Lisboa. Entretanto, desembarcando no destino, tomou conhecimento de que sua bagagem fora extraviada. Em decorrência de tal fato, em , a seguradora indenizou o passageiro no importe de R$ 1.299,00 (fls. 268). Em contestação, a transportadora ré afirmou que, aos , efetuou o pagamento de R$ 4.800,00, a título de danos materiais, diretamente ao segurado, em razão de acordo firmado nos autos da ação indenizatória n , que tramitou perante a Vara do Juizado Especial da Comarca de Itajaí, Santa Catarina, (fls. 213/215). Defende, assim, a ocorrência de coisa julgada. O nobre magistrado sentenciante, entendendo que a ré celebrou a referida transação de boa-fé, sem ter conhecimento do prévio pagamento feito pela seguradora ao contratante do transporte, julgou improcedente esta demanda Apelação nº Voto nº 3

4 regressiva, nos termos do art. 487, I, do CPC/2015. Sem razão a seguradora, ora apelante, que se opõe à r. sentença por não ter acolhido a sua pretensão. É incontroverso o fato de que a apelante indenizou seu segurado em , no valor de R$ 1.299,00 (fls. 268). É igualmente certo que, após o recebimento da indenização securitária, Rafael D'Avila Navarro Lins ajuizou ação em face da transportadora para o fim de receber ressarcimento pelos danos oriundos do indigitado extravio de bagagem, entre os quais estavam incluídos os prejuízos de ordem moral e material (fls. 182/192). Frise-se que nos danos materiais almejados naquela demanda estavam englobados os aqui postulados a título de regresso (R$ 1.299,00). Por meio de uma breve análise ao sistema e-saj, é possível verificar que, em , o passageiro e a companhia aérea celebraram transação, homologada por sentença, mediante a qual a ora apelada se obrigou ao pagamento da importância global de R$ 4.800,00 para encerramento e liquidação da ação (fls. 213/215). Constata-se, outrossim, que, aos , a requerida efetuou a quitação da referida soma, depositando-a na conta corrente de titularidade da sociedade de advogados que representou o segurado na ação indenizatória, conforme estipulado no acordo (fls. 216). Como bem pontuado pelo douto Juízo a quo, é de se supor que a apelada tenha celebrado aquela transação de boa-fé, sem ter conhecimento acerca do pagamento feito pela seguradora ao segurado em (fls. 268), incidindo à espécie o quando previsto no artigo 309 do Código Civil, segundo o qual: O pagamento de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Apelação nº Voto nº 4

5 Afinal, a recorrente não comprou ter notificado a transportadora aérea a respeito do pagamento de R$ 1.299,00 e, por conseguinte, da sub-rogação de direito em função dele operada. Nesse contexto, conclui-se que a transação judicial celebrada entre o segurado e a transportadora fez extinguir a pretensão regressiva da postulante, notadamente porque o passageiro já exerceu seu direito de ação contra o causador do dano (companhia aérea), de sorte que a seguradora não dispõe mais do direito de ação que a sub-rogação lhe conferiria. Pensar de modo diverso submeteria a transportadora ao pagamento em duplicidade, com o qual não se pode concordar. Convém ressaltar que Rafael D'Avila Navarro Lins propôs ação indenizatória em março de 2015 e a seguradora ajuizou esta ação regressiva apenas em julho de Em situações análogas, envolvendo as mesmas partes este Egrégio Tribunal de Justiça assim decidiu: Apelação Ação regressiva Transporte aéreo internacional Seguradora supostamente sub-rogada nos direitos do segurado, a quem pagou indenização securitária por extravio de bagagem Sentença de acolhimento do pedido Irresignação procedente Contratante do transporte e transportadora que, em outro processo, celebraram transação para a reparação de todos os danos oriundos do fato, em virtude da qual o primeiro passou quitação Anterior pagamento de indenização, pela seguradora ao contratante do transporte/segurado, representando Apelação nº Voto nº 5

6 'res inter alios' frente à transportadora/apelante e, portanto, sendo inoponível a esta última, que realizou a transação e o correspondente pagamento de boa-fé Transação que, por noção elementar, representa meio de extinção da obrigação Inviável, nas circunstâncias, o pretendido reconhecimento do direito de regresso, sem embargo da possibilidade, em tese, da seguradora pleitear a repetição do que pagou ao segurado Hipótese em que tem plena aplicabilidade o disposto no art. 309 do CC, segundo o qual 'o pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor' Sentença reformada, com a proclamação da improcedência da demanda. Dispositivo: Deram provimento à apelação (TJSP; Apelação ; Relator (a): Ricardo Pessoa de Mello Belli; Órgão Julgador: 19ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 05/06/2017); RESPONSABILIDADE CIVIL Seguro viagem Indenização pelo extravio de mercadoria paga pela seguradora Ação de regresso ajuizada pela seguradora contra a companhia de transporte aéreo Hipótese em que o segurado também ajuizou ação contra a transportadora, obtendo vitória judicial e lá tendo a indenização sido paga antes mesmo da propositura desta ação Descabimento da condenação da transportadora também nesta ação regressiva, sob pena de condenação em duplicidade - Apelação nº Voto nº 6

7 Carência da ação mantida Precedentes desta Corte, inclusive desta Câmara - Recurso improvido (TJSP; Apelação ; Relator (a): Lígia Araújo Bisogni; Órgão Julgador: 14ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 22ª Vara Cível; Data do Julgamento: 27/10/2017). Portanto, ausentes os elementos que poderiam dar ensejo à reversão do decisum, nega-se provimento ao recurso, subsistindo incólume a r. sentença guerreada. Dado o desprovimento do recurso da autora, arbitram-se os honorários advocatícios de sucumbência em favor do patrono da ré em 20% do valor da causa, consoante o art. 85, 2º, do CPC/2015. Para fins de prequestionamento, enfatiza-se que toda matéria devolvida no apelo se encontra prequestionada, com a ressalva de que o juiz não está obrigado a mencionar expressamente todos os pontos suscitados pelas partes, tampouco a citar as normas aventadas, bastando que o recurso tenha sido fundamentadamente apreciado. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. JONIZE SACCHI DE OLIVEIRA Desembargadora Relatora Apelação nº Voto nº 7