EXISTE CRÉDITO TRIBUTÁRIO SEM LANÇAMENTO?



Documentos relacionados
Decadência e Prescrição em Matéria Tributária

URGENTE. Para: SINDICATO DOS FISCAIS E AGENTES FISCAIS DE TRIBUTOS DO ESTADO DE MINAS GERAIS- SINDIFISCO/MG PARECER

PARECER DOS RECURSOS REFERENTES À ELABORAÇÃO DAS QUESTÕES DE PROVA OU GABARITO PRELIMINAR

AULA 1 08/02/2010 CRÉDITO TRIBUTÁRIO LANÇAMENTO

RESPONSABILIDADE PESSOAL DOS SÓCIOS ADMINISTRADORES NOS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS QUANDO DA DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE

Controladoria MANUAL DO Estratégica

Direito Tributário. Módulo IV: Obrigação Tributária e Crédito Tributário.

Maratona Fiscal ISS Direito tributário

tributo e suas espécies

RESUMIDAMENTE ESTAS SÃO AS DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE A CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS:

CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS OU PARAFISCAIS (Art.149 c/c 195, CF)

DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SUJEIÇÃO PASSIVA EM DIREITO TRIBUTÁRIO PROF. HELCONIO ALMEIDA

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Dívida Ativa. Cartilha aos Órgãos de Origem 8/3/2013

COLEGIADO DO CURSO DE DIREITO Reconhecimento renovado pela portaria MEC nº 608 de , DOU de PLANO DE CURSO

Ilegalidade e inconstitucionalidade da cobrança da Contribuição Sindical Rural. Proposta de sua extinção

DECADÊNCIA E CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS

Fiscal - quando seu principal objetivo é a arrecadação de recursos financeiros para o Estado.

CH total: 72h SEMESTRE DE ESTUDO: 7º Semestre

Imposto sobre a Renda. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

Gestão Tributária André Antunes Soares de Camargo

ARTIGO: Efeitos (subjetivos e objetivos) do controle de

CONCURSO PÚBLICO FICHA DE RESPOSTA AO RECURSO CARGO: TÉCNICO DA FAZENDA MUNICIPAL

Tributos

Legislação e tributação comercial

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador LUIZ HENRIQUE

FATO GERADOR = TEORIA / ANÁLISE

MATERIAL DE APOIO MONITORIA

Responsabilidade Tributária: dissolução irregular, subsidiariedade, solidariedade e substituição tributária

A empresa formalizou consulta acerca da utilização de créditos relacionados à entrada de combustíveis, aos seguintes termos, em síntese:

Faculdades IESGO Direção Acadêmica Coordenação do Curso de Direito

FACULDADE DE DIREITO DE SOROCABA FADI 2013

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. DESTINAÇÃO ESPECÍFICA DAS RECEITAS E O DESVIO DE FINALIDADE. Paulo Ayres Barreto

II - Fontes do Direito Tributário

Direito Tributário Introdução, Normas Gerais, Tributos e Espécies e Competência Tributária

UNIDADE 5 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

Prefeitura Municipal de Ibirataia Estado da Bahia

Direito Tributário. Aula 05. Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho

Direito Tributário Nacional: Princípios Constitucionais Tributários. Fontes do Direito

PRAZO DE DECADÊNCIA PARA TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO DE OFÍCIO, POR HOMOLOGAÇÃO E POR DECLARAÇÃO

SUMÁRIO. 5- Certificação Digital e Procuração para a RFB

VARGAS CONTABILIDADE ORIENTAÇÃO

ALMEIDA GUILHERME Advogados Associados

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Diferencial de alíquota para produtos com destino industrialização

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA. Cuida, primeiramente, destacar que não há um consenso, entre os autores, para essa

Abrangência: Esse programa abrange:

AS POLÊMICAS ADVINDAS DA CONCEITUAÇÃO LEGAL DO LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO E NEGÓCIOS DE SERGIPE- FANESE

Rio de Janeiro, 26 de julho de 2011.

CURSO DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES DE TRIBUTÁRIO FCC

A responsabilidade do inquilino pelo pagamento do IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano, relativo ao imóvel locado.

1º O acesso ao Sistema deverá ser feito por meio de Senha Web ou certificado digital.

DIREITO TRIBUTÁRIO Parte II. Manaus, abril de 2013 Jorge de Souza Bispo, Dr. 1

lançamento A cada (notificação) 5 anos 5 anos 1º de janeiro 1º/01

INSTRUÇÃO NORMATIVA SMFA Nº 01/2010

NÚMERO DE SÉRIE DE MERCADORIAS NA DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO

SOLUÇÕES DE CONSULTA DA RFB DE INTERESSE DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Decreto Nº1601 de 19 de Agosto de 2009 DECRETA:

Coordenação-Geral de Tributação

Prefeitura Municipal de Belém Secretaria Municipal de Finanças

Instituições Financeiras, Seguros, Previdência e Outros.

DECRETO EXECUTIVO nº. 014/2012 D E C R E T A:

MINISTÉRIO DA FAZENDA SEGUNDO CONSELHO DE CONTRIBUINTES PRIMEIRA CÂMARA. Processo nº / Recurso nº

PARCELAMENTO DE TRIBUTOS FEDERAIS REFIS DA COPA

02.10 PROVISÕES, PASSIVOS CONTINGENTES E ATIVOS CONTINGENTES INTRODUÇÃO

PLANO DE CURSO 2014/02 TOTAL DE AULAS/ OU CARGA HORÁRIA

CIRCULAR Medida Provisória 252/05

DECRETO N. 134/2010, DE 28 DE OUTUBRO DE 2010.

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

USUFRUTO. 1) Conceito:

Imposto de Renda sobre o Ganho de Capital

A nova Consolidação das Regras para Compensação de Tributos Federais: In nº 1.300/12

ARQUIVO ATUALIZADO ATÉ 29/11/2011

LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO - ASPECTOS DOUTRINÁRIOS DIVERGENTES QUANTO A NATUREZA JURÍDICA E MODALIDADES

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete da Desembargadora Federal Margarida Cantarelli

Processo Administrativo Tributário e Lançamento

FATO GERADOR. Conceito - É o fato, o conjunto de fatos a que o legislador vincula o nascimento da obrigação jurídica de pagar um tributo determinado.

Desse modo, esse adquirente

Participações Societárias no Simples Nacional

Na mesma data, também foi publicada a Instrução Normativa RFB nº 1.576/2015, que alterou a Instrução Normativa nº 1.491/2014.

empresas constantes de seus anexos, de acordo com o Estado da Federação em que estava localizado o contribuinte.

CÓPIA. Coordenação-Geral de Tributação. Relatório RJ RIO DE JANEIRO SRRF07

Unidade II. A afirmação pode ser comprovada da leitura do dispositivo transcrito:

Súmario APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO SINOPSES PARA CARREIRAS FISCAIS... 11

Superior Tribunal de Justiça

ÍNDICE. Alguns estudos do autor... Prefácio...

Murillo Lo Visco 1 Editora Ferreira

FACULDADE DE DIREITO DE SOROCABA FADI 2014

PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO

AGRAVO INTERNO EM APELACAO CIVEL

Conceito de Direito Financeiro. Receita Pública. Conceito de Direito Tributário. Autonomia Didática do Direito Tributário.

PARECER SOBRE A LEI DA SOLIDARIEDADE-RS

OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA. FATO GERADOR e OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA. Curso Online Intensivo OAB/FGV - V Exame Unificado

Coordenação-Geral de Tributação

Ponto 1. Ponto 2. Ponto 3

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Controle de Ponto do Trabalhador terceirizado

1. Relevância do termo constituição definitiva do crédito tributário

PERGUNTAS FREQUENTES IOF SOBRE DERIVATIVOS Versão 1 13/jan/2012

SIMULADO PFN I (Tributário e Processo Tributário) Prof. Mauro Luís Rocha Lopes Dezembro de 2015

ESTADO DE GOIÁS Prefeitura Municipal de Pirenópolis DECRETO N Gabinete DE 31 DE 01 DE 2014.

Transcrição:

EXISTE CRÉDITO TRIBUTÁRIO SEM LANÇAMENTO? Marcelo Vasconcelos Castro O Lançamento Tributário é um instituto previsto no art. 142 do CTN. Doutrina e Jurisprudência têm debatido em demasia os contornos do tema. Existe uma série de institutos jurídico-tributários ligados ao lançamento (tributo, obrigação e crédito), cuja elucidação melhor esclarece sua existência. O suporte teórico do fenômeno jurídico lançamento tributário perpassa as concepções filosóficas da tridimensionalidade do direito e da lógica formal. O lançamento tributário foi definido pelo Professor Eurico Marcos Diniz de Santi como ato-norma administrativo, em uma releitura, pode-se dizê-lo nomogênese individual e líquida administrativa. O RE 617.867/SP julgado pelo STJ versa sobre a possibilidade de crédito tributário sem lançamento. Doutrinariamente, Hugo de Brito Machado abarca a tese de impossibilidade de crédito sem lançamento. O contribuinte informa ao Fisco através da DCTF - Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais, prevista na Instrução Normativa RFB nº 1.110, de 24 de dezembro de 2010. Deste modo, iremos investigar a possibilidade de existência de crédito tributário sem lançamento. A análise da existência de crédito tributário sem lançamento necessita de apoio conceitual em institutos jurídicos aos quais se relaciona. A definição de tributo, obrigação tributária, crédito tributário e lançamento estão amplamente jungidos. Definição, natureza jurídica, modalidades do lançamento tributário devem ser delineados para melhor suporte argumentativo da existência do crédito tributário. A leitura tridimensional do fenômeno jurídico traçado trará uma reflexão conceitual sobre estrutura da norma e sua incidência sobre o fato jurídico. A lógica formal estabelece o equacionamento do conceito de lançamento frente ao aspecto semântico. 1

Traçar as distintas modalidades de lançamento tributário. Após destacar o lançamento por homologação e, ao fim, discorrer sobre a possiblidade de crédito sem lançamento. O Tributo foi conceituado pelo legislador no art. 3º do CTN: "Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada". A definição é de suma importância para a elucidação da atividade de lançamento. O Tributo é uma prestação obrigatória do contribuinte. O cumprimento da prestação pode ser feito mediante dinheiro ou valor exprimível em moeda. Moeda é um medidor de valor, um padrão de pagamento. O Crédito a ser compensado não é pecúnia ou moeda, mas se exprime em Reais, bem como os títulos do tesouro utilizável como meio de pagamento. Ou seja, a prestação compulsória pode ser paga em um equivalente não redundante. É a partir da parte final do dispositivo suso citado, "cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada", que o lançamento começa a ser distinguido. A cobrança tributária tem que ser feita pela administração. Sem administração não há cobrança lícita de tributos. A administração cobra após o lançamento, momento em que se tem certeza e liquidez da dívida. O Direito Tributário para muitos é obrigacional. A maioria dos tratadistas temna nos moldes civilistas. A inspiração Tedesca (na releitura romana) definiu obrigação tributária como vínculo jurídico ou liame entre sujeito ativo e sujeito passivo. Defenderam a dualidade obrigacional, com sua divisão em débito (shuld) e responsabilidade (haftung). O débito tem como objeto uma prestação de dar, fazer ou não fazer. A responsabilidade é coativa. Somente após o inadimplemento exsurge a responsabilidade (haftung). Ao comentar o CTN/139, a precisa lição do Professor Américo Masset Lacombe (2013), em Comentários ao Código Tributário Nacional, coordenado por Ives Gandra da Silva Martins: 2

Surgindo o débito, surge inexoravelmente o crédito tributário. Se da ocorrência do fato imponível (fato gerador) resulta o débito do lado passivo, resultará imediatamente o crédito ao lado ativo. É esse exatamente o sentido deste artigo. O que o Código Tributário Nacional distingue é a relação de débito (debitum, shuld), que denomina obrigação tributária principal, da relação de responsabilidade (obligatio, haftung), que denomina crédito tributário (LACOMBE, 2013, p. 296). O porquê está na gênese da "relação jurídica tributária efectual". A prestação compulsória (dar), a qual vincula o sujeito passivo, no mesmo instante estabelece o crédito. A ausência de técnica legislativa tentou colocar o crédito como consequência de inadimplemento, o qual apenas o reveste de exigibilidade - para Sacha Calmon Navarro Coelho. O crédito tributário foi conceituado por Alexandre Barros Castro (2002): "crédito tributário pode ser definido como sendo o direito subjetivo público que detém o Estado de exigir do sujeito passivo da obrigação tributária o pagamento do tributo devido, na forma prescrita em lei". Este autor classifica a obrigação acessória como "dever instrumental". O art. 142 do CTN prescreve o lançamento: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional (BRASIL, Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966). Em Filosofia do Direito, Miguel Reale inovou com a Teoria Tridimensional do Direito. A relação entre fato, valor e norma na construção de um modelo jurídico por opção legislativa de cada Ente Político (União, Estados e Municípios). Ensinamentos sobre a nomogênese da norma tributária por Reale (2002): 3

Cada modelo jurídico, em suma, considerado de per si, corresponde a um momento de integração de certos fatos segundo valores determinados, representando uma solução temporária (momentânea ou duradoura) de uma tensão dialética entre fatos e valores, solução essa estatuída e objetivada pela interferência decisória do Poder em dado momento da experiência social (REALE, 2002, p. 531). A regra-matriz inserida na norma tributária se trata de um modelo jurídico. As espécies tributárias são modelos jurídicos com estrutura própria. Impostos, taxas, contribuição de melhoria e demais contribuições, bem como os empréstimos compulsórios são integradas pelo Fisco na confecção do ato-norma intranormativo do lançamento. O evento econômico (fato-fato gerador) é valorizado (fins arrecadatórios) para a nomogênese individual e líquida decorrente do poder de decisão do Poder Público: lançamento - ato-norma administrativo. O lançamento sempre é resultado de decisão administrativa, com concordância ou não com as declarações do contribuinte. O lançamento dá certeza e liquida o crédito. O ato administrativo há de ser plenamente vinculado. Deve conformar-se totalmente à ordem jurídica - ao ato-norma abstrato. O Ente Tributante utiliza do ato administrativo (Lançamento) para integrar o fato jurídico à norma tributária, esta subsunção é a gênese do ato-norma administrativo. A subsunção do fato imponível (fato gerador) à hipótese de incidência tributária (norma). Para Enrico Santi (2010): Lançamento como o ato-norma administrativo que apresenta estrutura hipotéticocondicional, associando à ocorrência de fato jurídico tributário (hipótese) uma relação jurídica intranormativa (consequência), que tem por termos o sujeito ativo e o sujeito passivo, e por objeto a obrigação deste em prestar a conduta de pagar quantia determinada pelo produto matemático da base de cálculo pela alíquota (SANTI, 2010, p. 92). O emprego da lógica formal no estudo do fenômeno da norma tributária recebeu o elastério do Professor Enrico Santi. A estrutura lógica do ato-norma foi assim descrito: 4

D[h? R (Sa, Sp)] A lógica formal ou simbólica cuida da estrutura do raciocínio. A lógica formal relaciona os conceitos como instrumental probante das declarações. A expressão suso foi assim deslindada: Identificamos na estrutura do ato administrativo (supra) os sincategoremas "D" e "?", constantes lógicas inerentes à estrutura normativa do ato-norma e os categoremas, variáveis que preenchidas pelos conteúdos do direito positivo constituem seus elementos: (a) descrição do motivo do ato "h" (motivação), (b) sujeito ativo "Sa", (c) sujeito passivo "Sp" e (d) a variável de functor "R" tripartite nos modos proibido, permitido e obrigatório que modaliza a (e) conduta-objeto da relação jurídica normativa (SANTI, 2010, p. 97). A expressão acima esclarece a descrição normativa do artigo que prescreve o lançamento. Trata da hipótese de ocorrência de um fato gerador e a vinculação do sujeito ativo e passivo, geralmente, com a explicitação do functor R em obrigatório (pagamento), permitido (imunidade/isenção), proibido (sanção por ilícito). Lançamento tributário é o ato de liquidação da matéria tributável, prevista na norma tributária abstrata, incorrida pelo contribuinte a partir de um evento econômico declarado pelo sujeito passivo ou apurado pelo sujeito ativo, do qual decorre uma obrigação de recolhimento, enfim, a nomogênese tributária individualizada e líquida. O deslinde da natureza jurídica do lançamento recebeu comento doutrinário. O lançamento fiscal no magistério de Flávia de Almeida Viveiros de Castro (2011): Enquanto alguns o definem como ato administrativo (Ataliba, Baleeiro, Falcão, Carvalho), outros o qualificam como procedimento administrativo (Lacombe, Rosa Jr.), e há, ainda, os que afirmam que o termo tem um sentido múltiplo, como José Souto Mario Borges (CASTRO, 2011, p. 26). Há ainda aqueles que o enquadram como ato complexo, iniciado pelo Contribuinte e referendado pelo agente público. Como desfecho da atividade tributante, se trata de ato simples. O Professor Eurico Santi o estabelece como ato 5

administrativo conclusivo. Deste ato decorre a exigibilidade do crédito tributário, na liça de Sacha Calmon Navarro Coelho. É no plano da eficácia do Lançamento Fiscal que surgem divergências de monta. Uma corrente determina sua eficácia como constitutiva. O art. 142 do CTN é claro ao dizer que o lançamento constitui o crédito tributário. Outra corrente traça-lhe o perfil de ato declaratório, com fincas no art. 144 do CTN, de maneira que o ato apenas reconheceria o direito de crédito do Fisco. A terceira corrente, dizem sua eficácia mista, declaratória da obrigação e constitutiva do crédito. O crédito tributário possui o seguinte iter: surge com a ocorrência do fato gerador no mundo fenomênico. É lançado, e através deste ato administrativo se tem a certeza e liquidez do crédito, doravante exigível. É inscrito em dívida ativa, daqui em diante é exequível com o aparelhamento da CDA - Certidão da Dívida Ativa na executiva fiscal. As modalidades de lançamento são divididas em três na doutrina clássica, segundo o critério de participação do sujeito passivo: a) por declaração (CTN/147), no qual o contribuinte declara as informações necessárias para que o agente fiscal lance; b) de ofício (CTN/149), imposto legalmente, a Administração já possui os elementos necessários para a confecção do ato; c) por homologação (CTN/150), o contribuinte apura o tributo e recolhe sem intervenção do fisco. Além destas três, há na jurisprudência e doutrina o lançamento substitutivo (revisão do Fisco: erro ou fraude) e o lançamento tácito - em caso de depósito do montante. O STJ consolidou o entendimento que o lançamento tácito está para o lançamento por homologação, assim como o lançamento substitutivo estaria para o lançamento por ofício. Deste modo, não seriam novas espécies de lançamento. O problema está em discernir a possibilidade de existência de crédito tributário sem lançamento. O REsp 617.867/SP recebeu a relatoria do Min. Luiz Fux, quando ainda compunha o rol de julgadores do STJ. O Min. Fux entendeu que há crédito tributário sem lançamento. 6

Em apertada síntese, o CTN/142 permitiria ao particular exercer atividade tendente à satisfação do crédito tributário. No acórdão, julgou-se prescindível a participação da atividade administrativa. Denota-se a filiação à corrente doutrinária que qualifica o ato como declaratório do crédito tributário. Assim, o crédito tributário nasceria juntamente com a obrigação tributária. O Doutrinador Hugo de Brito Machado tem posicionamento pela impossibilidade de crédito tributário sem lançamento. O lançamento seria constitutivo do crédito tributário, bem como seria atividade vinculada exclusiva de agente público. Ao particular é defesa a prática de atos administrativos. O Professor Enrico Santi (2010), por seu turno: "concluiu-se, destarte, que relativamente à relação jurídica tributária efectual, o ato-norma de lançamento tributário apresenta, nesta acepção técnica, efeito declaratório". No particular, ao lançamento por homologação, Enrico Santi (2010): O que a autoridade administrativa homologa é o "crédito instrumental formalizado": homologação da relação jurídica intranormativa, produto do cumprimento dos deveres instrumentais que disciplinam o modo de produção dessa norma individual e concreta celebrada pelo particular. [...] O "ato-norma de homologação" supõe o "ato-norma administrativo tributário". O "ato norma administrativo tributário". O "ato-norma administrativo tributário" é condição necessária do "ao-norma de homologação". É o gênero ato-norma administrativo que formaliza o crédito tributário, seja ele lançado, seja instrumental. Sem este, sem crédito a homologar, aquele fica sem sentido (SANTI, 2010, p. 123). Neste passo, para o professor autor, o lançamento é ato que formaliza o crédito tributário. Salienta que há credito tributário instrumental e crédito tributário lançado. O crédito tributário instrumental seria efetivado pelo particular: "[...] a tese proposta se alinha àquela dos tributos sem lançamento, defendida por Paulo de Barros Carvalho" (SANTI, 2010, p. 123). Deve haver consonância entre o crédito instrumental e o crédito tributário lançado. É por meio do dever jurídico instrumental (obrigação acessória), que o 7

particular informa ao Ente Tributante o crédito instrumental. Deste modo, haveria crédito sem lançamento constitutivo. O preenchimento de um formulário público é ato privado ou ato público. A Escritura lavrada por Tabelião tem forma pública, no entanto nela se insere declarações privadas (Compra e Venda de Imóvel). Um ato público. A DCTF nada mais é do que um formulário eletrônico público, no qual o particular insere declarações. Neste sentido, o ato é público, não formalizado por agente público, ao passo que antes pela comodidade tecnológica, o software o formaliza. Para os adeptos da natureza declaratória do lançamento, haverá crédito sem lançamento. Para os filiados à corrente doutrinária que dita o lançamento como ato constitutivo do crédito tributário, tal situação seria impossível. Para o CTN em vigor, é impossível crédito sem lançamento. Impossível é haver débito sem crédito. Enrico Santi coloca o crédito tributário sem lançamento como realidade. É necessária uma alteração no CTN para adequá-lo à doutrina e a realidade. REFERÊNCIAS BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à ciência das finanças. 12. ed. Forense, 1978. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 617.867/SP. Relator: Ministro Luiz Fux. 09 de novembro de 2004. Disponível em: <www.stj.gov.br>. Acesso em: 03 dez. 2013. CASTRO, Alexandre Barros. Teoria do direito processual tributário. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. CASTRO, Flávia de Almeida Viveiros de. Gestão e planejamento de tributos. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2011. FERREIRA, Antonio Airton. A formalização do crédito tributário pelo contribuinte. 8

MACHADO, Hugo de Brito. Impossibilidade de tributo sem lançamento. Disponível em: <www.hugomachado.adv.br>. Acesso em: 03 dez. 2013. MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Comentários ao Código Tributário Nacional. 7. ed. Saraiva, 2013. REALE, Miguel. Filosofia do direito. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Lançamento tributário. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. SANTI, Eurico Marcos Diniz de; ZILVETI, Fernando Aurelio (Coord.). Direito tributário: tributação do setor comercial. São Paulo: Saraiva, 2011. SANTI, Eurico Marcos Diniz de; ZILVETI, Fernando Aurelio (Coord.). Direito tributário: tributação internacional. São Paulo: Saraiva, 2007. 9