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Transcrição:

PROCESSO PGT/CCR/ICP 10947/2012 ORIGEM: PRT 10ª REGIÃO ÓRGÃO OFICIANTE: DR. ADÉLIO JUSTINO LUCAS INTERESSADO 1: COORDENAÇÃO NACIONAL DE COMBATE À EXPLORAÇÃO DO TRABALHO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COORDINFÂNCIA INTERESSADO 2: FÓRUM NACIONAL DE PREVENÇÃO E ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL ASSUNTO: Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (07.04.01.) TRABALHO INFANTIL. CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS. ÓRGÃOS PÚBLICOS. ATUAÇÃO MINISTERIAL. Não restou demonstrado no presente ser absolutamente imprescindível a participação de crianças e adolescentes em idade inferior a dezesseis anos nas campanhas publicitárias analisadas. Ademais, não restou comprovado nos autos sequer a presença dos parâmetros protetivos constantes da Orientação nº 2 da Coordinfância. Por fim, deve-se esclarecer que trabalho em publicidade não é o mesmo que trabalho artístico, impondo-se a vedação contida no art. 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal. Necessidade de que a investigação prossiga. Promoção de arquivamento não homologada. I RELATÓRIO

Trata-se de denúncia encaminhada pela Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente Coordinfância, em face de ofício recebido do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil FNPETI (fls. 05/06), em que solicita providências quanto à utilização de crianças e adolescentes na publicidade do Governo Federal (fl. 04). No ofício em questão, o FNPETI, conforme deliberação de sua plenária, solicita o apoio ministerial para uma interlocução com os órgãos públicos no sentido de recomendar que crianças e suas imagens não sejam utilizadas nas peças publicitárias e campanha institucionais, compreendendo que se trata de trabalho infantil, proibido para crianças e adolescentes abaixo de 16 anos, como disposto na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (fl. 06). Solicitação de teor semelhante foi também encaminhada pelo FNPETI ao então Exmo. Procurador-Geral do Trabalho (fls. 11/12), ressaltando que a presença de crianças e adolescentes, abaixo de dezesseis anos em peças publicitárias caracteriza situação de trabalho e as expõe a graves riscos para sua saúde física e para o seu pleno desenvolvimento psicológico e social, não se inserindo no conceito de participação artística. À vista do teor da denúncia, foi instaurado Inquérito Civil (fl. 22), arquivado mediante o relatório de fls. 35/38, por não restar demonstrado nos autos lesão ou ameaça de lesão a interesses metaindividuais de ordem trabalhista (fl. 38). Restou consignado pelo Órgão oficiante que a aparição de crianças e adolescentes nas aludidas campanhas,... guarda normal pertinência com o objeto de tais publicidades, tratando-se de mera participação artística, sem risco para a

saúde física, psicológica ou o desenvolvimento intelectual e social dos menores envolvidos (fl. 37). Os autos vieram a este Colegiado em atenção ao disposto no art. 10, 1º, da Resolução nº 69/2007 do CSMPT. Foram estes encaminhados à Coordinfância para manifestação, por envolverem matéria que se insere no âmbito da sua atuação (fl. 45). A sua manifestação se encontra a fls. 47/50. É, em síntese, o relatório. II VOTO Os presentes autos tratam da utilização de crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos em campanhas publicitárias. Segundo informações prestadas pelo Banco do Brasil S/A (fls. 33/34), foram várias as campanhas produzidas com a participação de crianças e adolescentes. Referidas campanhas foram realizadas pelas Agências de Publicidade que especifica, mediante contrato, alguns já encerrados. De outro lado, a Secretaria de Direitos Humanos informa a realização de duas campanhas desenvolvidas em parceria com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (fl. 30). Segundo relata o FNPETI em sua correspondência de fls. 11/12:

A deliberação de solicitar ao Ministério Público do Trabalho providências, nos termos acima propostos foi tomada, por unanimidade, na última plenária do Fórum Nacional, realizada no dia 05 e 06 de julho, em Brasília e resultou da constatação da grande incidência de crianças e adolescentes que são utilizadas pelos órgãos e instituições públicas para apresentar os resultados de sua atuação e divulgar novos programas. Contribuíram também, os debates e reflexões sobre o tema do trabalho infantil artístico e o consenso dos membros do Fórum Nacional de que a participação de crianças e adolescentes em publicidade é trabalho infantil, vedado pelo inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Convenção 138, da Organização Internacional do Trabalho OIT, ratificada pelo Brasil. Ressaltamos ainda que, a presença de crianças e adolescentes, abaixo de dezesseis anos em peças publicitárias, não se trata de participação artística e sim de trabalho e as expõe a graves riscos para a sua saúde física e para o seu pleno desenvolvimento psicológico e social. O nosso entendimento foi construído, a partir de estudos e pesquisas acadêmicas e de estudos de especialistas e Operadores do Direito, que atuam na área de defesa e garantia dos direitos da população infanto-juvenil em nosso país. (grifos introduzidos) Para melhor situar a denúncia e o denunciante, deve-se esclarecer que o Fórum é composto de órgãos e entidades governamentais e não governamentais envolvidos com a problemática do trabalho infantil, inclusive de entidades sindicais representativas de trabalhadores e de empregadores, assim como do Ministério Público do Trabalho, Organização Internacional do Trabalho e UNICEF. É, portanto, uma entidade eclética, de representação quadripartite, que detém, portanto, legitimidade para tratar das questões específicas, e sua atuação se faz a partir e em consonância com o definido em suas reuniões plenárias. Nessas condições, a problemática exposta exige atenção e reflexão, ainda mais quando se está diante de trabalho de crianças e de adolescentes antes dos

dezesseis anos, em campanhas publicitárias, não havendo qualquer informação sobre a contratação e a prestação dos serviços pelos trabalhadores mirins envolvidos, que se dá diretamente com as agências de publicidade contratadas. Observe-se que as informações prestadas pelo Banco do Brasil demonstra que as campanhas realizadas foram objetos de contratos firmados com Agências de Publicidade, não sendo, ao que tudo indica, do seu conhecimento as condições de trabalho em questão. Não se está com isso dizendo que o trabalho em questão é permitido sob condições, mas que não se pode concluir pela inexistência de ilegalidades apenas pelo resultado alcançado, isto é, pelo conhecimento do teor das imagens produzidas. Ademais, deve-se frisar que trabalho artístico não é o mesmo que trabalho em publicidade. Aquele envolve a expressão de um talento, o lidar com a arte, que repercute na formação e desenvolvimento da pessoa envolvida. Este visa, antes de mais nada, a divulgação de um produto, muitas vezes visando ao mercado e ao lucro. No caso, conforme noticia o FNPETI a fl. 16, tem-se peças publicitárias, veiculadas nos canais abertos de televisão, do Programa Bolsa Família, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do SUS, do Ministério da Saúde, que utilizam o trabalho de crianças; da Secretaria de Políticas para Mulheres Dia Internacional da Mulher que teve como protagonistas meninas e a campanha do Pré-Sal da Petrobrás, da qual participa uma criança.

Por outro lado, o Órgão oficiante assim se expressa sobre as peças publicitárias anexadas aos autos: A Secretaria de Direitos Humanos apresentou duas mídias de DVD com crianças participando (fl. 30). Na primeira com título Disque 100-60, aparecem duas crianças e um adolescente segurando placas, inclusive uma das crianças também apresenta a propaganda. Na segunda mídia, que se trata da campanha pela importância da certidão de nascimento, tem duas versões, de 30 (trinta) e 60 (sessenta) segundos. Na propaganda de 30 (trinta) segundos aparecem cinco crianças dançando, dentre elas uma criança de colo e uma portadora de síndrome de down. Na propaganda de 60 (sessenta) segundos aparecem treze crianças dançando, dentre elas duas crianças de colo, uma portadora de síndrome de down e um adolescente. O Banco do Brasil, por sua vez, apresentou quatro mídias (fls. 33/34), onde se constata, em pelo menos duas delas, a participação de crianças nas campanhas publicitárias. Na primeira, feita pela Agência Artplan, com o título filme mãos, é constatado (sic) a aparição rápida de uma criança brincando, aos 00:17 do vídeo. No segundo DVD, feito e veiculado pelas Agências Artplan e Lew Lara, tem-se a campanha agronegócio com duas crianças participando, a primeira delas conversa com o pai em uma colheita com máquinas trabalhando, aos 00:03, e a segunda criança conversa com o pai em um porto, com navios carregando produtos, aos 00:19. No terceiro DVD, feito pela produtora Fulano, com título Dotz não aparece nenhuma criança. E o quarto DVD da agência Giacometti, com o título fim de ano, não abriu, assim impossibilitando saber se havia criança ou não. Após tomar conhecimento do conteúdo das mídias, não fiquei convencido sobre a possibilidade de violação de normas legais que vedam o trabalho infantil. A aparição de crianças e adolescentes nas aludidas campanhas, no meu sentir, guarda normal pertinência com o objeto de tais publicidades, tratando-se de mera participação artística, sem risco para a saúde física, psicológica ou o desenvolvimento intelectual e social dos menores envolvidos. Desta forma, mesmo que ponderosas as informações trazidas aos autos pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, entendo, data vênia, não caber, neste estágio, a expedição de notificação recomendatória, como requerida.

Vê-se do exposto que, s.m.j., nenhuma dos temas abordados nas peças publicitárias em questão exige a participação de crianças e adolescentes, sob pena de não se atingir o resultado educativo, de informação e esclarecimento, e de promoção e proteção de seus direitos. Todos têm caráter genérico e, quando específicos, dizem respeito a outro universo, como, por exemplo, o das mulheres. E, ainda, quando abordada a questão da certidão de nascimento, a problemática diz respeito diretamente aos pais e responsáveis da criança. Pode-se, portanto, questionar a necessidade de se ter crianças nessas campanhas, uma vez que os temas centrais não as envolvem diretamente, dada a sua generalidade. De toda sorte, não se está diante de trabalho artístico, mas de trabalho, não se justificando, portanto, o desrespeito à regra geral da proibição contida no art. 7º, inciso XXXIII, da Carta Política, e, principalmente, do princípio constitucional da proteção integral da criança, do adolescente e do jovem, e, consequentemente, do princípio fundante do Estado brasileiro, que é o da dignidade humana. Frise-se, outrossim, o fato de que duas das mídias enfocadas revela o trabalho de crianças em colheita com máquinas trabalhando e em conversa com o pai em um porto, com navios carregando produtos, a demonstrar a inadequação desses locais para a presença de crianças, e, especialmente, de crianças em situação de trabalho. Por outro lado, a utilização de crianças e de adolescentes em publicidade, em especial, por órgãos públicos, banaliza a sua presença em situação de trabalho nos filmes e vídeos decorrentes, passando à sociedade uma situação de trabalho permitida, normal, quando se procura conscientizar essa mesma

sociedade sobre a ilegalidade do trabalho antes da idade dos dezesseis anos e os malefícios que causa. Assim, ainda que a presença de crianças e adolescentes sensibilizem a sociedade, atraindo a sua atenção para a problemática enfocada, esta circunstância não é bastante para a sua neles, em detrimento da proibição legal e, portanto da proteção integral que lhes é devida. Esclareça-se que o fato de a participação ser imprescindível para a arte gerada em decorrência do contrato firmado, não demonstra a necessidade dessa participação em relação às temáticas objetos das campanhas. APortanto, nada impede que a contratação da publicidade contenha elementos que direcionem a arte, o que não é o mesmo de impor limites à criatividade, com repercussão ao direito de expressão. Todo produto contratado para publicidade tem exigências e parâmetros a serem seguidos, estipulados pelo interessado na mídia. No caso, dentre os parâmetros indicados, deveriam constar a não utilização de mão-deobra infantil, para se resguardar o direito ao não trabalho antes da idade de dezesseis anos. A manifestação da Coordinfância é clara a respeito. Inicialmente, reportase à Orientação nº 2, expedida pela sua plenária, do seguinte teor, verbis: ORIENTAÇÃO N.02. Trabalho Infantil Artístico. Proibição Geral para menores de 16 anos. Excepcionalidades. Condições Especiais. I. O trabalho artístico, nele compreendido toda e qualquer manifestação artística apreendida economicamente por outrem, é proibido para menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos, nos termos do art. 7, XXXIII da Constituição Federal. II. Admite-se, no entanto, a possibilidade de exercício de trabalho artístico, para menores de 16 anos, na hipótese do art. 8, item I da Convenção n. 138 da OIT, desde que presentes os seguintes requisitos: A) Excepcionalidade; B) Situações Individuais e Específicas; C) Ato de Autoridade Competente (autoridade judiciária do trabalho); D) Existência de uma licença ou alvará individual; E) O labor deve envolver manifestação artística; F) A licença ou alvará deverá

definir em que atividades poderá haver labor, e quais as condições especiais de trabalho. III. Em razão dos princípios da proteção integral e prioridade absoluta, são condições especiais de trabalho a constar em qualquer alvará judicial que autorize o exercício de trabalho artístico para menores 16 anos, sob pena de invalidade: A) Imprescindibilidade de Contratação, de modo que aquela específica obra artística não possa, objetivamente, ser representada por maior de 16 anos; B) Prévia autorização de seus representantes legais e concessão de alvará judicial, para cada novo trabalho realizado; C) Impossibilidade de trabalho em caso de prejuízos ao desenvolvimento biopsicosocial da criança e do adolescente, devidamente aferido em laudo médico-psicológico; D) Matrícula, freqüência e bom aproveitamento escolares, além de reforço escolar, em caso de mau desempenho; E) Compatibilidade entre o horário escolar e atividade de trabalho, resguardos dos direitos de repouso, lazer e alimentação, dentre outros; F) Assistência médica, odontológica e psicológica; G) Proibição de labor a menores de 18 anos em locais e serviços perigosos, noturnos, insalubres, penosos, prejudiciais à moralidade e em lugares e horários que inviabilizem ou dificultem a freqüência à escola; H) Depósito, em caderneta de poupança, de percentual mínimo incidente sobre a remuneração devida; I) Jornada e carga horária semanal máximas de trabalho, intervalos de descanso e alimentação; J) Acompanhamento do responsável legal do artista, ou quem o represente, durante a prestação do serviço; L) Garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários quando presentes, na relação de trabalho, os requisitos do arts. 2 e 3 da Consolidação das Leis do Trabalho. (Orientação elaborada e aprovada com base em estudo da Coordinfância.) A partir dos parâmetros por ela traçados, o ilustre Coordenador aduz os seguintes comentários, verbis: 03. Pois bem, frente à Orientação acima, analisando o caso concreto e de acordo com os elementos contidos nos autos, quer parecer a esta Coordenação Nacional, numa primeira análise, que a participação de crianças e adolescentes, menores de 16 anos, em publicidade, deve ser evitada ao máximo, posto que tal situação fática constitui trabalho, prática vedada, portanto, pelo art. 7º, XXXIII da Constituição, tão nocivo quanto às demais formas de trabalho infantil, muito embora aparentemente não seja tão perniciosa. Não se deve esquecer que, por trás da rápida aparição de crianças e adolescentes em peças publicitárias, estão longos períodos de ensaio e, portanto, longas jornadas de trabalho, a

provocar estafas físicas e mentais. São os chamados bastidores da produção, que ainda podem esconder ausência de autorização judicial, falta às aulas, e descumprimento de tantos outros elementos protetivos acima listados. 04. Daí que esta Coordenação Nacional entende que a participação de crianças em publicidade esbarra no impeditivo constante do item III, letra A, da Orientação acima colacionada, na medida em que a mensagem publicitária pode ser transmitida sem a presença necessária e imprescindível de crianças e adolescentes menores de 16 anos. E, por via de corolário, é prática ilícita. 05. Ademais e ainda que se possa entender superado este item da imprescindibilidade, tem-se que, ao ver desta Coordenação Nacional, caberia uma atuação ministerial mais ampla e, voltada à identificação dos demais parâmetros protetivos acima listados, de modo a se assegurar a ausência de prejuízo ao desenvolvimento biopsicossocial de crianças e adolescentes, participantes de trabalho artístico. 06. Ademais, tal feito pode configurar uma excelente iniciativa do MPT para acertar com os denunciados, parâmetros de proteção para a utilização de crianças e adolescentes em publicidade governamental. 07. Por conta disso e em que se pesem as fundamentadas razões de arquivamento, tomadas pelo Procurador Oficiante, opina esta Coordenação nacional pela não homologação do arquivamento, considerando que os indicativos fáticos dos autos apontam para a prática de uma possível ilicitude, qual seja, o trabalho de crianças e adolescente em publicidade governamental, sem a presença dos parâmetros protetivos mínimos acima elencados, de modo que se entende viável o prosseguimento das investigações para aferição de referidos requisitos e acertamento da conduta dos denunciados, tudo em homenagem à garantia do princípio constitucional da proteção integral de crianças e adolescentes, em matéria laboral. Diante de todo o exposto, entende esta Relatora que a atuação ministerial no presente não se esgotou, devendo prosseguir para que, enfim, fique

demonstrado que os direitos dos envolvidos estão garantidos, assim como a proteção integral que lhes é devida, na forma da previsão constitucional. III CONCLUSÃO Em conclusão, não homologo a promoção de arquivamento encaminhada, devendo a investigação prosseguir, como se entender de direito, deixando de designar membro específico para atuação (inciso II, artigo 10, da Resolução nº 69/2007), em respeito à autonomia organizacional da Regional. Brasília, 22 de outubro de 2012. Eliane Araque dos Santos Relatora