IMPACTO DAS DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO NA SEXUALIDADE FEMININA

Documentos relacionados
Prolapso Genital: Aspectos. Autor: Marcelo Morais Orientador: Rebecca Sotelo

Definição. Refere-se ao deslocamento das vísceras pélvicas no sentido caudal, em direção ao hiato genital;

Distopias genitais. Julio Cesar Rosa e Silva Departamento de Ginecologia e Obstetrícia FMRP - USP 2014

Jose Damasceno Costa

Anatomia feminina. Diafragma pélvico. Hiato urogenital. M. elevador do ânus. M. coccígeo Parte posterior do diafragma. Uretra, vagina e reto

1 Introdução. Subprojeto de Iniciação Científica. Edital:

PREVALÊNCIA DE QUEIXAS DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NO PRÉ-PARTO E PÓS-PARTO IMEDIATO EM GESTANTES E PÚERPERAS DE PATROCÍNIO-MG

Subprojeto de Iniciação Científica. Daniella Cristina de Assis Pinto

ESTUDO DOS VALORES DE PRESSÃO PERINEAL PARA MULHERES NO PERÍODO DO CLIMATÉRIO 1

Assistência de Enfermagem a Pessoas com Disfunção do Soalho Pélvico

Incontinência urinária: o estudo urodinâmicoé indispensável?

Subprojeto de Iniciação Científica. Caroline Dadalto Silva

SURGICAL MANAGEMENT OF STRESS URINARY INCONTINENCE IN WOMEN MANEJO CIRÚRGICO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NA MULHER

ICS EDUCATIONAL COURSE

IMPACTO DO PESSÁRIO VAGINAL NA FUNÇÃO DEFECATÓRIOA DE MULHERES COM PROLAPSOS GENITAIS

Bexiga Hiperativa: Diagnóstico e Tratamento. Marcelle Rodrigues Pereira R2 Orientadora: Dra. Rebecca Sotelo

1 Introdução. Subprojeto de Iniciação Científica. Edital:

APLICATIVO EDUCATIVO PARA PREVENÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA ETAPAS DE CONSTRUÇÃO

6º Período - Fisioterapia PUC Minas - Belo Horizonte

ABORDAGEM TERAPÊUTICA DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE URGÊNCIA

Nos primeiros lugares das dores de cabeça da Urologia

Reeducação Perineal. Prof a : Aline Teixeira Alves

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS MÉDICO-CIRÚRGICAS KATHIANE LUSTOSA AUGUSTO

O TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA MASCULINA ATRAVÉS DA FISIOTERAPIA

OS BENEFÍCIOS DE UM PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO NA MELHORA DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: ESTUDO DE CASO

Incontinência Urinária Juliana Aquino

A INCONTINÊNCIA URINÁRIA DURANTE A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS

Introdução

Imagiologia da insuficiência perineal: o que usar em 2011?

5º Congresso de Pós-Graduação

6. A IUM é caracterizada pela combinação dos sintomas da IUE e a de

5º Congresso de Pós-Graduação

Avaliação do impacto da correção cirúrgica de distopias genitais sobre a função sexual feminina

Palavras-chave: Incontinência Urinária de Esforço, Urinary Incontinence, Pilates e Reabilitação. Área do Conhecimento: Fisioterapia

Incontinência urinária Resumo de diretriz NHG M46 (setembro 2006)

Workshops 06 de abril de 2017

VALORES PERINEAIS PRESSÓRICOS EM MULHERES NO PERÍODO DO CLIMATÉRIO 1

PERFIL DE ATLETAS DE ALTO IMPACTO COM PERDA URINÁRIA, NO SEXO FEMININO

Anatomia do trato urinário e genital

A ANÁLISE DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA SEXUALIDADE

INCONTINÊNCIA URINÁRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIÊNCIAS MÉDICAS. Eliane Goldberg Rabin

FICHA DE AVALIAÇÃO EM PROCTOLOGIA ANAMNESE

Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 18, n. 3, p , Recebido em: Aprovado em:

INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM IDOSOS: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Avaliação da função sexual de mulheres de anos cadastradas em unidades de referência no município de Aracaju/Se

ANÁLISE DA FORÇA DO ASSOALHO PÉLVICO NOS PERÍODOS DO PRÉ E PÓS-PARTO

O IMPACTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA NA QUALIDADE DE VIDA

CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FISIOTERAPIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ESPECIALIZAÇÃO DE FISIOTERAPIA EM SAÚDE DA MULHER

Incontinência urinária e prática esportiva: revisão de literatura

ANÁLISE DA FORÇA DE CONTRAÇÃO PERINEAL EM PRIMÍPARAS ANALYSIS OF THE FORCE OF PERINEAL CONTRACTION IN PRIMÍPARAS

INICIATIVA E REALIZAÇÃO PARCERIA

Síndrome caracterizada por: Urgência miccional (principal sintoma) COM ou SEM incontinência, Também associada a: Polaciúria. Noctúria......

Avaliação da satisfação sexual em mulheres nulíparas e multíparas e sua relação com a força do assoalho pélvico

A INFLUÊNCIA DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA SATISFAÇÃO SEXUAL E NA QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES CLIMATÉRICAS

Ciências da Saúde. Artigos de Pesquisa de Iniciação Científica. Atuação da fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço feminino

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA A INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM IDOSA ATENDIDO EM UMA CLÍNICA ESCOLA DE FISIOTERAPIA

O PAPEL DA URODINÂMICA NA AVALIAÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM MULHER PRÉ TRATAMENTO CIRÚRGICO.

FACULDADE SANTA TEREZINHA CEST COORDENAÇÃO DO CURSO DE FISIOTERAPIA PLANO DE ENSINO

Sylvia Cavalcanti. Dispareunia e vaginismo:qual a diferença e como fazer este diagnóstico?

AVALIAÇÃO DA DISFUNÇÃO SEXUAL FEMININA EM MULHERES JOVENS

Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Manual de Orientação Uroginecologia e Cirurgia Vaginal

AVALIAÇÃO CRÍTICA DAS TÉCNICAS CIRÚRGICAS PARA CORREÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO. ELIZABETE ROMANO R3 Orientadora: REBECCA SOTELO

ENSINANDO MULHERES A FORTALECER A MUSCULATURA PERINEAL: ESTUDO DA EFETIVIDADE DO USO DE AUTOMONITORAMENTO NA PRÁTICA DE EXERCÍCIOS

Acta Urológica. Urologia e Medicina Familiar. Incontinência Urinária Feminina. Francisco Botelho, Carlos Silva, Francisco Cruz

FATORES PREDISPONENTES À INCONTINÊNCIA URINÁRIA FEMININA

FICHA DE AVALIAÇÃO DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

Conheça os benefícios para a saúde e para a vida sexual que a prática oferece

PREVENÇÃO E TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NAS DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO

HORÁRIO TEMAS HORÁRIO TEMAS

ANÁLISE DA FORÇA DOS MÚSCULOS DO ASSOALHO PÉLVICO EM MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO

Carlos Walter Sobrado Mestre e Doutor pela FMUSP TSBCP

AVALIAÇÃO DAS HISTERECTOMIAS VAGINAIS REALIZADAS NO HOSPITAL DE CÍNICAS DE TERESÓPOLIS.

Especial Online RESUMO DOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO. Fisioterapia ISSN

INCONTINÊNCIA URINÁRIA: UMA BREVE REVISÃO DA LITERATURA URINARY INCONTINENCE: A BRIEF REVIEW OF THE LITERATURE

SLING TRANSOBTURATÓRIO NO TRATAMENTO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NAS DIFERENTES PRESSÕES DE PERDA

DISTÚRBIOS URINÁRIOS DO CLIMATÉRIO : Bethania Rodrigues Maia Orientadora : Ana Luisa

Reparo Transperineal de Retocele Avaliação do Grau de Satisfação, Dispareunia e Recidiva Pós-Operatória

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA PELAS CUIDADORAS COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE UM PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA DOMICILIAR DO INTERIOR DE SÃO PAULO

Incontinência Urinária em Mulheres Praticantes de Musculação. Urinary Incontinence in Women Bodybuilding

Tratamento fisioterápico na incontinência urinária pós menopausa

Tratamento Fisioterapêutico na Incontinência Urinária Masculina. Aline Teixeira Alves

Ureter, Bexiga e Uretra

TÍTULO: SINTOMAS URINÁRIOS, DISFUNÇÃO SEXUAL E SATISFAÇÃO SEXUAL DE MULHERES FIBROMIÁLGICAS ATENDIDAS PELA FISIOTERAPIA AQUÁTICA.

AVALIAÇÃO DO NIVEL DE CONHECIMENTO DE GESTANTES ACERCA DA FUNÇÃO DO ASSOALHO PÉLVICO E DA SEXUALIDADE DURANTE O PERÍODO GRAVÍDICO

PREVALENCIA DA INCONTINÊNCIA COMBINADA AUTO-RELATADA EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

Capítulo 48 Incontinência Urinária

REVISTAINSPIRAR movimento & saúde

FORMULÁRIO PARA CRIAÇÃO DE DISCIPLINAS

Catarina Manuela Saragoça de Castro

CIRURGIAS UROGINECOLÓGICAS

Tratamento conservador de prolapso de órgão pélvico com pessário: revisão de literatura

A INTERFERÊNCIA DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL EM MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA

Incontinência urinária após prostatectomia Slings vs Esfíncter artificial

Urinary incontinence and sexual dysfunction in pregnant women

ARTIGO ORIGINAL Perfil epidemiológico e sintomas urinários de mulheres com disfunções do assoalho pélvico atendidas em ambulatório

Transcrição:

IMPACTO DAS DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO NA SEXUALIDADE FEMININA Anita Schertel Cassiano Sofia Bezerra Sara Kvitko de Moura Lucas Schreiner Thaís Guimarães dos Santos UNITERMOS GENITAL. SEXUALIDADE; MULHERES; INCONTINÊNCIA URINÁRIA; INCONTINÊNCIA FECAL; PROLAPSO KEYWORDS SEXUALITY; WOMEN; URINARY INCONTINENCE; FECAL INCONTINENCE; GENITAL PROLAPSE. SUMÁRIO As disfunções do assoalho pélvico são prevalentes e apresentam íntima relação com a sexualidade feminina. É fundamental a avaliação conjunta destes sistemas, a fim de reduzir morbidade e agregar qualidade de vida e bem estar sexual a estas mulheres. SUMMARY Pelvic floor dysfunctions are prevalent and have a narrow relation with female sexuality. It s fundamental to have a joint assessment of both systems, in order to decrease morbidity and improve quality of life and sexual well being of these women. INTRODUÇÃO A sexualidade é um aspecto importante da saúde da mulher, e pode sofrer interferência de problemas físicos, mentais e sociais. Alterações funcionais e anatômicas das estruturas do assoalho pélvico são fontes subdiagnosticadas de morbidade e decréscimo da qualidade de vida e que podem interferir no bemestar sexual das mulheres 1. O assoalho pélvico feminino é constituído pelos tecidos conjuntivo, ósseo e muscular, que atuam em conjunto para promover e manter a função fisiológica normal de reto, vagina, uretra e bexiga 2.

As disfunções do assoalho pélvico acometem aproximadamente um terço da população feminina adulta ao longo da vida 2. Destas, as mais freqüentes são incontinência urinária (IU) em 16% das mulheres, incontinência fecal (IF) em 9% e o prolapso genital (PG) em 3%. Muitas vezes estas alterações estão associadas, e sua prevalência aumenta com a idade, paridade e obesidade 1. As disfunções sexuais podem ser categorizadas em: disfunções de desejo, disfunções de excitação, disfunções de orgasmo ou disfunções dolorosas 3. Estima-se uma prevalência de 33% a 43% de queixas sexuais entre mulheres em idade reprodutiva 2, 4. Uma vez que existe relação estreita entre assoalho pélvico e sexualidade, é muito importante que ambos os sistemas sejam avaliados em conjunto para mulheres que apresentem disfunção do assoalho pélvico ou queixa sexual. Alguns questionários vêm sendo elaborados com este objetivo - avaliação global do assoalho pélvico incluindo aspectos relacionados à sexualidade, como o Female Sexual Function Index (FSFI) e o Pelvic Organ Prolapse (POP)/UI Sexual Questionnarie (PISQ) 4. INCONTINÊNCIA URINÁRIA E SEXUALIDADE A IU consiste na presença de qualquer perda involuntária de urina. Sua severidade pode ser estimada pela quantidade de perdas, pela freqüência do problema e pelo impacto que ela causa na qualidade de vida 5. Ela é classificada em (1) incontinência urinária aos esforços (IUE), quando a perda de urina se dá por um aumento na pressão intra-abdominal (tosse, espirros, esforço físico, etc.); (2) incontinência urinária de urgência (IUU), quando a perda está relacionada ao desejo súbito de urinar que não pode ser postergado; e (3) incontinência urinária mista (IUM), quando a perda está relacionada a sintomas de esforço e de urgência 5. Estudos mostram maior prevalência do componente de esforço nos casos de IU, especialmente em mulheres adultas jovens 6. Os fatores de risco para IUE são a idade, parto vaginal, obesidade, constipação, tabagismo, doença respiratória crônica, uso de alfa-bloqueadores e cirurgia pélvica 5. A IU diminui a qualidade de vida das pacientes, interferindo, progressivamente, na sua confiança e autoestima. Muitas delas evitam a relação sexual devido à redução da libido, dispareunia e ausência de orgasmo, o que, frequentemente, está relacionado à perda urinária durante o coito 6. Em estudo realizado por Hilton et al., 23% das mulheres com IUE experimentavam incontinência coital 7. Destas, 18% apresentavam sintomas durante a penetração e 5% no momento do orgasmo 6. Morgan et al., relatam que 11% das pacientes que buscam atendimento uroginecológico apresentam sintomas de incontinência coital, sendo 70% na penetração, 20% ao orgasmo e 11% em ambos 7. Em suas análises retrospectivas, Handa et al., demonstraram associação entre IU e redução da libido, ressecamento vaginal e dispareunia 2.

O tratamento para IU é inicialmente conservador, incluindo perda de peso (em mulheres obesas e com sobrepeso), retreinamento vesical e exercícios de Kegel. A cirurgia poderá ser indicada para pacientes que apresentem incontinência aos esforços após falha ao tratamento conservador 8. Os principais procedimentos cirúrgicos para IUE são a colposuspensão retropúbica (Burch) e a cirurgia de sling. Poucos estudos controlados avaliam a modificação da função sexual após correção cirúrgica da incontinência urinária. Ela pode melhorar, permanecer inalterada ou, ainda piorar 6,7,9. Um estudo multicêntrico medindo a função sexual antes e após cirurgia não demonstrou melhora da satisfação sexual, apesar de haver melhora da incontinência nos seis meses de seguimento 8. Todavia, Thakar et al., e Rogers et al., demonstraram melhora da performance sexual nos primeiros meses do pós-operatório 9. Logo, o impacto do reparo cirúrgico para IU na satisfação sexual ainda não está completamente esclarecido. INCONTINÊNCIA FECAL (IF) E SEXUALIDADE A IF é definida pela perda da habilidade em controlar a saída de flatos, líquidos ou sólidos pelo ânus. Sua fisiopatologia consiste na perda da integridade sensorial e ação muscular, causados pela diminuição da sensibilidade, capacidade e/ou complacência retal, lesão anatômica muscular ou denervação do assoalho pélvico 1. Pacientes portadoras de IF evitam relações sexuais devido aos sintomas e emoções negativas associadas à atividade sexual. Elas temem por dispareunia e perda de fezes durante o ato sexual 1,10. O tratamento conservador para IF compreende exercícios de Kegel, eletroestimulação e biofeedback. O reparo cirúrgico pode ser realizado através das técnicas de sobreposição de bordas ou plicatura muscular, sendo que ambas técnicas apresentam significativa freqüência de incontinência após a cirurgia. Trowbridge et al., relatam que apenas 25% das pacientes permanecem continentes após a esfincteroplastia 10,11. Para a escolha da técnica cirúrgica, o risco de dispareunia pós-operatória deve ser levado em consideração. Pacientes submetidas à esfincteroplastia por sobreposição de bordas estão seis vezes mais sujeitas a queixas de dor no ato sexual 11, o que pode ser explicado pelo aumento de massa no períneo, fonte de sensibilidade e dificuldade para mobilização do músculo esfíncter anal externo. Trowbridge et al., acreditam ainda que essas pacientes modificam seus valores, conceitos de qualidade de vida e comportamento sexual para lidar com a IF e manter satisfatória sua vida sexual 11.

PROLAPSO GENITAL (PG) E SEXUALIDADE O PG corresponde ao deslocamento caudal dos órgãos pélvicos (uretra, bexiga, útero, alças intestinais ou reto) através da vagina, podendo ocorrer em diversos graus 12. A distopia é consequência do rompimento do equilíbrio do assoalho pélvico, determinado pelo enfraquecimento dos mecanismos de sustentação e suspensão das estruturas 12. O PG de parede anterior corresponde à descida da parede vaginal anterior relacionada a alterações na fáscia endopélvica e seus ligamentos. O PG de parede posterior, por sua vez, é o resultado do enfraquecimento da fáscia retovaginal e dos seus pontos de fixação às margens dos músculos elevadores do ânus. Os sinais e sintomas apresentados por ambos são a sensação de peso ou desconforto na região genital externa e referência a exteriorização de uma bola na vagina, sangramento por atrito, dispareunia, dificuldade evacuatória e disfunção sexual 1. De acordo com Rogers et al., pacientes com distopia genital e IU queixamse frequentemente de dispareunia e ressecamento vaginal, além de apresentar escore PISQ significativamente reduzido e realizar menos atos sexuais quando comparadas a mulheres sem prolapso 8. Handa et al., acreditam que mulheres com prolapso graus III e IV possuem menor capacidade de atingir o orgasmo, e concluem que a função sexual é mais prejudicada em paciente com PG volumoso e sintomático 3,13. O tratamento das distopias genitais é geralmente cirúrgico. Tema de pouca informação na literatura, o reparo anterior parece não demonstrar associação a sequelas sexuais pós-operatórias. Por outro lado, a colporrafia posterior - quando associada à plicatura do elevador do ânus - é fortemente associada ao aumento de dispareunia e disfunção sexual 13. O prolapso apical está relacionado à falha na suspensão ligamentar do útero, ou cúpula vaginal (em pacientes histerectomizadas). A sacrocolpofixação e a fixação sacroespinhosa são as principais técnicas cirúrgicas para correção desta disfunção. A sacrocolpofixação está relacionada à maior satisfação sexual pós-operatória e por isso deve ser preferida para pacientes que tenham vida sexual ativa 12. As telas vaginais para o tratamento dos prolapsos genitais tiveram recente redução da sua utilização devido aos efeitos adversos a elas relacionados. Muitas vezes elas podem interferir negativamente na satisfação sexual, uma vez que podem resultar em erosão para a vagina, redução da elasticidade e dor no ato sexual 12.

CONCLUSÃO Os distúrbios do assoalho pélvico estão intimamente relacionados à disfunção sexual, mas poucos estudos associam a avaliação da sexualidade nestas pacientes. A correção da disfunção do assoalho pélvico muitas vezes está associada à insatisfação sexual pós-operatória, portanto, é fundamental que as técnicas cirúrgicas levem em consideração o bem estar sexual das pacientes, e o desenvolvimento de técnicas que abordem este importante desfecho. REFERÊNCIAS 1. Mcnevin MS. Overview of pelvic floor disorders. Surg Clin N Am. 2010; 90: 195-205. 2. Handa VL et al. Sexual function among women with urinary incontinence and pelvic organ prolapsed. AJ Obstet Gynecol. 2004; 191:751-6. 3. Handa VL et al. Female sexual function and pelvic floor disorders. Obstet Gynecol. 2008 May; 111(5):1045-52. 4. Dalpiaz O et al. Female sexual dysfunction: a new urogynaecological research field. BJU international. 2008; 101:717-21. 5. Haylen BT et al. Na internacional Urogynecological Association (IUGA)/International Continence Society (ICS) joint reporto n the terminology for female pelvic floor dysfunction. Int Urogynecol J Pelvic floor Dysfunction.2010 Jan;21(1):5-26. 6. Barber MD, Dowsett SA, Mullen KJ, et al. The impact of stress urinary incontinence on sexual activity in women. Cleve Clin J Med. 2005 Mar;72(3):225-32. 7. Achtari C, Dwyer PL. Sexual function and pelvic floor disorders. Best practice and research clinical obstetrics and gynaecology. 2005; 19(6): 993-1008. 8. Rogers GR et al. Does sexual function change after surgery for stress urinary incontinence and/or pelvic organ prolapsed? A multicenter prospective study. AJ Obstet Gynecol. 2006; 195, el-e4. 9. Fashokun TOB et al. Sexual activity and function in women with snd without pelvic floor disorders. Int Urogynecol J. 2013; 24:91-7. 10. Pauls RN et al. Sexual function following anal sphincteroplasty for fecal Incontinence. Am J Obstet Gynecol 2007;197:618.e1-618.e6. 11. Trowbridge RS et al. Sexual function, quality of life and severity of anal incontinence after anal sphincteroplasty. Am J Obstet Gynecol. 2006 Dec;195(6):1753-7. 12. Schreiner L, dos Santos TG. Prolapso Genital. Manual de Ginecologia. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2009. p. 155-63. 13. Barber MD et al. Sexual function in women with urinary incontinence and pelvic organ prolapsed. Obstet Gynecol. 2002 Feb; 99(2):281-9.