Pº R.P. 38/2010 SJC-CT



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Pº R.P. 38/2010 SJC-CT Registo on line apresentado por notário (que previamente emitiu certidão de escritura de compra e venda, a digitalizou e transferiu electronicamente através de upload no sítio www.predialonline.mj.pt) DELIBERAÇÃO 1. A recorrente pediu por via electrónica ( on line) o registo de aquisição da fracção autónoma do prédio descrito sob o número / da freguesia de, concelho de, pedido a que coube a Ap.... de de... de e que foi distribuído à Conservatória do Registo Predial de Para servir de base ao registo enviou electronicamente uma versão digitalizada de certidão de escritura pública de compra e venda celebrada na mesma data 1 no cartório de que a apresentante é titular, sito em O espaço existente entre a assinatura da primeira outorgante e a assinatura da Notária destinado à assinatura do segundo outorgante -, mostra-se em branco, o mesmo acontecendo com o espaço à frente da palavra Verbete, destinado à indicação do número de verbete estatístico. 2. Recusado, nos termos da alínea d) do nº 1 do artigo 69º do Código do Registo Predial, com fundamento na nulidade do facto, por falta de assinatura do segundo outorgante no título foi o teor integral do despacho de qualificação que recaiu sobre o pedido. 3. A recusa foi impugnada hierarquicamente por meio de recurso apresentado no dia de de... ( Ap. ), cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos e que foi instruído com cópia da certidão que fora objecto de digitalização e remessa electrónica 2. 1 Em vez de ter digitalizado directamente as folhas do livro de notas onde foi exarada a escritura, como poderia ter feito cfr. o que a este propósito se disse no Pº C.P. 13/2009 SJC-CT e C.P. 31/2009 SJC- CT, pág. 12 a 14, disponível intranet - a recorrida optou por digitalizar uma certidão que previamente extraiu da escritura, havendo a referir que, certamente por lapso, a data da certidão (... de de ) é anterior à data da escritura( de... de ). 2 Pretensamente a mesma, como à frente se dirá. 1

Depois de alegar que o despacho não está devidamente fundamentado, por não especificar como é que uma aparente falta de assinatura consubstancia uma manifesta nulidade do facto, a recorrente impugna a decisão, alegando, em síntese, que: a) A escritura foi devidamente assinada por todos os outorgantes e que a certidão dela extraída - depois digitalizada para remessa electrónica - revela esse facto, verificando-se um manifesto lapso, uma deficiência técnica no documento electrónico apresentado a registo ; b) A obrigação de arquivar os originais prevista no art. 19º da Portaria nº 1535/2008, de 30 de Dezembro tem a sua justificação nas limitações técnicas da plataforma electrónica e por só assim ser possível ultrapassar eventuais discrepâncias entre os originais e respectivas cópias digitalizadas, as quais por vezes por razões técnicas não são apreensíveis por quem as recepciona ; c) Terá ocorrido um falha quando do upload, talvez por se não ter usado ferramenta de tinta preta, mas antes de tinta azul ou com um pigmento distinto, tornando difícil a sua visualização a olho nu, após a digitalização, dificuldade que poderia ter sido suprida por meio do procedimento de suprimento de deficiências previsto no artigo 73º, nº 2 do Código do Registo Predial(C.R.P.); d) Só a falta de assinatura no título é que constitui uma nulidade do acto ( cfr. art. 70º nº 1 al. e do Cód. Do Notariado) susceptível de consubstanciar manifesta nulidade do facto e não a falta de reprodução de uma assinatura num documento electrónico!. 4. A recorrida sustentou a recusa, tendo começado por reconhecer que faltou no despacho a referência expressa ao art. 70º, nº 1, e) do Código do Notariado e por afirmar que essa falta não introduziu qualquer elemento de dúvida quanto ao motivo da decisão. De seguida contra-argumentou, em síntese, que: a) A falta de assinatura de outorgante de escritura constitui nulidade de forma( art. 70º, nº 1, e) do CRP) e sendo manifesta constitui motivo de recusa (art. 69º, nº 1, d) do CRP), não admitindo recurso ao procedimento de suprimento de deficiências ( art. 73º, nº 2 do C.R.P.); b) No título digitalizado em causa não é visível qualquer vestígio( ponto, traço, sombra, etc. ) de assinatura do segundo outorgante, que permita indiciar estar-se perante uma falha de natureza técnica, resultante de constrangimento ou deficiência operativa informática na transferência/ upload do documento, não havendo dúvidas de que o correspondente espaço está em branco, o mesmo acontecendo com o destinado à menção do número do verbete estatístico; 2

c) O art. 39º do Código do Notariado determina a utilização de cor preta na composição dos actos notariais; d) ( )nas bases de dados desta Conservatória se encontram electronicamente arquivados diversos documentos ( ) cuja redacção, assinatura ou ambas, foram feitas com recurso a materiais de cor azul, verificando-se na digitalização dos mesmos que, todos os elementos grafados a a azul são visíveis a olho nu, com maior ou menor nitidez ; e) O art. 18º, nº 3, do da Portaria 1535/2008, de 30 de Dezembro fixa como requisitos do valor probatório (igual aos originais) a correcta digitalização e a integral apreensão; f) Não resultam dúvidas que se encontram em branco o espaço da assinatura do segundo outorgante e o destinado ao número do verbete estatístico e que não há que averiguar se tal se deveu a deficiência técnica. 5. Antes de ter proposto a remessa do processo para o Conselho Técnico, o SJC tinha já solicitado parecer ao Sector das Tecnologias da Informação(STI ) concretamente ao responsável do projecto SIRP, - o qual foi entretanto emitido e integrado nos presentes autos. 5.1.Nesse parecer consta relatado que: a) Foi solicitado ao ITIJ o ficheiro original enviado pela apresentante através do portal www.predialonline.mj.pt e constatou-se que visualizando o documento com a página redimensionada 1600% ( correspondente a uma apliação cerca de 16 vezes ), não é possível - quer quanto ao local destinado à assinatura do segundo outorgante quer quanto ao destinado ao número do verbete estatístico - discernir qualquer ponto na imagem digital ( pixel ) que indicie a existência de uma assinatura ou de qualquer escrito, sendo visualizados espaços integralmente em branco; b) Foi digitalizada a página da certidão que acompanhou o recurso hierárquico, que por sua vez já havia sido objecto de digitalização para constituir anexo da mensagem de correio electrónico remetida pelo SJC ao indicado responsável do projecto SIRP e, mesmo a baixa resolução( 100 dpi ) verificou-se a existência de vestígios de um qualquer escrito, dada a presença de diversos pixels de imagem. Constatou-se assim que, mesmo após sucessivas perdas de qualidade em relação ao original e sem submissão a qualquer ampliação, é perfeitamente visível que não consta do documento digitalizado, uma área inteiramente branca, sendo até integralmente perceptível a indicação do número de verbete estatístico, porque inscrito em tonalidade de cor mais escura. 3

5.2. Na sequência das indicadas análises e procurando responder às questões suscitadas pela situação concreta, o autor do parecer considera que: a) Carece de fundamentação técnica, inequivocamente, o argumento da recorrente de que a ilegibilidade da assinatura resultou de erro no upload, já que o conteúdo do documento digitalizado permanece inalterável; b) Na data da apresentação do pedido de registo o apresentante tinha ao dispor no portal do Predial Online duas funcionalidades que teriam permitido aferir da correcção da digitalização e da integral apreensão do original, por forma a garantir a sua conformidade com o original e o mesmo valor probatório; c) A natureza do documento fornecido pelo ITIJ é do tipo PDF, o que impede que se conclua sobre qual a resolução utilizada para a digitalização do documento e, mesmo que assim não fosse, seria impossível determinar a resolução óptica, que é a mais importante, já que define os limites físicos do scanner e é intrínseca a cada equipamento ; d) A qualidade do conteúdo de documento criado em formato PDF pode variar em função do formato do arquivo matriz, a partir do qual o PDF foi criado e em função da qualidade do documento original. 5.3. O autor do parecer termina concluindo que só há uma forma de saber se do documento original, que de acordo com o recorrente está assinado pelo segundo outorgante, pode resultar um documento digital em que não seja visível essa assinatura, a qual consistirá em efectuar provas periciais, efectuando nova digitalização, no mesmo equipamento e segundo as mesmas condições técnicas, nomeadamente de resolução. Questão prévia No sentido de procurar demonstrar que é falsa a afirmação de que o título não está assinado pelo segundo outorgante, a recorrente juntou ao recurso uma cópia da certidão de escritura que pretensamente é igual à certidão de escritura que foi objecto de digitalização e transferência electrónica no momento do pedido de registo. Independentemente do que a seguir se dirá sobre a dita cópia, há desde logo que fazer presente que a mesma não pode interferir na qualificação a efectuar, porque não foi essa cópia em papel que esteve na base da qualificação impugnada, 4

mas sim uma cópia obtida por via de digitalização e transferida electronicamente. A entidade ad quem não pode apreciar o mérito da impugnação senão com base nos elementos que estiveram disponíveis para a decisão da entidade a quo ( cfr. art. 142º- A, nº 3 do C.R.P. 3 ). No essencial a impugnação assenta na alegação de que, estando a escritura assinada pelo segundo outorgante e sendo esse facto manifestado na certidão emitida para efeito de digitalização, a não visualização dessa assinatura só pode ser atribuída a uma deficiência técnica do acto de upload, admitindo-se que causada pelo facto de se ter utilizado na assinatura uma cor azul ou com um pigmento distinto. Como ficou relatado, o parecer do responsável do projecto SIRP integrado no processo afastou categoricamente que a falta de visualização pudesse ter sido causada pelo upload e só não foi igualmente categórico na afirmação de que no caso concreto essa falta não podia ter sido causada pela digitalização ( equipamento ou má qualidade do original), porque assentou no pressuposto de que o teor da certidão de que se retirou a cópia junta ao processo e o teor da que se havia anteriormente digitalizado eram totalmente coincidentes. Daí ter-se concluído que só provas periciais poderiam explicar o fenómeno da divergência do conteúdo das duas cópias. Acontece que existem fortes indícios no sentido de que não pode dar-se por verificado o indicado pressuposto, ou seja de que, como a recorrente pretende dar por demonstrado, a cópia junta ao recurso hierárquico foi extraída do mesmo original, que assim poderá ter sido objecto de falsificação, mediante substituição da inicial folha relativa às assinaturas por outra entretanto extraída do livro de notas, que terá sido previamente assinado pelo segundo outorgante e completado com o número do verbete. Que a assinatura do segundo outorgante poderá ter ocorrido posteriormente e que a certidão em causa poderá ter sido falsificada mostram-se concretamente indiciados pelo seguinte: a) grafia diferente da rubrica; b) diferença de posicionamento entre a rubrica e o número da folha; e c) diferença de posicionamento entre rubrica/número de folha da certidão e carimbo respeitante à indicação do nome do notário, número do livro de notas e respectivas folhas. Apesar de, pelo motivo supra mencionado, o documento onde se manifestam os ditos indícios não poder ter qualquer interferência na apreciação do mérito da impugnação, não pode este Conselho dado que os factos indiciados são pela lei (abstractamente) qualificados como infracções disciplinares (assinatura posterior e falsificação) e ainda, quanto à falsificação, como infracção criminal - deixar de propor que para, os efeitos tidos por convenientes, a situação seja participada às entidades 3 Cfr. Pº R.P. 16/2008 SJC-CT, disponível intranet. 5

perante as quais os notários são disciplinarmente responsáveis de acordo com o Estatuto do Notariado ( Cfr. artigos 11º, 60º a 63º do Estatuto do Notariado aprovado pelo D.L. nº 26/2004, de 4 de Fevereiro e artigos 11º, b), 41º e seguintes do Estatuto da Ordem dos Notários aprovado pelo D.L. nº 27/2004, de 4 de Fevereiro) e ao Ministério Público (cfr. art. 256º do Código Penal e artigos 48º e 49º do Código de Processo Penal) Saneamento/Pronúncia O processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo 4, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito, que vai expresso na seguinte Deliberação 1. A assinatura dos outorgantes que saibam e possam assinar é requisito da escritura pública, constituindo a sua falta fundamento legal de nulidade formal desse acto notarial (artigos 46º, nº 1, n) e 70º, nº 1, e) do Código do Notariado), a qual por seu lado, em cumprimento do princípio da legalidade, constitui fundamento de um juízo de inviabilidade do pedido de registo (art.68º do C.R.P. regularidade formal dos títulos ) 5. 2. O conteúdo de uma escritura pública prova-se por meio de certidões ( cfr. art. 164º, nº 1 do Código do Notariado) - às quais a lei confere a mesma força probatória ( cfr. art. 383º, nº 1 do Código Civil) - como é o caso da cópia digital da mesma transferida através do sítio www.predialonline.mj.pt para titular o facto 4 Refira-se que a data que o art. 71º, nº 3 do C.R.P. manda anotar na ficha é aquela em que, nos termos da lei, de deve dar por efectuada a notificação ( cfr. presunção legal constante do art. 254º, nº 3 do Código de Processo Civil) e não a do seu registo postal, pelo que se impõe proceder a rectificação da anotação que se mostra efectuada. 5 Que o princípio da legalidade abarca a verificação de que a declaração de vontade do comprador, consignada em escritura pública de compra e venda, se mostra assinada, decorre claramente das indicadas disposições do Código do Notariado. Nem a assinatura está dispensada, nem a sua falta é considerada simples irregularidade coberta pela fé pública do notário. 6

submetido por essa via a registo ( cfr. art. 18º, nº 1, a) e nº 3 da já referida nº 1535/2008). Portaria 3. A integral apreensão do documento original por parte do documento electrónico obtido pela transferência ( upload ) indicada no número anterior, constitui um dos pressupostos da atribuição ao segundo da força probatória do primeiro, para efeito de titulação de registo pedido igualmente por via electrónica ( on line ), conforme dispõe o art. 18º, nº 3 da indicada Portaria 6. 4. Se da simples leitura do documento electrónico resultar que não se verifica o referido pressuposto da integral apreensão do original - porque seja manifesto que parte do mesmo está em falta ( v.g. falta de uma das folhas) ou não é inteligível - ou resultarem dúvidas quanto à sua verificação, qualquer dessas situações cabe na previsão do nº 2 do art. 73º do Código do Registo Predial 7. 5. A nulidade formal referida no número 1 não tem carácter absoluto, já que a lei expressamente afasta a aplicação do regime geral desta modalidade de invalidade ( cfr. art. 285º do Código Civil) ao determinar, por um lado, que a mesma é passível de ser sanada por declaração dos próprios outorgantes prestada na forma e com o conteúdo previstos no citado art. 70º, nº 2 d) do Código do Notariado - e, por outro, que sendo insusceptível a sanação nesses termos, a escritura pode ser 6 In casu, a recorrente vem invocar que por deficiência técnica do upload o documento electrónico não apreendeu na íntegra a escritura, pois não permite visualizar a assinatura( e o número do verbete), argumento peremptoriamente afastado no citado parecer do responsável do projecto SIRP. Desse parecer consta também que o apresentante de pedido de registo on line tem à sua disposição no portal do Predial Online duas funcionalidades para aferir a correcção da digitalização e a dita integralidade, ou seja, de averiguar a conformidade com o original. Utilizando ou não essas funcionalidades, a conformidade com o original é implícita à transferência ( upload ), desde que efectuada por qualquer das entidades a que se refere o art. 18º,, nº 3 da já indicada Portaria nº 1535/2008, sem embargo de a aplicação informática condicionar o carregamento dos documentos a uma declaração expressa, traduzida no assinalar de check box com esse conteúdo. Quanto a este aspecto concreto, mas também para uma abordagem geral do procedimento de depósito de documentos na plataforma electrónica, cfr. o já referido Pº R.P. 13/2009 SJC-CT e C.P. 31/2009 SJC-CT. 7 Não é claramente o caso dos autos, em que nada permite duvidar que os espaços em branco existentes no documento electrónico tenham tido outra causa que não a falta de preenchimento dos correspondestes espaços do original. Assim, não vemos que, com este fundamento, se tivesse justificado a utilização do sub-procedimento de suprimento de deficiências. 7

revalidada por decisão do notário, nos termos constantes dos art. 73º, d), seguintes do mesmo Código). e 6. A esse regime da nulidade não pode corresponder um juízo de total ou absoluta inviabilidade, mas antes de provisoriedade por dúvidas, já que, com tal fundamento, a lei reserva a recusa para os casos em que a nulidade seja manifesta, o que, no plano aqui em tabela, significa que não seja legalmente possível a sua sanação ou revalidação( artigos 70º e 69º, nº 1, d) do C.R.P.) 8. 8 Ao ter fundamentado a recusa no facto de estar em falta a assinatura do segundo outorgante e no disposto na alínea d), não se suscitam dúvidas de que a recorrida deu a nulidade por manifesta. Apenas a falta de indicação do art. 70º, nº 1, e) do Código do Notariado pode justificar que se aponte uma insuficiência na fundamentação que, no entanto, não é de molde a poder identificar uma nulidade no respectivo despacho. Refira-se que a recorrente não invocou tal nulidade e não teve dúvidas quanto à disposição legal em falta no despacho. Considerar que o facto de a nulidade ser manifesta não implica necessariamente a recusa do registo já mais que uma vez foi admitido por este Conselho, apesar de em situações com contornos diversos da dos presentes autos: Cfr. v.g o Pº R.P. 165/2000 DSJ-CT, in BRN nº 4/2110( II ) e o Pº R.P. 296/2000 DSJ-CT, in BRN nº 9/2001 ( II ). Uma coisa é a nulidade ser evidente ou notória, outra são os diversos regimes da nulidade ( cfr. art. 285ºdo Código Civil). O conceito legal constante da alínea d) reporta-se à modalidade típica ( ou tout court, como se lhe chamou no parecer proferido no primeiro dos processos acabados de indicar) que tem carácter absoluto. Não é, inequivocamente, o caso dos autos, como vimos. Afastada que está a hipótese de ter ocorrido a sanação ou a revalidação em data anterior ao pedido de registo, coloca-se a questão de saber se a remoção das dúvidas poderá vir a ser titulada com base em sanação ou em revalidação concretizadas em data posterior à do pedido de registo, já que, se não puder, deveria manter-se a decisão de recusa, embora com fundamento no disposto na alínea b) do dito nº 1 do art.69º do C.R.P.. Ora, a resposta afirmativa passa necessariamente, parece-nos, pela atribuição de efeitos retroactivos à sanação e à revalidação, sob pena de se estar conferir à inscrição uma natureza pré-contratual, antecipando a oponibilidade de efeitos que ainda se não produziram. A doutrina não tem dedicado muito espaço ao tratamento da matéria da sanação de nulidade ou revalidação de actos nulos. Concretamente quanto a esta, prevista no Código do Notariado, não encontrámos qualquer abordagem. Oliveira Ascensão, in Direito Civil - Teoria Geral, Vol. II, pág. 413 e seguintes preocupa-se com dois aspectos, a tipicidade legal ( que no caso dos autos existe) e a eficácia retroactiva. Quanto à eficácia retroactiva, considera difícil admiti-la ( Mais difícil é admitir a eficácia retroactiva da regularização ou revalidação dos actos nulos. Estes não produziam efeito nenhum ; as situações de terceiros fundadas na nulidade eram intocáveis. Admitir uma retroactividade seria permitir que os negócios das partes pudessem prejudicar os direitos de terceiros. Isto Vai contra os princípios gerais. Ainda assim, o autor termina admitindo a retroactividade, desde que salvaguardados os direitos dos ditos terceiros. 8

Pelo exposto, propomos a procedência parcial do recurso, com o fundamento da provisoriedade por dúvidas a situar-se na falta de assinatura da escritura pelo segundo outorgante, atenta a natureza da nulidade formal prevista no art. 70º, nº 1, e) do Código do Notariado que, sendo sanável ou revalidável, não se assume como absoluta e não pode dar-se por manifesta para efeito do disposto no art. 69º, nº 1, d) do C.R.P.. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 23 de Junho de 2010. Luís Manuel Nunes Martins, relator. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 08.07.2010 A natureza do requisito causador da nulidade formal e a expressa consagração legal da sanação e da revalidação, levam-nos a considerar que só um eventual prejuízo para terceiro pode constituir obstáculo à eficácia retroactiva da sanação ou da revalidação. Este regime legal que leva a considerar a nulidade como atípica, por não absoluta, - aproxima-o num certo sentido do regime da anulabilidade por falta de consentimento, que pode ser sanada mediante confirmação, a qual tem, nos termos da lei( art. 288º, nº 4 do C.C.) eficácia retroactiva mesmo em relação a terceiros. O outorgante que esteve presente à leitura e explicação da escritura e que não se recusou a assiná-la, não vai ulteriormente assinar o acto, nem no caso da sanação nem no da revalidação. Apenas se trata de provar que a omissão da assinatura não significa que a pessoa dada como outorgante não tenha estado presente ou que embora tendo estado, a escritura não lhe foi lida e explicada e/ou se recusou a assiná-la - o que apontaria para uma falsidade das declarações do notário( cfr. art.s 371º, nº 1 e 372º, nº 2, 1º segmento, do Código Civil) - num caso mediante declaração do próprio e no outro obtida em processo próprio, que termina com decisão do notário. 9

Pº R.P.38/2010 SJC-CT (Ficha) Súmula das questões tratadas Pedido de registo on line apresentado por notário, que previamente emitiu certidão de escritura de compra e venda e a digitalizou e transferiu electronicamente através de upload no sítio www.predialonline.mj.pt. Falta de assinatura de um dos outorgantes Nulidade formal prevista no art. 70º, nº 1, e) do Código do Notariado - É manifesta para efeito do disposto na alínea d) do nº 1 do art. 69º do C.R.P.? Invocação pelo apresentante de deficiência técnica do upload para explicar a não visualização da assinatura. Indícios de posterior assinatura da escritura e falsificação da certidão Infracção disciplinar e criminal. Apreensão integral do documento original pelo documento electrónico como um dos pressupostos da atribuição a este da força probatória daquele. Eficácia retroactiva, ou não, da sanação da nulidade e da revalidação previstas nos artigos 70º, nº 2 d) e 73º, e) do Código do Notariado. 10