O Ensino de Arte e sua Produção na História da Educação
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- Filipe de Abreu Palma
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1 Resumo O presente ensaio apresenta um levantamento sobre o que foi produzido a respeito do ensino de arte no Brasil e publicado em periódicos de História da Educação nos últimos onze anos. O mapeamento da entrada desse ensino na educação básica no Brasil se justifica para verificar como o ensino de arte é tratado em publicações específicas à História da Educação, a fim de se perceber como esse ensino foi se constituindo e se fazendo vigente no campo da educação. Assim, o ensaio apresenta, para o aporte teórico, as discussões advindas de artigos publicados na Revista Brasileira de História da Educação (RBHE), na Revista História da Educação, criada pela Associação de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE) e nas produções de congressos na área da História da Educação no período de 2003 a Como resultado preliminar, vemos o quanto o levantamento se faz importante para a caracterização da historiografia de um determinado tema e período, bem como a percepção de nomenclaturas distintas que se constituíram, nos enfatizando a especificidade da arte em relação ao seu ensino e nas demais concepções pedagógicas atreladas a ela, favorecendo, assim, reflexões a partir da área de história da educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS vanessa.gogh@hotmail.com Palavras chave: educação, ensino de arte, história da educação X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.1
2 A escolha do tema surgiu da necessidade em verificar como as publicações referentes à História da Educação tratam o ensino de arte no Brasil, bem como a análise da sua entrada na educação básica. Dessa forma, através da localização do que foi produzido nos últimos onze anos, assim como um levantamento a fim de caracterizar a historiografia do tema, foi realizado um mapeamento sobre a forma como a área da história da educação vem pesquisando a temática. É importante salientar que as publicações utilizadas durante o exercício de busca de produção se restringiram às revistas relevantes da História da Educação, sendo elas a Revista Brasileira de História da Educação (RBHE), a ASPHE, que foi a primeira associação de pesquisadores em História da Educação a constituir se no Brasil, criando a primeira revista especializada no gênero (História da Educação), com o primeiro número lançado em São Leopoldo, em 1997, e, também, os Cadernos de História da Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Além disso, foram utilizadas para a pesquisa as produções de congressos na área da História da Educação, principalmente em relação ao Grupo de Trabalho (GT02) da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), sob o título História da Educação. Dentre as inúmeras possibilidades de busca nas publicações da Revista Brasileira de História da Educação (RBHE), vale ressaltar que, em relação ao tema que me detive durante a pesquisa, encontrei apenas um artigo relevante, sob o título A lei n /71 e a obrigatoriedade da educação artística nas escolas: passados quarenta anos, prestando contas ao presente (SUBTIL, 2012). É importante destacar que, ao localizar o que foi produzido sobre o ensino de arte em relação à História da Educação, não me restringi somente ao termo arte ou artes, uma vez que hoje a disciplina que conhecemos já passou por outras configurações, tendo sido tratada como ensino do desenho, antes mesmo de ser considerada uma disciplina. Dessa forma, ao realizar as buscas nas bases de dados, ora pesquisei pelo termo desenho, ora canto orfeônico, ora trabalhos manuais, ora educação artística. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.2
3 Em relação ao artigo encontrado, pelo título já percebemos a importância da inclusão da arte na Lei de Diretrizes e Bases de É nesse período que a arte é incluída no currículo escolar com o título de Educação Artística, porém é considerada uma atividade educativa e não uma disciplina como as demais. O artigo, então, analisa, isto é, presta contas sobre essa obrigatoriedade passados os quarenta anos do surgimento da lei. A autora tem como um de seus objetivos entender, também, como a arte se disciplinarizou, além de verificar o que estava por trás dessa escolarização da arte, tendo em vista o momento político em que o Brasil vivia nos anos 70, no contexto autoritário do Golpe Militar de Indagada pelo estranhamento de como uma ditadura tornou obrigatório o ensino da arte nas escolas públicas, relata uma de suas hipóteses: Uma das hipóteses seria a de que a arte, uma área historicamente ligada ao exercício da liberdade e da expressão criadora, deveria manter se sob controle, tornar se um instrumento a favor da conservação e dos objetivos desenvolvimentistas apregoados pela ditadura militar. Evidentemente, a obrigatoriedade da educação artística veio revestida de um discurso centrado no desenvolvimento individual dos educandos, embasada num caráter técnico científico e com um planejamento rigoroso que escamoteava a crítica e a contradição. (SUBTIL, 2012, p. 127). De certa forma, desde a lei n /71, a prática artística foi obrigatoriamente incluída no currículo, o que garantiu à disciplina que temos hoje o seu espaço. No entanto, a autora destaca a questão da polivalência e da ênfase na expressão e comunicação impostas, deixando de lado, segundo SUBTIL (2012), funções primordiais da arte, como a humanização através de experiências estéticas significativas, bem como as leituras críticas e criativas da realidade. Penso que a reforma dos currículos de 1º e 2º Grau, acarretada pela promulgação da Lei de Diretrizes e Bases 5.692/71, pautou o movimento de arte/educação que se desenvolvia no Brasil, que lutava pela obrigatoriedade do ensino de arte nas escolas e defendia a criação de licenciaturas plenas, extinguindo, assim, os cursos de curta duração que reforçavam a polivalência no âmbito escolar, de modo que um professor licenciado em Educação Artística tinha de ensinar música, teatro, dança e artes plásticas, destacando, assim, o caráter polivalente da lei, evidenciado pela autora. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.3
4 Já, no que concerne a Revista História da Educação a primeira especializada no gênero, lançada em 1997, por ocasião da Associação de Pesquisadores em História da Educação, a ASPHE posso dizer que obtive maiores resultados. No que se refere à temática que escolhi, localizei três artigos importantes para fazer esse resgate histórico e compreender o estado da arte da pesquisa acerca do ensino de arte no Brasil. São eles: Educação musical e nacionalismo: a história do canto orfeônico no ensino secundário brasileiro ( ) (MONTEIRO; SOUZA, 2003); Uma nova forma de ensino de desenho na França no início do século XIX: o desenho linear, (D ENFERT, 2007) e Desenho e geometria na escola primária: um casamento duradouro que termina com separação litigiosa (SILVA, 2014). Além desses três artigos que foram citados, encontrei também na Revista História da Educação alguns não tão específicos sobre o ensino de arte em determinadas épocas, mas que contribuíram para o entendimento de temáticas relativas à própria História da Educação, como a resenha que ERMEL (2011) faz do livro História da organização do trabalho escolar e do currículo no século 20: ensino primário e secundário no Brasil (SOUZA, 2008). Em relação ao artigo já citado, que trata sobre o canto orfeônico, as autoras priorizaram ocupar se da história da disciplina Canto Orfeônico, que foi introduzida no ensino secundário brasileiro no início da década de Além disso, as autoras examinam como esse processo de escolarização da música coral foi se constituindo, visto que este também teve relação com o projeto político nacionalista de Getúlio Vargas da época (MONTEIRO; SOUZA, 2003). De acordo com SUBTIL (2012), há um trecho em seu texto em que esta ressalva a questão do canto orfeônico, muito incentivado na época por Villa Lobos. Na década de 1930, Villa Lobos assentou as raízes de sua música na tradição folclórica e popular e idealizou o projeto do canto orfeônico, como ensino de canto coral (orfeão) para as escolas brasileiras, fundamentado na teoria musical. A ênfase desse compositor no folclore e a exaltação do civismo nas grandes concentrações mereceram críticas pela suposta aproximação aos movimentos do extremo nacionalismo europeu. (SUBTIL, 2012, p. 131). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.4
5 Além disso, Villa Lobos acreditava na importância de introduzir o canto orfeônico como uma disciplina obrigatória para os currículos do ensino secundário na década de 30, de modo que considerava a música um veículo de grande importância para a propaganda, no intuito de evidenciar os elementos culturais do Brasil, bem como de trazer uma marca para a personalidade da nação. Este exerceu forte atuação no governo, visto que o Canto Orfeônico teve relação com o projeto político nacionalista que imperava no Estado Novo. Para as autoras do artigo em questão MONTEIRO; SOUZA (2003) o ensino de música, desde o final do século XIX, já constava nos programas de escolas primárias no Brasil. Dessa maneira, existiam outros motivos imbuídos ao fato de estender essa obrigatoriedade do canto orfeônico ao ensino secundário, uma vez que a disciplina vinculou se a um amplo projeto político cultural de difusão dos valores cívicos e de construção da nação brasileira, projeto predominante no período entre 1930 e (MONTEIRO; SOUZA, 2003, p. 116). Ao longo do artigo, a autora nos evidencia, também, a sua investigação sobre os manuais didáticos lançados na época, estes considerados como principais veículos de difusão do projeto que se lançava. Vale salientar que, durante o texto, nota se a preocupação de Villa Lobos na formação de professores para lecionar a disciplina de Canto Orfeônico, depois que esta foi incluída oficialmente, através de decreto, no ano de Villa Lobos foi o autor de vários desses manuais, e, antes de evidenciar a listagem de conteúdos a serem trabalhados pelos professores, se preocupava primeiramente com a formação desse profissional, em como e o que ensinar, inserindo e auxiliando o professor nas maneiras de se aproximar a cultura e a música erudita ao canto popular e folclórico, tendo como objetivo facilitar a prática orfeônica, visto que a disciplina tinha como finalidade desenvolver no aluno a sua formação moral, intelectual e cívica. Em relação ao segundo artigo encontrado na Revista História da Educação, da ASPHE, sob o título de Uma nova forma de ensino de desenho na França no início do século XIX: o desenho linear (D ENFERT, 2007), o autor trata sobre o desenho linear, que se institucionalizou na instrução primária, sendo criado, primeiramente, para as escolas mútuas que se desenvolveram na França a partir de X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.5
6 No que diz respeito ao ensino mútuo, havia uma ideia de que se podia instruir todas as camadas da sociedade, incluindo as mais pobres, e que estas não causariam nenhum risco de desordem social. Para o autor, bem mais que um sistema de instrução, o ensino mútuo (...) aparece como um verdadeiro instrumento de educação política e moral fundado sobre a razão, visando a aprendizagem dos deveres futuros de homem e de cidadão. (D ENFERT, 2007, p. 34). A ação é aderida pela maioria das elites intelectuais e políticas, visto que entre 1815 e 1820, surge a implantação de escolas mútuas na província 1. Há o surgimento, nas escolas mútuas, de novas matérias, como geografia, gramática, ginástica e canto, uma vez que, durante o artigo, o autor evidencia as pretensões de um novo ensino que amplia, além do tradicional ler, escrever, contar, a gama de conhecimentos ensinados aos alunos. (D ENFERT, 2007, p. 31). O desenho linear representa não só um momento importante na história do ensino de desenho como na história da escola, visto que: Por um lado, coloca um fim ao monopólio exercido pelos artistas sobre o ensino elementar do desenho, rompendo radicalmente com as modalidades acadêmicas baseadas no estudo do corpo humano, em vigor nas escolas de desenho, a aprendizagem do desenho linear tem fundamento no traçado das figuras geométricas, sendo o desenho da arquitetura ou do ornamento sua principal aplicação. Por outro lado, opera uma mudança decisiva no cursus dos jovens estudantes que se dedicavam até então ao tradicional ler, escrever, contar. (D ENFERT, 2007, p. 33). Percebemos, então, a importância que teve a entrada do desenho linear na instrução primária. Este foi julgado indispensável à grande maioria das profissões, sendo equivalente à leitura, à escrita e à aritmética. No que se refere ao seu desenvolvimento e à argumentação utilizados para a entrada dessa disciplina, estão o favorecimento do progresso industrial e a prosperidade na nação; além da mobilização das classes pobres e operárias, uma vez que o ensino deveria dar hábitos de ordem e de disciplina, bem como o gosto pelo trabalho bem feito, ressalva o autor. Este ainda nos convoca a pensar que: 1 O autor destaca, em sua pesquisa, que no ano de 1820 havia cerca de escolas mútuas na França. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.6
7 Oferecer lições de desenho linear na escola mútua é, graças a um ensino reputado útil, prolongar uma educação moral iniciada desde as primeiras aprendizagens da leitura e da escrita, que as escolas de desenho não ofereciam realmente. Embrião da formação profissional, o desenho linear é igualmente visto como uma alternativa à aprendizagem precoce em ateliê onde os jovens correm os riscos de conviver com os operários cujas qualidades morais não são sempre comprovadas. Mantendo por mais tempo os alunos na escola primária, o ensino do desenho linear aparece conseqüentemente como uma forma conservadora ou de regulação social que responde plenamente ao projeto político da monarquia constitucional. (D ENFERT, 2007, p. 35). Assim, analisando um artigo que trata de moldes e concepções advindas de outro país, que não o nosso, podemos perceber semelhanças no pensamento e discurso político que, muitas vezes, estão por trás de leis que incluem disciplinas, ditam regras e incidem sobre a população outros modos de pensar. Destaca se, dessa forma, a importância de incluí lo nas análises realizadas ao campo da História da Educação, mesmo este que trata da França, mas que nos faz pensar se as mesmas práticas não ocorriam aqui. Em relação ao terceiro artigo encontrado na Revista História da Educação, pela ASPHE, sob o título Desenho e geometria na escola primária: um casamento duradouro que termina com separação litigiosa (SILVA, 2014), é possível realizar um paralelo entre o texto em questão, juntamente ao anterior, que também trata do ensino de desenho, no caso, o desenho linear. O texto analisa a trajetória do Desenho e da Geometria na escola de primeiras letras. Constata se, também, pela pesquisa da autora, que no início existia a forte ligação entre o Desenho e a Geometria, mas que devido a mudanças significativas do século XIX para o XX, houve a separação entre conteúdo e ensino, no momento em que cada disciplina transitou por objetivos distintos. Segundo a autora houve inúmeros debates a fim de inserir ou não o ensino de Geometria na primeira lei que regulamentou a instrução no Brasil, a lei de 15 de outubro de (SILVA, 2014, p. 63). Mais adiante foi incluído, também, nas matérias das escolas de primeiras letras denominado como curso primário o Desenho. No entanto, em um primeiro momento, através da Legislação Brasileira da Reforma do Ensino Primário e X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.7
8 Secundário da Corte, de 17 de fevereiro de 1854, observa se a possibilidade de ensino do Desenho, e não uma obrigatoriedade. Dentre a possibilidade, para as escolas que aderiram à nova matéria, o Desenho podia compreender a geometria elementar e o desenho linear. No entanto, a entrada do desenho, como matéria obrigatória, se dá com a Reforma do Ensino Primário e Secundário da Corte, de 19 de abril de 1879, em que consta a disciplina de Elementos de Desenho Linear para o 1º grau, agora com obrigatoriedade, e não mais possibilidade como antes. Para a autora: Ao analisar as semelhanças entre as orientações legais das matérias de Desenho e Geometria, assim como os primeiros livros didáticos que apresentam propostas para o desenvolvimento desses saberes nas escolas de primeiras letras, destaca se uma proximidade grande entre elas: o Desenho é introduzido pelas figuras geométricas e a Geometria representada pelos desenhos, ou seja, trata se de saberes que seguem trajetórias similares e relacionadas na construção da cultura escolar do ensino primário. (SILVA, 2014, p. 63). Vale ressaltar que essa junção entre o Desenho e a Geometria merece importância, posto que estiveram casados termo que a autora utiliza durante a escrita do artigo durante quase cem anos em comum parceria dentro do currículo vigente da escola primária da época. É importante observar que o ensino de Desenho tinha uma proposta calcada no estudo de figuras geométricas e atuava, também, como um suporte ao ensino da Geometria. Os desenhos eram realizados à mão livre, sem instrumentos e objetos que facilitassem a sua construção. Em um dado momento, houve questionamentos acerca do método de ensino que se utilizava até então. Estudiosos perceberam que as figuras geométricas não eram suficientes para educar a mão e a vista, dado que os desenhos deveriam partir da observação e repetição. Houve, assim, uma nova proposta para o ensino do Desenho, que se consolidou com a reforma de 1905, no âmbito dos Programas dos Grupos Escolares, passadas as transformações da escola primária. Dessa forma, a Geometria é desconsiderada como matéria de Desenho, agora pautada sob a ótica e prevalência do desenho ao natural. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.8
9 Ao longo do texto evidencia se essa separação basicamente na divisão entre o real e o abstrato. A Geometria era calcada nos moldes e preceitos do rigor, trabalhando com entes geométricos e abstratos, já o Desenho sentiu uma necessidade de trabalhar com a representação do natural por intermédio de objetos concretos. Percebemos que cada uma das matérias foi adquirindo objetivos distintos, e no momento em que uma não auxiliava mais a outra, não havia mais a necessidade do casamento entre elas. Por um bom tempo são as figuras geométricas que orientaram as práticas e os métodos de ensino do desenho, quando este não foi mais suporte à Geometria, abre se a possibilidade de se estabelecer, então, concepções próprias que desencadearam no seu rompimento com o Desenho, podendo a Geometria dessa forma, seguir sua trajetória e relevância para o ensino primário. No que diz respeito à resenha 2 História da organização do trabalho escolar e do currículo no século 20: ensino primário e secundário no Brasil (ERMEL, 2011), também encontrado na Revista História da Educação, pela ASPHE, posso dizer que este foi importante para o entendimento de como se constituiu a organização do trabalho escolar, bem como o esclarecimento das disciplinas escolares, que ficam evidentes em vários artigos citados aqui no texto e que se referem ao autor André Chervel, com a publicação História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa (CHERVEL, 1990), no que concerne à História da Educação uma referência comumente utilizada em inúmeros artigos encontrados nas fontes de pesquisa selecionadas aqui para a escrita do texto. Vale salientar, no que concerne à pesquisa em periódicos relevantes e qualificados da área da História da Educação, que nos Cadernos de História da Educação, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) não foram encontrados artigos sobre a temática de minha pesquisa, mesmo com a utilização de termos distintos em determinadas épocas, uma vez que estes nos ajudam a encontrar maiores resultados, como os já apresentados até o momento. 2 A resenha publicada pela Revista História da Educação, em 2011, refere se ao livro sob o mesmo título do artigo: História da organização do trabalho escolar e do currículo no século 20: ensino primário e secundário no Brasil, da autora Rosa Fátima de Souza. O livro faz parte da coleção Biblioteca Básica da História da Educação Brasileira, que está em seu segundo volume com publicação pela Cortez, em X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.9
10 Outra fonte de pesquisa que não pôde ser utilizada foi o Banco de Teses e Dissertações da Capes, que durante a elaboração da escrita do presente texto no mês de janeiro do ano corrente esteve indisponível no site referido 3, em virtude de manutenção e melhoria para o mesmo. A ferramenta, disponibilizada pela Capes, visa realizar buscas e consultas de teses e dissertações que foram defendidas em programas de pós graduação do país. No que se refere à pesquisa nos anais de congressos realizados na área da História da Educação, detive me especificamente ao GT02 4 (grupo de trabalho) em História da Educação, da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação (Anped). Nele a busca se restringiu em localizar o que foi produzido nos últimos dez anos período que compreende entre os anos de 2003 e 2013 assim como as demais fontes de pesquisa e base de dados já pesquisados. Dentre o período pesquisado, consegui localizar cinco artigos relevantes ao meu tema. Duas publicações foram encontradas na 27ª Reunião Anual da Anped (2004), uma na 30ª Reunião (2007) e outras duas na 34ª Reunião (2011). As temáticas abordadas nesses artigos se assemelham com as problematizações dos textos de outras publicações que já foram citadas aqui da área da História da Educação. Acredito que nas revistas da área, através da leitura dos textos selecionados para a escrita desse ensaio, foi possível compreender com maior clareza acerca dos assuntos em questão, contribuindo, dessa forma, para a discussão e problematização advindas das fontes de pesquisa utilizadas até o momento. No âmbito dos textos encontrados, destaca se Os sons da República o ensino da música nas escolas públicas de São Paulo na primeira república (JARDIM, 2004), e mais uma vez a forte atuação do maestro Heitor Villa Lobos em relação ao ensino da música na educação pública a partir de 1930, sob o Estado Novo. A autora evidencia a 3 Ver de teses 4 Segundo o site da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), os Grupos de Trabalho se constituem em instâncias de aglutinação e de socialização do conhecimento produzido pelos pesquisadores da área de educação. São 23 GTs temáticos, que congregam pesquisadores de áreas de conhecimento especializadas. Além de aprofundar o debate sobre interfaces da Educação, definem atividades acadêmicas das Reuniões Científicas Nacionais da ANPEd. Disponível em: X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.10
11 busca de referências à prática da Educação Musical anterior a 1930, no que concerne a um amplo conjunto de dispositivos legais que regulamentaram o ensino musical como disciplina escolar no currículo das escolas públicas de 1889 a 1930, dos métodos e materiais didáticos oficialmente instituídos e das prescrições para o seu ensino nas escolas públicas. (JARDIM, 2004, p.1). É importante salientar em relação aos demais textos encontrados que em alguns houve o tratamento de outros assuntos no que concerne à localização do tema do ensino da arte na educação, como em um deles em que foram abordados os encontros e desencontros entre artistas e educadores na virada de 1920 para 1930; destacando Mário de Andrade e Fernando de Azevedo como figuras que legaram ao país grandes contribuições, num momento em que a maioria das convicções e certezas estavam sob suspeita, de modo que o Brasil passava por uma transitoriedade em todos os âmbitos da realidade social, com foco, principalmente, no campo das ideias, conforme explicita RUSSEFF (2004). Semelhante ao anterior, porém, bem mais específico, encontrei outro artigo publicado já na 30ª Reunião Anual da Anped, de 2007, Guido Viaro: modernidade na arte e na educação (OSINSKI, 2007). Este aborda a trajetória intelectual do artista Guido Viaro, bem como a sua contribuição para o ensino da arte do Paraná, destacando como recorte para a pesquisa desde a década de 30 a meados dos anos 60. Outro artigo encontrado foi A gênese de uma instituição de ensino de arte no sul do Brasil: o caso da escola de Belas Artes de Pelotas (MAGALHÃES; AMARAL, 2011), apresentado na 34ª Reunião Anual da Anped. As autoras evidenciam os fatores que levaram à criação da Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA), em 1949, no interior do Rio Grande do Sul (RS). A escola inicia, em sua história, como uma instituição particular de ensino, que origina, atualmente, o Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (CA/UFPel). Conforme as autoras em questão AMARAL; MAGALHÃES (2011) a pesquisa visa preencher uma lacuna historiográfica, buscando o conhecimento sobre as origens da Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA); dessa maneira constrói uma identidade e valoriza a instituição em suas singularidades. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.11
12 Quanto ao último texto, Deleitar e instruir: da dinâmica educativa do belo eficaz na América Portuguesa, (CARVALHO, 2011), também encontrado na 34ª Reunião Anual da Anped, de 2011, cabe a preocupação do autor em ponderar sobre algumas relações possíveis de se fazer entre a educação, a ética e as práticas de representação artística fundamentadas nas poéticas e nas retóricas antigas, pensando as como equação de questões centrais do fazer humano. (CARVALHO, 2011, p.1). Considerações Ao caracterizar a historiografia recente na área da História da Educação, pude perceber que as reformulações ocorridas durante os períodos que se apresentaram ao longo dos artigos mencionados nos dizem respeito, também, às transformações das ideias pedagógicas. Além disso, percebi a importância que se tem a realização do levantamento acerca do que já foi produzido para a caracterização da historiografia. Ao invés de narrar cronologicamente e linearmente os fatos em torno do tema, o que não é aconselhado, às vezes podemos ter esse comportamento; corremos o risco quando, atraídos pelo senso comum, atrelamos ao ensino da história, mais especificamente à história da educação, uma junção de fatos e acontecimentos com ordem cronológica, com a falsa ideia de que sabendo o que aconteceu no panorama de fatos e dados, também entenderemos o contexto em que surgiram e o que deflagraram. Há que se perceber, também, as inúmeras possibilidades de escrita que a História da Educação nos concerne, isto é, não uma escrita desnecessária ou a serviço de um mero capítulo histórico que a qualquer momento possa se dispender do texto, mas sim, uma história atrelada à historiografia, à busca pelo que se tem feito, através de um mapeamento que nos instigue a querer saber e pesquisar sobre distintos temas. Portanto, durante a localização do estado da arte no que se refere ao ensino de arte e suas demais configurações até chegar à atual, inferimos que, mesmo depois de sua entrada obrigatória nas escolas da educação básica, hoje, ainda se percebem embates políticos e históricos, sendo possível destacar outros vieses imbuídos nas leis, nos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.12
13 decretos que regulamentam a prática docente da disciplina, como a questão da polivalência (muito discutida na reforma educacional de 1971) e do termo Arte englobar a formação específica plena em uma das linguagens (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro). Por isso a importância de se perceber e localizar o que estava em jogo em cada proposta, bem como em relação à nomenclatura distinta em determinados períodos, só assim poderá ser compreendido com maior clareza a especificidade da arte em relação ao seu ensino e demais concepções pedagógicas atreladas a ela. Referências AMARAL, Giana Lange do; MAGALHÃES, Clarice Rego. A gênese de uma instituição de ensino de arte no Sul do Brasil: o caso da escola de Belas Artes de Pelotas. 34ª Reunião Anual da ANPED, Disponível em: < 890%20int.pdf>. Acesso em: 30 jan BARBOSA, Ana Mae. Entre memória e história. In: BARBOSA, Ana Mae. Ensino da arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, CARVALHO, Marcus Vinicius Corrêa. Deleitar e instruir: da dinâmica educativa do belo eficaz na América Portuguesa. 34ª Reunião Anual da ANPED, Disponível em: < 146%20int.pdf>. Acesso em: 30 jan CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, n.38, D ENFERT, Renaud. Uma nova forma de ensino de desenho na França no início do século XIX: o desenho linear. Revista História da Educação, Pelotas, n. 22, p , maio./ago Disponível em: < Acesso em: 26 jan ERMEL, Tatiane de Freitas. História da organização do trabalho escolar e do currículo no século 20: ensino primário e secundário no Brasil. Revista História da Educação, Pelotas, v. 15, n. 34, p , jan./abr Disponível em: < Acesso em: 26 jan FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Instrução elementar no século XIX. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes de, VEIGA, Cynthia Greive (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, p X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.13
14 JARDIM, Vera Lúcia Gomes. Os sons da República o ensino da música nas escolas públicas de São Paulo na primeira república ª Reunião Anual da ANPED, Disponível em: < Acesso em: 30 jan MONTEIRO, Ana Nicolaça; SOUZA, Rosa Fátima de. Educação musical e nacionalismo: a história do canto orfeônico no ensino secundário brasileiro ( ). Revista História da Educação, Pelotas, n.13, p , abr Disponível em: < Acesso em: 26 jan NASCIMENTO, Erinaldo Alves do. Ensino do Desenho: do artífice/artista ao desenhista autoexpressivo. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da educação e fontes. In: GONDRA, José Gonçalves (Org.). Pesquisa em história da educação no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, p OSINSKI, Dulce Regina Baggio. Guido Viaro: modernidade na arte e na educação. 30ª Reunião Anual da ANPED, Disponível em: < Int.pdf>. Acesso em: 30 jan RUSSEFF, Ivan. A inteligência brasileira na virada de 1920/30: encontros e desencontros entre artistas e educadores. 27ª Reunião Anual da ANPED, Disponível em: < Acesso em: 30 jan SILVA, Maria Célia Leme da. Desenho e geometria na escola primária: um casamento duradouro que termina com separação litigiosa. Revista História da Educação, Pelotas, v.18, n. 42, p , jan./abr Disponível em: < Acesso em: 26 jan SUBTIL, Maria José Dozza. A lei n.5692/71 e a obrigatoriedade da educação artística nas escolas: passados quarenta anos, prestando contas ao presente. Revista Brasileira de História da Educação, São Paulo, v. 12, n. 3, p , set./dez Disponível em: < Acesso em: 26 jan X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de p.14
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