EDUCAÇÃO E TRABALHO: UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA NA VISÃO DE UM GRUPO DE PEDAGOGOS EM FORMAÇÃO



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Transcrição:

EDUCAÇÃO E TRABALHO: UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA NA VISÃO DE UM GRUPO DE PEDAGOGOS EM FORMAÇÃO Isabel Francisco de Oliveira 1 Universidade Estadual de Londrina-UEL Karen Bettina Ikeda de Ortiz 2 Universidade Estadual Paulista-UNESP Resumo Neste texto será apresentada uma breve discussão sobre o conceito de trabalho e o processo em que se deu a organização do trabalho na sociedade capitalista. Partindo do pressuposto que a nossa sociedade é complexa e que a história não é linear, é de suma importância que educadores tenham a consciência de condicionantes históricos que permearam e ainda permeiam a relação entre o trabalho e a escola na sociedade contemporânea, sendo o pedagogo o profissional qualificado para atuar no campo educacional. Desta forma, este trabalho tem o objetivo discutir a relação trabalho e educação escolar na perspectiva de um grupo de alunos do último ano do curso de pedagogia de uma instituição pública superior do estado do Paraná. Para a elaboração deste trabalho utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica e também uma pesquisa qualitativa que se deu por meio de um questionário com questões semiabertas realizadas com duas turmas do último ano do curso de Pedagogia com o intuito de investigar a visão que esses alunos têm sobre a relação escola e trabalho na nossa sociedade. A exposição aqui apresentada surgiu em meio às discussões realizadas na disciplina de Trabalho e Educação ministrada no quarto ano do curso de Pedagogia. Nas últimas décadas do século XX e inicio do século XXI muito tem se discutido sobre a emergente necessidade de se produzir um novo tipo de trabalhador. De um lado temos a defesa de que a escola precisa formar e qualificar melhor para o trabalho, visto que estamos vivendo em uma sociedade em processo de transformação que exige um novo tipo de sujeito, competente, dinâmico, flexível e portador de conhecimentos tácitos. Num outro discurso temos opiniões de que a escola não tem a obrigação de preparar a mão-de-obra qualificada para o mercado, sendo ela responsável pela formação humana do sujeito. Em meio a muitos conflitos os currículos escolares vão sendo estabelecidos e muitas vezes sem um pensar sobre o que implica a organização de uma disciplina, ou até mesmo da proposta pedagógica de uma instituição escolar que deverá formar o sujeito para o exercício da cidadania e para o trabalho. Sendo assim, é preciso que os cursos de formação de professores contribuam para que os professores em formação discutam essas questões tão necessárias que permeiam a prática docente na nossa sociedade capitalista. Palavras-chave: Educação; Trabalho; Pedagogos. 1 Professora colaboradora da Universidade Estadual de Londrina e aluna do curso de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. Endereço eletrônico: isabelbarion@yahoo.com.br 2 Aluna do curso de Pós-graduação em educação da Universidade Estadual Paulista-UNESP. Endereço eletrônico: karen.ikeda@hotmail.com

2 Introdução Com o desenvolvimento das tecnologias a sociedade capitalista do século XXI acaba por exigir um novo tipo de trabalhador, competente, dinâmico, flexível e portador de conhecimentos tácitos 3. A formação desse trabalhador fica sob a responsabilidade da escola que segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional (LDBEN 9394/96) cabe à escola formar o aluno para o exercício da cidadania e para o trabalho, diante disso, o pedagogo acaba por ser um dos profissionais que contribuem com essa formação. Diante dessa situação temos de um lado empresários que afirmam que a escola precisa formar e qualificar melhor o trabalhador por meio de uma pedagogia customizada (Bianchetti, 2008), já os educadores defendem que a escola não tem a obrigação de preparar a mão-deobra qualificada para o mercado, sendo ela responsável pela formação humana do sujeito. É nesse contexto conflituoso que o currículo escolar da escola pública vai sendo constituído. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é discutir a relação entre trabalho e educação na perspectiva de um grupo de alunos do último ano do curso de pedagogia de uma instituição pública superior do estado do Paraná. Será apresentada uma breve discussão sobre o conceito de trabalho e o processo em que se deu a organização do trabalho na sociedade capitalista. É necessário estudos como esse para repensar não só os cursos de formação docente, mas repensar a necessidade de uma formação continuada pautada em questões relacionadas com a função social da escola, função está que não está clara na sociedade neoliberal do século XXI, sendo assim para a elaboração deste trabalho utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica pautada em autores como Bianchetti(1998), Saviani(2007), Saviani (1994)Enguitta (1989), Heloani (2002), Paro(1998), Kuenzer (2005) dentre outros, realizamos também uma pesquisa qualitativa que se deu por meio da aplicação de um questionário com questões semiabertas realizadas com duas turmas do último ano do curso de Pedagogia com o intuito de investigar a concepção que esses alunos têm sobre a relação escola e trabalho na nossa sociedade. 3 De acordo com POLANYI (1966) Os saberes tácitos são conhecimentos adquiridos pelo sujeito por meio de experiências ao longo de sua existência, no sentido etimológico significa que cala, silencioso, ou seja, é o conhecimento que não se expressa por palavras, é intrínseco de cada pessoa.

3 Alguns conceitos sobre trabalho, sociedade e educação Não é possível discutir humanização sem mencionar a relação do processo de humanização e do trabalho, pois segundo Ferretti (1992) o homem produz coisas necessárias a sua existência por meio da transformação da natureza. Essas produções não são naturais, pelo contrário, são produções construídas historicamente pela humanidade, é na relação do homem com a natureza e do homem com o homem que o processo de socialização humana vai se constituindo. É em meio a essa relação que os grupos sociais foram se constituindo historicamente e formando a sociedade com as contradições que existem. Nos primórdios da Antiguidade, as pessoas viviam em comunidades, essas por sua vez produziam tudo no coletivo, Saviani (1994) nomeia essa fase de comunismo primitivo. Com o movimento histórico-social o homem começa a produzir o seu próprio meio de subsistência vai se modificando conforme o a sociedade se torna mais complexa. Desta forma, quando o homem resolve delimitar, cercar as terras em que ele estava habitando tem-se o início da propriedade privada, o que origina a divisão das comunidades em classes. Surge então uma classe ociosa que detinha o poder que era a proprietária das terras e uma classe que trabalhava nas terras. Essa relação entre trabalho e divisão social avança o período da Idade Média. No período da Idade Média temos a divisão de classes com a presença dos servos, dos camponeses, dos senhores feudais e dos guerreiros que recebiam terras pela sua prestação de serviço. A educação era para a classe dominante e geralmente essa atribuição era da igreja, enquanto que para as outras classes o trabalho era um dos meios que educava. Embora as condições de vida e de trabalho do artesão independente ou reduzido ao trabalho domiciliar para um terceiro ou do agricultor proprietário ou arrendatário pudessem ser materialmente muito duras, o fato de manter a capacidade de decisão sobre o seu trabalho, a intensidade e duração do mesmo, etc., lhes outorgavam uma independência material e, sobretudo, ideal. (ENGUITTA, 1989, p.34) Com o fim do feudalismo e o surgimento dos burgueses que eram os habitantes dos burgos (pequenas cidades) que por meio do comércio acumularam riquezas, houve reivindicações por essa nova classe para ter os direitos dos nobres, dentre eles a educação. Segundo Saviani (1994) surge nesse período no novo modo de produção que é o modo de produção burguês, ou o modo de produção moderno, também chamado de capitalismo. A relação entre trabalho e formação humana vai sendo alterada conforme as relações sociais vão se complexificando na sociedade.

4 O descobrimento da América, a circunavegação da África, criaram um novo terreno para a burguesia ascendente. O mercado das Índias orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio com as colónias, a multiplicação dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria, um surto nunca até então conhecido, e, com ele, um rápido desenvolvimento ao elemento revolucionário na sociedade feudal em desmoronamento. O modo de funcionamento até aí feudal ou corporativo da indústria já não chegava para a procura que crescia com novos mercados. A manufatura tomou o seu lugar. Os mestres de corporação foram desalojados pelo estado médio industrial; a divisão do trabalho entre as diversas corporações desapareceu ante a divisão do trabalho na própria oficina singular.(marx & ENGELS, 1996, p.08) O capitalismo é um modo de produção na qual o trabalho se dá por meio de contratos sociais entre mão-de-obra e capitalismo, na condição de gerar lucro para o capital. Mas de acordo com Heloani (2002) antes do capitalismo não havia um sistema organizado de administração do trabalho, havia o sistema de subcontratação e de produção domiciliar, mas esse modo de produção gerava muitas perdas de matéria e de tempo, além de que não havia uniformidade e controle de qualidade dos produtos. Tivemos então o desenvolvimento da manufatura, a invenção da máquina a vapor, e a industrialização começava a surgir em meio a resistência dos trabalhadores. O modo de produção capitalista se apropriou do modo de produção de trabalho e dos meios de produção, desta forma a única coisa que sobrou para o trabalhador é a sua força de trabalho. Já no final do século XIX devido às condições de trabalho como exploração da mão de obra, inclusive de mulheres e de crianças os conflitos entre trabalho e capital estavam ficando cada vez mais complexos, o capitalismo entrava numa nova fase desta forma era necessário uma parceria entre trabalho e capital, é nesse momento que surge a Organização Científica do trabalho, também conhecida como Taylorismo. 4 De acordo com Heloani (2002) o taylorismo surge na fase monopolista do capitalismo. Essa maneira de organizar o trabalho surgiu das necessidades internas do próprio capitalismo, nesse novo modelo de produção, a organização do trabalho se dava no intuito de economizar tempo e materiais, gerando assim mais lucro para o capitalismo, mesmo que para isso fosse necessário sacrificar o trabalhador com jornadas exaustivas de um trabalho repetitivo e alienante. 4 Taylor foi um engenheiro americano (1856-1915) que estudou a organização do trabalho e propôs um novo método de trabalho conhecido como taylorismo, no qual o controle de tempo e de gastos visava o aumento da produtividade.

5 O taylorismo ao ser disseminado enfrentou muita resistência por toda a Europa, muitos foram os conflitos entre os trabalhadores e os capitalistas, os trabalhadores organizaram greves por muitos países. Para minimizar os conflitos entre os trabalhadores e o capital o taylorismo utiliza de várias estratégias, desde ameaças, desconto nos salários até mesmo utiliza-se de um discurso de cooperação mútua entre empresa e trabalhadores. Segundo Enguitta (1989), a introdução da máquina foi uma forma de desqualificar o trabalho do trabalhador por meio da imposição de ritmos mecânicos e da substituição dos artesãos e mestres por mão-de-obra não qualificada como crianças e mulheres. Nesse cenário da organização científica do trabalho temos também o fordismo 5 que se apropria de alguns princípios tayloristas, mas inova com a inserção da esteira, no intuito de maximizar os lucros com maior produção e menos perda de tempo. É no movimento da história que as revoluções científicas e tecnológicas vão acontecendo por meio delas as discussões sobre tecnologias estão ocupando um espaço cada vez mais abrangente no campo de discussão sobre trabalho. De acordo com Libâneo (2003) a terceira revolução científica e tecnológica se deu na segunda metade do século XX essa revolução alterou não só o processo da constituição do trabalho na sociedade capitalista, mas também a visão sobre que tipo de trabalhador a sociedade capitalista necessita. Já Bianchetti (2008) discute as mudanças ocorridas na sociedade a partir da junção do computador com o telefone, que deu origem a internet, sendo esta mais um meio utilizado para o desenvolvimento do capitalismo. Nessa sociedade da informação e do conhecimento a escola acaba por ser responsabilizada por dar uma boa formação humana e profissional para os sujeitos, no entanto há contradição nessa maneira de pensar. Diante das leituras realizadas na disciplina de Educação e Trabalho no curso de pedagogia de uma instituição pública superior do Paraná tecemos algumas considerações sobre a concepção que os alunos do último ano do curso de pedagogia têm sobre a relação entre trabalho e educação. Para tal realizamos uma pesquisa na qual os alunos deveriam conceituar educação, trabalho e apresentar a visão que tinham sobre a escola, se está tem a obrigação de formar o trabalhador para o mercado, perguntamos ainda qual a contribuição da disciplina para a formação do pedagogo. 5 Henry Ford (1863-1947) foi o fundador do fordismo que era uma organização do trabalho de produção em massa e racionalização da produção capitalista visando além da produção em massa, também o consumo em massa.

6 Dos cinquenta alunos que receberam o questionário somente trinta e seis que devolveram o questionário. Dentre esses, todos afirmaram de várias maneiras que a educação é o processo pelo qual as pessoas se humanizam sendo esse um processo que envolve ensino e aprendizagem, sendo assim é algo social. Vejamos algumas respostas. 6 Educação é o processo pelo qual se obtém conhecimentos necessários para a formação do ser humano. (aluno A) Educação presume um conceito amplo, mas podemos dizer que é a base do ser humano e pode acontecer em diferentes lugares e momentos da vida das pessoas.(aluno B) É a base da formação humana, prepara o sujeito para viver em sociedade.(aluno C) Por meio das respostas pudemos perceber que os (as) alunos (as) compreendem a educação como algo extremamente humano e necessário para o desenvolvimento social do sujeito. Já em relação ao conceito sobre trabalho, as opiniões não foram unânimes, duas pessoas deixaram a questão em branco, sem reposta, dez alunos concordam que o trabalho é necessário na sociedade capitalista para se adquirir recursos financeiros para se manterem economicamente. Seis dos pesquisados veem o trabalho como uma situação prática e necessária ao homem para sua subsistência por meio da transformação da natureza. Um dos pesquisados respondeu que o trabalho dignifica o homem. Já o restante dos pesquisados afirmaram que o trabalho é necessário para a socialização e humanização do sujeito, essa relação se dá na convivência do homem com o outro e da ação do homem sobre a natureza. O trabalho é a ação que o homem realiza para transformar a natureza para sua sobrevivência, porém no capitalismo é a força que o trabalhador dispende em troca de um salário tornando assim, o salário em mercadoria. (aluno E) Trabalho é o que dignifica o homem, que dá a ele condições financeiras para sobreviver. É o que meio pelo qual se consegue recursos para sobreviver como indivíduo reconhecido na sociedade. (Aluno I) O trabalho socializa o homem por meio da troca de experiência entre os sujeitos, é também a ação do homem sobre a natureza. (aluno A). Em relação à questão sobre a função da escola na contemporaneidade vinte e seis alunos disseram que a função da escola não é formar para o trabalho, mas sim socializar e 6 Por questões éticas preferimos não mencionar os nomes dos alunos, os mesmos foram classificados por letras do alfabeto.

7 humanizar transmitindo todo o conhecimento que a sociedade acumulou. Sete dos que responderam acreditam que a escola deve sim formar para o trabalho, pois está é uma das suas funções, principalmente porque estamos vivendo em uma sociedade capitalista, outros três entrevistados afirmaram que a escola tem que formar para a cidadania, mas também para o trabalho. A escola tem que dar a formação para a vida, para que a pessoa saiba viver em sociedade. (aluno F). A escola tem a função de preparar para o trabalho, mas não é a única, visto que a função primordial da escola é dar a formação humana. (aluno M) A escola pode contribuir para a formação para o trabalho, principalmente ao formar um bom cidadão. (aluno C) Em se tratando da última pergunta, todos responderam que consideram importante a disciplina de Educação e trabalho para a formação deles enquanto pedagogos, pois as leituras e discussões realizadas na disciplina têm contribuído para uma maior compreensão da relação escola e trabalho na sociedade capitalista. O que pode se observar com as respostas é que ainda há um conflito de concepções a respeito de trabalho e educação. Os alunos do quarto ano de pedagogia apesar de estar sendo formados na mesma instituição, com o mesmo currículo construíram concepções diferentes sobre as perguntas já mencionadas, alguns se mostraram um tanto confusos ao elaborar os conceitos, isso mostra a importância de realizar durante a disciplina avaliações diagnósticas que serão utilizadas para um novo direcionamento das leituras e discussões realizadas durante a formação do pedagogo. Não podemos desconsiderar também que os alunos do curso de pedagogia tem toda uma formação cultural que é especifica de cada um, essa vivencia também influencia na concepção que eles te de mundo, trabalho e educação. Alguns dos conceitos que os alunos pesquisados apresentaram foram construídos no decorrer da disciplina de Educação e trabalho que é uma disciplina semestral de setenta e duas horas e que só acontece no último ano do curso, ou seja, é um período curto para a realização de discussões tão profundas quanto as que aqui foram levantadas. Conclusão Partindo do pressuposto que a nossa sociedade é complexa e que a história não é linear, é de suma importância que educadores tenham a consciência de condicionantes históricos que permearam e ainda permeiam a relação entre o trabalho e a escola na sociedade

8 contemporânea. Pensando nisso, é preciso que os cursos de licenciaturas, principalmente os de pedagogia contribuam para que os professores em formação discutam essas questões tão necessárias que permeiam a prática docente no contexto da sociedade capitalista. Em se falando de sociedade capitalista precisamos discutir qual a função da escola nessa sociedade, para isso se faz necessário que os professores em processo de formação tenham claros alguns conceitos básicos como educação, trabalho e formação humana. Estamos vivendo em uma sociedade dividida em classes, na qual muita das vezes a escola passa a ser vista como útil para a ascensão social, ou até mesmo para formar a mão-deobra para o capital. O que não podemos deixar de mencionar é que a escola muito mais do que isso é responsável formalmente por formar o cidadão, por mais que tentem descaracterizar o papel da escola ou até mesmo tentar subordiná-la a lógica do mercado, historicamente vemos o processo de contradição que ocorre no interior do campo educacional tem contribuído para um repensar da função social da escola, principalmente no que se refere ao processo de formação dos professores. Desta forma, com a realização deste trabalho pudemos resgatar algumas discussões importantes que poderão nortear futuros trabalhos no campo da educação e trabalho. A realização deste, nos possibilitou ainda momentos de reflexão sobre o encaminhamento da disciplina Educação e trabalho presente no curso de pedagogia da instituição pesquisada, os caminhos por ela traçados até agora e as possibilidades de encontrar novos caminhos. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo & ALVES, Giovanni. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital. Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 87, p. 335-351, maio/ago 2004. BIANCHETTI, Lucídio. Da chave de fenda ao laptop. Tecnologia digital e novas qualificações: desafios à educação. Petrópolis, Vozes, 2008. ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola. Educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. FERRETTI, João Celso. Uma nova proposta de orientação profissional. Ed. Cortez, 1997. FRANCO, L. A. A escola do trabalho e o trabalho da escola. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1987. HELOANI, Roberto. Organização do trabalho e Administração: Uma visão multidisciplinar. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

9 KUENZER, A. Z. Exclusão includente e inclusão excludente: a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre educação e trabalho. In: SAVIANI, D.; SANFELICE, J.L.; LOMBARDI, J.C. (Org.). Capitalismo, trabalho e educação. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. p. 77-96. LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval & SANFELICI, José Luis (Org.) Capitalismo, trabalho e educação. Campinas: Autores Associados, HISTEDBR, 2002. MARX, Karl and ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Estud. av. [online]. 1998, vol.12, n.34, pp. 7-46. ISSN 0103-4014. PARO, V. Parem de Preparar para o Trabalho Reflexões acerca dos efeitos do neoliberalismo sobre a gestão e o papel da escola básica. In: FERRETI, C.J. Trabalho, Formação e Currículo: Para onde vai a escola. São Paulo, Xamã, 1999. POLANYI, M. The Tacit Dimension. London: Routledge and Kegan Paul, 1966, p.82. SAVIANI, DEMERVAL. O trabalho como principio educativo frente às novas tecnologias..in. Ferretti. C. et ali. Novas Tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petropolis, editora vozes, 1994.. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. In: Revista Brasileira de Educação. V. 12 n. 34 jan/abr. 2007.