A COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NA DÉCADA DE 2000: CAREGNATO E OUTROS OLHARES (ENSAIO 1) 1

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1 1 A COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NA DÉCADA DE 2000: CAREGNATO E OUTROS OLHARES (ENSAIO 1) 1 Elizete Vieira Vitorino, Profa. Dra., elizete.vitorino@ufsc.br Djuli Machado De Lucca, Mestranda em Ciência da Informação, djuli_mdl@hotmail.com Késia Jordana da Silva, Graduanda em Biblioteconomia; keke_keke@hotmail.com Marcela Reinhardt de Souza, Graduanda em Biblioteconomia, marcelareinhardt@yahoo.com.br Jonara Almeida, graduanda em Biblioteconomia, jonaradealmeida@yahoo.com.br Grupo de Discussão sobre Competência Informacional Núcleo de Estudos e Pesquisas em Competência Informacional (GPCIn) 1 Introdução Iniciar o estudo de uma temática sem tratar do seu histórico nos parece sem sentido. Por mais que muitos autores já tenham se debruçado sobre a história do surgimento da Competência Informacional no contexto brasileiro, um novo olhar, mais atento e desinteressado de certo modo, nos faz descobrir detalhes ainda não percebidos nas diversas leituras e releituras realizadas sobre aquelas fontes que aqui denominaremos de precursoras 2, ou seja, quais os trabalhos que são pioneiros em tratar da Competência Informacional no Brasil. Neste primeiro ensaio, nós, integrantes do Grupo de Discussão sobre Competência Informacional assumimos essa tarefa. Ler, discutir, interagir, buscar fontes citadas, realizar conexões e reflexões a fim de produzir um texto próprio com um simples propósito: o prazer de conhecer e de aprender a aprender um assunto. Para a maior parte dos integrantes do grupo, a temática Competência Informacional ainda é um terreno pouco conhecido. Trataremos inicialmente do trabalho publicado por Caregnato (2000). No seu artigo, a autora trata do desenvolvimento de habilidades informacionais e do papel das bibliotecas universitárias no contexto da informação digital em rede, e em específico, dá foco ao contexto da Educação a Distância (EaD) e Cumputer Assisted Learning (CAL). 1 Este é o primeiro ensaio da série Precursores da Competência Informacional no Brasil. 2 Consideramos precursores, os primeiros autores que publicaram trabalhos no Brasil sobre Competência Informacional e suas variações terminológicas nos idiomas português, inglês e espanhol (DUDZIAK, 2003).

2 2 No texto, Sônia Elisa Caregnato revisa conceitos associados à educação de usuários nas bibliotecas universitárias e ressalta a importância crescente do desenvolvimento de habilidades informacionais. 2 A autora Sônia Elisa Caregnato: conhecendo os pioneiros Caregnato foi quem apresentou o conceito de Competência Informacional pela primeira vez no Brasil. Inicialmente, a autora utilizou o termo Habilidades Informacionais para designar este movimento (DUDZIAK, 2003). Dessa forma, acreditamos ser relevante trazer alguns aspectos relacionados à trajetória desta autora no meio acadêmico. A autora 3 é graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Information Management e Doutora em Information Studies pela University of Sheffield, Inglaterra. O interesse da autora sobre o desenvolvimento de habilidades informacionais aconteceu a partir do seu doutorado: a tese, defendida no ano de 2000, abordou a educação de usuários, tema este precursor movimento da Competência Informacional. No mesmo ano, a autora publicou o artigo O desenvolvimento de habilidades informacionais: o papel das bibliotecas universitárias no contexto da informação digital em rede, objeto deste ensaio. No ano de 2007, ainda envolvida com o tema, orientou a dissertação intitulada Navegação na Internet e competências informacionais: o exercício da cidadania em telecentros comunitários de Porto Alegre. Após esse período, a autora concentrou seus estudos em linhas de pesquisa como: comunicação científica, periódicos eletrônicos, cientometria e repositórios digitais. 3 Os profissionais da informação em bibliotecas universitárias 3 Os dados sobre a autora estão disponíveis em: < K D8>. Acesso em: 17 out

3 3 Ao iniciar suas considerações sobre a temática habilidades informacionais, Caregnato (2000) alerta: uma das características fundamentais do profissional do futuro é a capacidade de renovar-se e de desenvolver habilidades relacionadas à localização, seleção, acesso e utilização da informação. Se esta premissa é para todos os profissionais, a autora enfatiza que também deveria ser para os profissionais atuantes em bibliotecas acadêmicas ou universitárias. A autora Caregnato (2000, p. 48) continua: as bibliotecas nem sempre têm cumprido eficientemente este seu papel e elas vivem hoje um momento especial. Também observa uma mudança paradigmática em Ciência da Informação e Biblioteconomia: para uma abordagem centrada no usuário. Cabe destacar que ao se referir às bibliotecas, a autora indiretamente está se referindo ao Profissional da Informação Bibliotecário atuante nas bibliotecas universitárias, da função social e da responsabilidade deste no cenário de transformações pelas quais vive o país e o mundo. O propósito da autora (CAREGNATO, 2000, p. 48), a partir desse contexto, é discutir a educação de usuários como forma de desenvolver habilidades informacionais nas bibliotecas universitárias e apontar mudanças que surgem a partir da disponibilização da informação digital em rede. Para alcançar esse propósito, a autora discorre sobre algumas possibilidades, iniciando pelo uso de algumas expressões na literatura que tratam da temática proposta. 4 O uso de terminologias: uma preocupação da autora A utilização de expressões como treinamento de usuários, instrução de usuários, instrução bibliográfica, educação de usuários e desenvolvimento de habilidades informacionais de forma diversa gera um alerta por parte de Caregnato (2000) quanto à noção de habilidades informacionais. Duas fontes merecem especial atenção: Cunha (1989) e Ota (1990), pois para a autora, ambos já observaram a diversidade de usos e a dificuldade de conceituação dos termos.

4 4 A primeira autora, Maria Elizabete de Carvalho Ota (1990, p.75), já mencionava divergências terminológicas em estudos precursores da Competência Informacional e afirmou categoricamente: os termos são realmente utilizados, indiscriminadamente, de forma substituta, quando na verdade significam coisas diferentes. Em seu artigo, Ota (1990) faz uma análise da literatura nacional sobre educação de usuários a partir da dissertação de mestrado de Regina Célia Baptista Belluzzo, com ênfase à necessidade de se realizar um estudo de usuários antes de iniciar o planejamento de programas de educação de usuários, para saber quais são suas necessidades. Por outro lado, Murilo Bastos da Cunha (1986), analisa em seu trabalho a necessidade de educação do usuário de biblioteca universitária e o crescimento da literatura relativa a esta temática. Entretanto, para o autor, há dificuldade de implementar programas para este fim junto à comunidade universitária. Para Caregnato (2000), ainda que tais expressões sejam amplamente utilizadas, é possível observar o nascimento de novas designações para o serviço educacional oferecido por profissionais da informação aos usuários: desenvolvimento de habilidades informacionais e alfabetização informacional 4 (information literacy). A Association of College and Research Libraries (ACRL) 5 fornece uma lista de referências sobre diversas temáticas e também sobre Information Literacy Specific. 5 Desenvolvimento de habilidades informacionais em bibliotecas universitárias Em bibliotecas universitárias, Caregnato (2000) menciona as formas de instrução de usuários, as quais ocorrem de maneira diversa. A autora 4 A autora cita duas fontes, as quais fornecemos o endereço para os interessados obterem os originais: Pacey (1995): < Acesso em: 02 dez (somente uma página de acesso livre) McClure (1994): < Acesso em: 02 dez (somente uma página de resumo) 5 Disponível em: < Acesso em: 02 dez

5 5 (CAREGNATO, 2000, p. 51) esclarece que a partir final da década de 1980, com a introdução de microcomputadores em bibliotecas, foram criados programas de aprendizado assistido por computador, os chamados CAL (computer assisted learning), os quais substituiram ou foram utilizados em paralelo com as visitas guiadas e os guias de serviços e de recursos, incorporando características de tutoriais. A autora menciona o Guia de Pesquisa em Bibliotecas, disponibilizado pela Universidade de Houston, o qual orienta a busca de informação sobre assuntos específicos (ver Figura 1). Quanto a esta temática, em um de seus estudos, Uribe Tirado (2012a), afirmou que bibliotecas universitárias da América Latina foram gradualmente incorporando esta formação a partir de programas/cursos diretamente ou através de trabalho colaborativo com professores e faculdades nos currículos de toda a universidade ou de disciplinas específicas. Nas suas pesquisas mais recentes (URIBE TIRADO; PENAGOS, 2010; URIBE TIRADO; URIBE, A., 2011; URIBE TIRADO, 2010, 2012a, 2012b, 2012c) o autor analisou os níveis de desenvolvimento dos programas de alfabetização em informação em bibliotecas universitárias de países da Iberoamérica a partir da metodologia de análise de conteúdos Web. Os resultados desses trabalhos estão disponíveis na lista de referências deste ensaio. Figura 1: University of Houston Libraries - Portal Fonte: UNIVERSITY OF HOUSTON LIBRARIES (2013)

6 6 No cenário brasileiro somente para mostrar um exemplo, pois existem muitos outros neste país - observamos que o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Santa Catarina (BU/UFSC) oferece serviços voltados ao desenvolvimento da Competência Informacional de professores, pesquisadores e estudantes universitários em seu portal (ver Figura 2) São tutoriais e guias, perguntas frequentes (FAQ) sobre diversos assuntos que englobam desde a catalogação até a capacitação de usuários em bases de dados. Figura 2: Portal BU/UFSC Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFSC (BU/UFSC) (2013a) Se acessarmos a opção FAQ, para este caso, são listadas opções com perguntas e respostas sobre os seguintes assuntos: AQUISIÇÃO BASE DE DADOS CATALOGAÇÃO DOAÇÃO EMPRÉSTIMO CAPACITAÇÃO OUTROS INTERCÂMBIO PERGAMUM PERIÓDICOS REFERÊNCIA NORMALIZAÇÃO ENSINO A DISTANCIA Figura 3: Perguntas mais frequentes Portal BU/UFSC Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFSC (BU/UFSC) (2013b)

7 7 Além de atender às necessidades de informação mais frequentes, é disponibilizado também o acesso às redes sociais (ver Figura 4). Acesso às redes sociais Figura 4: Tutoriais e guias BU/UFSC Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFSC (BU/UFSC) (2013c) Por outro lado e em se tratando do contexto da Educação a Distância (EaD), a autora (CAREGNATO, 2000, p. 52) afirma que esta surge revitalizada com a Internet e que por isso uma série de oportunidades e desafios se colocam para as bibliotecas universitárias e seus gestores. E questiona: Que tipos de oportunidades de aprendizado de habilidades informacionais, então, podem ser oferecidos? Podemos observar o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para uma maior interação entre os usuários e a biblioteca. A autora sugere o uso da videoconferência, mas atualmente, podemos acrescentar a possibilidade de uso do Skype, Google Hangouts, redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram etc.), ou até mesmo Whatsapp (este último, desde que a biblioteca disponha de um número de celular e usuários cadastrados para esse aplicativo para enviar mensagens pelo celular via Internet).

8 8 Novas formas de acesso sugerem o desenvolvimento de novas habilidades também nos profissionais da informação, mediadores desse processo e isso demanda atenção redobrada às dimensões da Competência Informacional, ou seja, domínio dos recursos (dimensão técnica), sensibilidade e criatividade para as demandas informacionais (dimensão estética), zelo para com o dever e o fazer bibliotecário e respeito ao conteúdo informacional (dimensão ética) e trabalho compartilhado (dimensão política) com profissionais da mesma área e também de outras áreas, as quais possibilitem ações inter e transdisciplinares. 6 Considerações finais Neste primeiro ensaio, privilegiamos os escritos de Caregnato (2000), pelo fato desta autora ter sido a precursora do tema no Brasil (DUDZIAK, 2003, p. 28; GASQUE, 2012, p. 28) e trouxemos contribuições iniciais à atualização do texto e complementos ao conteúdo deste. Trata-se de um trabalho escrito na década de e lá se vão 13 (treze) anos! o que nos mostra que ainda é possível realizar novas leituras e inclusões. Uma questão pode ser levantada para gerar oportunidades de outros trabalhos: quais experiências advindas de outros contextos podem ser úteis ao desenvolvimento da Competência Informacional de usuários estudantes de cursos a distância? E quais serviços podem ser criados via EaD que possibilitem esse desenvolvimento? Talvez essa seja a hora de reeditar a obra Educação a Distância (EaD) na Percepção dos Alunos (VITORINO, 2006) sob o enfoque da Competência Informacional e das dimensões desta. Pensamos sempre em caminhos - e este é um deles. Sabemos que é possível e que será mais uma contribuição à literatura sobre Competência Informacional para o contexto brasileiro.

9 9 Referências CAREGNATO, S. E. O desenvolvimento de habilidades informacionais: o papel das bibliotecas universitárias no contexto da informação digital em rede. Rev. de Bibliotecon. & Comum., Porto Alegre,v. 8, p , Disponível em: < Acesso em: 02 dez CUNHA, M. B. Biblioteca Universitária e Educação do Usuário. Revista de Biblioteconomia de Brasília, v.14, n.2, p , jul./dez DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Information Literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação, Brasília, DF, v.32, n.1, p.23-35, jan./abr Disponível em: < Acesso em: 02 dez GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Letramento informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem. Brasília, DF: Editora FCI/UnB, Disponível em: < cional.pdf?sequence=3>. Acesso em: 25 abr E-book. OTA, M. E. de C. Educação de Usuários em Bibliotecas Universitárias Brasileiras: revisão de literatura nacional. Revista de Biblioteconomia e Documentação, v.23, n.1/4, p.38-57, jan./dez UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFSC (BU/UFSC). Inicial Disponível em: < Acesso em: 02 dez. 2013a. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFSC (BU/UFSC). FAQ/BU Perguntas mais frequentes Disponível em: < Acesso em: 02 dez. 2013b. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC). SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UFSC (BU/UFSC). Tutoriais e guias Disponível em: < Acesso em: 02 dez. 2013c. UNIVERSITY OF HOUSTON LIBRARIES, Disponível em: < Acesso em: 02 dez URIBE TIRADO, Alejandro. Programas de alfabetización informacional en las universidades argentinas: niveles de desarrollo. Cienc. docencia tecnol., Concepción del Uruguay, n. 44, jun. 2012a. Disponível em: < Acesso em: 03 dez

10 10 URIBE TIRADO, Alejandro. La alfabetización informacional en las bibliotecas universitarias de Brasil: visualización de los niveles de incorporación desde la información publicada en sus sitios web. Perspectivas em Ciência da Informação, v.17, n.1, p , jan./mar., 2012b. Disponível em: < Acesso em: 03 dez URIBE TIRADO, Alejandro. La alfabetización informacional en las universidades de Costa Rica. Visualización de los niveles de incorporación a partir de la información publicada en los sitios web de sus bibliotecas. Revista Bibliotecas, v. 30, n. 1, p. 1-17, 2012c. Disponível em: < Acesso em: 03 dez URIBE TIRADO, Alejandro. La Alfabetización Informacional en la Universidad. Descripción y Categorización según los Niveles de Integración de ALFIN. Caso Universidad de Antioquia. Rev. Interam. Bibliot. Medellín (Colombia), v. 33, n. 1, p , enero/junio Disponível em: < Acesso em: 03 dez URIBE TIRADO, Alejandro; Uribe, Astrid Girlesa. La alfabetización informacional en las bibliotecas universitarias de Portugal. Visualización de los niveles de incorporación desde la información publicada en sus sitios Web. Revista Prisma (Portugal), n. 15, Disponível em: < >. Acesso em: 03 dez URIBE TIRADO, Alejandro; PENAGOS, Leonardo Machett s. Estado del arte de la alfabetización informacional en Colombia, Disponível em: < Acesso em: 03 dez VITORINO, Elizete Vieira. Educação a distância (EaD) na percepção dos alunos. Itajaí, Ed. da UNIVALI, 2006.