CATETERISMO URETRAL: ALGUMAS COMPLICAÇÕES DECORRENTES DESSA PRÁTICA
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- Carolina Guimarães Aleixo
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1 MARVULO, M.M.L.; NOGUEIRA, M.S. Cateterismo Uretral: Algumas Complicações Decorrentes Dessa Prática. Nursing, p.17-19, CATETERISMO URETRAL: ALGUMAS COMPLICAÇÕES DECORRENTES DESSA PRÁTICA Marilda Marques Luciano Marvulo 1, Dra. Maria Suely Nogueira 2, RESUMO O uso do cateter uretral é muitas vezes importante, mas é muito perigoso também. Este estudo mostra algumas complicações do uso do cateter uretral e as implicações para a enfermagem, especialmente na prevenção das mesmas. UNITERMOS: Urologia. Cateterismo uretral. ABSTRACT The usage of urethral catheter is often importante but very dangerous too. This study presents some complications resulting from the usage of urethral catheter and its nursing implications, especially in their prevention. UNITERMS: Urology. Urethral catheter. 1 Enfermeira, Chefe do.serviço de Enfermagem do Hospital das Clínicas de Marília, mestranda da Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. 2 Docente da Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, orientadora do Programa de Pós- Graduação.
2 INTRODUÇÃO Os benefícios decorrentes da possibilidade de drenar a urina da bexiga por meio da cateterização fizeram com que a cateterização uretral se tomasse freqüente para os profissionais da área de saúde. MARANGONI et al. (1986) relatam que cerca de 10 a 15% dos pacientes internados são cateterizados. Muito embora o uso de cateteres uretrais tenha trazido grandes benefícios para inúmeros pacientes, a prática dessa cateterização trouxe, também, problemas e riscos potenciais relacionados à manipulação do trato urinário. O uso de cateter de maneira inapropriada ou por tempo longo demais pode representar um risco a muitos pacientes para os quais foi designado a proteger, segundo KLJNIN (1991). BECKER (1993) descreve as conseqüências clínicas do Cateterismo uretral como resultantes de erros na inserção do cateter, inapropriada indicação para a cateterização prolongada e assistência imprópria com relação ao cateter de demora. Não só o cateterismo de demora, como também o cateterismo único, pode levar a complicações, embora com menor freqüência. O traumatismo uretral, a dor, o falso trajeto, a uretrorragia, a bacteremia e a infecção geniturinária são indicadas por LENZ (1994) como complicações possíveis de ocorrerem pelo cateterismo vesical. PRADO & DANTAS (1989) descrevem as complicações do cateterismo único e do cateterismo de demora. No cateterismo único, em pacientes com trato normal, embora não freqüentemente, podem ocorrer dois tipos de complicações: as traumáticas e as infecciosas. No cateterismo de demora, além dessas, podem ocorrer complicações uretrais (uretrite) e genitais (prostatite) (no homem), vesicais(cálcuos, irritação vesical e possibilidade de desenvolvimento de carcinoma epidermóide) e renais ( pielonefride, abcesso perirrenal, cálculo renal e insuficiência renal crônica) e septicemia. As complicações da cateterização são sumarizadas por EDWARDS et al. (1983) em: trauma primário na uretra, reto, próstata e bexiga: complicações vesicais como estase, sepsis, cálculos, metaplasia e neoplasia. Algumas dessas complicações são alvo do presente trabalho. OBJETIVO Analisar algumas das conseqüências decorrentes do uso do cateter uretral. Ponderar sobre o papel do enfermeiro frente a essas complicações. MÉTODO Este estudo é fruto de nossa dissertação de Mestrado em que analisamos a produção científica, nacional e internacional sobre a temática cateterismo uretral, nos anos de 1994 a Baseados na Análise de conteúdo proposta por BARDIN (1997), organizamos em seis grandes
3 temas o conteúdo dos artigos analisados. Um desses temas refere-se às complicações decorrentes do cateterismo, o qual parcialmente abordamos neste trabalho. RESULTADOS Foram várias as complicações mencionadas na literatura analisada. Entre outras, temos a estenose e a necrose; trauma e lesão uretral; irritação e inflamação e irritação uretral e citotoxidade. Estenose/necrose por pressão É salientado como sendo esta uma das complicações decorrentes do cateter, causadas especialmente por cateteres largos e pontos de fricção (WINN, 1996; FIERS, 1994; LOWTHIAN, 1998; WINN, 1998) e em conseqüência do material do cateter, especificamente o de látex. Para BURKITT & RANDALL (1987) complicações precoces como: trauma, hemorragia e inflamação podem levar à estenose uretral, que constitui a mais séria complicação tardia, que trará reflexo para os pacientes para o resto de suas vidas. BRITTON & WRIGT (1990) comentam que vários fatores podem contribuir para a formação de tecidos de granulação com eventual fibrose, contração e redução do lúmen uretral. EDWARDS et al. (1983) desenvolveram uma pesquisa clínica e experimental na qual estudaram a patogênese da estenose uretral pós cateterização. Da experiência com animais, a mucosa das ratas que receberam cateter de red rubber estava largamente inflamada, com completa destruição epitelial, edema e hemorragia proeminente em toda a seção. Os cateteres "Porges" também induziram a rápidas reações inflamatórias, muito embora menos que os de borracha vermelha (red rubber) e houve trocas epiteliais em mais áreas. Os cateteres de látex e plástico mostraram-se melhores, enquanto o de silicone causou mínimas trocas epiteliais. Nos casos clínicos, estudaram 17 pacientes com estenose associada a cateter. Quatorze tinham coronariopatias e dois, substituição de válvulas. Um apresentou estenose após importante trauma e os dois restantes foram cateterizados após infarto agudo do miocárdio (IAM). O tempo de cateterização variou entre dois e 21 dias. Esses 17 pacientes adquiriram 21 estenoses, sendo seis meatal, quatro submeatal, três anteriores e oito bulbar. ABDEN-HAVEL et al. (1984) apud BRITTON & WRIGT (1990), explicando que a isquemia localizada dentro da uretra pode causar formação de estenose, particularmente após cateterização seguida de cirurgia cardíaca. Se a circulação via artérias pudendas internas está comprometida, a uretra distal pode se tornar isquêmica. Para BURKITT & RANDALL (1987) existe pouca dúvida de que a uretra sofre em decorrência do cateter e parece que o grau de inflamação está relacionado com o comprimento e a permanência do cateter no local. Há uma grande variação pessoal, no entanto. Um paciente pode estar cateterizado por semanas sem complicações, e outro nas mesmas circunstâncias pode subseqüentemente desenvolver uma estenose após ter um cateter por poucos dias. BRITTON & WRIGT (1990) colocam que a inserção traumática de citoscópio ou de cateter na uretra é a razão mais comum para a formação de estenose uretral, especialmente se o cateter largo
4 for forçado, contra a resistência, ou se inflando o balão na uretra, ao invés de na bexiga. A remoção do cateter com o balão inflado, pelo próprio paciente, quando este está desorientado ou mesmo consciente, pode causar trauma suficiente para resultar em formação de cicatriz e estenose. Os cateteres podem irritar a mucosa uretral e produzir estreitamento da uretra, particularmente em homens. Várias formações de estreitamentos uretrais foram constatadas em pacientes operados. A causa tem sido atribuída a uma variedade de fatores, incluindo a geléia lubrificante, talco das luvas, um material citotóxico extratível, necrose por pressão pela retração de um cateter ancorado, e isquemia uretral (WILKSCH et al. apud KUNIN, 1991). Os locais mais vulneráveis a sofrerem essas complicações são o colo da bexiga e, particularmente, no homem, o esfíncter externo, junção peno-escrotal e ao lado do meato externo (88). A prevenção dessas complicações de um modo geral está nas mãos da enfermagem e se inicia a partir da decisão pela cateterização, passando pela escolha do cateter, do material e numeração ideais, inserção habilidosa, garantia de uma fixação correta, evitando peso excessivo na bolsa de drenagem e prevenindo a retirada ou tração acidental do mesmo (WINN, 1998; FIERS, 1994). Figura 1 Pontos possíveis de lesão pela pressão do cateter mal fixado
5 Trauma e lesão uretral Essas complicações são precoces, tendo como causas principais o intercurso do cateter no local, o uso do cateter com balão largo (OSTASZKIEWEZ, 1997), tamanho largo (POMFRET, 1996; FIERS, 1994; OSTASZKIEWEZ, 1997; LAURENT, 1998), balão parcialmente preenchido, impedindo a posição ereta do cateter, fazendo com que a ponta do mesmo fique encurvada, possibilitando a esta ir contra a mucosa e, com o tempo, causar lesão (MOORE & RAYOME, 1995). Outras causas mencionadas referem-se à remoção traumática do cateter, com balão inflado (WILDE, 1997; COLLEY, 1997; OSTASZKIEWEZ, 1997; LOWTHIAN, 1998), inserção traumática do cateter (OSTASZKIEWEZ, 1997; WINN, 1998) devido a anormalidades anatômicas, à técnica com inadequada lubrificação e à manipulação forçada (WINN, 1998). É mencionado também que o orifício da ponta do cateter pode causar trauma na delicada mucosa vesical que, em contato com o mesmo, veda o orifício, possibilitando ser traumatizada na movimentação do cateter (LOWTHIAN, 1998). Outro fator destacado diz respeito a pacientes homens que, com freqüentes ereções, estão sujeitos a ação traumática do cateter na uretra, se não houver folga suficiente no sistema de drenagem (LOWTHIAN, 1998). Os autores salientam as complicações tardias em conseqüência desses danos, tais como estenose (POMFRET, 1994), infecção e, raramente, a septicemia (COLLEY, 1997; WILDE, 1997). Outros colocam essas complicações como manifestações tardias do trauma, aflorando na forma de uretrites, estenoses, epidermites, fístulas, abcessos periuretrais, divertículos uretrais, gangrena de Fourniér's, sepsis ou hematúria (MOORE & RAYOME, 1995). Dentre as razões para esses incidentes são citadas as condições do paciente, especialmente aqueles confusos que podem vir a puxar o cateter com o balão inflado, erro na inserção e manutenção do cateter, mau funcionamento e inadequada educação ao paciente sobre o cateter (McCONNELL et al., 1996). A prevenção dessas complicações e a minimização desses problemas podem se dar através da seleção apropriada do material e tamanho do cateter, técnica cuidadosa de cateterização e um suporte efetivo para a bolsa de drenagem, junto com freqüente esvaziamento da bolsa coletora para prevenir que esta se torne muito pesada e tracione o cateter, além de proteger contra puxões acidentais (GETLIFFE, 1996; GETLIFFE, 1995). A lubrificação copiosa do cateter com gel solúvel em água ajuda a reduzir a irritação uretral (MOORE & RAYOME, 1995). Em relação às ações de enfermagem, podemos identificar que essas permeiam todos os atos preventivos anteriormente citados, ressaltando a importância do uso de cateteres estreitos, de material não irritante, além de atenção para a fixação do cateter e prevenção de acidentes, orientando o paciente para não puxar e os profissionais para não passarem o cateter contra resistência (FIERS, 1994; WINN, 1998). MOORE (1992) alerta para a necessidade de se evitar trauma na uretra e orienta para se introduzir o cateter até a bifurcação do mesmo, antes de o balão ser inflado. Refere ser esse cuidado especialmente importante em pacientes prostatectomizados, que podem coletar urina na uretra prostática. O aparecimento de urina pode parecer ao enfermeiro que o cateter está na bexiga, quando
6 na verdade não está. Se o balão é inflado na uretra ou na fossa prostática, o resultado pode ser hematúria, erosão uretral e estenose uretral. CONCLUSÃO Em face dessas complicações, ressalta-se a importância do papel do enfermeiro frente ao cateterismo uretral no sentido de minimizar ao máximo essas conseqüências, através da escolha correta do cateter, número correto do mesmo, balão com, no máximo, 10 ml de água estéril, técnica correta de inserção, fixação correta e, especialmente, evitar, sempre que possível, o uso do cateter. É necessário que o enfermeiro olhe para o cateterismo uretral com maior seriedade e zelo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Edições 70. Lisboa, Portugal, BECKER, L.E. Lethal catheter syndrome. Urol. Nurs., vol. 13, n. 4, p ,1993. BRITTON, P. M.; WRIGHT, E.S. Nursing care of catheterised patients. Profissional Nurse. v. 5, n. 5, p ,1990. BURKITT, D.; RANDALL, J. Catheterisation-Urethral Trauma. Nursing Times, v. 83, n. 43, p ,1987. COLLEY. W. Know How male catheterization. NursingTimes, v. 93, n. 11, p ,1997. EDWARDS, L. E.; LOCK, R.; POWEL, C; JONES, P. Post catheterisation urethral strictures. A clinical and Experimental Study. British Journal of urology. v. 55, p ,1983. FIERS, S. Indweilimg catheters and devices: avoiding the problems. Urologic nursing. v. 14, n. 3, p ,1994. v. 90, n. 46, p. 16,1994. GETLIFFE, K. Care of urinary catheters. Nursing Standard. v. 10, n. l, p ,1995. GETLIFFE, K. Care of urinary catheters. Elderly Care. v. 8, n. 2, p. 23-6,1996. KUNIN, Calvin M. Infecções urinárias - diagnóstico. tratamento e prevenção, 4ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Revinter Ltda.,1991. LAURENT, C. Preventing infection indwelling catheters. Nursing times, v.94, n.25, p ,1998. LENZ,L.L. Infecção urinária, São Paulo, BYK,1994.
7 LOWTHIAN,P. The dangers of long term catheter drainage. British Journal of Nursing. v.7, n.7, p.366-8,370,372,1998. MARANGONI, D. V. et. al., Infecções urinárias. Rev.ARS C VRANDI v. 19, n. 4, p. 17-8,21-2,25,1996. McCONNELL, E. A. Inflating na Indewelling urinary catheter balloon. Nursing, v. 13,1995. MOORE, K. Indewelling catheters: problems and management. The Canadian Nurse, p ,1992. MOORE, K. N. and RAYOME, R. G. Problem solving and troubleshooting: the edeweling catheter. Journal of wound, ostomy and continence nursing.v.22,n.5,p.242-7,1995 OSTASZKIEWEZ, J. Catheterization and nursing management. Australian Nursing Journal. v. 4, n. 8, p.22-24,1997. POMFRET, I. Promoting Continence. Nursing Times.v.90, n.46, POMFRET, I. J. Catheters: design, selection and management. British Journal of Nursing., v.5, n.4, p , PRADO, A. R.; DANTAS, L. S. Cateterismo Vesical. Jornal Brasileiro de Medicina, v.57, n.1, p.25-30, WILDE, M.H. Long-term indwelling urinary catheter care conceptualizing the research base. Journal of advanced nursing, v.25, p , WINN,C. Basing catheter on research principles. Nursing Standard, v.10, n.18, p.38-40, WINN, C. Complications with urinary catheters. Professional nurse, v.13, n.5, p , 1998.
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