RELATÓRIO DE PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS CHUVEIROS DAS PRAIAS DE IPANEMA E LEBLON
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1 RELATÓRIO DE PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS CHUVEIROS DAS PRAIAS DE IPANEMA E LEBLON GABRIELA BAKER DE MACEDO FERREIRA ORIENTADOR: JOSE MARCUS DE OLIVEIRA GODOY DEPARTAMENTO DE QUÍMICA, PUC-RIO
2 INTRODUÇÃO Dada a repercussão na mídia sobre a questão da contaminação das águas subterrâneas bombeadas para os chuveiros da região das praias do Leblon e de Ipanema, a aluna passou a ser hostilizada por alguns barraqueiros, desta forma, visando a preservar a integridade física da aluna, tomamos a decisão de modificar o objeto do estudo, passando a ser o tema que foi o aprovado na renovação da presente bolsa: Águas Minerais do Estado do Rio de Janeiro Ameaças e oportunidades, tema este financiado pela FAPERJ, dentro da chamada Cientistas do Nosso Estado. IMPORTÂNCIA DO TEMA A água mineral tem grande aceitação popular, tanto pela sua potabilidade como por ser bebida natural capaz de saciar a sede e, para alguns consumidores, por possuir funções terapêuticas. Na Europa, o consumo per capita é superior a 120 litros e nos Estados Unidos é de 82 litros por habitante. Com base no anuário mineral anual de 2010, elaborado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a produção brasileira de água mineral engarrafada em 2009 superou os cinco bilhões de litros e o consumo médio por habitante de 28 litros, com crescimento constante ao longo dos últimos anos, denotando mudança gradual de hábito dos consumidores, na busca de qualidade, em detrimento das outras bebidas. Em várias regiões do país, assim como em muitos países, o consumo de água engarrafada é artigo de primeira necessidade, impulsionado pela qualidade não satisfatória da água de abastecimento público. Este consumo,
3 suprido pelas embalagens de 10, e principalmente de 20 litros, tem sido percebido e tratado pelo poder público com atenção especial. O Estado do Rio de Janeiro, 4o maior produtor nacional de águas minerais, com reconhecida vocação para o turismo, tem uma demanda estimada de 550 milhões de litros pelo produto engarrafado, chegando ao consumo per capita acima dos 37 litros, considerado muito bom para os padrões brasileiros (quase 30% acima da média brasileira). Vários grupos econômicos nacionais e estrangeiros têm direcionado seus investimentos para este segmento da indústria de bebidas. Um desses indicadores está no número de requerimentos existentes no DNPM, que têm relação direta com os novos empreendimentos no setor, que serão implantados nos próximos anos no Estado. Os dados, levantados pelo DRM-RJ, revelam que em 2009, o parque produtor fluminense de águas minerais era constituído de 50 empresas ativas, mostrando-se vigoroso no enfrentamento da dinâmica de abastecimento do produto em todo o Estado, com iniciativas de expansão e modernização de suas linhas de produção, envasando mais de 380 milhões de litros no ano O setor movimenta na economia estadual cifras que superam os 50 milhões (FOB), e apesar da produção ser sazonal em função do fator climático, a atividade gera no Estado quatro mil postos de trabalho, sendo 1200 empregos diretos. No campo das ameaças para o setor, temos uma série de resoluções que fixam limites para elementos/compostos químicos em águas minerais e em águas subterrâneas cujos valores nem sempre concordam entre si ou estão previstos em uma delas, mas não estão previstos nas demais. Tal situação acaba gerando uma insegurança jurídica, em particular, no caso onde a fonte
4 atende a legislação específica para águas minerais mas sequer se sabe se ela atende ou não aos outros critérios previstos nas demais resoluções. O que se sabe, concretamente, é que esta situação não é hipotética, havendo pelo menos um caso envolvendo uma das engarrafadoras existentes no Estado do Rio de Janeiro. A tabela 1 ilustra esta situação mostrando os parâmetros inorgânicos regulados pela resolução ANVISA RDC 274/2005, específica para águas minerais, e aqueles previstos na resolução CONAMA 396/2008, que define o Código Nacional de Águas Subterrâneas. É interessante, também, notar que alguns elementos que são utilizados como forma de distinguir uma determinada água mineral, aumentando seu valor agregado, como o vanádio nas águas minerais de Ibirá (0,07 mg/l), quando confrontados com a resolução CONAMA, não poderiam ser classificadas como potável. O que, evidentemente, causa uma grande insegurança no setor. Lembrando que, para fins de licenciamento, apenas os parâmetros constantes na resolução ANVISA são os parâmetros realizados.
5 Tabela 1: Parâmetros inorgânicos previstos nas resoluções ANVISA RDC 274/2005 e CONAMA 396/2008 (Valores em mg/l) Parâmetro ANVISA RDC 274/2005 CONAMA 396/2008 Alumínio --- 0,200 Antimônio 0,005 0,5 Arsênio 0,01 0,01 Bário 0,7 0,70 Berílio --- 0,004 Boro 5 0,5 Cádmio 0,003 0,005 Chumbo 0,01 0,01 Cianeto 0,07 0,07 Cloreto Cobre 1 2 Cromo total 0,05 0,05 Ferro --- 0,3 Fluoreto 2 1,5 Manganês 0,5 0,1 Mercúrio 0,001 0,001 Molibdênio --- 0,07 Níquel 0,02 0,02 Nitrato (expresso como N) Nitrito 0,02 1 (expresso como N) Prata --- 0,01 Selênio 0,01 0,01 Sódio Sólidos Totais Dissolvidos Sulfato Urânio --- 0,015 Vanádio --- 0,05 Zinco --- 5
6 MATERIAIS E MÉTODOS Inicialmente, tentou-se uma associação com o Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), que funcionou no caso específico de uma determinada marca de água mineral engarrafada produzida no estado, na qual foram encontradas concentração de uranio acima dos valores previstos na legislação brasileira (15 µg L -1, resolução CONAMA 396/2008, e 30 µg L -1, portaria MS 2914/2011). Uma vez resolvido o problema desta empresa em particular, esta relação não avançou como o havia sido acordado entre as partes. O mesmo foi tentado com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) que, apesar dos sinais positivos iniciais envolvendo a discussão de um acordo de mútua cooperação, também não rendeu os frutos necessários. Desta forma, resolveu-se mudar de estratégia, deixando de lado a visita às empresas engarrafadoras e coletas in-situ para trabalhar com as amostras engarrafadas encontradas no mercado do estado. Uma vez analisadas as amostras, os resultados são, então, com os laudos da CPRM, obtidos junto ao DNPM. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através do DRM-RJ, foi possível visitar as instalações da engarrafadora cujas águas possuem elevada concentração de urânio. Ficou claro que, o conteúdo das garrafas encontradas no comércio é, na realidade, uma mistura das fontes encontradas no local. A figura 1 mostra a relação observada entre urânio e fluoreto, na qual os pontos em vermelho representam as fontes existentes e os pontos em negro as águas compradas no mercado local. Nota-
7 se que existem fontes licenciadas cuja concentração de urânio representa o dobro do valor encontrada na portaria MS 2914/2011. Figura 1: Relação entre urânio e fluoreto observada numa determinada de água mineral produzida no Estado do Rio de Janeiro. Os pontos em vermelho representam as fontes e os pontos em negro as águas encontradas no comércio. A tabela 2 mostra as amostras já analisadas segundo esta nova estratégia. Dentre os resultados obtidos, outras águas minerais problemáticas foram identificadas: amostra com concentração de fluoreto acima dos limites previstos na legislação, amostra com características físico-químicas e químicas muito distintas daqueles existentes no rótulo e outra empresa com elevada concentração de urânio.
8 Tabela 2: Águas minerais produzidas no Estado do Rio de Janeiro já analisadas no presente projeto Marcas de águas minerais já analisadas Clima 3 Serra dos Órgãos Hidratta Nova Friburgo Hidrovita Bell'água Nestle Água da Montanha (Fonte Santanna) Água da Montanha (Fonte Dois Irmãos) Água Levy Comendador Hidratta (Fonte São Sebastião) Água Mineral Natural Soledade Água Rio Bonito (Fonte São Francisco) Água da Montanha (Fonte Sant'Anna) Água Raposo Levíssima (Fonte Santo Antônio) Água Cascatazul (Fonte Safira) Água Nova Esperança (Fonte Esperança) Água Serra Fluminense (Fonte Mata Atlântica) Água Fênix (Fonte do Amanhecer) A estratégia atual, apesar de estar dando resultados, vem andando a uma velocidade aquém da desejada, o que motivou a mensagem enviada aos professores do CTC, no sentido de conseguir novas amostras de águas
9 minerais produzidas no Estado do Rio de Janeiro, em particular, pelo fato de algumas delas terem uma distribuição muito localizada geograficamente. Adicionalmente, novos esforços estão sendo realizado junto a Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (ABINAM), visando motivar seus associados a enviarem, voluntariamente, amostras das águas de suas fontes ao Departamento de Química da PUC-Rio. CONCLUSÕES Dada a falta de congruência entre as diferentes legislações nacionais que tratam de limites de potabilidade para água voltada ao consumo humano, é possível encontrar águas minerais engarrafadas, produzidas no Estado do Rio de Janeiro, que, segundo algumas delas, não seriam consideradas potáveis. O que se configura numa situação delicada que ameaça a própria sustentabilidade destas empresas. Diferentes estratégias foram tentadas visando aumentar o número de empresas engarrafadoras do estado já abrangidas pelo presente projeto, sendo que a compra no mercado foi aquela que proporcionou um maior número de amostras analisadas. Além da manutenção da estratégia atual, novas estratégias serão experimentadas na presente continuação do projeto.
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