RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS POR MEIO DA



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Transcrição:

RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS POR MEIO DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA RECUPERANDOS EM REGIME SEMI ABERTO CEFOP Quésia da Cunha Oliveira Regiane Kieper do Nascimento Regina Célia Vieira Ragassi

II Congresso Consad de Gestão Pública Painel 62: Gestão em segurança pública RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS POR MEIO DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA RECUPERANDOS EM REGIME SEMI ABERTO CEFOP RESUMO Quésia da Cunha Oliveira Regiane Kieper do Nascimento Regina Célia Vieira Ragassi Examina se neste artigo como o projeto Centro de Formação Profissional da Penitenciária Agrícola insere um modelo de ressocialização por meio de parcerias com intituições de qualificação profissional buscando consolidar a cultura profissionalizante, educativa e empreendedora que permita resgatar a cidadania e o valor produtivo dos presos. Visa ainda, assegurar a ressocialização como previsto na Lei de Execução Penal, por meio do desenvolvimento de ações que intercedam pela maior empregabilidade e que respaldem a preparação para o mundo do trabalho, de forma crítica, consciente e autônoma, como dever do Estado e de toda a sociedade. Implica numa mudança de paradigmas em que a qualificação é de natureza preventiva e inclusiva. Portanto, a qualificação alia também uma conduta que combina valores econômicos e sociais. Ao desenvolver projetos que envolvem a formação de presos, o estado promove oportunidades, vez que o trabalho só ajuda a recuperar e a reintegrar o preso na comunidade na medida em que contém os ingredientes requeridos pelo mercado e que ele, preso se apropria dos elementos próprios da cultura do trabalho, como a disciplina, o trabalho em equipe, a responsabilidade solidária e a subordinação a uma rotina ditada pelo próprio meio de produção. A qualificação nas prisões, prepara para uma nova vida, e nesse sentido, tem como meta, ampliar para todas as unidades prisionais como mecanismo de combate a criminalidade e a reincidência criminal com o envolvimento da sociedade para o enfrentamento das desigualdades sociais que exclui jovens em fase produtiva dos mecanismos de inclusão social. Palavras-chave: Qualificação profissional. Ressocialização. Oportunidade. Reinserção social.

2...E sem o seu trabalho, o homem não tem honra E sem a sua honra, se morre, se mata... O Brasil, embora tenha demonstrado uma pequena melhora quanto à desigualdade social e à pobreza, continua sofrendo pressões sociais internas e externas. Em particular, chama a atenção o agravamento da violência urbana. A existência de bolsões de pobreza e os altos índices de desigualdades sociais, aliados às dificuldades de governança na área de segurança pública, pode ser apontado como responsáveis pela expansão da violência que tanto mal causa à sociedade. São várias as causas e de difícil depuração, a concentração da população nos grandes centros urbanos, a desigualdade social, a má distribuição de renda, a herança maldita de colonização, escravização, corrupção são algumas das causas apontadas que resultam um processo de aumento da criminalidade e conseqüentemente da população carcerária em numero e perfil. Não se pode negar a falência da segurança pública no país, demonstrado pelos crescentes índices de violência e aprisionamento e, esse último, em unidades prisionais com pouca estrutura de recuperação. De acordo com Foucault, a prisão não dispõe de meios para recuperar o sujeito não existindo nenhuma garantia de alcance dos seus objetivos. [ ]...a idéia de uma reclusão penal é explicitamente criticada por muitos reformadores. Porque é incapaz de responder à especificidade dos crimes. Porque é desprovida de efeitos sobre o público. Porque é inútil à sociedade, até nociva e cara. Mantém os condenados na ociosidade, multiplica-lhe os vícios... [ ] (FOUCAULT,1996, p. 102). O processo de despersonalização do sujeito provocado pela ineficiência das prisões, é verificado pelos altos índices de reincidência criminal, sem no entanto termos indicadores confiáveis, e pelo acompanhamento daqueles que em condições de retorno à sociedade vêem se desprovidos de mecanismos de adaptação em função do aniquilamento, niilismo, degradação e estigmatização que a prisão produz. Importante destacar que a clausura é um paradoxo pela sua própria natureza, vez que se pretende readaptar para liberdade alguém em confinamento.

3 Os presos estão em situação de extrema vulnerabilidade social, pelo perfil, e pela estigmatização que a prisão produz e função social da pena é o de recuperação, mas isso só será possível mediante um novo modelo que responda aos anseios da sociedade, mas que também leve em consideração as necessidades e complexidades do sujeito que atende. Essa problemática nos traz o desafio de encarar e repensar nossa atual situação com a população carcerária, hoje ultrapassando mais 400.000 (quatrocentos mil) indivíduos, em quadro de superlotação, privados de liberdade e carentes de re-inserção na sociedade. O Brasil só perde para os Estados Unidos em quantitativo de pessoas presas. Um dado alarmante e assustador. Assustadora também é a constatação do perfil desse contingente de homens e mulheres constituído de jovens com baixa escolaridade, baixa qualificação profissional, com indicativo de desestruturação familiar, moradores de bairros com pouca infraestrutura e cobertura social. O encarceramento além de levar a uma ruptura social, provoca também, inegáveis malefícios a esses sujeitos, há uma ruptura da vida civil. O apenado perde ou vê fragilizados os papéis que representa no mundo social e sua identidade sofre uma despersonalização por efeitos do aprisionamento. A criminalidade está intimamente ligada à baixa escolaridade e a baixa qualificação profissionais e ambas à questão econômica e social. Desta forma é preciso desenvolver dentro das prisões projetos educacionais com caráter profissionalizante que aponte o caminho desta transformação. A proposição de um conceito de ressocialização de detentos, lastreado pelo trabalho e pela qualificação profissional, com o propósito de se adotar políticas mais eficientes de combate a estes déficits, baseia-se na afirmação inquestionável que o trabalho é fonte de equilíbrio na nossa sociedade e também como agente ressocializador nas prisões do mundo todo. [...] Por meio do trabalho os indivíduos garantem equilíbrio e melhor condicionamento psicológico, bem como melhor comprometimento social (LEMOS; MAZZILLI; KLERING,1998.p.146) Durante a formação profissional resgata-se a auto-estima, o respeito à lei, a promoção do desenvolvimento humano, o valor da cidadania; o respeito mútuo e os fortalecimento dos vínculos familiares, tanto com o recuperando em regime semiaberto quanto com as pessoas de laços consangüíneos, proporcionando a ambos uma estrutura sólida para o momento da volta ao convívio familiar, após o

4 cumprimento da sentença judicial. Sendo assim, a qualificação profissional possibilita, além de maiores chances de inclusão no mundo do trabalho, uma auto referência para resignificar suas vidas e ampliar suas escolhas. O desafio posto também está na superação dos diversos pontos de estrangulamento com a ausência de política publica no Brasil para homens e mulheres em qualificação profissional associado ao baixo nível de escolaridade. É clara a cobrança de experiência para inserção no mercado de trabalho e suas exigências estão pautadas legitimamente na ineficácia e ineficiência para atender as crescentes demandas do setor produtivo. Essas deficiências são marcantes em todo o Brasil para jovens e adultos em idade produtiva, mas muito mais relevante para as pessoas privadas de escolhas e confinadas a um sistema de pena essencialmente excludente. É um problema histórico, pois a educação e a profissionalização nunca foram valorizadas como fatores determinantes na superação das desigualdades sociais. É clara percepção de que é preciso empreender nos estabelecimentos penais medidas que assegurem não exclusivamente a privação de liberdade ao detento, pois embora muito complexo e até certo ponto pouco estudado, as necessidades reais apontam para o consenso acerca de alguns elementos centrais quanto ao tratamento penal a ser instituído nos estabelecimentos penais e esse empreendimento passa necessariamente pela implementação de açoes educaivas e profissionalizantes. No sistema prisional de todo páis, as atividades produtivas exercidas são, na maioria das vezes incipientes não configurando atividade estruturante e formadora de sujeitos capazes de retornar ao convívio social instrumentalizados pelo conhecimento técnico adquirido. É preciso reorganizar a forma de aplicação do trabalho, não devendo apenas ocupar o tempo ocioso, mas que seja capaz de preparar e oportunizar esses sujeitos para escolhas mais conscientes e transformadoras. As prisões, assim como as escolas nunca foram foram locais de investimento em formação profissional que valorizasse saber fazer. Com o efeito da globalização sobre a pressão da competitividade. As empresas tornaram-se mais pragmáticas e a procura por profissionais que saibam fazer despertou para a educação profissional uma saída para o atual déficit de mão-de-obra especializada. No entanto, este fenômeno não aconteceu com a mesma velocidade nas prisões. É

5 mister a necessidade de uma nova concepção de modelo de penitenciária que atinja concomitantemente a necessidade de manter o detento sob a tutela do Estado e de se proceder a sua ressocialização durante o cumprimento da pena com mecanismos reais de inserção social que perpasse pela qualificação profissionalizante. É necessário a criação de uma cultura interna dirigida a atividades laborterápicas e essencialmente formadora, portanto centrada em torno do trabalho com qualidade do detento. Art.34 2 o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios. (Incluído pela Lei n o 10.792, de 1 o.12.2003) Mas o grande desafio do setor público é implementar ações em parceria com as instituições qualificadoras para ofertar cursos que corrija o déficit social que impacta negativamente na inserção de homens e mulheres que estão à margem da sociedade coordenando as políticas voltadas para o desenvolvimento social e humano dos sentenciados das unidades prisionais e promovendo articulações de intercâmbio, cooperação técnica e integração de trabalho, órgãos públicos, particulares e ONGs, com vistas à inserção social dos presos, seus familiares, egressos e beneficiários. A aproximação das atividades produtivas praticadas nas prisões ao mercado de trabalho implica reconhecer que essa população está apta ao exercício da cidadania se a ela for direcionadas políticas de inserção social, e isto só vai acontecer por meio das parcerias estabelecidas com o setor produtivo de qualificação. A questão penitenciária não pode ser encarada apenas como um problema de governo, sua dimensão e complexidade são tantas que somente uma ação integrada que reúna esforços de toda sociedade e promova mudanças e ajuda mútua permitirá a descoberta de soluções para um problema que é de todos. O conceito de reitegração social requer a abertura de processo de Interações entre o cárcere e a sociedade, no qual os cidadãos recolhidos no cárcere se reconheçam na sociedade externa e a sociedade externa se reconheça no cárcere (BARATTA.1990. p.145.) A dinâmica da exclusão social passa por lacunas da sociedade nas quais operam forças degenerativas da figura do sujeito em privação de liberdade, já que os mesmos encaram uma forte política de incoerências econômicas e de relações sociais que consolida um sistema predominantemente excludente e

6 alienante. Com esse nivelamento, novos agentes sociais emergem e a descrença na oportunidade pela própria disfunção da capacidade de enxergá-las, converge em relações de desajustamento e violência criminal após a saída do sistema, por absoluta falta de perspectiva. É urgente a necessidade de implementar ações que visem equacionar uma política de qualificação e aprendizagem nas unidades prisionais que aproximem as demandas de profissionais qualificados à política de inclusão social como uma saída a essa cruel estigmatizante ciclo de aprisionamento e retorno à criminalidade. Ao ser posto em liberdade, toda a dificuldade de encontrar um lugar no mundo dificulta o direito ao exercício da cidadania. A saída gera sentimentos de angústia e ansiedade e sem as condições necessárias, o preso sente-se fragilizado frente ao novo, o que requer uma consistente preparação para essa liberdade. São muitas as dificuldades dos egressos em integrar-se ao convívio social, ao mercado de trabalho e conseqüentemente às atividades que contribuem para mantê-lo adaptável à sociedade que o excluiu com seus sistemas punitivos. Por outro lado a Lei de Execução Penal impõe ao Estado o dever de promover a ressocialização para preparar esta pessoa para a harmônica integração social, inclusive prevendo em seu artigo 25 a assistência ao egresso deve ser também material A assistência ao egresso consiste na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade... Lei 7210/84 Art. 25. A exemplo da realidade nacional, o problema da criminalidade no Estado do Espirito santo tem crescido diuturnamente atingindo todas as esferas sociais, configurando-se num fenômeno de análise complexa que impacta a imagem do estado em todas as esferas. O sistema penitenciário capixaba abriga uma população de mais de 7.000 presos, que apresenta em sua maioria um perfil de elevada exclusão social e assim como o perfil prisional brasileiro, também é medida por jovens com baixa escolaridade, baixa qualificação profissional, oriundos de lares desajustados e estreita relação com a violência.

7 *Fonte: SEJUS/DIGESP/INFOPEN Relatório de Fevereiro 2009. O Estado, a despeito de estar obrigado por Lei na implantação de programas de ressocialização, sozinho não possui estrutra suficiente para ofertar postos de trabalho e nem detém os mecanismos produtivos capazes de assegurar trabalho e profissionalização de todas as pessoas encarceradas. Por conseguinte, o Sistema Penitenciáro encarregado da tutela de homens e mulheres, não pode se restringir em elaborar projeto de cunho abrangente sem o envolvimento de todos os atores sociais. Neste sentido, o projeto Centro de Formação Profissional para Recuperandos em Regime Semi-aberto (CEFOP) propõe desenvolver ações e atividades em parceria com o IFES (antigo CEFETES), e com o Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo de forma responsável e colaborativa para a mudança efetiva da realidade que temos nos presídios em cumprimento do regime semi aberto quando o preso está mais perto da liberdade. Desta forma o primeiro passo foi Identificar a demanda espontânea dos arranjos produtivos do estado para em seguida delinear os cursos de qualificação profissional que melhor se enquadrasse nessa expectativa. Em seguida firmado parcerias com as instituições acima citadas pra efetivação do programa.

8 O fomento às parcerias é a melhor estratégia para diminuir preconceitos, resistências sociais com relação ao público encarcerado e atuar juntamente com a sociedade pela transformação e empoderamento desse grupo excluído e marginalizado. Neste sentido, o projeto atua com o conceito de ressocialização focado na qualificação profissional e no fortalecimento das relações de trabalho e por meio do envolvimento social, de forma a minimizar os efeitos do encarceramento e acima de tudo, resgatar o potencial produtivo de cada detento. A Penitenciária Agrícola localizada no município de Viana foi escolhida para o desenvolvimento do projeto por abrigar um contingente de homens em idade produtiva em cumprimento de regime semi aberto, portanto com proximidade de benefício para a liberdade. Um galpão antigo e abandonado foi escolhido para que a idéia de qualificação aliada ao processo metodológico de ensino eficaz focado em práticas pudesse ser realizado. Foram construídos três laboratórios: um de elétrica, um de bombeiro hidráulico e outro para serralheria com estrutura também de sala de aula, de forma que a educação seja permanente e indissociada ás atividades de cunho teórico/prático e orientada a formação profissional visando o desenvolvimento de competências e habilidades técnicas requeridas pelo mercado de trabalho. A metodologia é focada no desenvolvimento de habilidades concretas vivenciadas em sala de aula simulando os problemas e soluções a serem enfrentados na área profissional e mobilizando diferentes recursos que evoque a excelência na atividade de forma a determinar a prática profissional. Com a mobilização de outros parceiros foi adquirido ferramentas e equipamentos para que os laboratórios onde os cursos são ministrados tenham caráter profissionalizantes por meio dos recursos instrumentais disponíveis. O professor que é fornecido pelo IFES adota um conjunto de ações estratégicas que leva em consideração o tempo decorrido em que o aluno esteve ausente do processo educacional, criando ambiente receptivo e motivacional com ênfase no conteúdo, mas também na pluralidade e diversidade presente na sala de aula em função da especificidade do público alvo. Cada preso que participa da capacitação completa, recebe um certificado em que não consta nenhuma informação referente sua realização no sistema prisional. A carga horária, a qualidade, o formato do curso e suas adequações estão comprometidos com a inserção no mundo do trabalho na tentativa de eliminar os

9 obstáculos deletérios na recolocação dos mesmos nas atividades produtivas sejam elas formais ou informais. O projeto tem sua relevância por construir um modelo de ressocialização no sistema prisional capixaba que contribua para o desenvolvimento humano e a reinserção do preso na sociedade com maiores possibilidades de participação no mundo de trabalho, após terem sido capacitados para competir de forma segura, competente e responsável. A noção de qualificação profissional é uma das preocupações da sociologia do trabalho. Com isto, o que se pretende é ampliar e resgatar o valor produtivo, elevar as condições de profissionalização, bem como diminuir os índices de reincidência criminal resultantes da falta de condições próprias de vida e de trabalho, que instigam o retorno à criminalidade. Portanto, a inserção de outros atores para a consolidação desta tarefa é condição sine qua non para sua efetiva consolidação considerando a quebra dos paradigmas produtivos que exige profissionais com flexibilidade e amplo conhecimento dos novos métodos disponibilizados no mercado de forma a viabilizar o processo de ressocialização pelo trabalho, pela capacitação e pela profissionalização. Este projeto constitui-se assim, numa política preventiva na segurança pública/prisional por meio de parcerias e envolvimento responsável. A profissionalização quando vinculado a atividades genuinamente requeridas pelo mercado, adquire caráter estruturante, aumentando as chances de empregabilidade do detento e sua conseqüente reintegração social. A exigência de metodologia teórico/prática alia as novas competências requeridas fomentando uma formação integral como resultado da iniciativa. São desafios que pontuam formas mais abrangentes e organizadas de aprendizagem. Dentro dessa lógica o indivíduo aprende a auto gerenciar-se, refletir e verbalizar de forma mais intelectualizada e menos alienada contribuindo para o desenvolvimento integral e uma prática de participação mais consciente e coletiva. Essa aprendizagem possibilitará ao individuo perceber novas percepções com relações as suas escolhas de vida e resignificá-las. Esse novo processo resulta em novos comportamentos orientados as novas reações com impacto positivos nos campos emocionais, cognitivos, neurológicos, emocionais pela nova forma de ver o mundo como parte dele. Foucault, (1987, p.224) diz: A educação do detento é, por parte do poder público, ao mesmo tempo uma preocupação indispensável no interesse da sociedade e uma obrigação por parte do detento.

10 Em sua análise Paulo Freire (1980, p. 26) afirma que: A conscientização é[...]um teste de realidade. Quanto mais conscientização, mais dês-vela a realidade, mais se penetra na essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para analisá-lo. Por esta mesma razão, a conscientização não consiste em estar frente à realidade assumindo uma posição falsamente intelectual. A conscientização não pode existir fora da práxis, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constituí, de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens. A conscientização trabalha a favor da desmistificação de uma realidade e é a partir dela que uma educação dentro do sistema penitenciário vai dar o passo mais importante para uma verdadeira ressocialização de seus educandos, na medida em que consegue superar a falsa premissa de que, uma vez bandido, sempre bandido.

11 REFERÊNCIAS BARATTA, A. Por um concepto de reitegración social Del condenado. In: OLIVEIRA, E. (Coord). Criminologia critica. Forum Internacional de ciminologia Critica. Belém: Cejup, 1990. P.141-157 FOUCAULT; M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. VASSALO; L. M. P. Rio de Janeiro. 1984. Vozes. FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação; uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 102 p. LEI 7.210/1984 (Lei Ordinária). AUTORIA Quésia da Cunha Oliveira Filiação Institucional: Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo SEJUS. Instituto Federal do Espírito Santo IFES. Endereço eletrônico: quesiacunhasejus@hotmail.com Regiane Kieper do Nascimento Filiação Institucional: Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo SEJUS. Instituto Federal do Espírito Santo IFES. Endereço eletrônico: regiane.nascimento@sejus.es.gov.br Regina Célia Vieira Ragassi Filiação Institucional: Secretaria de Estado da Justiça do Espírito Santo SEJUS. Instituto Federal do Espírito Santo IFES. Endereço eletrônico: regina@cefetes.br