O custo é imediato. O retorno... ESTUDO EXAME - RIO+20 PESQUISA Ser sustentável sai caro, e essa ainda é a principal barreira para que as empresas adotem práticas ambientalmente responsáveis, revela uma pesquisa com presidentes de empresas MARIANA SEGALA LOGO QUE A MULTINACIONAL ALEMÃ HENKEL - DONA de marcas como Super Bonder e Pritt - comprou a Alba Adesivos, fabricante de colas do interiordesão Paulo,em 2006, seus executivosreceberam uma missão. Seguindo as práticas da matriz, a primeira grande tarefa era eliminar o uso do solvente toluol, o que dava à Cascola Tradicional, carro-chefe dos produtos da Alba, o cheiro característico da "cola de sapateiro". Do início ao fim, a mudança na fórmula do produto envolveu custos. Primeiro, encontrar o substituto ideal para o toluol. Depois, absorver os gastos com a produção, encarecidos em 10%, sem aumentar o preço final. O mais difícil, no entanto, foi convencer uma legião de marceneiros, principal público do produto, de que o cheiro diferente da nova versão lançada em 2009 não era sinônimo de cola mais "fraca". Foi necessário organizar cursos e palestras para 40 000 marceneiros de norte asul do paíssobre as vantagens do produtoecomo usá-lo adequadamente. "Felizmente, a ideia pegou", diz Sérgio Crude, responsável pela área de sustentabilidade da empresa. Segundo a Henkel, as vendascaíram no anodamudança,masvoltaram asubir nos anos seguintes. Custos adicionais com substituição de matérias-primas ou aperfeiçoamento de processos produtivos são considerados pelo alto escalão das grandes companhias a principal barreira para a adoção de medidas ambientalmente responsáveis, aponta um levantamento exclusivo realizado pela Confederação Nacional da Indústria com 60 presidentes, vice-presidentes e diretores de sustentabilidade brasileiros. A pesquisa Os Desafios da pg.1
Sustentabilidade na Indústria Brasileira indica também que o país ainda sofre com a pouca valorização dada ao tema da sustentabilidade. Embora as pesquisas mais recentes sugiram que mais da metade dos brasileiros ouvidos está disposta a pagar mais por um produto ambientalmente correto, na prática o que se vê é o oposto. Menos de um quinto opta pelas alternativas mais sustentáveis ou deixa de lado produtos nocivos ao meio ambiente. "Não dá para esperar que o consumidor desembolse além de 10% mais por um produto verde", diz Alfred Hackenberger, presidente da Basf no Brasil. Nem mesmo empresas dedicadas a vincular a marca à sustentabilidade, como a fabricante de cosméticos Natura, enxergam nesse atributo isolado o grande atrativo para o consumidor. No Brasil, a proposta verde é apenas parte da história. A situaçãoésemelhante para quem tem o governocomo cliente. As medidas adotadas para mitigar os efeitos ambientais custam, em geral, até 1,5% do valor das grandes obras executadas pela construtora Camargo Corrêa. O problema é que esse acréscimo não é levado em conta pelos contratantes. "Chegamos a abrir mão de margem para manter os preços competitivos", diz Marcelo Bisordi, vice-presidente de relações institucionais da construtora. Para a maioria dos executivos ouvidos pela CNI, as regras do jogo deveriam mudar. O governo, dizem os entrevistados, poderia ser o indutor de práticas sustentáveis. "Além do preço, as licitações públicas deveriam atribuir valor a critérios mínimos de sustentabilidade. Isso é política pública, não subsídio", avalia Adriana Machado, presidente da americana GE no Brasil. WALTER DE SIMONI Presidente da Anglo American Mesmo sabendo que o governo e o consumidor não desembolsam mais por um serviço ou produto sustentável, muitas empresas decidem correr atrás de alternativas para viabilizar seus projetos verdes. "Desenvolver tecnologias que permitam cortar custos é uma. Montar projetos em parceria com fornecedores, em que cada lado assume parte dos custos, é outra", diz Marcelo Martins, presidente da pg.2
multinacional do setor agrícola Cargill no Brasil. Para muitas empresas, ignorar a busca por práticas mais sustentáveis não é uma opção - por questões que vão desde possíveis danos para a imagem até a crença de que em breve a tal cultura pró-sustentabilidade irá criar raízes por aqui. "É uma questão de tempo", afirma Kami Saidi, diretor de sustentabilidade da fabricante de computadores HP. Há seis anos a empresa recolhe e recicla equipamentos descartados pelos consumidores. Os cartuchos de tinta novos têm 70% de componentes reutilizados, mas os ganhos com o reaproveitamento não cobrem nem 10% dos custos. Quase tudo é bancado com o objetivo de a HP ser reconhecida quando o movimento dos consumidores conscientes se tornar mais evidente. ADRIANA MACHADO Presidente da GE "Espero que, com o tempo, os consumidores passam a privilegiar as empresas sustentáveis" WALTER DE SIMONI Presidente da Anglo American "Além de preço, as licitações públicas deveriam embutir critérios de sustentabilidade" ADRIANA MACHADO Presidente da GE MARCELO MARTINS Presidente da Cargill "Parcerias com fornecedores e tecnologias que permitam cortar práticas sustentáveis" pg.3
MARCELO MARTINS Presidente da Cargill "Não dá para esperar que o consumidor desembolse além de 5% ou 10% mais por um produto verde" ALFRED HACKENBERGER Presidente da Basf ALFRED HACKENBERGER Presidente da Basf A ONDA VERDE Essa aposta é uma tendência mundial. Segundo uma pesquisa da escola de negócios Sloam, do Massachusetts Institute of Technology, a percepção de que os consumidores vão preferir produtos sustentáveis foi o fator crucial para a adoção de práticas verdes para 41% das 3000 empresas ouvidas. De acordo com um levantamento da consultoria americana PricewaterhouseCoopers com 17 dos maiores fundos de private equity, adotar ações sustentáveis gera valor para as companhias que compram. A maior parte dos presidentes ouvidos pela CNI vai na mesma linha. No total, quase 40% afirmam que deixar de agir de forma sustentável pode custar a sobrevivência do negócio. "Investir em práticas ambientalmente mais corretas éumcaminhosemvolta", diz Walter De Simoni, presidente da mineradora Anglo American no Brasil. Ainda de acordo com a pesquisa CNI, dois terços das empresas ouvidas reconhecem que a adoção de práticas sustentáveis tem um forte impacto sobre a imagem. "Desdenhar a sustentabilidade pode causar um dano irreparável", afirma Robson Braga, presidente da CNI. Apesar da percepção generalizada de que o tema é estratégico, basta assistir a comerciais de televisão e comparar o pg.4
poderia se transformar mais adiante em um passivo ambiental - um fator cada vez mais presente nos cálculos de parte do meio empresarial brasileiro. =========================================== INFOGRÁFICO: Sustentabilidade corporativa Região de Mata Atlântica, no Rio de Janeiro: investir em sustentabilidade é ainda mais relevante para empresas que dependem de recursos naturais que dizem as empresas e o que elas efetivamente fazem para constatar que ainda existe muita gente que confunde sustentabilidade com ações de marketing. Há também aquelas que tentam desviar a atenção de suas verdadeiras obrigações - são, por exemplo, grandes consumidoras de eletricidade sem nenhuma meta para aumentar a eficiência energética, mas que montam programas ambientais voltados para Outros temas e fazem um grande alarde disso. No caso de algumas companhias dependentes de recursos naturais, porém, os investimentos em sustentabilidade são inevitáveis. "Sem reflorestamento, simplesmente ficamos sem matéria-prima", diz Paulo Brant, presidente da Cenibra, do setor de celulose. O exemplo da fábrica da Unilever na cidade mineira de Pouso Alegre, onde são produzidos caldos, molhos e produtos derivados de soja, mostra que nem sempre sustentabilidade é sinônimo de custos maiores. Para dar conta da demanda, a empresa decidiu construir uma nova caldeira, que será inaugurada em agosto. A opção por instalar uma movida a biomassa no lugar de uma tradicional, alimentada a óleo diesel, vai sair 60% a mais. A partir do quarto ano de operação, no entanto, a caldeira alimentada por restos de madeira se tornará mais barata. Além de, no longo prazo, baixar os custos, a empresa se livrou do que Os executivos de 60 grandes empresas no país veem a sustentabilidadecomo vitalpara os negócios, masadmitem queos custos são aprincipal barreirapara adotá-la A que nível organizacional as ações de sustentabilidade estão vinculadas? Presidência 50% Outros 7% Gerência 7% Vice-Presidência 14% Diretoria 22% Qual é a tendência de seu investimento em sustentabilidade em dois anos? Crescimento 75% Estabilidade 19% Não respondeu 3% Redução 3% De zero a 10, qual é o impacto positivo da sustentabilidade em sua competitividade? De 8 a 10-64% pg.5
De 5 a 7-29% De zero a 4-7% Quais são os riscos de não agir em relação à sustentabilidade? (1) Não respondeu - 2% Colocar em risco a sobrevivência da empresa - 39% Perder competitividade - 2% Perder licenças - 14% Ameaçar o planeta - 25% Quais são as principaisbarreiras àação naárea dasustentabilidade? Custos adicionais - 50% Falta de cultura de sustentabilidade - 45% Falta de regulação -18% Falta de incentivo - 15% Falta de tecnologia - 13% Falta de mão de obra - 8% 1. Pergunta de respostas múltiplas Fontes CNI e FSB ter impacto negativo na imagem - 18% pg.6