Alterações promovidas pela Lei nº12.431/11 na Lei das Sociedades por Ações Luiz Rafael de Vargas Maluf Ruberval de Vasconcelos Júnior 08 de setembro de 2011 Reunião do Comitê Societário do CESA
Histórico e etapas no processo Em 30 de dezembro de 2010 foi divulgada a Medida Provisória nº 517, a qual trazia uma série de alterações em questões tributárias, criação de mecanismos de incentivo ao desenvolvimento de usinas nucleares e planos de banda larga para acesso a internet, extinção do Fundo Nacional de Desenvolvimento, e alterações na Lei das Sociedades por Ações (especialmente no que diz respeito à regulamentação de debêntures). Na exposição de motivos EM Interministerial nº 194/2010, as argumentações apresentadas à presidência eram de que tais medidas tinham por objetivo incentivar e viabilizar a construção de um mercado privado para o financiamento de médio e longo prazo no país, criando uma nova base de financiamento (com recursos da iniciativa privada) para os projetos de maior maturação, servindo como uma fonte complementar de funding. Os dados apresentados na exposição de motivos demonstravam que: 1) A captação primária via mercado de capitais ainda não era tão expressiva, 1) A captação primária via mercado de capitais ainda não era tão expressiva, representando cerca de 2,5% a 3% do PIB, com um mercado de dívida concentrado em emissões de curto e médio prazo, indexadas principalmente ao DI. 2) Dentre as emissões analisadas, apenas 6,54% eram de títulos com vencimento superior a 8 anos, e que tinham sua remuneração atrelada a índice diverso do DI. 3) O mercado secundário precisaria ser melhor desenvolvido, facilitando a compra e venda desses títulos por investidores e, assim, aumentando a liquidez desses papéis.
Histórico e etapas no processo O texto da medida provisória tem força de lei e pode ser usado pelo Presidente da República em casos de urgência e relevância. Assim, a MP517 foi submetida ao Congresso Nacional, o qual teria até 60 dias (contados da edição da MP) para rejeitá-la ou convertêla em lei (prazo este prorrogável uma única vez por igual período). Durante a análise pelo Congresso foram feitas uma série de alterações antes da conversão. Durante esse prazo, a CVM colocou em audiência pública (SDM nº1/2011) as alterações no texto da Lei das Sociedades por Ações, entre os dias 3 de janeiro e 3 de fevereiro de 2011. Dentre os participantes da audiência, e que opinaram com sugestões às alterações promovidas, constaram a ABRASCA, IBGC, ANBIMA, BM&FBovespa, escritórios de advocacia, entre outros. O relatório de análise da Superintendência de Desenvolvimento de Mercado SDM foi aprovado pelo Colegiado da CVM em 16 de fevereiro de 2011 e submetido ao relator do processo de conversão da MP517. Em junho desse ano, a MP517 foi convertida no Projeto de Lei nº 13/2011, e encaminhada à presidência para sanção ou veto (a qual teria até 15 dias úteis para se manifestar a respeito, conforme art.66, parágrafo 1º da Constituição Federal). O texto do projeto foi convertido na Lei nº 12.431, de 24 de junho de 2011.
1) Aquisição de debêntures pela própria companhia Amortizar significa pagar antecipadamente uma parcela do valor nominal de todas as debêntures (mesmo efeito econômico que o resgate parcial, mencionado abaixo). Resgate, por sua vez, significa pagar a totalidade do valor nominal de todas ou parte das debêntures. Se o resgate for total, paga-se o valor nominal integral de todas as debêntures em circulação. Caso o resgate seja parcial, paga-se o valor nominal integral de parte apenas das debêntures em circulação. Sendo o resgate e amortização as formas previstas na Lei das Sociedades por Ações, há a possibilidade desses serem realizados por meio de diversas formas técnico-legais, dentre elas: 1) Aquisição Facultativa: a companhia pode ir a mercado e comprar suas próprias debêntures, as quais poderão ser canceladas, permanecer em tesouraria, ou recolocadas no mercado. 2) Resgate Facultativo: forma prevista pela Escritura, em que a companhia pode prever que poderá resgatar todas ou parte das debêntures em circulação, em determinadas épocas, e critérios de efetivação. O resgate poderá ser feito (i) por sorteio, ou (ii) por recompra dos títulos em circulação. Possibilidade em que a emissora resgata por sua livre iniciativa, e sem consulta prévia aos debenturistas. Vantagem: a companhia resgata quando as taxas de juros no mercado tornam-se menores e a emissão muito cara, contudo costuma-se pagar um prêmio ao debenturista que investiu na companhia e foi obrigado a devolver o papel. As debêntures resgatadas deverão ser canceladas.
1) Aquisição de debêntures pela própria companhia A amortização é sempre parcial em relação ao valor de cada debênture, e portanto não pode ser feita em mercado de valores mobiliários. Também não há debêntures da mesma série com vencimentos distintos. Segmentação do 1º e criação do 2º exclusivamente para resgate parcial. Apesar do Parecer CVM/SJU nº74/82, a criação do inciso II no 3º visa flexibilizar a recompra, para melhor administração da companhia quanto à sua exposição no mercado e padrão de endividamento. Permite que a companhia negocie as debêntures recompradas, fomentando o mercado secundário. As limitações serão previstas pela CVM por meio de regulamentação.
2) Competência para deliberação das emissões Simplifica o processo de emissão. Regra geral: o CA de companhia aberta pode aprovar debêntures não conversíveis, mesmo com garantia real, exceto disposição em contrário no ES. O CA de companhia aberta pode aprovar debêntures conversíveis dentro do limite de capital autorizado, desde que autorizado e previsto no Estatuto Social. Para os demais casos, continua valendo a delegação de poderes pela assembleia ao conselho.
3) Emissões concomitantes Tendo em vista a exclusão do limite de emissão previsto no artigo 60 da Lei das Sociedades por Ações, o atual 3º é ajustado para refletir tal disposição. Possibilidade de criação de emissão com mais de uma série, sem necessidade de obrigatoriamente colocar a totalidade de uma série para permitir a colocação de outra. A companhia passa a poder contar com emissões prontas e de prateleira, de forma que fará a colocação de uma ou outra série de acordo com as condições de mercado e dentro do melhor cenário de endividamento para seu perfil (ex: série indexada ao IPCA, ao invés de série indexada ao DI).
4) Possibilidade de contratação de um mesmo agente fiduciário para diferentes emissões de uma mesma companhia Quantidade de agentes fiduciários qualificados no mercado é restrita. Anteriormente um mesmo agente não poderia atuar em mais de uma emissão de debêntures da mesma companhia (isso evitava conflito na defesa dos interesses de debenturistas, em situações de inadimplemento que afetavam todas as emissões). Companhias com muitas emissões no mercado começavam a ter dificuldade na contratação de agentes, por limitação de participantes qualificados. A alteração promovida passa a permitir que um mesmo agente fiduciário atue em mais de uma emissão da mesma companhia, desde que autorizado nos termos das normas da CVM (as quais ainda não foram emanadas). Normas CVM são aplicáveis à emissões negociadas no mercado de valores mobiliários. Emissões privadas, portanto, continuam vedadas quanto a participação do mesmo agente fiduciário.
5) Limites de emissão A limitação anterior induzia a companhia a emitir debêntures subordinadas quando o limite já havia sido atingido, e a escolha deve ser por conveniência e não por indução legal. CVM entende que os limites de garantias não asseguravam que o valor da emissão estaria integralmente coberto durante todo o prazo do papel e que haveria o pagamento do título (especialmente aqueles de longo prazo). O limite não mitigava a importância da avaliação pelo investidor quanto à garantia, e a análise de crédito não deveria se basear apenas em garantias, mas na estrutura de capital da companhia, e na perspectiva de rentabilidade e de crescimento. A verificação, portanto, deveria ficar a cargo da companhia, do agente fiduciário e de investidores.
6) Substituição de livros por registros eletrônicos Acréscimo dos livros de ata das assembléias gerais e o de presença dos acionistas. Simplificação do processo permite dar maior agilidade e praticidade para companhias abertas.
7) Votação em assembleia geral à distância Participação dos acionistas à distância em assembléias gerais.
8) Conselheiro de administração não acionista Administradores (Conselheiros e Diretores) deverão ser pessoas naturais mas não precisarão ser acionistas. Mudança para os integrantes do Conselho de Administração.
Obrigado! Luiz Rafael de Vargas Maluf lrvargas@pn.com.br Ruberval de Vasconcelos Júnior ruberval.vasconcelos@bqa.com.br