ESTERÓIDES EM ÁGUAS RESIDUÁRIAS Estado da Arte e Perspectivas de Tratamento
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- Maria das Dores de Mendonça Coimbra
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1 ESTERÓIDES EM ÁGUAS RESIDUÁRIAS Estado da Arte e Perspectivas de Tratamento Darci Barnech Campani - Engenheiro Agrônomo, Coordenador da Gestão Ambiental UFRGS, Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRGS. R. Leblon, 525, casa Porto Alegre RS campani@ufrgs.br DAVID MANUEL LELINHO DA MOTTA MARQUES - PhD em Engenharia Ambiental. Professor Adjunto do IPH/UFRGS. dmm@iph.ufrgs.br GABRIEL TIMM MÜLLER mestrando do IPH/UFRGS. ymuller@cpovo.net GABRIELA CENTENO mestranda do IPH/UFRGS centenogabriela@yahoo.com.br 1
2 Resumo: A pesquisa, visando criar padrões relativos a qualidade dos efluentes de Estações de Tratamento de Esgotos, tem levado aos Centros e Pesquisas e os órgãos operadores de sistemas de tratamento a pesquisar novos indicadores de presença de poluentes, além dos tradicionais: DBO, DBO, coliformes, N, P, ph, entre outros. Principalmente pesquisas referentes a compostos orgânicos como produtos utilizados na agricultura, mas também aqueles de origem tipicamente urbana, como medicamentos, que são naturalmente excretados por pessoas que estejam sob tratamento. Incluídos nesta área de pesquisa,os esteróides, incluídos dentro de um grande grupo designados como Disruptores ou Desreguladores Endócrinos. Com a detecção destes, os Sistemas de Tratamento de Efluente deve ser repensado, adaptando-os para esta nova abordagem. O trabalho revisa os estudo relativos a presença destes em efluentes de ETEs, levanta também como tem sido abordado o tratamento e conclui com propostas de como adequar as ETES existentes ou em projeto para tal tratamento. Palavras Chaves: Esteróides, Disruptores endócrinos, Efluentes líquidos STEROIDS IN WASTEWATER - State of the Art and Perspectives for treatment. Abstract: The research, to create standards for the quality of effluent from Sewage Treatment Systems has led to research centers and agencies of treatment to search for new indicators of the presence of pollutants in addition to the traditional: BOD, BOD, coliformes, N, P, ph, among others. Mainly a search for organic compounds such as products used in agriculture, but also those of typical urban origin, such as drugs, which are naturally excreted by people who are under treatment. Included in this area of research, steroids, included within a large group designated as Endocrine Disruptors. With the detection in the Systems Wastewater Treatment should be reviewed to adapt them to this new approach. This paper reviews the study on the presence in the effluent from treatment plants, also raises as has been treated andt concludes with proposals for how to adapt the existing treatment plants or proposed for such treatment. Keywords: Steroids, Endocrine disruptors, Liquid effluents 1. CARACTERIZAÇÃO DOS ESTERÓIDES Os esteróides formam um grande grupo de compostos solúveis em gordura, que têm uma estrutura básica de 17 átomos de carbono dispostos em quatro anéis ligados entre si. São amplamente distribuídos nos organismos vivos e incluem os hormônios sexuais, a vitamina D e os esteróis. Dentro do grupo dos esteróides, os hormônios sexuais podem ser classificados em três grupos principais: hormônios sexuais femininos ou estrógenos, hormônios sexuais masculinos ou andrógenos e hormônios da gravidez ou progestógenos (Solomons & Fryhle, 2000). Entre os hormônios sexuais, os estrógenos vêm recebendo maior atenção na área ambiental por serem compostos extremamente ativos biologicamente e estão relacionados à etiologia de vários tipos de cânceres. Os estrógenos naturais estriol (E 3 ), 17β-estradiol (E 2 ), estrona (E 1 ) e o sintético 17α-etinilestradiol (EE 2 ) são os que despertam maior preocupação, tanto pela potência estrogênica como pela quantidade contínua introduzida no meio ambiente (Reis Filho et al., 2006). Estes hormônios estão incluídos em uma categoria recente de poluentes ambientais que interferem nas funções do sistema endócrino, chamados de Disruptores ou Desreguladores Endócrinos. Esses poluentes são encontrados no meio ambiente em concentrações da ordem de µg e ng por litro e 2
3 são definidos como qualquer composto ou agente exógeno que interfere na síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação de hormônio natural no corpo que são responsáveis pela manutenção, reprodução, desenvolvimento e comportamento dos organismos (Bila & Dezotti, 2007). Os Desreguladores Endócrinos abrangem uma grande faixa de classe de substâncias com estruturas distintas, incluindo, entre outros, pesticidas, dioxinas, bifenilas policloradas, alquilfenóis, ftalatos, metais pesados e os hormônios E 1, E 2, E 3 e EE 2 que se destacam por possuírem a melhor conformação reconhecida pelos receptores e, portanto, resultam em respostas máximas, sendo considerados como responsáveis pela maioria dos efeitos disruptores desencadeados pela disposição de efluentes (McLachlan et al., 2006). De acordo com Guimarães (2008), o estradiol é o hormônio estrogênico mais abundante e o mais potente, cerca de 12 vezes mais que o estrona e 80 vezes mais que o estriol, possui peso molecular de 272,37 g/mol e meia-vida de 2 a 3 dias. O estriol é um produto metabólico e de excreção de estradiol e estrona, possui peso molecular de 288,37 g/mol e meia-vida de 3 a 4 dias, sendo que seu efeito estrogênico é o mais fraco. O estrona é formada no organismo animal junto com o estradiol, tem peso molecular 270,37 g/mol e meia-vida de 2 a 3 dias. E o etinilestradiol é um produto sintético desenvolvido para uso médico em terapias de reposição e métodos contraceptivos, possui peso molecular de 296,41 g/mol e meia-vida de 4 a 6 dias, podendo ser até 10 vezes mais potente que o estradiol. A Figura 01 mostra a estrutura química destes compostos. Figura 01: Estrutura dos principais hormônios estrógenos (Reis Filho et al., 2006). O monitoramento da presença desses esteróides no meio ambiente tem sido realizado em uma grande variedade de estudos em todo o mundo. Os hormônios excretados através da urina e fezes, principalmente pelas mulheres, seguem para a rede coletora e depois entram no ambiente. O lançamento de efluentes diretamente nos cursos d`água ou mesmo processados são as principais vias de contaminação do ambiente aquático, seja pelo déficit de infra-estrutura em saneamento ou pela ineficiência das estações de tratamento de esgotos (ETEs). Apesar de possuírem meia-vida relativamente curta quando comparados a outros compostos orgânicos, como alguns pesticidas, os estrógenos são continuamente introduzidos no ambiente, o que lhes concede um caráter de persistência. A Tabela 01 mostra uma estimativa das excreções diárias de estrogênios por humanos através das quantidades diárias excretadas dos estrogênios naturais E 1, E 2 e E 3 e a quantidade de EE 2 nas pílulas orais contraceptivas (Bila & Dezotti, 2007). Tabela 01: Excreção diária (µg) per capita de estrogênios por humanos. Categoria E 1 E 2 E 3 EE 2 3
4 Homens 3,9 1,6 1,5 - Mulheres menstruando 8 3,5 4,8 - Mulheres na menopausa 4 2,3 1 - Mulheres grávidas Mulheres Fonte: Bila & Dezotti, Outro aspecto importante é que, embora grande parte dos estrógenos seja metabolizada e excretada na forma inativa conjugada como glicuronídeos e sulfatos, a ação de enzimas produzidas por bactérias comumente encontradas em áreas de despejo de efluentes prontamente os biotransformam em compostos biologicamente ativos e passíveis de desencadearem efeitos deletérios (Purdon et al., 1994). Também existem muitos estudos de identificação e quantificação de estrogênios em diferentes ambientes aquáticos realizados em diversos países, os quais nos mostram que as concentrações podem variar de forma significativa, dependendo de diversos fatores. A Tabela 02 mostra a variação das concentrações dos estrógenos E 1, E 2, E 3 e EE 2 encontradas em efluentes de ETEs, esgotos domésticos brutos, águas superficiais e de abastecimento. Apesar de estarem presentes em concentrações muito pequenas, estas substâncias possuem alto potencial de impacto ambiental e podem causar diversos efeitos nos organismos, principalmente no ambiente aquático. Estudos realizados por Routledge et al. (1998) em tanques experimentais com trutas por um período de três semanas mostraram que as trutas são sensíveis à concentração de 1 10 ng/l de 17β-estradiol e ng/l de estrona, apresentando quantidades significativas de Vitelogenina (VTG), que é uma proteína precursora da gema do ovo, normalmente produzida somente por fêmeas adultas e é dependente do nível de estrogênio no sangue. Purdon et al. (1994) também mostrou através de trutas expostas por 10 dias a doses de 0,1 a 10 ng/l de 17αetinilestradiol, que esse hormônio sintético é um forte indutor de VTG. Tabela 02: Concentrações dos estrógenos em diferentes locais de estudo. Local do Estudo E 1 (ng/l) E 2 (ng/l) E 3 (ng/l) EE 2 (ng/l) Efluente de ETE 0,35 a 220 0,15 a 308 0,2 a 120 0,1 a 2000 Esgoto Bruto 0,5 a 140 0,5 a 48 1,5 a 188 0,5 a 13 Água Superficial 0,1 a 50 0,13 a 29 0,5 a 28 0,1 a 73 Água de Abastecimento 0,2 a 0,6 0,2 a 2-0,15 a 0,5 Fonte: adaptado de Gerolin, Estudos feitos por Thorpe (2003) também demonstraram que pequenas concentrações de estrógenos são suficientes para causar danos reprodutivos em peixes, como a feminização do tubo reprodutivo verificados em peixes zebra juvenis expostos a 100 ng/l de 17β-estradiol por um período de 21 dias. Na revisão sobre feminização de peixes realizada por Christiansen et al. (2002), foi relatado que estrogênios podem induzir hemafroditismo em concentrações de cerca de 0,1 ng/l no caso do 17α-etinilestradiol e 10 ng/l no caso do 17β-estradiol, sendo que uma concentração de 5 ng/l de 17β-estradiol já pode induzir outros efeitos adversos à saúde de peixes. 2. EFEITOS DOS ESTERÓIDES Segundo Bila e Dezotti (2007), as pesquisas apontam que os desreguladores endócrinos, independentemente do grupamento química a que pertençam, podem interferir no sistema endócrino 4
5 de humanos e outros animais e, com isso, afetar a saúde, o crescimento e a reprodução. Ainda o Documento da Comunidade Européia, de 2001, destaca que, podem danificar diretamente um órgão endócrino; alterar diretamente a função de um órgão endócrino; interagir com um receptor de hormônios ou, alterar o metabolismo de um hormônio em um órgão endócrino. Birkett e Lester (2003) e Colborn et al. (1993) apontam o aparecimento de câncer no sistema reprodutivo de filhas de mulheres que usavam DES (dietilestilbestrol) na gravidez; bem como, Guillette et al., em 1996 detectou anomalias no sistema digestivo de jacarés contaminados por DDT, na Flórida, e Carlsen et al., em 1992, pesquisou o declínio de espermatozóides no sêmen humano na Dinamarca, entre 1983 e Bila e Dezotti (2007) nos relata ainda efeitos citados na bibliografia como diminuição da eclosão de ovos de pássaros, peixes e tartarugas; feminização de peixes machos; problemas no sistema reprodutivo em peixes, répteis, pássaros e mamíferos e alterações no sistema imunológico de mamíferos marinhos, tem sido associados à exposição de espécies aos desreguladores. Em humanos, além da diminuição de esperma no sêmen, também câncer de mama, de testículos e de próstata, além de endometriose (Endométrio é a parte mais interna do útero, responsável por abrigar o óvulo fecundado, ou seja, é o ninho do novo ser. Quando a mulher não engravida esse tecido de revestimento é eliminado na menstruação. À presença do endométrio fora de sua localização habitual, fora do útero, dá-se o nome de endometriose). Janex-Habibi et al. (2009), em sua revisão bibliográfica nos trás ainda o estudo de Hunt (1980) e de Wiemeyer (1984) que apontam distúrbios reprodutivos, tais como mudança de sexo ou diminuição de populações, como resultado de exposição à disruptores endócrinos. Também os estudos de Routledge et al. (1998), onde trutas arco-íris, do sexo masculino, passaram a produzir VTG com o valor limiar de resposta entre 1 e 10 ng/l de E2 e entre 25 e 50 ng/l para o E1. Tal descoberta ocorreu quando pescadores encontraram peixes hermafroditos, próximos a Estações de Tratamento de Esgotos, sendo depois confirmada pela utilização de trutas enjauladas, que submetidas a um ambiente com estradiol, passaram a sintetizar VTG, trabalho realizado por Purdom et al. (1994). Interessante também o outro estudo de Guillette et al. (1999), pesquisando jacarés, encontrou-os contaminados por DDE, um metabólito persistente do DDT, desenvolvendo anomalias como redução do tamanho do pênis, resultante de concentrações anormais de testosterona no plasma sanguíneo. Tortora et al. (2000) nos informa que esteróides podem ser sintetizados por microorganismos a partir de esteróis ou similares, como o caso de Streptomyces, que pela adição de um grupamento hidroxil ao carbono 11, converte esteróis em esteróides. Esta informação foi à única encontrada relacionando microorganismos e o metabolismo de esteróides, o que nos indica que se são capazes de sintetizar, a presença do metabólito deve interferir na população de microorganismos. Para Bila e Dezotti (2007), as maiores preocupações atuais são se estas substâncias podem causar efeitos tóxicos mesmo a baixas concentrações; quais as substâncias que estão associadas a efeitos tóxicos a baixas concentrações; se estas substâncias estão presentes no ambiente em concentrações que possam causar danos a saúde de humanos e animais; se existem concentrações limiares abaixo da qual possa ser considerada segura para a saúde; se os novos ensaios conseguem realmente fornecer ferramentas para prever os efeitos destas substâncias e se esses poderão facilmente ser utilizados em larga escala. 3. TRATAMENTOS BIOLÓGICOS APLICADOS NA REMOÇÃO DE ESTERÓIDES EM SISTEMAS AQUOSOS 5
6 O primeiro artigo publicado sobre a remoção através de sistemas de tratamento de hormônios humanos em água foi em 1965, por Tumm-Zollinger e Fair, mostrando que os esteróides não foram completamente eliminados durante o processo de tratamento de esgoto. A presença desses disruptores endócrinos em estações de tratamento de esgoto e em fontes de água potável demonstra que é necessária uma avaliação dos processos de tratamento envolvidos com respeito a eficiência de remoção dessas substâncias. Os processos oxidativos (O 3 /H 2 O 2, fotocatálise com TiO 2, H 2 O 2 /UV) e a ozonização são tecnologias bastante promissoras, chegando a taxas de remoção de mais de 97%, para a oxidação dessas substâncias no tratamento de água e esgoto doméstico. Outros tratamentos também foram investigados, tais como, cloração, filtração em carvão ativado (remoção de mais de 99%), processos com membrana de nanofiltração (NF) e osmose reversa (OR), entre outros (Bila & Dezotti, 2007). Entretanto a literatura relata que sistemas compostos por lagoa de aeração, sedimentação e lodo estão entre os mais utilizados durante o tratamento de efluentes nas ETEs brasileiras. Porém, a não existência de um programa de monitoramento específico nas ETEs, impossibilita o cálculo das quantidades de fármacos que adentram, e que são removidos nas estações, principalmente porque o clima local e o regime de operação das unidades são fundamentais para se determinar o comportamento dessas substâncias durante a passagem pelas várias etapas de tratamento. Estudos de remoção de fármacos em ETEs brasileiras são raros e esparsos. Ternes et al. (1999) e Stumpf et al. (1999) foram os primeiros a reportarem a presença de hormônios, antiinflamatórios e antilipêmicos em esgotos, efluentes e em águas de rios no Estado do Rio de Janeiro (Reis Filho et al., 2007). Os processos biológicos de tratamento em ETEs, tais como lodos ativados e filtros biológicos, têm mostrado capacidade de reduzir a concentração de certos compostos disruptores endócrinos por biodegradação ou adsorção no lodo. No Brasil, Ternes et al. (1999), realizaram o monitoramento de estrogênios naturais e do contraceptivo sintético, 17α-etinilestradiol, na ETE da Penha - RJ. No esgoto doméstico, os estrogênios 17β-estradiol e estrona foram detectados em concentrações de 0,021 e 0,04 µg/l, respectivamente. As taxas de remoção de estrona observadas foram de 67% no filtro biológico e 83% no processo de lodos ativados. Para o 17β-estradiol, estas taxas foram de 92 e 99,9%, respectivamente. Para o estrogênio contraceptivo 17α-etinilestradiol, as taxas de remoção na ETE foram de 64 e 78% para o filtro biológico e no sistema de lodos ativados. A Tabela 03 apresenta as remoções de estrogênios monitorados por Ternes et al. (1999), na ETE da Penha - RJ. Tabela 03: Monitoramento de estrogênios na ETE da Penha /RJ. Substância Carga estrogênica Remoção (%) (g/dia) Filtro Biológico Lodo Ativado Estrona 5, β-estradiol 2, ,9 17α-etinilestradiol 0, Fonte: Ternes et al., Na literatura internacional, Korner et al. (2000) investigaram a remoção da atividade estrogênica do efluente doméstico em uma planta de tratamento na Alemanha. Verificaram que 90% da atividade estrogênica foi removida e somente 2,8% foi encontrada no lodo biológico, concluindo que a maior parte das substâncias responsáveis pela estrogenicidade do esgoto doméstico foi de fato biodegradada e não adsorvidas nas partículas sólidas ou no lodo biológico. Esperanza et al. (2004) conduziram uma investigação em escala piloto com tratamento aeróbico e anaeróbico para determinar a remoção de disruptores endócrinos. Observou-se completa remoção para testosterona e progesterona. A Tabela 04 mostra as remoções dos demais estrógenos investigados. Tabela 04: Remoção de Disruptores Endócrinos em ETE piloto. 6
7 Substância Efluente primário (ng/l) Tratamento Anaeróbio Efluente final (ng/l) Remoção (%) Efluente primário (ng/l) Tratamento Aeróbio Efluente final (ng/l) Remoção (%) Estriol Estrona β-estradiol α-etinilestradiol Fonte: Esperanza et al. (2004). Rudder et al. (2003) investigou que o sistema de filtro biológico em conjunto com o óxido de manganês (MnO 2 ) foi empregado na oxidação de Disruptores Endócrinos. O MnO 2 é um conhecido oxidante e suas reações redox na superfície com compostos orgânicos estão sendo estudadas. Neste sistema biocatalítico, o MnO 2 e as bactérias que oxidam o manganês são integrados. O MnO 2 oxida os micropoluentes em moléculas menores, que junto com o Mn 2+ são degradados biologicamente e o manganês reoxidado é depositado novamente no MnO 2. Estudos com esse sistema de tratamento alcançaram à remoção de 81,7% de atividade. Em recente estudo realizado por Balest et al. (2008), em Bari, na Itália, esta sendo proposta para o tratamento biológico da água de esgoto municipal e industrial uma nova tecnologia, chamada de SBBGR (reator granular de biofiltro em batelada seqüenciado), que é caracterizado por alta concentração de biomassa (até 40 gl -1 ), longo tempo de retenção do lodo (até 6 meses) e baixa produção de lodo (por exemplo, uma ordem de magnitude abaixo do que aquelas dos sistemas por lodo ativado convencional). De fato, em uma investigação específica de comparação, as percentagens médias de remoção, obtidas durante o período de 4 meses de operação, dos disruptores endócrinos, estrona e 17β- estradiol, foram 60,69% e 53, 41% para o sistema SBBGR demonstrativo e para o sistema de tratamento de água de esgoto municipal, respectivamente. Além disso, como os disruptores endócrinos estão sujeitos a um processo de particionamento entre a fase líquida e o lodo secundário no sistema de tratamento municipal, deve ser levado em conta que uma fração dos disruptores é certamente eliminada através da corrente de lodo. O mesmo não acontece ao sistema SBBGR devido à taxa de produção de lodo muito baixo. Deve-se levar em conta ainda, que a remoção do disruptor da matriz inteira, ou seja, água de esgoto mais o lodo, a performance do sistema SBBGR é esperada ser ainda mais alta do que aquelas relatadas na presente investigação onde apenas a fase da água foi levada em consideração. Reis Filho et al. (2007), recomenda, como alteração nas ETEs operantes, para a melhor eficiência na remoção de fármacos, o aumento do tempo de retenção hidráulica e conseqüente diminuição da taxa de produção de lodo, pelo seu maior envelhecimento. 4. PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO NOS SISTEMAS DE TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ESGOTOS PARA AUMENTAR A EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DE ESTERÓIDES Primeiramente, destaca-se que desde 1965 tem sido pesquisada a presença de desreguladores endócrinos em efluentes e água potável, mas muito recentemente temos conseguido dados de trabalhos que visem a sua remoção. Dessa forma, devem-se desenvolver pesquisas que nos permitam propor para as normas hoje existentes, padrões a serem tidos como limites aceitáveis, tanto para efluentes como para água potável. Quanto aos sistemas de tratamento, Reis Filho et al. (2007), já nos apresenta o aumento do tempo de retenção no tratamento dos efluentes, assim como, Rudder et al. 2004), propõem a oxidação por óxido de manganês, para aumentar a biodegradabilidade da matéria orgânica e Balest et al. (2008), que pesquisou uma nova tecnologia, com recirculação e maior oxigenação, mas que o objetivo final, foi o mesmo de Reis Filho et al. (2007), de aumentar o tempo de retenção no tratamento. 7
8 Concluímos que o primeiro passo que temos que realizar em nossas ETEs é a pesquisa sobre a eficiência das mesmas na remoção destas substâncias, com variação no tempo de retenção e aumento das taxas de oxigenação, nos sistemas de lodo ativado. Infelizmente para a maioria das ETEs que estão sendo construídas em nosso Estado, que são por sistema de lagoas, os dados são poucos e nada esperançosos, mas também a pesquisa, em torno do tempo de retenção e a possibilidade de acrescentar uma fase aeróbia ativada, substituindo a fase facultativa, poderia ser uma forma de aumentar a biodegradabilidade e uma eficiência na remoção na fase de maturação/polimento. 5. BIBLIOGRAFIA BALEST, L.; LOPEZ, A.; MASCOLO, G.; DI LACONI, C. Removal of endocrine disrupter compounds from municipal wastewater using na aerobic granular biomass reactor. Biochemical Engineering Journal. v. 41, p , BILA, M. D.; DEZOTTI, M. Desreguladores Endócrinos no Meio Ambiente: Efeitos e Conseqüências. Química Nova. vol. 30, nº. 3, p , BIRKETT, J. W.; LESTER, J. N. Endocrine Disrupters in Wastewater and Sludge Treatment Process. 1 a ed., Lewis Publishers, CARLSEN, E.; GIWERCMAN, A.; KEIDING, N.; SKAKKEBAEK, N. British Medical J. v. 305, p , CHRISTIANSEN, L. B.; NIELSEN, M. W.; HELWEG, C. Feminisation of fish the effect of estrogenic compounds and their fate in sewage treatment plants and nature. Danish Environmental Protection Agency, 184 p, COLBORN, T.; VON SAAL, F. S.; SOTO, A. M. Developmental effects of endocrine-disrupting chemicals in wildlife and humans. Environ. Health Perspect. v. 101, p , EUROPEAN ED WORKSHOP. European Workshop on Endocrine Disrupters. Aronsborg, Suécia, GEROLIN, Eleonilce Rosa Rossi. Ocorrência e Remoção de Disruptores Endócrinos em Águas Utilizadas para Abastecimento Público de Campinas e Sumaré São Paulo. Campinas SP, Tese de Doutorado em Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas. GUILLETTE, L. J. J.; PICKFORD, D. B.; CRAIN, D. A.; ROONEY, A. A.; PERCIVAL, H. F. Reduction in penis size and plasma testosterone concentrations in juvenile alligators living in a contaminated environment. Gen. Comp. Endocrinol. v. 32, p , GUILLETTE, L. J. J.; WOODWARD, A. R.; CRAIN, D. A.; PICKFORD, D. B.; ROONEY, A. A.; PERCIVAL, H. F. Plasma steroid concentrations and phallus size in juvenile alligators from seven Florida lakes. Gen. Comp. Endocrinol. v. 116, p , GUIMARÃES, Tatiane Sant Ana. Detecção e quantificação dos hormônios sexuais 17β-estradiol (E2), estriol (E3), estrona (E1) e 17α-etinilestradiol (EE2) em água de abastecimento: estudo de caso da cidade de São Carlos, com vistas ao saneamento ambiental. São Carlos SP, Tese de Mestrado em Hidráulica e Saneamento, Universidade de São Paulo. 8
9 JANEX-HABIBI, M.; HUYARD, A.; ESPERANZA, M.; BRUCHET, A. Reduction of endocrine disruptor emissions in the environment: The benefit of wastewater treatment. Water Research. v. 43, p , JOHNSON, A. C.; STUMPTER, J. P. Removal of endocrine disrupting chemicals in activated sludge treatment works. Environmental Science & Technology. v. 35, p , KORNER, W.; BOLZ, U.; SUSSMUTH, W.; HILLER, G.; SCHULLER, W.; HANF, V.; HAGENMAIER, H. Input/output balance of estrogenic active compounds in a major municipal sewage plant in Germany. Chemosphere. v. 40, p , PURDOM, C.; HARDIMAN, P.; BYE, V.; ENO, N.; TYLER C.; SUMPTER, J. e ROUTLEDGE E. J. Estrogenic effects of effluents from sewage treatment works. Chemistry and Ecology. v. 8, p , REIS FILHO, R. W.; ARAÚJO, J. C.; VIEIRA, E. M. Hormônios Sexuais Estrógenos: Contaminantes Bioativos. Química Nova. vol. 29, nº. 4, p , REIS FILHO, R. W.; BARREIRO, J. C.; VIEIRA, E. M.; CASS, Q. B. Fármacos, ETEs e corpos hídricos. Revista Ambi-Água. v. 2, p , ROUTLEDGE, E. J.; SHEAHAN, D. C.; BRIGHTY, C. G.; WALDOCK, M. e SUMPTER, J. P. Identification of estrogenic chemicals in STW effluent. Z. In vivo responses in trout and ruack. Environmental Science & Technology. v. 32, n.11, p , RUDDER, J.; WIELE, T. V.; CHOOGE, W.; COMHAIRE, F.; VERSTRAETE, W. Advanced water treatment with manganese oxide for the removal of 17α-ethynylestradiol (EE2). Water Research. v. 38, p , SOLOMONS, G.; FRYHLE, C. Química Orgânica. 7º ed., LCT, Rio de Janeiro, TERNES. T. A.; STUMPF, M.; MUELLER, J.; HABERER, K.; WILKEN, R. D.; SERVOS, M. Behavior and occurrence of estrogens in municipal sewage treatment plants Investigations in Germany, Canadá and Brazil. The Science of the Total Environmental. v. 225, p , THORPE, K. L.; CUMMINGS, R. I.; HUTCHINSON, M. S.; SCHOLZE, M.; BRIGHTY, G.; SUMPTER, J. P. e TYLER,C.R. Relative potencies and combination effects of estrogens in fish. Environmental Science & Technology. v. 37, n. 2, p , TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 6 a edição. ARTMED, Porto Alegre RS, TUMM-ZOLLINGER, E.; FAIR, G. M. Biodegradation of steroid hormones. Journal Water Pollutant Control Fed. v. 37, p ,
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