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po ra li da de, que ge ne ra li za a afir ma ção fei ta como que de pas - sa gem, du ran te a lei tu ra do tex to agos ti nia no, de que nun ca

Transcrição:

I, 1 Por di ver sos meios a idên ti co fim se che ga 1 (a) A ma nei ra mais co mum de apla car os âni mos dos que ofende mos, quan do eles nos têm à mer cê da sua vin gan ça, é (c), pe la sub mis são, (a) mo vê los à co mi se ra ção e à pie da de. To da via, mei os em ab so lu to a es te con trá rios, o des ca ra men to e a fir me za, têm por ve zes sur ti do o mes mo efei to. Eduar do 2, prín ci pe de Ga les, que du ran te tan to tem po go vernou a nos sa Guie na e que, pe la ma nei ra de ser e pe la For tu na, era per so na gem de mui tas qua li da des de gran de, ha ven do si do as saz ofen di do pe los Li mo si nos, to mou lhes a ci da de à for ça. Foi pe netran do ne la sem se dei xar de mo ver pe los gri tos das gen tes, mesmo das mu lhe res e das crian ças, aban do na das à car ni fi ci na, e que se lhe ro ja vam aos pés su pli can do mi se ri cór dia, até que, ca da vez mais em bre nha do no in te rior, aper ce beu três fi dal gos a sus te rem so zi nhos, com ina cre di tá vel va len tia, o ím pe to das hos tes vi to riosas. A con si de ra ção e o res pei to in fun di dos por tão no tá vel co ragem co me ça ram lhe a em bo tar os pa ro xis mos da có le ra, pe lo que veio a dis pen sar mi se ri cór dia a es ses três e a to dos os mais ha bitan tes da ci da de. Scan der berg 3, prín ci pe do Epi ro, per se guia um sol da do seu, a fim de o ma tar, o qual sol da do, após ha ver ten ta do apa zi guá lo, hu mi lhan do se e su pli can do lhe de to das as ma nei ras, aca bou por se dis por a de fron tá lo de es pa da no pu nho. Tal re so lu ção lo go so freou a fú ria do amo, que o agra ciou por tê lo vis to a es co lher tão hon ro sa saí da. Es te exem plo só po de rá pro por cio nar in ter pre Ensaios_clássicos 1.indd 91

92 Montaigne ta ções di fe ren tes a quem na da ti ver li do acer ca da (c) pro di gio sa (a) for ça e va len tia do prín ci pe. O im pe ra dor Con ra do III 4, ha ven do si tia do Guel fo, o du que da Ba vie ra, não quis acei tar con di ções mais bran das por mais vis e ab jec tas sa tis fa ções que lhe des sem que per mi tir tão só às mulhe res fi dal gas que com o du que es ti ves sem sair a pé, de hon ra sal va, com quan to pu des sem le var às cos tas. Elas, mag nâ ni mas, de ci di ram se a trans por tar aos om bros os ma ri dos, os fi lhos e o pró prio du que. Tão gran de pra zer te ve o im pe ra dor em ver a nobre za de tal co ra gem que cho rou de con ten ta men to e dis si pou to da a acre ini mi za de de mor te, to do o ódio fi ga dal que nu tria pa ra com o du que, daí em dian te tra tan do o, e aos seus, com hu ma ni da de. (b) Tan to um co mo o ou tro des tes dois meios fa cil men te re sulta ria co mi go, pois te nho uma ex traor di ná ria pro pen são pa ra a clemên cia (c) e pa ra a man sue tu de (b). Mas acho que ce de ria mais na tu ral men te à com pai xão que à ad mi ra ção. To da via, a pie da de é pa ra os Es tói cos uma pai xão vi cio sa pre ten dem eles que se pres te au xí lio aos afli tos mas sem de les ter com pai xão nem por eles se dei xar ver gar 5. (a) Ora, pa re cem me mais con ve nien tes que o pri mei ro es tes dois úl ti mos exem plos, tan to mais que ve mos es sas al mas, acome ti das e pos tas à pro va pe los dois meios, aguen ta rem de pé firme fa ce a um de les sem se al te ra rem e sem flec ti rem sob o ou tro. Po de se di zer que o abrir o co ra ção à co mi se ra ção de ri va da fa cili da de, da bo no mia e da mo le za, de on de que as na tu re zas mais fra cas, co mo as das mu lhe res, as das crian ças e as do vul go, sejam as que mais se lhe acham su jei tas, ao pas so que ape nas ce der ao res pei to da san ta ima gem do va lor, des de nhan do as lá gri mas e as sú pli cas, é pró prio de uma al ma for te e in fle xí vel que es ti ma e pre za uma for ça vi ril e per se ve ran te. To da via, em al mas me nos ge ne ro sas o es pan to e a ad mi ra ção po dem pro vo car o mes mo efei to. Tes te mu nham no os ci da dãos te ba nos, os quais, ha ven do mo vi do um pro ces so que im pli ca va a pe na ca pi tal aos seus ca pitães, acu sa dos de terem pro lon ga do o co man do pa ra além do tempo que lhes fo ra pres cri to e pre fi xo, mui to a cus to ab sol ve ram Peló pi das, ver ga do sob o pe so das acu sa ções e in ca paz de se Ensaios_clássicos 1.indd 92

Ensaios Antologia 93 de fen der ex cep to atra vés de pe di dos e sú pli cas, ao pas so que, pelo con trá rio, em re la ção a Epa mi non das, que veio no bre men te nar rar os seus ac tos e que, de ma nei ra or gu lho sa (c) e ar ro gan te (a), cen su rou o po vo, nem se quer a co ra gem ti ve ram de pe gar nas bo las de vo to e, an tes de des fa ze rem a as sem bleia, gran de men te lou va ram a ele va ção de âni mo de tal per so na gem 6. (c) Dio ní sio, o An ti go, ha ven do se, após mui tas de lon gas e difi cul da des ex tre mas, apo de ra do da ci da de de Ré gio e ne la ten do cap tu ra do o ca pi tão Fí ton, gran de ho mem de bem, que tão obs tina da men te a de fen de ra, quis dis so ti rar um trá gi co exem plo de vin gan ça. Pri mei ro, con tou lhe co mo no dia an te rior man da ra afo gar lhe o fi lho e to dos os mais pa ren tes, ao que Fí ton ape nas ri pos tou que ti nham si do mais fe li zes que ele. Dio ní sio, de pois, fez que o des pis sem, fos se en tre gue aos car ras cos e ar ras ta do por to da a ci da de, en quan to o azor ra ga vam mui ig no mi nio sa e cruelmen te, e o in vec ti va vam com pér fi das e con tu me lio sas pa la vras. Mas Fí ton man te ve se sem pre de âni mo re so lu to sem so ço brar; an tes, com a fir me za es tam pa da no ros to, ia re lem bran do em voz al tís so na a hon ro sa e glo rio sa cau sa da sua mor te o não ter que ri do en tre gar a pá tria às mãos de um ti ra no e amea çan do Dio ní sio com a imi nên cia de um cas ti go di vi no. Es te, len do nos olhos da maio ria dos seus sol da dos que, em vez de se acir ra rem com as bra va tas do ini mi go ven ci do, mos tra vam des pre zo pe lo seu che fe e pe lo seu triun fo e se iam dei xan do amo le cer pe lo assom bro de um va lor tão ra ro e se dis pu nham a amo ti na rem se, estan do qua se a pon to de ar ran car Fí ton das mãos dos seus sar gentos, fez ces sar o mar tí rio e man dou afo gá lo no mar 7. (a) De cer to é o ho mem um ser es pan to sa men te vão, di ver so e on du lan te. Di fí cil é es ta be le cer so bre ele um juí zo cons tan te e uni for me. Eis Pom peu que per doou a in tei ra ci da de dos Ma mer tinos, con tra a qual o mo via for te ani mad ver são, por con si de ra ção pa ra com o va lor e a mag na ni mi da de do ci da dão Ze não, que so zinho as su miu a cul pa pú bli ca e que ou tra gra ça não pe dia que a de ser o úni co a so frer o cas ti go. E, po rém, o an fi trião de Si la que na ci da de de Pe rú sia 8 deu mos tras da mes ma mag na ni mi da de na da lu crou com ela, nem pa ra si nem pa ra os ou tros. Ensaios_clássicos 1.indd 93

94 Montaigne (b) E vai di rec ta men te con tra os meus pri mei ros exem plos es te: Ale xan dre, o mais co ra jo so dos ho mens e tão cle men te com os ven ci dos, após, com mui ta di fi cul da de, ter con quis ta do a ci da de de Ga za, to pou com Bé tis, o co man dan te des ta, de cu jo va lor tinha vis to, du ran te o cer co, de mons tra ções ex traor di ná rias, e que en tão, aban do na do dos seus, e com as ar mas des fei tas, se acha va so zi nho, co ber to de san gue e cha gas dos pés à ca be ça, a com ba ter no meio de vá rios ma ce dó nios, que o ata ca vam de to dos os la dos; e dis se lhe, to do ir ri ta do por ter ob ti do uma vi tó ria tão ca ra, pois, en tre ou tros da nos, ti nha re ce bi do no cor po duas fe ri das por sa rar: «Ó Bé tis, não vais mor rer co mo pre ten des; fi ca a sa ber que hás de so frer to da a sor te de ini ma gi ná veis tor men tos que se po de rão in fli gir a um ca ti vo.» O ou tro, cu jo sem blan te exi bia não ape nas de ter mi na ção mas ar ro gân cia e al ti vez tam bém, man te ve se ca lado an te tais amea ças. Ale xan dre, en tão, fa ce a es se or gu lho so e obs ti na do si lên cio, dis se: «Do brou ele um joe lho? Dei xou ele esca par al gu ma pa la vra su pli can te? Irei de ve ras le var a maior do seu si lên cio, e se não lhe con se guir ar ran car pa la vras, pe lo me nos ge mi dos lhe ar ran ca rei.» E, tor nan do se lhe a có le ra rai va, mandou que ao ou tro fu ras sem os cal ca nha res e que vi vo o ar ras tassem pre so a um car ro, o des pe da ças sem e des mem bras sem. 9 Se rá que a in tre pi dez era tão ca ra a Ale xan dre que, por não se ad mi rar com ela, me nos a res pei tas se? (c) Ou que a acha va tão ex clu si va men te sua que não a po dia su por tar ta ma nha em ou trem sem o des pei to da pai xão da in ve ja? Ou que a im pe tuo si da de natu ral da sua có le ra não po dia ser con tra ria da? Na ver da de, se ela fos se re freá vel, é de crer que na to ma da e sa que da ci da de de Tebas hou ves se si do con ti da quan do ele viu se rem pas sa dos ao fio de es pa da inú me ros bra vos, já per di dos e sem meios de de fe sa, por quan to fo ram aí mor tos uns seis mil, bem con ta dos, dos quais nem um só foi vis to a fu gir ou a su pli car mi se ri cór dia, e mui to pe lo con trá rio o fo ram a pro cu rar pe las ar mas, uns aqui, ou tros aco lá, de fron tar os ini mi gos vi to rio sos, pro vo can do es tes a darem lhes uma mor te hon ro sa. Não se viu ne nhum tão fe ri do que ao exa lar o úl ti mo sus pi ro não ten tas se ain da vin gar se e, com as ar mas do de ses pe ro, con so lar a sua mor te com a de um ini mi go. Ensaios_clássicos 1.indd 94

Ensaios Antologia 95 To da via, a sua va lo ro sa afli ção não des per tou em Ale xan dre qualquer pie da de, e um dia in tei ro não lhe bas tou pa ra sa ciar a se de de vin gan ça. Du rou a car ni fi ci na até ao der ra mar da úl ti ma go ta de san gue e só fo ram pou pa das as pes soas de sar ma das, ve lhos, mu lhe res e crian ças, dos quais se fi ze ram trin ta mil es cra vos. Ensaios_clássicos 1.indd 95