Registro: 2011.0000018579 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0142773-50.2009.8.26.0100, da Comarca de, em que é apelante MARITIMA SAUDE SEGUROS S/A sendo apelado LIDIA ZAHARIC. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), BERETTA DA SILVEIRA E ADILSON DE ANDRADE., 15 de março de 2011 Donegá Morandini RELATOR Assinatura Eletrônica
3ª Câmara de Direito Privado Apelação Cível n. 0142773-50.2009.8.26.0100 Comarca: Apelante: Marítima Saúde Seguros S/A Apelada: Lidia Zaharic Voto n. 17.476 Plano de saúde. Prescrição. Inocorrência da prescrição anual. Natureza jurídica da relação contratual que, em sua essência, por não importar verdadeiramente em seguro, afasta a incidência da prescrição ânua. Contratos celebrados anteriormente à edição da Lei 9.656/98. Irrelevância, por se tratar de obrigação de trato sucessivo. Aumento da mensalidade em razão da alteração da faixa etária. Contrato que não descreveu o percentual de reajuste incidente em cada uma das faixas etárias. Aumento superior a 100% dos valores anteriormente cobrados. Abusividade reconhecida. Aplicação do disposto no artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do Consumidor. Sentença mantida nos termos do artigo 252 do Regimento Interno. Apelo improvido. 1.- Pela r. sentença de fls. 178/185, cujo relatório é adotado, a ação de revisão contratual cumulada com depósito das parcelas que LIDIA ZAHARIC move contra MARÍTIMA SAÚDE SEGUROS S/A foi julgada parcialmente procedente, acolhendo a pretensão relativa à abusividade no aumento das mensalidades do plano de saúde usufruído pela autora. Apela a ré. revisão do julgado, com a improcedência da demanda. Insiste, pelas razões apresentadas às fls. 187/207, na Contra-razões às fls. 264/268. Apelação nº 0142773-50.2009.8.26.0100 - - VOTO Nº 17.476 2/6
É o RELATÓRIO. 2.- O apelo deve ser improvido. Com efeito. Definem os contratos de seguro saúde, plano de saúde ou medicina pré-paga, como aqueles que envolvem a transferência onerosa e contratual de riscos futuros à saúde do consumidor e de seus dependentes, mediante a paga de um prêmio, que dá origem ao pagamento direto ou o reembolso dos gastos e serviços médico-hospitalares (Cláudia Lima Marques, Planos Privados de Assistência à Saúde. Desnecessidade de opção do consumidor pelo novo sistema. Opção a depender da conveniência do consumidor. Abusividade de cláusula contratual que permite a resolução do contrato coletivo por escolha do fornecedor. RDC, v. 31, p. 134). O seguro saúde se caracteriza pelo regime da livre escolha de médicos e hospitais e reembolso das despesas médico-hospitalares nos limites da apólice. As empresas de medicina de grupo, por seu turno, são pessoas jurídicas com o objetivo de assegurar assistência médica ou hospitalar ou ambulatorial, mediante três maneiras de atuação: a) exploração de recursos materiais e humanos próprios (médicos, hospitais e ambulatórios); b) credenciamento de serviços de terceiros; c) por um sistema misto, que abranja serviços próprios e rede credenciada. A natureza dos diversos contratos, embora todos regidos pelo CDC e pela Lei 9.656/98, gera efeitos jurídicos distintos quanto a extensão da cobertura, modo de prestação do serviço e, sobretudo, quanto à responsabilidade civil. Disso decorre que os regimes jurídicos dos contratos de plano de saúde e de seguro saúde têm diferenças marcantes, razão pela qual não Apelação nº 0142773-50.2009.8.26.0100 - - VOTO Nº 17.476 3/6
se pode estender o regime excepcional da prescrição válida para as demais espécies de contratos-seguro. Não bastasse, a avença em exame é de execução continuada e a lesão ao interesse fundamental do paciente é permanente, renovando-se a cada dia, o que basta para espancar o pretendido acolhimento da prescrição. Esse entendimento, vale destacar, encontra acolhimento em diversas Câmaras deste Tribunal, conforme os seguintes precedentes: Agravo de Instrumento n. 990.10.276946-1, 4ª Câmara, Relator Des. Francisco Loureiro; Agravo de Instrumento n. 990.10.318099-2, 6ª Câmara, Relator Des. Paulo Alcides; Apelação Cível n. 990.10.177725-8, 6ª Câmara, Relator Des. Roberto Solimene, e Apelação Cível n. 990.10.232689-6, desta Relatoria. Dessa forma, aplica-se, na espécie dos autos, o prazo prescricional de 10 (dez) anos, conforme o disposto no artigo 205, do Código Civil. Em caso análogo decidiu o Superior Tribunal de Justiça: Processual civil. Recurso Especial. Ação Civil Pública. Ministério Público. Plano de saúde. Interesse individual indisponível. Reajuste. Cláusula abusiva. Prescrição. Art. 27 do CDC. Inaplicabilidade. Lei 7.347/85 omissa. Aplicação do art. 205 do CC/02. Prazo prescricional de 10 anos. Recurso não provido (REsp 995.995/DF, Relª Minª Nancy Andrighi). Não se desconhece a adesão da autora ao plano de saúde antes da vigência da Lei 9.656/98. A avença, como dito, é de trato sucessivo, de execução continuada. Aliás, sobre a incidência da Lei 9.656/98 aos contratos anteriores a sua vigência, já decidiu este Tribunal: Antes de tudo, ressalte-se ser plenamente aplicável a Lei 9.656/98, ainda que o contrato tenha sido firmado antes de sua vigência, pois se trata de contrato de execução continuada. A apreciação da controvérsia, portanto, deve levar em conta não apenas os termos do contrato, mas também os princípios sociais inerentes à própria atividade da apelante, complementados pelo Código de Defesa do Consumidor (Apelação Cível n. 545.676.4/3, de São Caetano do Sul, 4ª Câmara de Direito Apelação nº 0142773-50.2009.8.26.0100 - - VOTO Nº 17.476 4/6
Privado, Relator Desembargador Maia da Cunha). Nem se argumente que a aplicação da Lei 9.656/98 ao caso dos autos implica em afronta ao texto constitucional. A propósito, inclusive, já decidiu esta Câmara em hipótese parelha:...muito embora a contratação entre a recorrente e os autores tenha sido anterior à Lei 9.656/98, tratando-se de contrato de trato sucessivo, sua aplicação se impõe aos períodos contratuais, a partir da sua vigência (Apelação Cível n. 411.813.4/7, Santo André, Relatora Maria Olívia Alves, julgado em 31 de julho de 2007). Vencidas estas questões, incontroverso nos autos que a autora mantém plano de saúde com a MARÍTIMA SAÚDE SEGUROS S/A há mais de dez anos, tendo havido reajustes nos valores das mensalidades em razão da mudança de faixa etária. Esses reajustes, no entanto, ainda que decorrentes da adoção de sistema atuarial, violam as disposições do Código de Defesa do Consumidor, já que a relação dos autos encerra a hipótese de uma relação de consumo. Dessa forma, firmada a natureza consumerista do contrato, resta analisar a validade do índice de reajuste imposto pela ré à autora. No presente caso, a operadora impôs à requerente um percentual flagrantemente abusivo de reajuste, superior a 100% dos valores anteriormente cobrados (fls. 22/23), sem ao menos especificar a gênese do índice, o que torna ausente a necessária informação, além de adequada e clara, sobre a origem dos percentuais aplicados, com violação de direito básico do consumidor, nos termos do artigo 6º, inciso III, da Lei 8.078/90. À vista do exposto, desponta como razoável, na espécie, a adoção de percentual estipulado pela ANS, ficando vedado o reajuste Apelação nº 0142773-50.2009.8.26.0100 - - VOTO Nº 17.476 5/6
contratual por faixa etária. A propósito, em caso similar, já decidiu esta Colenda Câmara: Plano de saúde. Reajuste das mensalidades...reajuste, ademais, revestido de nulidade, já que implantado de forma unilateral por parte da apelante e com a utilização de índice da sua exclusiva conveniência. Procedência da ação mantida. Apelo improvido (Apelação Cível n. 469.310-4, São Caetano do Sul, desta Relatoria). É o quanto basta à manutenção da r. sentença de fls. 178/185, cujos fundamentos, repita-se, são incorporados ao presente voto, na forma do citado artigo 252 do Regimento Interno deste Tribunal. Isto posto, nega-se provimento ao apelo. Donegá Morandini Relator Apelação nº 0142773-50.2009.8.26.0100 - - VOTO Nº 17.476 6/6