POTENCIAL EDUCATIVO DAS COMUNIDADES ONLINE NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: UM CONTRIBUTO PARA ESTADO DA ARTE. Braga Portugal Abril 2012



Documentos relacionados
USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

Novas Tecnologias no Ensino de Física: discutindo o processo de elaboração de um blog para divulgação científica

ACTIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR ANO LECTIVO 2011 / 2012 TIC@CIDADANIA. Proposta de planos anuais. 1.º Ciclo do Ensino Básico

PVANET: PRINCIPAIS FERRAMENTAS E UTILIZAÇÃO DIDÁTICA

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

A Ponte entre a Escola e a Ciência Azul

A INTERATIVIDADE EM AMBIENTES WEB Dando um toque humano a cursos pela Internet. Os avanços tecnológicos de nosso mundo globalizado estão mudando a

Pedagogia Estácio FAMAP

Jornadas da Educação, 2015

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

introdução Trecho final da Carta da Terra 1. O projeto contou com a colaboração da Rede Nossa São Paulo e Instituto de Fomento à Tecnologia do

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

Observação das aulas Algumas indicações para observar as aulas

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

SUA ESCOLA, NOSSA ESCOLA PROGRAMA SÍNTESE: NOVAS TECNOLOGIAS EM SALA DE AULA

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

OBSERVATÓRIO DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO. Palavras-chave: Gestão da Informação. Gestão do conhecimento. OGI. Google alertas. Biblioteconomia.

IMERSÃO TECNOLÓGICA DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES DE FORMAÇÃO CONTINUADA MEDIADA POR AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM A DISTÂNCIA

Currículo do Curso de Licenciatura em Filosofia

FORMAÇÃO DOCENTE: ASPECTOS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E INSTITUCIONAIS

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Formação: o Bacharel em Sistemas de Informações (SI); o MBA em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

Educação a distância: desafios e descobertas

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

Projeto Educativo de Creche e Jardim de Infância

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

UMA ANÁLISE DA REDE SOCIAL EDUCACIONAL SCHOOLING COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

O USO DOS DISPOSITIVOS MÓVEIS E FACEBOOK NO ENSINO MÉDIO: ESTUDO DO TIPO ETNOGRÁFICO.

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

Gestão Plano de Trabalho. Colaboração, Renovação e Integração. Eduardo Simões de Albuquerque Diretor

PROJETO: ESCOLA DIGITAL

Colaborações em ambientes online predispõem a criação de comunidades de

CURSO DE EDUCAÇÃO FISICA ATIVIDADES EXTRA CURRICULARES

Estratégias de e-learning no Ensino Superior

Contexto da ação: Detalhamento das atividades:

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: O PNAIC EM FOCO

Questionário a ser Respondido Pelos Estudantes em EaD.

O blog no processo de ensino e aprendizagem em Ciências: horizontes e possibilidades

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO CURRICULO ANO 2 - APROFUNDAMENTO

Mostra de Projetos Como ensinar os porquês dos conceitos básicos da Matemática, visando a melhora do processo ensino e aprendizado

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

A Educação a Distância como ferramenta para estimular e melhorar o desempenho dos alunos da E.E.E.F.M. Advogado Nobel Vita em Coremas - PB

INSTITUIÇÕES E FUNDAÇÕES

ASPECTOS HISTÓRICOS: QUANTO A FORMAÇÃOO, FUNÇÃO E DIFULCULDADES DO ADMINISTRADOR.

CURSO REDES DE COMPUTADORES ALANA CAMILA ARICLÉCIO DOMINGOS EUDES JUNIOR HILDERLENE GOMES

Gestão da Informação e do Conhecimento

Resenha. Fernanda Gabriela Gadelha ROMERO 1

As Tecnologias de Informação e Comunicação para Ensinar na Era do Conhecimento

Utilizando a ferramenta de criação de aulas

A Parceria UNIVIR / UNIGLOBO- Um Case Focado no Capital Intelectual da Maior Rede de TV da América Latina

A PRÁTICA DE MONITORIA PARA PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL DE LÍNGUA INGLESA DO PIBID

MARKETING DE RELACIONAMENTO UMA FERRAMENTA PARA AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: ESTUDO SOBRE PORTAL INSTITUCIONAL

Orientações para informação das turmas do Programa Mais Educação/Ensino Médio Inovador

I SEMINÁRIO POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS Universidade Federal de Santa Maria Observatório de Ações Afirmativas 20 a 21 de outubro de 2015

O interesse por atividades práticas contribuindo na alfabetização através do letramento

24 O uso dos manuais de Matemática pelos alunos de 9.º ano

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 80 Semestre do Curso: 6º

Blogs corporativos: uma inovação na Comunicação Organizacional 1

Artigo Publicado na revista Eletrônica Apucarana-PR, v.1, n.1, 61-66, INCLUSÃO DIGITAL

REALIZAÇÃO DE TRABALHOS INTERDISCIPLINARES GRUPOS DE LEITURA SUPERVISIONADA (GRULES)

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

Leitura e Literatura

Curso de Especialização em Saúde da Família

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Proposta para a construção de um Projecto Curricular de Turma*

FATORES PARA A INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO DAS QUALIDADES PESSOAIS

34 respostas. Resumo. 1. Qual sua principal ocupação ou vínculo institucional? 2. Como tomou conhecimento desta oficina? 1 of :22

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Carga Horária :144h (07/04 a 05/09/2014) 1. JUSTIFICATIVA: 2. OBJETIVO(S):

ANÁLISE DOS ASPECTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS DO CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO

r I MINISTÉRIOOAEDUCAÇAO

O que fazer para transformar uma sala de aula numa comunidade de aprendizagem?

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

NÚCLEO DE APOIO DIDÁTICO E METODOLÓGICO (NADIME)

PROJETO DE LEITURA E ESCRITA LEITURA NA PONTA DA LÍNGUA E ESCRITA NA PONTA DO LÁPIS

PROJETO EDUCATIVO DE ESCOLA

Pedagogia. Objetivos deste tema. 3 Sub-temas compõem a aula. Tecnologias da informação e mídias digitais na educação. Prof. Marcos Munhoz da Costa

BRITO, Jéssika Pereira Universidade Estadual da Paraíba

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: COMPROMISSOS E DESAFIOS

PARANÁ GOVERNO DO ESTADO

Tecnologias da Informação e Comunicação

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

Observatórios Virtuais

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DE DISCUSSÕES DE CONTROVÉRSIAS SOCIOCIENTÍFICAS COM RECURSO À PLATAFORMA MOODLE PARA A PROMOÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO

AEC ALE LIGAÇÃO DA ESCOLA COM O MEIO. Orientações Pedagógicas. 1.º Ciclo do Ensino Básico

Transcrição:

POTENCIAL EDUCATIVO DAS COMUNIDADES ONLINE NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: UM CONTRIBUTO PARA ESTADO DA ARTE Braga Portugal Abril 2012 Luís Carlos Gonçalves Costa Universidade do Minho luiscg.costa@hotmail.com Clara Pereira Coutinho Universidade do Minho ccoutinho@ie.uminho.pt Eliana Santana Lisbôa Universidade do Minho eslisboa2008@gmail.com João Batista Bottentuit Júnior Universidade Federal do Maranhão jbbj@ufma.br Métodos e Tecnologia Educação Básica Interação e Comunicação em Comunidades de Aprendizagem Modelos de Planejamento Investigação Científica RESUMO A sociedade atual assiste a novas formas de otimizar o acesso ao conhecimento e as barreiras que impediam a partilha do saber tornam-se cada vez mais ténues. Isso porque com a disseminação da Internet e das tecnologias digitais as pessoas podem aceder a número expressivo de informações, partilhar interesses comuns e construir conhecimento, face a muitos aplicativos da Web Social. E como exemplo desses aplicativos, citamos as comunidades virtuais, que através dos seus fóruns de discussão têm tornando-se uma estratégia que visa estabelecer e estreitar os laços sociais entre professores\ alunos, alunos\alunos e, sobretudo, promover a aprendizagem colaborativa. Trata-se de espaços abertos, acessíveis a qualquer hora e a qualquer parte do mundo que oferece aos docentes e alunos múltiplas possibilidades de melhoria no ensino e aprendizagem. Foi com esse pensamento que nos propusemos a escrever o presente artigo que tem como finalidade apresentar algumas das potencialidades educativas das comunidades online no ensino da Língua Portuguesa. Iniciamos com uma breve contextualização do conceito de Sociedade da Informação. De seguida, revela-se importante explanar aquilo que está na base das redes sociais e das comunidades virtuais, para, assim, se conseguir determinar as influências que estas exercem na construção do conhecimento a partir da rede global, a Internet. Após a exposição dos conceitos, o trabalho procurará descrever e evidenciar um conjunto de contributos que as comunidades virtuais fornecem à disciplina de Português. Por último, este trabalho finalizará com a exposição de algumas considerações finais. Palavras-chaves: Comunidades, aprendizagem, colaboração, informação.

1. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Os contributos que a sociedade da informação fornecem para a interação e compreensão de diferentes mundos do conhecimento são reconhecidos e de extrema relevância. O conceito de Sociedade de Informação, ou também denominada por Castells de sociedade em rede, surge, sobretudo, a partir de Peter Drucker devido à progressão da ciência e da tecnologia [1]. A mudança de paradigma relança novos moldes na área do conhecimento e coloca no prisma dos processos de interação a informação veiculada agora de uma forma partilhada, ou seja, l intelligence est toujours le fait d un collectif nombreux et interdépendant. Collectif d idées, de pensées, etc. [2]. O conteúdo semântico deste novo sistema de partilha digital tem como caraterística básica a circulação e modificação das informações de uma forma nunca antes imaginada. [3]. Entre aqueles que defendem a impulsionadora e impensável dimensão da partilha de informação, como Daniel Bell, Mark Poster e Michel Piore, destaca-se a presença de [4], através da teoria do modo informacional de desenvolvimento. Este último autor lembra que as sociedades vivem numa época de informacionalismo, ou seja, a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder [4], pois na sociedade atual, a informação, aliada à evolução tecnológica, reveste-se de potencialidades pedagógicas irrefutáveis. O mundo da tecnologia marca presença em todos os setores sociais, sendo também relevante salientar que a informação está em constante transformação e, por isso mesmo, permite que esta acompanhe os progressos da comunicação. Neste sentido, debruçar-nosemos sobre dois conceitos que contribuem, fortemente, para a democratização do conhecimento, ou seja, as redes sociais e, mais especialmente, as comunidades online. 2. REDES SOCIAIS A palavra rede deriva do latim rete, is ( rede ou teia ) e consiste num conjunto de elos interligados onde deambula a informação (wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/rede). No sentido mais amplo, podemos dizer que as redes são múltiplos caminhos, cujas relações são heterárquicas, dada a inexistência de relação de subordinação entre seus membros. Neste sentido,

Franco citado por [3], esclarece que todos os membros são sujeitos ativos e autónomos, o que as diferenciam de hierarquia. Para [5], as redes sociais provocaram mudanças no tecido social. Embora esse tipo de organização social não ser nenhuma novidade, é inegável que o surgimento da Internet e dos aplicativos da Web 2.0 proporcionaram o alicerce material para o seu desenvolvimento no contexto atual, face à criação de mecanismos capazes de envolver as pessoas de uma forma instantânea e sem que estas tenham, obrigatoriamente, de estar em contato face a face. Inicialmente, seus estudos estavam relacionados e limitados às investigações sociológicas, mas com o advento Internet e das tecnologias digitais, elas começaram a fazer parte da vanguarda da sociedade, uma vez que seu uso está presente em vários segmentos sociais, com especial ênfase em contexto educativo. São ambientes por onde circulam múltiplas informações, refletindo assim os mais variados códigos de comunicação [5]. Seu uso e importância podem ser explicados ou justificados pelas teorias que lhes são subjacentes, como por exemplo: Teoria dos Seis graus de Separação, Teoria dos Grafos, Teoria da Atividade e, por fim, a Teoria Ator- Rede. A importância das teorias para o sucesso das redes sociais não suscita qualquer dúvida mas, pelas limitações encontradas, não nos penderemos sobre o estudo das mesmas, ao longo deste trabalho. 3. COMUNIDADES ONLINE O conceito de comunidade sempre esteve presente na sociedade mesmo antes do surgimento da Internet, mas, de qualquer forma, é a partir desta que o conceito de comunidade atinge um alcance planetário nunca antes imaginado. Sendo assim, aquilo a que assistimos corrobora a ideia de que o termo «comunidade» evoluiu de um sentido quase «ideal» de família, comunidade rural, passando a integrar um maior conjunto de grupos humanos com o passar do tempo [6]. O crescimento alucinante do conceito de comunidade online permitiu que [7] compare esta forma de comunicação a um tecido biológico, assumindo uma importância acrescida no relacionamento entre os seres humanos. O mesmo autor defende também que este conceito terá tido como

principal obreiro o investigador Howard Rheingold no ano de 1985, através da obra Virtual Communities. A disseminação do caráter colaborativo das comunidades virtuais ganhou contornos de grandes proporções e, nos dias de hoje, assiste-se a uma forte adesão à necessidade de criar e atualizar o conhecimento relativo a determinadas temáticas de que tanto nos fala [8]. Este cenário de imprescindibilidade da partilha de informação permite concluir que a comunidade precisa, portanto, de uma base no ciberespaço: um lugar público onde a maior parte da interação se desenrole [6]. Além disso, torna-se possível observar que o conceito de comunidade online vai para além do mero princípio de partilha, sendo que consiste, também, num espaço oportuno para as pessoas discutirem alguma temática, partilhar conhecimentos, interesses ou mesmo manifestar solidariedade a uma causa comum [3]. Como foi possível observar, as comunidades assentam no princípio de relacionamento interpessoal onde se podem destacar algumas características sugeridas por [6], como por exemplo: as discussões públicas, as pessoas que se encontram e reencontram, o tempo e o sentimento, entre outras. Cada comunidade online está munida de estruturas e mecanismos capazes de gerar conteúdos que contribuam para o processo de ensino e aprendizagem mas, ainda assim, estes mesmos mecanismos nem sempre são ativados, tal como sugerem [9] all learning communities are not communities of practice; they undertake and participate in various activities which promote various types of learning. Estes dois últimos autores apresentam uma classificação para os diferentes tipos de comunidades online que assenta em três critérios: a) os objetivos de aprendizagem ou intenções de formação associados à comunidade; b) o envolvimento entre os participantes; c) a consciencialização de que os objetivos da comunidade contribuem fortemente para o processo de aprendizagem dos intervenientes. Estes elementos permitiram que [9] defendessem a existência de quatro tipos de comunidades, como é possível observar na imagem que se segue:

Figura 1. Diferentes tipos de comunidades virtuais [9]. O objetivo deste trabalho não se prende na análise minuciosa sobre estas questões mas, necessariamente, torna-se relevante explicar, por breves palavras, cada uma das comunidades sugeridas pelos autores acima mencionados: i) a comunidade de interesse abrange todos aqueles utilizadores que desejam, simplesmente, colocar algum tipo de dúvida e serem esclarecidos sobre um determinado assunto em comum. Um exemplo de maior expressão deste tipo de comunidade pode ser encontrado nos locais de discussão abertos, como a usenet. A comunidade de interesse não possui um objetivo concreto e, por isso, a sua existência pode ser variável e os contributos podem não possuir consistência; ii) as comunidades de interesse orientadas a objetivos, por sua vez, definem um objetivo concreto e selecionam um número de intervenientes relacionados com o objetivo a ser alcançado. Este tipo de comunidade, normalmente, encontra-se em funcionamento até à satisfação dos objetivos, de qualquer forma, também acontece assistirmos à continuidade da mesma depois de atingir os objetivos pretendidos; iii) a comunidade educacional, como o próprio nome indica, encontra-se relacionada com a interação entre diversos agentes do contexto educativo. Esta comunidade pode ser criada, por exemplo, para que exista um espaço onde professores e alunos possam interagir sobre conteúdos de uma determinada disciplina ou turma. A função do professor revela-se primordial para moderar as discussões, apelar ao relacionamento social entre os intervenientes e possibilitar a construção do conhecimento sobre as temáticas da comunidade; iv) o último tipo de comunidade online apresentada por [9] é denominada de comunidade de prática. Nesta, os seus intervenientes possuem uma atividade profissional que está intrinsecamente relacionada com os conteúdos partilhados virtualmente. Sendo assim, esta comunidade pode ser, por exemplo, um espaço onde os profissionais da

docência partilham informações de forma a melhorarem as suas práticas. As comunidades de prática além de possuírem um projeto aliciante podem também manter-se em funcionamento durante um período indeterminável. Os autores [10] consideram que esta classificação de [9] não acompanha as evoluções da Internet e da sociedade. Por isso, estes autores consideram ser necessário acrescentar uma nova comunidade no topo desta classificação, denominada, assim, de comunidade de conhecimento. Este suplemento à classificação de [9] assenta no princípio defendido por [10] de que: Intenção de formação estaria associada ao compromisso de transformação da sociedade, e o nível de envolvimento entre os participantes teria por base o senso de pertencer à sociedade (cidadania), anterior à constituição dum grupo que compartilha uma mesma corporação ou atividade profissional. [10]. Nessa perspetiva, a comunidade de conhecimento surge então da necessidade de evoluir o caráter social dos seus membros, ou seja, esta comunidade encontra-se envolvida num espírito comum e que pretende contribuir para o progresso generalizado da sociedade, mais do que propriamente o desenvolvimento de determinadas massas sociais isoladas. Depois de apresentar o conceito de comunidade online e a sua respetiva classificação, o contributo deste texto prender-se-á com a exemplificação de como as comunidades online podem ser aproveitadas no contexto educativo. Neste sentido, a observação que se segue permite evidenciar que a inclusão do conceito de comunidade online pode ser de extrema relevância pedagógica. 4. POTENCIALIDADES PEDAGÓGICAS DAS COMUNIDADES ONLINE NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA A função da escola nunca pode ser desvalorizada no que diz respeito à formação social e cultural dos alunos, por isso, existe a necessidade de desmistificar que as tecnologias tendem a sobrepor-se à instituição escolar. O universo tecnológico ocupa uma grande percentagem de tempo aos alunos portugueses e esse fator encontra-se empiricamente atestado. A utilização das ferramentas tecnológicas aparenta não se tratar de um acontecimento com fim em si mesmo, porque não trata-se de um modismo [11]. Pelo contrário, as

comunidades online possibilitam criar conexões diversas e através do fluxo da informação o papel do professor adquire uma relevância importantíssima. Na disciplina de Português, a criação de comunidades online pode tornarse uma mais-valia para uma melhor utilização e compreensão da língua portuguesa. Neste âmbito, os contributos de professores e alunos para a criação de comunidades em prol de objetivos comuns acrescenta um enorme valor ao processo de ensino e aprendizagem. Ressalva-se ainda que o processo de criação de comunidades virtuais deverá possuir o consentimento e participação de toda a comunidade educativa. Desta forma, caberá à escola entender e aceitar esta nova forma de conceber a aprendizagem e ao professor, usar a criatividade para tornar suas aulas atrativas e inovadoras. [3]. Este fator revela-se central para evitar que as tecnologias sejam vistas como um problema e se afigurem como uma potencialidade pedagógica. Sendo este trabalho dirigido para o espaço educativo, a criação de uma comunidade educacional pode ser extremamente pertinente quando falamos de um trabalho colaborativo desenvolvido pelo(a) professor(a) e alunos durante o ano letivo. Este tipo de comunidade privilegia a interação ativa entre todos os participantes e pode servir para sistematizar conteúdos fornecidos em sala de aula. Partindo desse pressuposto, apontaremos algumas estratégias que cremos serem de grande valia na aprendizagem dos alunos, mais especificamente na disciplina de Língua Portuguesa: a) Identificação e construção de diversos géneros textuais Depois de trabalhar o conceito dos diversos géneros textuais em sala de aula, o professor pode iniciar um tópico de discussão (utilizando um fragmento de texto ou mesmo um vídeo) na comunidade virtual criada, suscitando nos alunos uma discussão visando não somente que eles identifiquem o género textual utilizado, mas sobretudo, que justifiquem seu posicionamento. Esta estratégia melhora a aprendizagem dos conteúdos e desenvolve a argumentação dos discentes; b) Tutorial online as comunidades por serem um ambiente com comunicação predominantemente assíncrona, podem funcionar como um tutorial online, favorecendo assim, aqueles alunos que não se sentem à vontade para tirar dúvidas em sala de aula. Para além disso, esta atividade poderá contribuir para a constituição de um grupo coeso;

c) Fomentar a participação dos alunos A elaboração de trabalhos escritos pelos alunos e a sua sistemática análise e discussão em sala de aula aponta para uma forte melhoria do processo de ensino e aprendizagem. Ainda assim, a partilha e reflexão desses contributos escritos nem sempre se desenvolve a contento por motivos diferenciados, então, desta forma, a comunidade online poderá reunir as condições favoráveis para que exista uma partilha de pontos de vista referentes aos trabalhos elaborados ao longo do ano letivo; d) Melhorar a aprendizagem dos conteúdos gramaticais A comunidade online pode também ser utilizada para trabalhar questões de gramática visto que este domínio oferece grandes dificuldades na disciplina de Português e nem sempre possui uma abordagem consistente em sala de aula. O professor pode por exemplo, iniciar um fórum de discussão, apresentando um fragmento de texto ou mesmo um vídeo e solicitar que os alunos identifiquem os elementos deíticos, justificando o contexto de sua utilização. Pensamos que essa poderá ser uma forma dos alunos aprenderem de uma forma mais lúdica; e) Melhorar as competências de leitura e escrita O docente poderá selecionar um conjunto de obras pertencentes ou não aos programas curriculares e, de seguida, distribuir uma obra pelos grupos de alunos. No final de cada leitura os alunos devem, através do auxílio do(a) professor(a), elaborar um comentário/síntese da obra que leram e divulgar esse mesmo trabalho na comunidade para que todos possam tomar conhecimento de todas as obras e, até mesmo, estimular o interesse dos colegas para a leitura do livro; f) Escrita Colaborativa Sendo a comunidade online um espaço cujo domínio da escrita possui a sua maior relevância, os alunos podem participar ativamente na construção daquilo a que se chama texto colaborativo. Ou seja, o(a) docente sugere um trabalho relacionado com uma das temáticas da aula de Português (por exemplo, a questão do incesto, presente em Os Mais), e os alunos trabalham numa lógica de escrita colaborativa, tendo como objetivo a elaboração de um texto final relacionado com essa mesma temática. Nessa atividade estarão implícitos vários conteúdos da língua portuguesa, como os gramaticais, tipos de linguagem, géneros literários, entre outros. g) Construção de um jornal online - Os textos dos media assumem-se um tópico de importância crescente nos programas curriculares da disciplina de Português. Neste sentido, os alunos podem ser incumbidos de reunir e analisar

notícias da atualidade nos diferentes vetores: desporto, cinema, música, política, informática, entre outros e criar um jornal online interativo, onde os alunos podem se posicionar diante da notícia. Essa tarefa além de desenvolver a competência de leitura, também favorece o desenvolvimento do senso crítico do aluno, propiciando uma reflexão do contexto atual no qual está inserido. As estratégias aqui elencadas possuem o propósito de aproximar professores e alunos na forma de construírem o conhecimento na disciplina de Português. A intenção na exemplificação destas estratégias não passa, certamente, por mencionar soluções irrefutáveis no ensino da língua portuguesa, mas, de qualquer forma, acreditamos que podem prestar um importante contributo para a promoção da língua materna junto dos discentes. Como foi possível observar, as comunidades fomentam uma postura crítica em relação aos conteúdos e desenvolvem competências essenciais que permitem ( ) exercer uma liderança partilhada, promover a socialização online, intercâmbio de informações, etc. [3]. Para além disso, desenvolve nos alunos competências ao nível das literacias digitais, no sentido de saberem selecionar e organizar as informações mais relevantes para a sua aprendizagem a partir da capacidade de reflexão e do senso crítico. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A grande problemática que se levanta no contexto educativo prende-se com a utilização menos formada das tecnologias, ou seja, as novas tecnologias de informação e comunicação podem auxiliar nessa caminhada, desde que não sejam utilizadas de maneira ingénua, numa versão escolarizada, baseada no sonambulismo tecnológico. [12]. As comunidades possuem princípios capazes de enriquecer os programas pedagógicos a partir da transmissão/receção de dados onde, sobretudo, seja preservada a qualidade da informação. A elaboração desta pequena reflexão sobre as comunidades online revela-se um quanto diminuta relativamente à dimensão e importância que as mesmas assumem na sociedade nos dias de hoje. Ainda assim, torna-se importante sublinhar o esforço prestado no sentido de mencionar algumas das potencialidades pedagógicas destas comunidades no sentido de potencializar a relação das tecnologias com a língua portuguesa.

REFERÊNCIAS: [1] Crawford, S. The origin and development of a concept: the information society. Bull. Med. Libr. Assoc.. 71(4), pp. 380-385. outubro 1983. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc227258/pdf/mlab00068-0030.pdf. Acedido em: 10/04/12. [2] Levy, P. Cyberdémocratie. Paris: Editions Odile Jacob. 2002. [3] Lisbôa, E.S. Aprendizagem Informal na Web Social? Um estudo na rede social Orkut. Dissertação de Mestrado em Ciência da Educação. Braga: Universidade do Minho. maio 2010. [4] Castells, M. A. Era da Informação: economia, sociedade e cultura. O fim do Milénio. Vol. 3. São Paulo: Paz e terra. 1999. [5] Castells, M. A. Era da informação: Economia, Sociedade e Cultura. A Sociedade em Rede. Volume I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2000. [6] Recuero, R. da C. Comunidades Virtuais: Uma Abordagem Teórica. In: Anais do V Seminário Internacional de Comunicação, no GT de Comunicação e Tecnologia das Mídias, promovido pela PUC/RS. 2001. Disponível em: http://pontomidia.com.br/raquel/teorica.htm. Acedido em: 12/02/2012. [7] Castells, M. A Galáxia Internet: Reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2004. [8] Levy, P. A Inteligência Coletiva Por uma Antropologia do Ciberespaço. São Paulo: Loyola. 1998. [9] Henri, F.; Pudelko, B. Understanding and analysing activity and learning in virtual communities. Canada: Journal of Computer Assisted Learning. 2003. Disponível em: http://hal.archives-ouvertes.fr/docs/00/19/02/67/pdf/henri- France-2003.pdf. Acedido em: 10/04/12. [10] Szabo, I.; Silva, R. Uma revisão da classificação de comunidades virtuais proposta por Henri e Pudelko. In: Revista Inf. & Soc.:V. 17, Nº.3, p.59-68, set./dez. 2007. Disponível em: http://www.twiki.ufba.br/twiki/pub/cridi/publica%e7%f5es/uma_revisao_da_clas sificacao.pdf. Acedido em: 10/04/12. [11] Takahashi, T. (Org). Sociedade da informação no Brasil: Livro Verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia. (2000). Disponível em: http://www.inst-informatica.pt/servicos/informacao-e-documentacao/bibliotecadigital/gestao-e-organizacao/brasil_livroverdesi.pdf. Acedido em: 24/03/12. [12] Machado, J. R.; Tijiboy, A.V. Redes Sociais Virtuais: um espaço para efetivação da aprendizagem cooperativa. Revista Novas tecnologias na educação. Volume 3. Número 1. CINTED- Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2005. Disponível em: http://www.inf.ufes.br/~cvnascimento/artigos/a37_redessociaisvirtuais.pdf. Acedido em: 12/02/2012.