ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. SAULO HENRIQUES DE SÁ E BENE VIDES

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO DES. SAULO HENRIQUES DE SÁ E BENE VIDES ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N /001 4a Vara Cliva da Capital RELATOR : Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. APELANTE : Virgínia Ângela Menezes de Lucena e Carvalho ADVOGA DOS : Luciana de Albuquerque Cavalcanti Brito e outros APELADO : Banco do Brasil S/A ADVOGADO : Mércia Carlos de Souza e outros APELAÇÃO Cá/EL AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DA- NOS MORAIS TRANSFERÊNCIA DE NUMERÁRIO PROVENIENTE DO ESTRANGEIRO PARA BANCO NO BRASIL VALOR QUE NÃO FOI CREDITADO DIRETA- MENTE NA CONTA DO BENEFICIÁRIO DEVOLUÇÃO DE CHEQUES POR INSUFICIÊNCIA DE FUNDOS EXIGÊNCIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL DE ASSI- NATURA DO TITULAR DA CONTA OU DE SEU PROCU- RADOR PARA LIBERAÇÃO DE CRÉDITOS ADVINDOS DO EXTERIOR MEDIDAS DE PREVENÇÃO À FRAUDE NEGLIGÊNCIA DA APELANTE AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE A CONDUTA DO BANCO E A DEVOLU- /ÇÃO DOS CHEQUES NEGADO PROVIMENTO AO RE-,/ CURSO. De acordo com o Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais preconizado pelo Banco Central do Brasil. as operações de câmbios são formalizadas mediante contrato. cujo modelo é previamente estabelecido no referido regulamento. Não cabe à instituição bancária alertar o cliente a respeito da liberação do crédito proveniente do exterior, já que, neste tipo de operação, a parte beneficiária, que é a interessada, é quem deveria aplicar seus esforços para agilização da liberação do valor recebido, logo, tendo o banco adotado as medidas previstas em lei, não há como reconhecer a existência do dever de indenizar, já que ausente a presença de pressuposto básico: o nexo de causalidade. cima identificados. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS os presentes autos a- ACORDAaEgrégia Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento à Apelação Cível. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta por Virgínia Ângela Menezes de Lucena e Carvalho contra sentença proferida pelo juiz a quo (fls. 81/86) que. nos autos da Ação de Indenização por Danos Morais, promovida em face do Banco do Brasil S/A, julgou improcedente o pedido.

2 .- A apelante, em suas razões recursais de fls. 105/113. afirma que houve falha na prestação dos serviços do banco apelado, urna vez que assegura ter realizado transação bancária com o mesmo na qual não foi creditado o valor depositado por meio eletrônico. Requer, portanto, indenização a título de danos morais. Devidamente intimado, o apelado não ofereceu contra-razões, conforme se depreende da certidão de fl A Douta Procuradoria de Justiça. em parecer de fls. 123/125. opinou pelo prosseguimento do recurso de apelação. sem manifestação de mérito, porquanto ausente interesse que recomende sua intervenção. É o relatório. VOTO A lide resume-se ao fato da apelante afirmar ter realizado, no dia 17 de novembro de 2004, transação bancária entre o Banco Santander Central Hispânico e o Banco do Brasil, no qual, através de transferência eletrônica, fez remessa da quantia de f (hum mil e quinhentos euros) para a conta bancária que possui junto ao banco apelado. Assegura, porém. que a transferência não chegou no tempo estimado à conta destinatária, havendo, por esse motivo, a devolução de cheques por insuficiência de fundos. o que gerou uma série de constrangimentos. Sustenta a apelante ter realizado o procedimento correto para a efetivação da transferência, todavia, importa ressaltar que a mesma realizou a referida transferência de banco localizado na Espanha. Sabe-se que o Banco Central adota medidas se segurança para entrada de dinheiro advindo do exterior, já que a evasão de divisas apresenta-se como uma das principais tipologias da "lavagem de dinheiro -, sobretudo quando realizada na modalidade do que vulgarmente se denomina de "leva e traz" ou "formiguinha-, ou seja. quando pequenas quantias são transferidas em sucessivas operações de forma a dissimular a origem ilícita do recurso. De acordo com o Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais preconizado pelo Banco Central do Brasil. as operações de câmbios são formalizadas mediante contrato. cujo modelo é previamente estabelecido no referido regulamento. Nos termos deste contrato, faz-se necessária assinatura do comprador do câmbio de maneira manual autorizada ou a expressão "contrato de câmbio assinado digitalmente-. no caso de assinatura digital no âmbito da infra-estrutura de chaves públicas (icp-brasil). De acordo com o documento de fl. 35, percebe-se que o contrato requisitado pelo Banco Central foi devidamente providenciado pelo banco apelado. TÍTULO: 1 - Mercado de Câmbio CAPITULO: 1 - Disposições Gerais 19 - As operações de câmbio são formalizadas por meio de contrato de câmbio a partir dos dados registrados no Sisbacen, consoante o disposto na seção 1 do capítulo 3. Após a assinatura do termo, fica permitido ao banco liquidar as ordens de pagamento originárias do exterior que forem emitidas a seu cargo. transferindo o respectivo equivalente em moeda nacional para crédito da conta beneficiária. Como a operação em questão foi realizada no ano de ainda estava sob a regência da Lei n 4.131, de 1962, que ampara os capitais estrangeiros no Pais ingressados em moeda estrangeira, bens e serviços. A partir de uma análise do art. 25, 1 2

3 do Decreto /65, que regulamenta a referida lei, verifica-se ser necessária a assinatura do cliente beneficiário nas operações de câmbio. Ar! 25. As operações cambiais serão efetuadas através de estabelecimentos bancários autorizados a operar em câmbio, com a intervenção de corretor oficial quando exigido em Lei ou Regulamento, respondendo ambos pela identidade do cliente, assim como pela correta classificação das informações por este prestadas, segundo normas fixadas pela Superintendência da Moeda e do Crédito (Lei 4.131, art. 23). 1 O formulário, segundo modelo aprovado pela Superintendência da Moeda e do Crédito e utilizado em cada operação, será assinado pelo cliente e visado pelo estabelecimento bancário corretor que nela intervier, e dele constará obrigatoriamente o texto do art. 23 da Lei n 4.131, de 3 de setembro de Como a titular da conta favorecida (apelante) encontrava-se ausente, nomeou procurador para representar seus direitos e interesses (fl. 30). Deste modo. fica evidente que o procurador da ora recorrente agiu de maneira inerte, aparecendo no estabelecimento bancário para assinar o termo vários dias após a remessa do dinheiro, não atuando de forma diligente no acompanhamento do processo de liberação dos recursos. O preenchimento do citado formulário para confirmação da operação de câmbio ainda encontra previsão no art da lei 4.131/62. logo, o dinheiro só é liberado para ser creditado na conta do favorecido após a assinatura deste termo. Vejamos: n4. Art. 23 "omissis" 2 Constitui infração imputável ao estabelecimento bancário, ao corretor e ao cliente, punível com multa de 50 (cinqüenta) a 300% (trezentos por cento) do valor da operação para cada um dos infratores, a declaração de falsa identidade no formulário que, em número de vias e segundo o modelo determinado pelo Banco Central do Brasil, será exigido em cada operação, assinado pelo cliente e visado pelo estabelecimento bancário e pelo corretor que nela intervierem. (Redação dada pela Lei n 9.069, de 1995) Ainda, a teor do 7 do mesmo dispositivo, fica evidente que será dispensada a assinatura do termo de compromisso no caso de operações de valor inferior a US$ 3.000,00 (três mil dólares). 7 A utilização do formulário a que se refere o 2 deste artigo não é obrigatória nas operações de compra e de venda de moeda estrangeira de até USS 3.000,00 (três mil dólares dos Estados Unidos da América), ou do seu equivalente em outras moedas. Neste norte, vale salientar que não era dever da instituição bancária alertar a apelante a respeito da liberação do crédito proveniente do exterior, já que. neste tipo de operação. a parte beneficiária, que é a interessada, é quem deveria aplicar seus esforços para agilização da liberação do valor recebido. Deste modo, a recorrente teve seus cheques devolvidos por negligência própria, não sendo culpa da instituição bancária. Note-se que, depois de atendidas as formalidades para a liberação do pagamento, quando o Procurador da apelante autorizou formalmente a transferência do numerário para uma conta bancária de titularidade da mesma (fl.35), prestando as informações necessárias para tal, foi o valor devidamente creditado na conta da apelante. sendo feita a conversão do mesmo para a moeda nacional (fl. 19). Seguindo essa linha de raciocínio, cite-se o seguinte aresto: INDENIZATÓRIA. Instituição beneficente sem fins lucrativos que recebe doação através de ordem de pagamento proveniente do exterior. Como bem desta- 3

4 cou o sentenciante monocrático. o banco réu não tinha obrigação, quer por força de lei ou de contrato, de procurar a instituição, ora apelante, com o objetivo de alertá-la sobre a liberação dos créditos recebidos. Concretamente, nesse tipo de transferência, cumpre ao credor ou beneficiário ser diligente no acompanhamento do processo de liberação dos recursos, como interessado que é, a fim de agilizar o seu recebimento. RECURSO 1MPROVIDO. (Apelação Cível , Décima Quinta Câmara Cível. Tribunal de Justiça do RJ, Relator: Des. CELSO FERREIRA FILHO, julgado em 27/01/2009). Logo, não merece prosperar o pedido de indenização por danos morais formulado pela apelante, já que não há nexo de causalidade entre a conduta do apelado e a devolução de cheques da recorrente. Diante do exposto. NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO, mantendo a sentença em todos os seus termos. É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. Participaram do julgamento. o Eminente Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. o Exmo. Dr. Manoel Gonçalves Dantas de Abrantes, Juiz convocado para substituir o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. e o Exmo. Dr. Miguel de Britto Lyra Filho. Juiz convocado para compor o quorum. Presente ao julgamento o Exmo. Sr. Dr. Alcides Orlando de Moura Jansen, Procurador de Justiça. João Pessoa. 28 de abril de ""\NoWYN Des. Studo He nines Sá e Benevides Relator 4

5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordenadoria Judiciária Registrado er<24cic'w-e