PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <
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1 PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: < Parâmetros físico-químicos e fracionamento de carboidratos da canade-açúcar submetida a diferentes concentrações de óxido de cálcio Braulio Crisanto Carvalho da Cruz 1, Alex Resende Schio 1, Aureliano José Vieira Pires 2, Antônio Eustáquio Filho 1, Marcondes Viana da Silva 3, Cristiane Leal dos Santos 3 1 Aluno do programa de Mestrado em Zootecnia da UESB, Itapetinga BA - Bolsista CAPES 2 Aluno do programa de Mestrado em Zootecnia da UESB, Itapetinga BA - Bolsista FAPESB 3 Professor Adjunto Curso de Zootecnia e do Programa de Mestrado em Produção de Ruminantes da UESB, Itapetinga-BA. RESUMO O objetivo deste trabalho foi a caracterização e determinação dos parâmetros físico-químicos e determinação das frações de carboidratos da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L) submetida a diferentes concentrações de óxido de cálcio (0; 0,5; 1 e 1,5% MN) em dois tempos de hidrólise (12 e 24h). Não houve interação entre tempo de hidrólise e doses de CaO. Verificou-se efeito significativo (P<0,05) das doses de CaO aplicadas para os constituintes da parede celular, ocorrendo redução nos teores de FDN, FDA, CEL e HEM. Houve
2 efeito para MS que apresentou maior teor com o aumento das doses de CaO. A hidrólise proporcionou menores teores da fração C com o aumento das doses, ao passo que, aumentou os teores de CNF. Palavras-chave: cana-de-açúcar, hidrólise, forragem, fracionamento de carboidratos. Physiochemical parameters and division of carbohydrates of the sugarcane submitted to different concentrations of oxide of calcium SUMMARY The goal of this work was the characterization and determination of physicalchemical parameters and determination of the fraction of carbohydrates from sugarcane (Saccharum officinarum L) subject to different concentrations of calcium oxide (0; 0.5; 1 and 1.5% NM) at two times of hydrolysis (12 and 24h). There was no interaction between time of hydrolysis and doses of CaO. There was significant effect (P <0.05) doses of Cao applied to the constituents of the cell wall, occurring reduction in levels of FDN, FDA, BTB and HEM. There was purpose in MS who presented more content with increasing doses of CaO. The hydrolysis provided lower levels of C with increasing fraction of the doses, and that increased the levels of CNF. Key-Words: sugarcane, composition, forage, fractionation of carbohydrates INTRODUÇÃO A cana-de-açúcar é uma forrageira amplamente utilizada na nutrição de ruminantes, destacando-se por suas características desejáveis tais como: alta produção por área, facilidade de cultivo além de alcançar sua maturidade fisiológica no período de seca, quando outras forragens apresentam baixa
3 produção. Entretanto, apresenta características nutricionais que limitam sua utilização na alimentação animal, como o baixo teor de proteína e minerais, considerando ainda, o seu alto teor de fibra de lenta digestibilidade ruminal (THIAGO & VIEIRA, 2002) De acordo com FERREIRA et al. (2000), o considerável teor de fibra tem sido apontado como fator nutricional indesejável. Assim sendo, na tentativa de buscar o aproveitamento do seu potencial nutricional requer um prétratamento que possibilite o aproveitamento do seu potencial nutricional (BURGI, 1985). A utilização de aditivos químicos constitui-se em alternativa para elevar o valor nutritivo das forrageiras. Deste modo, o hidróxido de sódio (NaOH), hidróxido de cálcio (CaOH), hidróxido de potássio (KOH) e hidróxido de amônia (NH 3 OH) e uréia CO(NH 2 ) 2 são substâncias alcalinizantes freqüentemente utilizadas, mais recentemente, o óxido de cálcio (CaO) cal virgem micropulverizada, isenta de furanos e dioxinas, buscando melhorar os coeficientes de digestibilidade das palhas e/ou resíduos agrícolas como o bagaço de cana-deaçúcar. (REIS et al. 1995). Entretanto, a elucidação dos fundamentos moleculares relativo à utilização destes aditivos, ainda não estão completamente elucidados. Admite-se que sua adição possa alterar a integridade estrutural dos componentes da parede celular, promovendo a clivagem das ligações de hidrogênio, resultando na expansão das moléculas de celulose, afetando, a pressão osmótica bem como sua capacidade em reter água, resultando no aumento da pressão intracelular. Provocando lise celular com conseqüente liberação dos nutrientes para o meio extracelular favorecendo, portanto, o crescimento microbiano (CASTRO NETO, 2006). Favorecem ainda, a solubilização da hemicelulose pela clivagem das ligações do tipo éster com a lignina (BUETTNER et al., 1982). Embora o NaOH apresente eficiente poder hidrolítico, seu manuseio requer cuidados especiais pelo seu potente poder tóxico e cáustico. Assim sendo, novos agentes oxidantes estão sendo utilizados para hidrólise da cana-deaçúcar, a exemplo do óxido de cálcio (OLIVEIRA et al 2007). Sua utilização em
4 forragens resulta na formação de hidróxido de cálcio Ca(OH) 2, agente alcalino com moderado poder de hidrólise da fibra (BERGER et al., 1994). SILVA et al. (2005) trabalhando com caprinos e ovinos observaram que a digestibilidade da matéria seca do bagaço de cana-de-açúcar aumentou de 35 para 60% com a aplicação de 2,4% de cal para 100 kg de bagaço, após 48 horas de tratamento. PIRES et al. (2004) relataram que o tratamento com NaOH aumentou a DIVMS, utilizando o bagaço da cana-de-açúcar tratado com NaOH, sendo este efeito atribuído à solubilização parcial da hemicelulose, e à expansão da celulose, facilitando o ataque de microrganismos à parede celular, promovendo o aumento do consumo de matéria seca e no melhor desempenho animal. De acordo com SILVA et al. (2004), a digestibilidade da matéria seca do bagaço de cana-de-açúcar aumentou de 35% para 60% com a aplicação de cem litros de uma solução de cal a 3% para cada 125 kg de bagaço, após 48 horas de fermentação, fato observado com caprinos e ovinos. De acordo com o "Cornell Net Carbohydrate and Protein System" CNCPS, os carboidratos podem ser classificados nas frações A, B1, B2 e C. Assim sendo, a fração (A) corresponde aos carboidratos solúveis em água, representados principalmente pela glicose e sacarose, que são rapidamente fermentados pelas bactérias consumidoras de carboidratos não fibrosos (CNF). A fração (B1) é inclui o amido e pectina, frações rapidamente fermentadas pelas bactérias consumidoras de (CNF). As frações (B2 e C) correspondem os carboidratos potencialmente degradáveis e não degradáveis da fibra insolúvel em detergente neutro (FDN). Esse sistema permite interpretações mecanísticas da função fisiológica, simulando de forma prática e confiável, a digestão e metabolismo dos alimentos, gerando informações que podem ser utilizadas para estimar o valor nutricional, o consumo e o desempenho animal. (SNIFFEN et al., 1992). Objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito hidrolítico do tratamento alcalino do óxido de cálcio em diferentes concentrações e tempos em função do efeito nos parâmetros físico-químicos na cana-de-açúcar.
5 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Forragicultura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, na cidade de Itapetinga, Bahia, durante os meses de junho e julho do ano de A cana-de-açúcar da variedade RB oriunda do Campus Universitário Juvino Oliveira, Itapetinga Bahia foi colhida manualmente com uso de facão e triturada em moinho estacionária convencional. As amostras foram pesada em baldes de plásticos de forma a conter aproximadamente três quilogramas de cana-de-açúcar in natura (suficiente para a amostragem), e então calculada a quantidade de CaO a ser adicionada nas concentrações de 0; 0,5; 1,0 e 1,5 % na Matéria Natural (MN). O CaO foi adicionado na forma micropulverizado, isento de furanos e dioxinas. Utilizou-se o delineamento em parcelas subdivididas (4x2), em função de dois tempos de hidrólise (12 e 24 h) com quatro repetições por tratamento, nos tratamentos o tempo zero. Foi coletada uma amostra composta para cada concentração de (CaO) respectivamente, totalizando 32 unidades experimentais. Buscando assim, verificar o efeito da adição do CaO em diferentes concentrações sobre as variáveis: fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose (CEL), hemicelulose (HE), lignina (LIG), e matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) e carboidratos totais (CHOT). Após os tratamentos, foram realizadas as amostragens, a primeira foi uma amostra composta para cada dose de CaO. A segunda amostragem foi realizada no tempo de 12 h e finalmente a terceira amostragem no tempo de 24 horas. As amostras foram submetidas présecagem em estufa regulada para de 55 o C por 72 h e posteriormente moídas em moinho com peneira de 1 mm e armazenadas em recipientes de plástico, Posteriormente foi determinado o teor de matéria seca (MS), conforme metodologia recomendada por SILVA & QUEIROZ (2002), o teor de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose (CEL), hemicelulose (HE), lignina (LIG), e matéria mineral (MM), proteína bruta (PB)
6 e extrato etéreo (EE) e carboidratos totais (CHOT), que foram estimados conforme SNIFFEN et al. (1992), sendo utilizado a seguinte fórmula: CT = 100 (PB + EE + MM) Onde: PB corresponde à proteína bruta da amostra, EE extrato etéreo e MM material mineral. Os carboidratos não-fibrosos (CNF), correspondentes às frações (A + B1), foram calculados seguinte fórmula: (B2 C) Onde: (C) corresponde a fração obtida por meio do resíduo indigestível, após 144 horas de incubação em ambiente ruminal; (B2) Obtido pela diferença entre a FDNcp correspondente a FDN, corrigido o seu conteúdo para proteína e cinzas e a fração de fibra indigestível (C). Os resultados da composição química da cana-de-açúcar imediatamente após os tratamentos estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Composição química da cana-de-açúcar imediatamente após os tratamentos Doses de CaO (% Matéria natural) Item 0,0 0,5 1,0 1,5 Matéria seca 24 25,6 26,2 26,5 Proteína Bruta 2,5 2,9 2,8 2,8 Extrato Etéreo 0,7 0,7 0,7 0,7 Matéria Mineral 3,1 5,0 7,2 10,0 FDN 2 51, ,7 FDA 3 37,9 30, LIGNINA 7,2 5,1 4,8 5,0 HEMICELULOSE 13,6 19,2 18,0 16,8 CELULOSE 32,7 26,1 26,3 26 DISMS 4 57,8 57,8 57,8 57,8 1 MN: matéria natural; 2 Fibra em detergente neutro; 3 Fibra em detergente ácido; 4 Digestibilidade In situ em 48 horas.
7 A digestibilidade in situ (DISMS) foi obtida através da incubação por 48 horas em ambiente ruminal em um bovino fistulado. Os dados obtidos relativos à composição e fracionamento nas diferentes doses e nos diferentes tempos foram ajustados por regressão linear ao nível de 5% de significância, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas SAEG, versão 7.1 (UFV, 1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores de matéria seca e de cinza da cana-de-açúcar tratada com doses crescentes de (CaO) estão apresentados na Tabela 2. Não foi observado efeito de interação entre doses de CaO e tempo para nenhuma variável estudada (P>0,05). Verificou-se efeito de doses sobre o teor de MS e MM (P<0,05). Através das análises de regressão linear, ficou evidenciado que a variação dos teores de MS, podendo ser observado pela equação Y = 24, ,9235x (P<0,05 R 2 = 76,9), para cada 1 % de CaO adicionado elevou 1,9 pontos percentuais o teor de MS. Resultado semelhante foi encontrado por ANDRADE et al (2001) utilizando cana-de-açúcar tratada com 1,0 % de hidróxido de sódio. Os teores de proteína bruta, extrato etéreo, lignina e DISMS da cana-deaçúcar tratada com doses crescentes de (CaO), estão apresentados na Tabela 3. Para matéria mineral (MM) houve um aumento linear (P<0,05), o que se era esperado, devido ao acréscimo de um produto com um teor mineral elevado. Não sendo observado efeito das doses de CaO e dos tempos de tratamento para o teor de Proteína Bruta (PB) e Extrato Etéreo (EE) (P>0,05), onde foi registrado valores médios de 2,9 e 2,7 respectivamente resultados considerados comuns para a cana-de-açúcar. Não houve diferença significativa para lignina (P>0,05). De acordo com KLOPFENSTEIN (1980), o teor de lignina normalmente não é alterado pelo tratamento químico, mas a ação deste leva ao aumento da taxa de digestão da fibra. A adição de CaO, melhorou a DISMS, que pode ser explicado pela equação linear Y= 48, ,8419x R 2 = 90,0,
8 ou seja, para cada 1% de CaO adicionado elevou 3,8 pontos percentuais a digestibilidade. ANDRADE et al. (2001) destacaram a importância do uso de substâncias químicas visando melhorar a digestibilidade e disponibilidade de nutrientes para a nutrição animal. OLIVEIRA et al. (2002) obtiveram aumento de 6,07% (P<0,01) na DIVMS da cana-de-açúcar submetida à hidrólise por 24 horas com 1,5% de NaOH. Os autores relataram que o uso do NaOH é decorrente do preço e da periculosidade no manuseio. Tabela 2. Teor de matéria seca e de cinza da cana-de-açúcar tratada com doses crescentes de (CaO) Dose de CaO (% MN 1 ) Equação de regressão Período (h) 0 0,5 1 1,5 Média Matéria seca (%) 12 23,8 25,3 26,7 26,7 25,6a 24 24,0 24,7 26,1 26,5 25,3a Média 23,9 25,0 26,4 26,6 1 CV 2,12 Cinza (% da MS) 12 3,3 5,0 7,4 9,9 6,4a 24 3,5 5,6 7,4 9,8 6,6a Média 3,4 5,3 7,4 9,8 2 CV 5,09 Equações de regressão: 1. Y = 24, ,9235x R 2 = 76,9 2. Y = 3, ,2960x R 2 = 97,9 Médias seguidas de uma mesma letra em uma mesma coluna, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. 1 MN: matéria natural
9 Tabela 3. Teores de proteína bruta, extrato etéreo, lignina e digestibilidade da cana-de-açúcar tratada com doses crescentes de (CaO) Período (h) Dose de CaO (% MN 1 ) 0 0,5 1 1,5 Média Equação de regressão Proteína Bruta (% da MS) 12 2,8 3,2 3,4 2,8 3,0a 24 2,7 3,0 2,3 2,8 2,7a Média 2,7 3,1 2,9 2,8 2,9 1 (ns) CV 15,9 Extrato Etéreo (% da MS) 12 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7a 24 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7a Média 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 2 (ns) CV 1,61 Lignina (% da MS) 12 5,6 4,9 5,8 4,5 5,2a 24 5,5 5,0 4,4 4,8 4,9a Média 5,6 4,9 5,1 4,6 5,0 3 (ns) CV 8,2 Digestibilidade in situ em 48 horas (% da MS) 12 52,8 57,6 60,3 64,7 58,8a 24 53,3 54,4 61, ,3a Média 53 56,1 60,7 64,3 CV 2,22 4 Equação de regressão: 1: Y = 2,9; 2: Y =0,7; 3: Y = 5; 4: Y = 48, ,8419x R 2 = 90,0 Médias seguidas de uma mesma letra em uma mesma coluna, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. 1 MN: matéria natural
10 Também não houve efeito de tempos de tratamentos sobre a parede celular e seus constituintes (P>0,05), conforme pode ser observado nos dados apresentados na Tabela 4. Tabela 4. Teor de FDN, FDA, hemicelulose e celulose da cana-de-açúcar tratada com doses crescentes de (CaO) Dose de CaO (% MN 1 ) Equação de regressão Período 0 0,5 1 1,5 Média (h) FDN (% da MS) 12 51,7 48,8 47,8 45,3 48,4a 24 54,4 48,5 47,5 46,7 49,3a Média 53,1 48,7 47, ,9 1 CV 3,02 FDA (% da MS) 12 31,2 29, ,4 29,3a 24 32, ,7 29,8 30,2a Média 31,7 29,8 28,8 28,6 29,7 2 CV 5,08 Hemicelulose (% da MS) 12 20,6 19,3 18,8 17,9 19,1a 24 22,2 18,5 18,8 16,9 19,1a Média 21,4 18,9 18,8 17,4 19,1 3 CV 6,38 Celulose (% da MS) 12 27,1 25,6 25,8 23,7 25,6a 24 27,9 25,5 25,2 24,9 25,9a Média 27,5 25,6 25,5 24,3 25,7 4 CV 3,55 Equação de regressão: 1. Y = 54,4069 2,2221x R 2 = Y = 31,2517 2,0340x R 2 = 73,1 3. Y = 20,9330 2,4102x R 2 = 52,8 4. Y = 27,3323 3,0050x + 0,7322x 2 R 2 = 56,8 Médias seguidas de uma mesma letra em uma mesma coluna, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. 1 MN: matéria natural Resultado semelhante foi encontrado por PIRES et al (2006) utilizando bagaço de cana com diferentes doses de NaOH. De acordo com JACKSON (1977) ação
11 hidrolítico do CaO, é evidenciada pelo solubilização parcial da hemicelulose bem como da expansão da celulose, causando rupturas das ligações de hidrogênio, as quais conferem cristalinidade da molécula de celulose, aumentando assim, a digestão desta e da hemicelulose. OLIVEIRA et al (2007) analisando diferentes doses de CaO (0; 0,5 e 1%), em cana-de-açucar in natura, observou que, à medida que aumentou o nível de CaO, houve uma redução significativa na DIVFDN (42,0; 40,6 e 35,3 respectivamente). Observou-se um efeito linear decrescente para a FDN, descrita pela equação Y = 54,4069 2,2221x (P<0,05 R 2 = 67,87). A redução na FDN observada neste presente estudo resultou da solubilização parcial dos constituintes da parede celular, pois o efeito de produtos alcalinos sobre volumosos de baixa qualidade normalmente ocorre pela solubilização parcial da hemicelulose e expansão da celulose, o que facilita o ataque dos microorganismos do rúmen à parede celular (Van Soest, 1994). O mesmo ocorreu para FDA e Hemicelulose com equação Y = 31,2517 2,0340x (R2 = 35.6) e Y = 20,9330 2,4102x (R2 = 52,8) respectivamente, para cada 1% de CaO, verificou-se um declínio de 2,03 pontos percentuais para FDA e 2,4 para a hemcicelulose. PIRES et al (2004) avaliaram o tratamento do bagaço de cana-de-açucar com amônia anidra e/ou sulfeto de sódio e constataram que a amônia anidra (4% na MS) melhorou a degradabilidade da MS, da FDN e da FDA, enquanto o sulfeto de sódio (2,5% MS) não apresentou eficiência no tratamento do bagaço de cana-de-açúcar. Na Tabela 05 estão apresentados os valores médios de carboidratos totais e fracionamento de carboidratos da cana-de-açúcar tratada com doses crescentes de (CaO), são mostrados os teores das frações dos carboidratos para a cana-de-açúcar, não houve efeito (P>0,05) de tempos de tratamentos sobre a parede celular e seus constituintes, porém, verificou-se efeito significativo (P<0,05) das doses de CaO aplicadas, A análise de regressão mostrou que a variação nos teores da fração C pode ser mostrada pela equação Y=39,1324 7,91133x (P<0,05 R 2 = 90,0), mostrando que para cada aumento de 1% de CaO reduziu 7,9 pontos percentuais da fração C. Uma característica importante da cana-de-açúcar é seu elevado teor da fração C de
12 carboidratos, quando comparada a outras importantes gramíneas. Esta fração dos carboidratos totais é indisponível no rúmen e nos demais compartimentos digestivos dos ruminantes (SNIFFEN et al., 1992) e está relacionada ao consumo voluntário de alimentos e à disponibilidade de energia da dieta. Desta forma, a sua quantificação nos alimentos é de grande importância na nutrição dessas espécies de animais. A lenta passagem da fração C pelo rúmen afetaria o "turnover", diminuindo assim a eficiência microbiana, uma vez que haveria maior tempo de retenção da microbiota neste compartimento, fazendo com que grande parte da energia disponível aos microrganismos seja utilizada para fins de mantença (RUSSELL et al., 1992; RUSSELL & WALLACE, 1988). A análise de regressão linear mostrou que a variação nos teores da fração A + B1, que corresponde aos carboidratos não fibrosos (CNF) pode ser mostrada pela equação Y=39,1324 7,91133x (P<0,05 R 2 = 90,0). O alimento estudado destaca-se pela sua elevada proporção da fração A + B1, que é rapidamente usado por grupos específicos de bactérias no rúmen, chamadas de consumidoras de CNF, as quais tem seus requisitos em compostos nitrogenados (N) atendidos em sua maior parte (66%) por aminoácidos e peptídeos (RUSSELL et al., 1992). Sendo seus valores de 47,1; 51,3; 52,0 e 54,2 para as doses 0; 0,5; 1 e 1,5 respectivamente. Observou-se efeito para a fração B2 (fração potencialmente degradável dos carboidratos fibrosos), P<0,05, encontrando valores de 39,6; 35,0; 30,1; e 28,1 para as doses 0; 0,5; 1 e 1,5 respectivamente. AZEVEDO et al. (2003) trabalhando com diferentes variedades encontrou valores de 25,25; 30,31; 33,26, para as variedades SP ; RB ; SP respectivamente.
13 Tabela 5. Valores médios de carboidratos totais e fracionamento de carboidratos da cana-de-açúcar tratada com doses crescentes de (CaO) Dose de CaO (% MN 1 ) Período (h) 0 0,5 1 1,5 Média Equação de regressão CHOT (% da MS) 12 93,2 91,1 88,5 86,6 89,8a 24 93,1 90,7 89,5 86,6 90,0a Média 93,2 90, ,6 89,9 1 CV 0,75 Fração A +B1 (% da MS) 12 48,5 51,5 51,3 54,9 51,5a 24 45,8 51,1 52,7 53,5 50,8a Média 47,1 51, ,2 51,2 2 CV 3,08 Fração B2 (% da MS) 12 12,2 15,3 17,6 17,6 15,7a 24 14,7 14,2 17,7 17,9 16,1a Média 13,4 14,8 17,6 17,7 15,9 3 CV 8,99 Fração C (% da MS) 12 39,3 35,1 31,2 27,5 33,3a 24 39,9 34, ,6 33,1a Média 39, ,1 28,1 33,2 4 CV 3,84 Equações de regressão: 1. Y = 93,1447 4,3131x R 2 = 93,1 2. Y = 47, ,3850x R 2 = 65,7 3. Y = 13, ,1553x R 2 = 57,3 4. Y = 39,1324 7,9113x R 2 = 90,0 Médias seguidas de uma mesma letra em uma mesma coluna, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. 1 MN: matéria natural Pôde-se observar neste estudo que as amostras coletadas imediatamente após os tratamentos apresentados na Tabela 1, se aproximam dos valores dos tratamentos de 12 e 24 horas, o que se pode constatar que a hidrólise ocorre logo após a aplicação do CaO, ou durante a pré-secagem as amostras continuam o processo de hidrólise.
14 CONCLUSÃO A cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio apresenta melhor valor nutritivo, sendo, portanto, uma alternativa para aumentar a eficiência alimentar ou melhorar a disponibilidade deste volumoso para ruminantes. A hidrólise da cana-de-açúcar com o (CaO) melhorou o valor nutritivo, diminuindo os teores de FDN, FDA, hemicelulose e celulose. Não houve diferença entre 12 e 24 horas de hidrólise. A dose de 1,5 % de cal processada mostrou-se mais interessante do ponto de vista da digestibilidade da MS. REFERÊNCIAS ANDRADE, J. B.; FERRARI Jr., E.; BRAUN, G. Valor nutritivo da cana-de-açúcar tratada com hidróxido de sódio e acrescida de rolão de milho. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 36, p , AZEVEDO, J.A.G.; PEREIRA, J.C.; QUEIROZ, A.C.; CARNEIRO, P.C.S.; LANA, R.P.; BARBOSA, M.H.P.; FERNANDES, A.M.; RENNÓ, F.P. Composição químico-bromatológica, fracionamento de carboidratos e cinética da degradação in vitro da fibra de três variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p , BERGER, L.L., FAHEY JR., G.C., BOURQUIM, L.O Modification of forage quality after harvest. In: FAHEY JR. G.C. et al. (Eds.). Forage quality, evaluation e utilization. Madison: American Society of Agronomy. p BUETTNER, M.R., LECHTENBERG, V.L., HENDRIX, K.S Composition and digestion of ammoniated tall fescue (Festuca arundinacea Schreb.) hay. Journal of Animal Science, 54 (1): BURGI, R. Produção do bagaço de cana-de-açúcar (Saccharum sp L.) auto-hidrolisado e avaliação para ruminantes p. Tese (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, São Paulo. CASTRO NETO, A.G. Avaliação de silagens de cana-de-açúcar submetidas a diferentes tratamentos. Belo Horizonte, 2006, 53p. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais. FERREIRA, M.A., SANTOS, D.C., LIRA, M.A. Associação da palma forrageira (Opuntia fícus indica Mill) com diferentes fontes de fibra na alimentação de vacas 5/8 Holandês/Zebu em lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n. 7, p , KLOPFENSTEIN, T. Increasing the nutritive value of crop residues by chemical treatments. In: HUBER, J.T. Upgrading residues and products for animals. Ed. CRC Press, p
15 OLIVEIRA, M. D. S.; QUEIROZ, M. A. A.; CALDEIRÃO, E.; BETT, V.; RIBEIRO, G.M. Efeito da hidrólise com NaOH sobre a digestibilidade in vitro da matéria seca da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.). Ars Veterinária, v. 18, n. 2, p , OLIVEIRA, M.D.S. ANDRADE, A.T., BARBOSA, J.C., SILVA, T.M., FERNANDES, A.R.M., CALDEIRÃO, E., CARABOLANTE A. Digestibilidade da cana-de-açúcar hidrolisada, In natura e ensilada para bovinos. In: Ciência Animal Brasileira. v. 8, n. 1 p , PIRES, A. J. V., ROTH, M. T. P., ROTH, A. P. T. P. Inoculantes microbiológicos e aditivos químicos na fermentação e estabilidade aeróbica das silagens de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) cru e queimada. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande. Anais... Campo Grande: SBZ, CD-ROM. PIRES, A.J.V., REIS, R.A., CARVALHO, G.G.P., SIQUEIRA, G.R., BERNARDES, T.F. Bagaço de cana-de-açúcar tratado com hidróxido de sódio. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 35, n.3, p , REIS, R.A.; ANDRADE, P.; RODRIGUES, L.R.A. Palha de arroz e feno de Brachiaria brizantha amonizados e suplementados com energia ou proteína na alimentação de bovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 24, p , RUSSELL, J.B.; O CONNOR, J.D.; FOX, D.J. et al. A net carbohydrate an protein system for evaluation for cattle diets: Ruminal fermentation. Journal of Animal Science, v. 70, n. 12, p , SILVA, J.D.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: Métodos químicos e biológicos. 3ª. Edição. Ed. Viçosa: UFV, SILVA, V. M.; PEREIRA, V.L.A.; LIMA, G. S. Produção, conservação e utilização de alimentos para caprinos e ovinos. Disponível em < Acesso em: 25 fev SILVA, V. L. M.M.; GOMES, W. C.; ABREU, C. A. M.; ALSINA, O. L. S.; Isotermas de equilíbrio para a adsorção de hidrocarbonetos em bagaço de cana-de-açúcar. In: XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA QUÍMICA, Santos São Paulo, Setembro SNIFFEN, C.J.; O CONNOR, J.D.; Van SOEST, P.J. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets. II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science, v. 70, n.7, p , THIAGO, L. R. L.; VIEIRA, J. M. Cana-de-açúcar: uma alternativa de alimento para a seca. Comunicado Técnico nº 73: Embrapa Gado de Corte, dez UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV SAEG Sistema de análises estatísticas e genéticas. Versão 7.1. Viçosa, MG. 150p. (Manual do usuário). VAN SOEST. P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. Ithaca: Cornell University Press
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