Produção e comercialização do leite no assentamento. Santa Rita.



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Transcrição:

XXVII Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología. VIII Jornadas de Sociología de la Universidad de Buenos Aires. Asociación Latinoamericana de Sociología, Buenos Aires, 2009. Produção e comercialização do leite no assentamento. Santa Rita. Johnnescley Anes De Morais, Franciele Santos Rodrigues, João Batista Da Luz Souza, Maria Aparecida Alves, Maria Nezilda Culti, José M. B. Andrade y Júlio C. Damasceno. Cita: Johnnescley Anes De Morais, Franciele Santos Rodrigues, João Batista Da Luz Souza, Maria Aparecida Alves, Maria Nezilda Culti, José M. B. Andrade y Júlio C. Damasceno (2009). Produção e comercialização do leite no assentamento. Santa Rita. XXVII Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología. VIII Jornadas de Sociología de la Universidad de Buenos Aires. Asociación Latinoamericana de Sociología, Buenos Aires. Dirección estable: http://www.aacademica.org/000-062/2220 Acta Académica es un proyecto académico sin fines de lucro enmarcado en la iniciativa de acceso abierto. Acta Académica fue creado para facilitar a investigadores de todo el mundo el compartir su producción académica. Para crear un perfil gratuitamente o acceder a otros trabajos visite: http://www.aacademica.org.

Produção e comercialização do leite no assentamento Santa Rita JOHNNESCLEY ANES DE MORAIS1; FRANCIELE SANTOS RODRIGUES2; JOÃO BATISTA DA LUZ SOUZA3; MARIA APARECIDA ALVES4; MARIA NEZILDA CULTI5; JOSÉ M. B. ANDRADE6; JÚLIO C. DAMASCENO7 RESUMO: O assentamento da reforma agrária Santa Rita fica no município de Peabiru, região noroeste do Estado do Paraná e foi criado pelo INCRA há oito anos. Ali vivem 85 famílias assentadas em lotes com áreas em torno de 17 ha, das quais 47 se dedicam à produção de leite. O presente trabalho teve como objetivo aumentar o volume de leite produzido para comercialização conjunta no assentamento. O método utilizado foi à entrevista dirigida através da elaboração de um questionário, além do diálogo mais ampliado e observações nas propriedades. O número de cabeças de vaca é de 431, sendo de raça não definida, mas com maior aptidão para leite que para corte. Com uma média de 9 cabeças de vaca por família, a produção diária gira em torno dos 40 litros. Os produtores recebem uma média de R$ 0,47 por litro.o assentamento hoje conta com seis resfriadores, sendo dois comunitários e quatro particulares. Os envolvidos no projeto vêm desenvolvendo estudos técnicos sobre distribuição e mercado, visando melhorar a comercialização e promoção da solidariedade e a autogestão a partir dos princípios da economia solidária. - 1 -

1. INTRODUÇÃO A agricultura familiar constitui uma forma de produção determinada pela relação dependente entre o trabalho, a terra e a família. No Brasil existem 4,14 milhões de estabelecimentos de agricultores familiares (TREDEZINI, FILHO, ARRUDA, SANTOS E SILVA, 2007). Esses agricultores representam, segundo Buainain (2003), 85,2% do total de estabelecimentos, ocupando 30,5% da área total e são responsáveis por 37,9% do valor bruto da produção agropecuária nacional. Quando considerado o valor da renda total agropecuária (RT) de todo o Brasil, os estabelecimentos familiares respondem por 50,9% do total de R$ 22 bilhões. Este conjunto de informações revela que os agricultores familiares utilizam os recursos produtivos de forma mais eficiente que os patronais, pois, mesmo detendo menor proporção da terra e do financiamento disponível, produzem e empregam mais do que os patronais. Com a criação e regulamentação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), foi possível promover crescimento e desenvolvimento sustentável aos agricultores familiares, proporcionando o aumento da capacidade produtiva e consequentemente fortalecendo as atividades rurais, gerando assim, emprego, renda e contribuindo para a permanência do agricultor no campo (SOUZA, FILHO, MAIA, CAMPELO, SERRA, 2007). De acordo com Bergamasco e Norder (1996), assentamentos rurais podem ser definidos como a criação de novas unidades de produção agrícola, gerados pelo surgimento de novas formas de organização por meio de políticas governamentais, visando o reordenamento do uso da terra em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra. No ano de 1996 o INCRA(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) desapropriou, para fins de reforma agrária, o imóvel rural conhecido como Fazenda Santa Rita, com área de 1.713,50 ha (um mil, setecentos e treze hectares e cinqüenta ares), situado no município de Peabiru/PR. Em pesquisa realizada por Ribeiro, Faria, Amorim e Oliveira (2007), é afirmado que os rendimentos agropecuários se destacam na geração de renda de famílias assentadas, - 2 -

destacando-se a renda proveniente da atividade leiteira, incluindo rendimentos com a venda do leite e seus derivados. As famílias assentadas no Santa Rita possuem como principal atividade econômica a pecuária leiteira. Segundo Tarsitano (2008), essa atividade no Brasil como um todo, passou por transformações significativas, para aumentar a produtividade como forma de compensar a queda dos preços. Foram realizadas ações concretas para a melhoria da qualidade do leite, como a refrigeração em nível de produtor e a coleta a granel em tanques isotérmicos. No campo, observou-se a união dos produtores de leite na formação de grupos de produção e comercialização com o objetivo de aumentar o volume de leite produzido. Muitos se estruturam em associações para aumentarem seu poder de negociação, visto que essa ocorre de empresa para empresa de forma legal. Nesse contexto, tais questões motivaram o Núcleo/Incubadora Unitrabalho UEM a realizar ações de ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) no sentido de estruturar e melhorar a produção dos produtores de leite e promover uma economia mais solidária no assentamento Santa Rita na região Noroeste do Estado de Paraná. 2. METODOLOGIA A presente pesquisa é parte integrante de um projeto maior, cujo objetivo é organizar e fortalecer os sistemas produtivos de leite e de maracujá orgânico em propriedades de agricultores familiares residentes nos municípios de Quinta do Sol, Nova Tebas e Peabiru, região noroeste do Estado do Paraná, em termos de organização dos sistemas de produção e fomento do trabalho coletivo ou associatividade nos princípios da economia solidária. O método utilizado baseou-se na entrevista dirigida a todos os produtores de leite, através da elaboração de um questionário contendo todos os pontos de interesse, além do diálogo mais ampliado e observação nas propriedades. Inicialmente foram realizadas visitas aos técnicos da Fundação Terra e EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) responsáveis pelo assentamento Santa Rita, visando conhecer o papel desta assistência. O método pedagógico praticado consiste num processo de construção dialógico e participativo entre os membros da equipe orientadora e os produtores atendidos, - 3 -

procurando respeitar os limites e tempo dos produtores, visando a união e troca de saberes acadêmicos e de saberes populares, a compreensão das bases técnicas produtivas e o estímulo à formação da identidade de grupo entre os produtores. O procedimento metodológico congrega o acompanhamento sistemático e o assessoramento das atividades práticas no aspecto técnico da produção, da organização coletiva de trabalho autogestionário, da melhoria na geração de renda com a inserção eficiente e ativa dos produtos no mercado. O questionário serviu de base para levantar as demandas de produção e os principais problemas referentes à produção e comercialização do leite no assentamento. Estas informações foram importantes para subsidiar a entrevista com o prefeito do município, a fim de firmar parcerias com o mesmo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. História e Caracterização da Região de Peabiru (PR) A história do município de Peabiru está ligada à história do famoso Caminho do Peabiru, que se estendia por mais de mil e duzentos quilômetros da costa do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, atravessando os rios Tibagi, Ivaí e Piquiri, pelos quais passou a grande Expedição organizada pelo Capitão Mor Afonso Botelho de San Payo e Souza., em 1769. O desenvolvimento da região se deu de maneira decisiva em 1903, quando inúmeros colonizadores acompanhados de suas respectivas famílias construíram suas casas e se dedicaram à agricultura, incentivando a vinda de novas famílias à região. A área compreendida entre o Rio Dezenove ao Rio Ivaí, passou a ser conhecida com Sertãozinho, e foi o marco inicial para a formação do povoado do mesmo nome. Entre os anos de 1940 a 1941, o interventor Manoel Ribas, procurando expandir a colonização do Estado do Paraná, efetuou a distribuição de posses de terras aos colonizadores, por meio do Departamento de Geografia, Terras e Colonização do Estado do Paraná. A região em que está inserido o Assentamento Santa Rita faz parte do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Campo Mourão. O Projeto Assentamento Santa Rita possui uma área de 1.713,50 ha, sendo que deste total 363 hectares foram destinados à Reserva Legal onde estão assentadas 85 famílias, sendo em lotes de 17 ha em média. A 4

criação desse assentamento se iniciou quando a fazenda Santa Rita, depois de decretada a falência do seu proprietário, um grande pecuarista da região, lavrado em vistoria do INCRA em 1996. No momento de alta produção a propriedade possuía 5.000 cabeças de gado da raça Nelore, assim como um haras com cavalos da raça Quarto de Milha. Em 1997, o MST (Movimento Sem Terra) e o INCRA organizaram os grupos para ocupação da fazenda. O Santa Rita foi o primeiro assentamento instalado na região Noroeste do Paraná.. A princípio foram 120 famílias acampadas, sendo conhecido como Acampamento Baia. A área total foi dividida em 85 lotes. Das 10 famílias de trabalhadores que moravam na fazenda, apenas dois permaneceram acampados juntamente com outras famílias. Em 1998, as famílias conseguiram finalmente ocupar os lotes; estes foram escolhidos por sorteio. Um desses assentados é o produtor Osmar de Souza (50 anos), que mantém em sua propriedade a produção de leite, maracujá orgânico, frango caipira, frutas, verduras e hortaliças, tornando - se uma propriedade modelo e garantindo uma agricultura familiar e sustentável. Atualmente no assentamento existem seis resfriadores de leite, sendo dois comunitários e quatro particulares, as 85 famílias assentadas possuem como principal atividade econômica a pecuária leiteira, seguida pelas culturas anuais, como milho e soja. Também são produzidos café, mandioca e maracujá. No que se refere às olerícolas, este ainda esta em fase de implantação por um grupo de produtores do assentamento. Com relação ao trabalho das mulheres desenvolvido no assentamento, ressalta-se que apenas 2,63% das mulheres pesquisadas exercem exclusivamente trabalho doméstico, a grande maioria, 89,4%, acumulam funções domésticas e agrícolas dentro do lote, como por exemplo, a responsabilidade pela ordenha. Figura 01. Croqui do Estado do Paraná destacando a cidade de Peabiru. 5

São 431 cabeças de vaca sem raça definida, mas com maior aptidão para leite do que para corte. Com uma média de nove cabeças de vacas por família, a produção diária gira em torno dos 40 litros, configurando assim, uma baixa produção. Uma limitação para que os assentados aumentem a produtividade de leite através de investimentos na renovação de pastagens, na alimentação do gado, entre outros, é a falta de recursos financeiros, ou seja, as dificuldades para que se consiga efetivamente o acesso ao financiamento de suas atividades. 3.2 - Tecnologia e Produção de Leite A pecuária leiteira está presente em quase todos os lotes do assentamento e sua predominância está ancorada em um conjunto de fatores. A principal razão de adotarem essa atividade está no fato de se garantir uma renda mensal, ou seja, a garantia de entradas monetárias mínimas a cada período; sendo pouco mais que um salário mínimo/mês, de modo que possam assumir compromissos de despesas no período com certa segurança. De forma complementar, mas não menos importante, tem-se a possibilidade de vender os bezerros a cada ciclo reprodutivo. Além disso, é uma atividade de baixo risco. A comercialização é garantida e mesmo as oscilações de preços apresentam certa previsibilidade quando comparada, por exemplo, com as culturas anuais. Verificou-se que no momento da realização da pesquisa, todos os produtores possuíam bezerros, o que, como dito anteriormente, vem a ser uma importante fonte de renda. Muito embora nenhum produtor tenha declarado realizar inseminação artificial, somente 72,30% possuem touro, os 27,70% restantes certamente emprestam o animal para reprodução, geralmente de um vizinho. Apesar dos produtores dedicarem-se prioritariamente à pecuária de leite, apenas 59,57% dos produtores possuem galpão, mas a maioria realiza a ordenha em local descoberto, o que é um problema para os produtores, principalmente nos dias de chuva na hora da ordenha. Além disso, o tamanho e o material utilizado na construção dos galpões variam 6

muito, enquanto em alguns lotes o galpão é apenas cercado com arame, em outros é de alvenaria. Verificou-se também que a grande maioria possui algum tipo de automóvel, utilizado principalmente para o transporte do leite do lote até os resfriadores. Apenas sete produtores declararam possuir ordenhadeira mecânica, muito embora alguns tenham colocado a importância e a necessidade de adquirirem esse equipamento, pois contam que apenas com sua própria mão-de-obra e da mulher (esposa) o trabalho fica muito difícil na produção de leite. O padrão tecnológico relativo á pecuária pelos produtores de leite pode ser avaliado no gráfico 1. Observa-se que 100% dos produtores de leite pesquisados vacinam seus animais. No período da seca, todos os produtores pesquisados utilizam cana de açúcar (Saccharum L.) e/ou capim napier (Pennisetum sp) para alimentação dos animais, época em que o preço é mais elevado. Gráfico 1 - Participação Percentual dos Fatores Tecnológicos Relativos à Pecuária pelos Produtores de Leite Pesquisados no Assentamento Santa Rita, Estado do Paraná, 2009. Fonte: Dados da pesquisa. Durante a pesquisa de campo, observou-se que vários produtores vêm investindo na atividade, especialmente em relação à alimentação dos animais, com a formação de piquetes com cerca elétrica para pastejo rotacionado. Mas a maioria ainda pretende aumentar a atividade leiteira, melhorando a pastagem, com adubação anual, adquirindo 7

vacas mais produtivas, cobrindo o curral, utilizando uma alimentação adequada para os animais principalmente no período da seca. 3.3 - Parcerias e Apoio na Atividade Leiteira Além da Fundação Terra, o assentamento também conta com o apoio da Incubadora UNITRABALHO/UEM, que se dedica a organizar e acompanhar (incubação) grupos e empreendimentos nos princípios da economia solidária. A Incubadora realiza um Projeto de Assistência Técnica ao Produtor de Leite, implantado no Assentamento Santa Rita desde 2008, executado com docentes, técnicos e alunos da Universidade Estadual de Maringá UEM. Este projeto atende quatro assentamentos na região de Peabiru, sendo: Roncador, Marajó, Monte Alto e Santa Rita, com um total de 200 famílias. O Projeto tem como objetivos, desenvolver a pequena produção de leite, garantir a sua permanência, melhorar o desempenho econômico e técnica das propriedades com vistas a garantir sustentabilidade as propriedades. Dentre as metas do projeto destacam-se: oferecer condições para estruturar a produção leiteira e acompanhar as unidades produtivas atendidas nos municípios atingidos pelo Projeto; adequação da relação oferta de alimentos e demanda do rebanho; planejamento do fornecimento anual de alimentos e trabalho em conjunto com a reprodução e os resultados produtivos; melhoria nos índices de IDH dos municípios envolvidos através da implementação de unidades autogestionárias de economia solidária formadas por agricultores familiares. No aspecto do associativismo, que implica a prática do coletivo e da solidariedade, o assentamento apresenta uma situação muito frágil que precisa ser modificada para fortalecê-los enquanto pequenos produtores, com vistas à inserção no mercado. Apesar de terem sua origem num histórico de luta pela terra, os laços não se fortaleceram depois da posse. Contrariando isso, o que se levantou e se observa na pesquisa, demonstra a existência de produtores agregados em pequenos grupos ou sozinhos, fragilizando uma estratégia de ação coletiva maior, especialmente para a comercialização. 3.4 - Renda Bruta Monetária do Leite 8

Os dados de renda bruta monetária apresentada a seguir foram levantados diretamente dos questionários aplicados aos produtores de leite do Assentamento Santa Rita, resultado das entrevistas realizadas com 100% dos produtores de leite do assentamento. Os valores de renda foram calculados considerando a quantidade produzida de leite e os preços médios correntes obtidos durante o ano de 2008/09. Considerou-se para cada produtor de leite, a sua produção média diária de leite em oito meses (período das águas) e o preço médio obtido por litro neste período (R$0,51/l) e a produção média diária de leite em quatro meses (período da seca) e o preço médio obtido na entressafra (R$0,47/l). Os resultados foram estimados em número de salários mínimos (SM) da época da pesquisa (R$ 415,00). O gráfico 2 mostra a distribuição por faixa de renda monetária bruta total mensal em salários mínimos dos produtores de leite, obtidas nos lotes do Assentamento Santa Rita no ano de 2008/09. Do total dos produtores, mais da metade obtiveram renda monetária bruta mensal de até dois salários mínimos, isto é, R$ 830,00. Deve-se ressaltar que esses valores foram estimados considerando que todos os dias o leite produzido foi comercializado, muito embora nas entrevistas realizadas alguns assentados mencionassem que em dias de chuva muitos produtores podem perder a produção se o leiteiro não conseguir transitar pelas estradas internas do assentamento para buscar o leite nos tanques de resfriamento. Neste caso o leite é perdido. Pelos questionários aplicados foi possível verificar que todos os produtores de leite pretendem expandir a produção em 100% até final do ano. Para tanto, os técnicos vinculados ao projeto darão todo suporte técnico necessário. Esta assistência possibilitará não só o aumento da produção como consequentemente da renda bruta destas famílias, melhorando assim sua qualidade de vida. 9

Gráfico 2 - Estratificação da Renda Bruta de Leite Mensal dos Produtores de Leite do Assentamento Santa Rita, Estado do Paraná, 2009. Fonte: Dados da pesquisa. 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos dados obtidos na pesquisa permitiu, por um lado, verificar o interesse dos assentados em investir na atividade leiteira e por outro, vislumbrar a importância da pecuária leiteira para a geração de renda no assentamento. Com uma produtividade média diária de 4,44 litros por vaca, a renda bruta monetária média mensal do leite em 2008 foi de dois SM (R$830,00), valor importante e significativo, pois se constitui, para a maioria, na principal fonte de renda no lote. Os resultados obtidos mostram claramente que os assentados podem contribuir para o desenvolvimento local, desde que haja um esforço das instituições públicas e privadas e da sociedade como um todo no sentido tanto de remover obstáculos, como de apoiar as iniciativas dos agricultores, sobretudo na atividade leiteira. Ë de suma importância a continuidade dessas ações para a sustentabilidade sócioeconômica dos assentados. 1 Engenheiro Agrônomo, técnico-bolsista do Programa Universidade Sem Fronteiras, UEM, Maringá/PR (email: jh_anes@hotmail.com). 2 Zootecnista, técnica-bolsista do Programa Universidade Sem Fronteiras, UEM - Maringá/PR. 3 Economista, técnico-bolsista do Programa Universidade Sem Fronteiras, UEM Maringá/PR. 4 Psicóloga, técnica UNITRABALHO/UEM Maringá 5 Economista, Doutora, professora da UEM/DCO Maringá 6 Engenheiro Agrônomo, Doutor, professor da UEM/DCA Maringá. 7 Zootecnista, Doutor, professor da UEM/DZO Maringá. 10

Referências o BERGAMASCO, S. M. P. P.; NORDER, L. A. C. O que são assentamentos rurais. São Paulo: Brasiliense, 1996. 87 p. (Coleção Primeiros Passos, 301). o RIBEIRO, R. A.; FARIA, A. P.; AMORIM, I.; OLIVEIRA, R. Estratégia de Reprodução das Famílias Assentadas em Minas Gerais. In: III JORNADA DE ESTUDOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS, 2007, Campinas (SP), Anais... Campinas: FEAGRI/UNICAMP, 2007. o SOUZA, M. P.; FILHO, T. S.; MAIA, M. B.; CAMPELO, L. S.; SERRA, N. M. Aplicação dos Recursos de Crédito PRONAF nos Assentamentos Rurais em Rondônia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA o TARSITANO, M.A.A. et al. Tecnologia e Renda dos Produtores de Leite do Assentamento Timboré (SP). In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 45, 2007, Londrina (PR), Anais... Londrina: SOBER, 2007. o TREDEZINI, C. A. O.; LIMA, D. O. F.; ARRUDA, E. E.; SANTOS, J. R. J.; SILVA, M. G. E. Assentamentos Rurais na Microrregião do Baixo Pantanal: Caracterização Produtiva Social. In: III JORNADA DE ESTUDOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS, 2007, Campinas (SP), Anais... Campinas: FEAGRI/UNICAMP, 2007. - 11 -