Palavras-chave: Aprendizagem dialógica, aprendizagem escolar, conteúdos-escolares.



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APRENDIZAGEM ESCOLAR NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI: POSSÍVEIS ENCONTROS COM A APRENDIZAGEM DIALÓGICA NOS CADERNOS DE PESQUISA 1 Adrielle Fernandes Dias 2 Vanessa Gabassa 3 Pôster - Diálogos Abertos sobre a Educação Básica O presente trabalho é parte da pesquisa de iniciação científica intitulada Aprendizagem Escolar na Primeira Década do Século XXI: possíveis encontros com a aprendizagem dialógica nos cadernos de pesquisa. Tal pesquisa (2012/2013) está inserida no Programa de Bolsas de Licenciatura (PROLICEN), da Universidade Federal de Goiás, e tem como objetivo analisar os conceitos centrais da perspectiva dialógica de aprendizagem, pautada em Habermas e Freire; identificar e analisar artigos referentes à aprendizagem dos conteúdos escolares publicados nos Cadernos de Pesquisa durante a década de 2000; e relacionar os conceitos referentes às produções investigadas com a perspectiva dialógica de aprendizagem, destacando convergências e divergências de abordagem. No atual contexto escolar brasileiro, os conceitos de aprendizagem significativa e a perspectiva construtivista de aprendizagem têm sido as principais referências dos parâmetros curriculares nacionais. Apesar das contribuições destes conceitos de aprendizagem, isso não tem sido suficiente para radicalizar uma escola que leve todas as pessoas à aprendizagem instrumental, enquanto direito social. Portanto, é necessário pensar na adesão de perspectivas teóricas que insiram a intersubjetividade na aprendizagem como fator para a transformação do contexto e da realização de máximas aprendizagens. Nessa direção, destaca-se a perspectiva dialógica de aprendizagem, que dá ênfase às interações vividas pelos estudantes, dentro e fora da escola, com diferentes pessoas, considerando que essas interações que impulsionam a aprendizagem. Essa, por sua vez, não está atrelada aos conhecimentos prévios dos alunos/as, mas a uma construção intersubjetiva de conceitos impulsionada pelas interações em torno do objeto de estudo. Considerando essas possibilidades, procuramos investigar o que foi produzido na última década sobre aprendizagem dos conteúdos escolares, isto é: os resultados das pesquisas na área da educação também apontam para a perspectiva significativa de aprendizagem ou aproximam-se mais da compreensão dialógica dos processos de ensinar e aprender? Com foco no periódico Cadernos de Pesquisa, este trabalho está sendo desenvolvido através de uma pesquisa bibliográfica e exploratória e vem evidenciando que há pouca produção sobre aprendizagem de conteúdos escolares e que as produções muito se aproximam da perspectiva de aprendizagem difundida em nossos documentos oficiais e não consideram a interação e intersubjetividade como desencadeadoras das máximas aprendizagens. Palavras-chave: Aprendizagem dialógica, aprendizagem escolar, conteúdos-escolares. 1 Texto produzido para o V EDIPE, a partir das pesquisas realizadas para o projeto de pesquisa Programa de Bolsas de licenciaturas PROLICEN, sob a orientação da professora Doutora Vanessa Gabassa. 2 Discente de pedagogia da Faculdade de Educação Universidade Federal de Goiás. 3 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás.

Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar os conceitos centrais da perspectiva dialógica de aprendizagem, pautada em Habermas e Freire; identificar e analisar artigos referentes à aprendizagem dos conteúdos escolares publicados nos Cadernos de Pesquisa durante a década de 2000; e relacionar os conceitos referentes às produções investigadas com a perspectiva dialógica de aprendizagem, destacando convergências e divergências de abordagem. Partimos desta problematização por considerar que no atual contexto escolar brasileiro, os conceitos de aprendizagem significativa e a perspectiva construtivista de aprendizagem têm sido as principais referências das políticas públicas, desde o advento dos referenciais e parâmetros curriculares nacionais, e por considerar que essa concepção de aprendizagem tem gerado uma escola que pouco ou nenhum sucesso revela no ensino dos conteúdos escolares. Na perspectiva de Ausubel (1968), a aprendizagem significativa implica a aquisição de novos conceitos, considerando que as novas informações relacionam-se às ideias básicas relevantes à estrutura cognitiva do aluno/a e a interação entre significados potencialmente novos e ideias básicas relevantes à estrutura cognitiva dá origem a significados reais e psicológicos. Além disso, para que ocorra uma aprendizagem significativa é preciso uma disposição para este tipo de aprendizagem, assim como a apresentação de um material potencialmente significativo aos alunos e alunas. O que encontramos enquanto indicação didática e também enquanto concepção epistemológica da educação nos documentos oficiais se refere a uma concepção de aprendizagem significativa e construtivista, a partir da qual a ênfase está posta no estudante e no processo de aprendizagem. Cada criança constrói diferentes significados, influenciadas por seus conhecimentos prévios e seu entorno. Quem educa tem a obrigação de conhecer diferentes maneiras de construir significados e as melhores formas de intervir para melhorar essa construção. Se, por um lado, a concepção construtivista do ensino e da aprendizagem escolar realizou importantes contribuições ao desenvolvimento do conceito de aprendizagem, como a importância de se considerar as particularidades de quem aprende, o seu papel ativo na aprendizagem e a diversidade presente nos alunos e alunas, por outro lado, ela não tem sido suficiente para radicalizar uma escola que leve todas as pessoas à aprendizagem instrumental, enquanto direito social garantido de domínio de instrumentos para inserção e luta no mundo atual. Assim, faz-se necessária a adoção de perspectivas teóricas que transcendam o plano do sujeito para incorporar a intersubjetividade na aprendizagem como fator para a transformação do contexto e da realização de máximas aprendizagens. Nossa percepção é a de que teorias dialógicas oferecem base para tanto. O conceito de aprendizagem dialógica foi elaborado pelo Centro Especial em Teorias e Práticas Superadoras de Desigualdades (CREA), da Universidade de Barcelona/Espanha, e refere-se

a um jeito de conceber a aprendizagem e as interações. Aubert et al (2008) destacam que quanto mais diversas são as interações, mais os alunos se desenvolvem dentro e fora do campo educativo, impulsionando a aprendizagem. A aprendizagem dialógica é formada por sete princípios que norteiam este conceito quando posto em prática. Estes princípios, quando trabalhados na escola, têm o objetivo de alcançar uma máxima aprendizagem para os alunos, com foco na igualdade educativa e social, de forma que se superem desigualdades sociais. Para evidenciar a aprendizagem dialógica partimos do primeiro princípio, o diálogo igualitário, que visa uma interação entre grupos ou pessoas, na qual o que é levado em consideração são os argumentos que as pessoas estão apresentando e não a posição que ocupam no grupo ou na sociedade. A tese é de que, para haver um mundo mais igualitário, a comunicação também precisa ser igualitária, isto é, não deve ser considerado o lugar de quem fala, e sim seus argumentos, que podem ser rebatidos com outros argumentos em benefício do grupo ou de uma questão em comum. Assim destacam Mello; Braga e Gabassa (2012): Para que o diálogo igualitário se estabeleça, os interlocutores em uma interação têm de se dispor a compreender e a se comportar de acordo com o seguinte pressuposto: as falas e as proposições de cada participante em uma situação, seja ela em reuniões, em atendimentos ou situações de aprendizagem em aula, serão tomadas por seus argumentos e não pelas posições que ocupam os falantes. (MELLO; BRAGA E GABASSA, 2012, p.44) O segundo princípio da aprendizagem dialógica é a inteligência cultural, que parte do pressuposto de que ninguém é mais inteligente que ninguém, e em um diálogo igualitário cada um pode expor o que pensa. Segundo Mello, Braga e Gabassa (2012), Flécha, no século XX, foi um dos primeiros autores a criar um conceito para a inteligência com o intuito de combater a ideia que as produções acadêmicas vinham difundindo de que só os pensamentos acadêmicos e especializados podiam explicar o mundo ou a realidade. Flécha (1997), assim como outros autores, através de estudos rigorosos, demonstraram que a nossa inteligência se faz a partir do nosso contexto de socialização e, portanto, a escolaridade não é um fator de mais inteligência. É apenas um tipo de inteligência. De fato, o tipo mais valorizado em nossa sociedade, por isso é tão importante que as pessoas tenham acesso à uma escolarização de qualidade. O terceiro principio, chamado de transformação, revela que através da busca por aprendizagem, das interações com outras pessoas e por meio do diálogo igualitário, os princípios da aprendizagem dialógica proporcionam às pessoas uma transformação tanto pessoal quanto social. Deste modo, é possível ver o ser humano como ser de ruptura, capaz de fazer escolhas, escolhas tais

capazes de modificar e transformar o meio em que vivem. Mello; Braga e Gabassa (2012) ressaltam a este respeito: A aprendizagem dialógica transforma as relações entre as pessoas e o seu entorno por meio do diálogo, do consenso possível, do trabalho coletivo em prol de um objetivo comum. (MELLO; BRAGA e GABASSA, 2012 p.54) O quarto princípio da aprendizagem dialógica é a dimensão instrumental da aprendizagem. Segundo Braga; Gabassa e Mello (2010), a dimensão instrumental refere-se à aprendizagem dos instrumentos necessários para a sobrevivência no atual contexto, da sociedade da informação e do conhecimento. Instrumentos como a leitura e a escrita, as operações matemáticas e o conhecimento básico de informática, por exemplo, são essenciais para a sobrevivência hoje. Por conta disso, a escola e os conhecimentos que ela transmite ganham ainda maior valor. Hoje, mais do que nunca, a escola é essencial para a sociedade. A dimensão instrumental escolar deve visar uma máxima aprendizagem para todos os alunos, pois entendemos que o objetivo principal da escola é ensinar os conteúdos que representam aquilo que a humanidade construiu ao longo de sua história os instrumentos necessários para uma vida digna. Então não podemos perder de vista a necessidade de instrumentalizar alunos e alunas, proporcionando a eles e elas uma aprendizagem que possibilite movimentar-se na sociedade, não apenas mecanicamente, mas de forma crítica e autônoma. O quinto principio é a criação de sentido, Estamos em uma sociedade que está em um constante processo de modernização, denominada sociedade da informação, na qual as pessoas têm se visto cada vez mais solitárias, buscando independência, individualidade e espaço, e isto muitas vezes acaba ocasionando a perda de sentido. Desta maneira, entendemos que o diálogo igualitário é instrumento fundamental para a criação de sentido das pessoas, pois cada um pode explorar as possibilidades, refletir e fazer suas escolhas. De acordo com Flecha (1997), o sentido ressurge quando as interações entre as pessoas são conduzidas por elas mesmas, com o sentido de compartilhar palavras, de argumentar, por exemplo. O social surge como peça fundamental na recriação individual sobre o sentido total da vida A aprendizagem dialógica trabalha com a superação da desigualdade social, com isto, a solidariedade, o sexto principio deste conceito, torna-se elemento fundamental nesta superação, como destacam Aubert et al (2008). O princípio da solidariedade tenta superar o modelo individualista que a sociedade capitalista moderna prega. Para que exista diálogo é necessário ser solidário, pois não é possível dialogar se eu me considero único no mundo ou só considero as minhas ideias e não levo em consideração a existência do outro ou o que ele diz. Na organização da vida em sociedade é necessária a presença

da solidariedade como elo social. Grupos menos privilegiados, como as mulheres ou as famílias de classe popular, desenvolvem práticas solidárias com facilidade para garantir sua sobrevivência. Ajudam-se mutuamente nas tarefas diárias e na organização do trabalho. Por fim, destaca-se a igualdade de diferenças como o sétimo e último princípio da aprendizagem dialógica. Trata-se do igual direito que cada um (a) tem de ser diferente. Para que esse princípio seja uma realidade, é necessário ter em conta os outros seis princípios, pois não existe igualdade de diferenças sem diálogo igualitário, considerando todos como seres dotados de inteligência, onde juntos buscam a transformação na sociedade por meio de uma dimensão instrumental de aprendizagem que visa uma máxima aprendizagem para todos. Igualdade é buscar o bem viver para todos, onde todos veem sentido na vida, solidarizando-se no coletivo, oportunizando o direito da palavra, construindo uma educação digna e de qualidade para todos. A partir desses elementos, consideramos que a aprendizagem dialógica pode contribuir de maneira significativa com a escola e sua organização. A dimensão instrumental dos conteúdos ganha destaca nesta perspectiva sem deixar de lado o diálogo e a interação entre os sujeitos. Como a pesquisa encontra-se ainda em andamento, seguimos com a investigação do que foi produzido na última década sobre aprendizagem dos conteúdos escolares, procurando evidenciar se os resultados das pesquisas na área da educação também apontam para a perspectiva significativa de aprendizagem ou aproximam-se mais da compreensão dialógica dos processos de ensinar e aprender. Com foco no periódico Cadernos de Pesquisa, este trabalho está sendo desenvolvido através de uma pesquisa bibliográfica e exploratória e vem evidenciando que, em primeiro lugar, há pouca produção sobre aprendizagem de conteúdos escolares e, em segundo, que as produções muito se aproximam da perspectiva de aprendizagem difundida em nossos documentos oficiais e não consideram a interação e intersubjetividade como desencadeadoras das máximas aprendizagens. REFERÊNCIAS: AUBERT ET AL (Flécha, A; García, C; Flécha, R; Racionero, S.). Aprendizagem Dialógica na Sociedade da Informação. Barcelona: Hipatia Editorial, 2008. AUSUBEL, D.P. Psicologia Educacional. Rio de janeiro: Editora Interamericana, 1968. Braga, Fabiana Marini. Aprendizagem dialógica: ações e reflexões de uma prática educativa de êxito / Fabiana Marini Braga, Vanessa Gabassa, Roseli Rodrigues de Mello. São Carlos: EdUFSCar, 2010. 83 p. (Coleção UAB-UFSCar). BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. 1998. DocumentoIntrodutório, disponível em: http://www.portal.me.gov.br FLECHA, R. Compartiendo Palabras. El aprendizaje de las personas adultas a través del diálogo. Barcelona: Editora Paidós, 1997.

FLÉCHA, R; GÓMEZ, J; PUIGVERT, L. Teoria Sociológica Contemporânea. Barcelona: Paidós, 2001. MELLO, R.R. Sobre aprendizagem na sala de aula: algumas reflexões. Texto Mimeo. 2008. Mello, Roseli Rodrigues. Comunidade de Aprendizagem: outra escola é possível/roseli Rodrigues de Mello, Fabiana Marini Braga, Vanessa Gabassa São Carlos: EduFSCar, 2012