PROJETO LER E PENSAR: O JORNAL EM SALA DE AULA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O APRENDIZADO DA LEITURA E DA ESCRITA.



Documentos relacionados
Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO. Secretaria de Educação Especial/ MEC

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

Pedagogia Estácio FAMAP

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRESENCIAL E A DISTÂNCIA

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

MATRIZES CURRICULARES MUNICIPAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA - MATEMÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA EM MOGI DAS CRUZES

Título: A formação do professor para o uso do jornal na sala de aula no ensino

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

OBJETIVO Reestruturação de dois laboratórios interdisciplinares de formação de educadores

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ACERCA DO PROJETO A CONSTRUÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO/ARGUMENTATIVO NO ENSINO MÉDIO: UM OLHAR SOBRE A REDAÇÃO DO ENEM

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

Projeto Jornal Educativo Municipal

GRADUAÇÃO INOVADORA NA UNESP

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

ANEXO I DESCRIÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DOS CARGOS TABELA A ATRIBUIÇÕES DO CARGO PROFESSOR E PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 20 HORAS

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA BARREIRA ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

EDUCADOR INFANTIL E O PROCESSO FORMATIVO NA CONSTRUÇÃO DE ATORES REFLEXIVOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Aline de Souza Santiago (Bolsista PIBIC-UFPI), Denis Barros de Carvalho (Orientador, Departamento de Fundamentos da Educação/UFPI).

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Colégio Cenecista Dr. José Ferreira

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO ONLINE *

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

XI Encontro de Iniciação à Docência

QUALIFICAÇÃO DA ÁREA DE ENSINO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PARA PROFISSIONAIS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA: UMA PROPOSTA UTILIZANDO TECNOLOGIAS

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

IMERSÃO TECNOLÓGICA DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES DE FORMAÇÃO CONTINUADA MEDIADA POR AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM A DISTÂNCIA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E ENSINO DE FÍSICA E AS NOVAS TECNOLOGIAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Currículo e tecnologias digitais da informação e comunicação: um diálogo necessário para a escola atual

crítica na resolução de questões, a rejeitar simplificações e buscar efetivamente informações novas por meio da pesquisa, desde o primeiro período do

ALGUNS ASPECTOS QUE INTERFEREM NA PRÁXIS DOS PROFESSORES DO ENSINO DA ARTE

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

CONSELHO ESCOLAR: PARTICIPAÇÃO COMO ELEMENTO DE DEMOCRATIZAÇÃO

ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇO FÍSICO NA CRECHE ( os cantinhos ), que possibilitou entender o espaço como aliado do trabalho pedagógico, ou seja, aquele que

CGEB Coordenadoria de Gestão da Educação Básica. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO Coordenadoria de Gestão da Educação Básica

OS LIMITES DO ENSINO A DISTÂNCIA. Claudson Santana Almeida

Diretrizes: 1. Cumprir as metas do Compromisso Todos Pela Educação- TPE

AS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICO-DIGITAIS NECESSÁRIAS AO TRABALHO NA MODALIDADE EAD: VIVÊNCIAS NA PLATAFORMA MOODLE

BRITO, Jéssika Pereira Universidade Estadual da Paraíba

e construção do conhecimento em educação popular e o processo de participação em ações coletivas, tendo a cidadania como objetivo principal.

GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO CURRICULO ANO 2 - APROFUNDAMENTO

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ALUNO COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NO ENSINO REGULAR

REFORÇO AO ENSINO DE FÍSICA PARA CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA

PROPOSTA PEDAGOGICA CENETEC Educação Profissional. Índice Sistemático. Capitulo I Da apresentação Capitulo II

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR

O intérprete de Libras na sala de aula de língua inglesa Angelita Duarte da SILVA 1 Maria Cristina Faria Dalacorte FERREIRA 2

Anexo II CARGOS DE DCA

AS NOVAS DIRETRIZES PARA O ENSINO MÉDIO E SUA RELAÇÃO COM O CURRÍCULO E COM O ENEM

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

Colégio Pedro II Departamento de Filosofia Programas Curriculares Ano Letivo: 2010 (Ensino Médio Regular, Ensino Médio Integrado, PROEJA)

EaD como estratégia de capacitação

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

Secretaria Municipal da Educação e Cultura - SMEC SALVADOR MAIO/2003

Orientações para informação das turmas do Programa Mais Educação/Ensino Médio Inovador

PROJETO RECICLAR PARA PRESERVAR

PRÁTICA PROFISSIONAL INTEGRADA: Uma estratégia de integração curricular

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES 2004

GUIA DE SUGESTÕES DE AÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Critérios de seleção e utilização do livro didático de inglês na rede estadual de ensino de Goiás

Padrões de Competências para o Cargo de Professor Alfabetizador

Gestão escolar e certificação de diretores das Escolas Públicas Estaduais de Goiás: alguns apontamentos

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

PROJETO PEDAGÓGICO DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

Proposta de curso de especialização em Educação Física com ênfase em Esporte Educacional e projetos sociais em rede nacional.

INSTITUIÇÕES E FUNDAÇÕES

Formação e Gestão em Processos Educativos. Josiane da Silveira dos Santos 1 Ricardo Luiz de Bittencourt 2

ESCOLA ESTADUAL GETÚLIO VARGAS ENSINO FUNDAMENTAL PROJETO RÁDIO ESCOLA

A ARTE NA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL: EM BUSCA DE UMA PRAXE TRANSFORMADORA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações para a elaboração do projeto escolar

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

PLANO ESTADUAL DE CULTURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PLANO SETORIAL DO LIVRO E LEITURA

CURSO DE EDUCAÇÃO FISICA ATIVIDADES EXTRA CURRICULARES

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

OLIMPÍADAS DE CIÊNCIAS EXATAS: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO ENSINO PÚBLICO E PRIVADO

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

Ministério da Educação Secretaria de Educação Especial

MANUAL DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES PARA O CURSO DE FISIOTERAPIA

REGULAMENTO DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES

REFLEXÕES PEDAGÓGICAS SOBRE A DANÇA NO ENSINO MÉDIO

LEITURA E ESCRITA: HABILIDADES SOCIAIS DE TRANSCREVER SENTIDOS

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

ANÁLISE DOS TEXTOS PRODUZIDOS POR UMA TURMA DO 3ºANO DO ENSINO MÉDIO À LUZ DOS CRITÉRIOS DO ENEM

PLANO DE AÇÃO

softwares que cumprem a função de mediar o ensino a distância veiculado através da internet ou espaço virtual. PEREIRA (2007)

GESTÃO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL E INDICADORES DE DESEMPENHO: CASO DA REDE MUNICPAL DE ENSINO DE ESTEIO

TUTORIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Maria Teresa Marques Amaral. Introdução

O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE

Sequências Didáticas para o ensino de Língua Portuguesa: objetos de aprendizagem na criação de tirinhas

QUALIFICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO DE PROFESSORES DAS UNIDADES DE ENSINO NA ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS FORMAIS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Transcrição:

PROJETO LER E PENSAR: O JORNAL EM SALA DE AULA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O APRENDIZADO DA LEITURA E DA ESCRITA. MARY NATSUE OGAWA (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CURITIBA), KATIA SANTOS LIMA (SCRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO DE CURITIBA ). Resumo O projeto Ler e Pensar, desenvolvido nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, em parceria com o Instituto Rede Paranaense de Comunicação RPC, objetiva estimular no estudante o interesse pela leitura. Tem como premissa a utilização da mídia escrita como elemento propulsor para a potencialização do aprendizado em leitura, e estabelece como prioridade o desenvolvimento da criticidade na interpretação dos textos e da possibilidade de compreender os fatos e a sua significação no contexto social do aluno. A Secretaria Municipal de Educação vem desenvolvendo concomitantemente ao trabalho com o jornal impresso, a proposta de utilização do jornal online. Esta modalidade de trabalho pedagógico parte da leitura, interpretação e análise do jornal impresso como etapas para a elaboração e escrita do jornal eletrônico, ferramenta educativa que envolve saberes que perpassam as áreas do conhecimento inerentes ao processo de formação acadêmica do estudante e também da construção da cidadania. O estudo em questão é um relato de experiência de escolas desta rede de ensino, e visa discutir a articulação da leitura de jornais com a escrita dos jornais na escola, como o mural e o eletrônico. Este estudo de caráter investigativo está fundamentado em Freinet (1974) e Faria (2001) em relação ao uso do jornal em sala de aula, e Koch (2006), que discute leitura e a compreensão textual. O acompanhamento dos trabalhos desenvolvidos nestas escolas aponta para uma significativa melhora na produção de textos, indicando ampliação do vocabulário, aperfeiçoamento quanto à utilização da gramática e ortografia, e textos mais críticos dos estudantes. Palavras-chave: Leitura, Escrita, Jornal na sala de aula. 1. INTRODUÇÃO O artigo aqui apresentado tem como objetivo discutir e apresentar alguns elementos propostos no "Projeto Ler e Pensar". O "Projeto Ler e Pensar" tem como pressuposto incentivar a leitura entre os estudantes a partir da utilização do jornal, entendido aqui como fonte de informações e ferramenta para o aprimoramento da leitura e interpretação, e o aperfeiçoamento da produção escrita como consequência da prática da leitura. A formação de um leitor crítico é resultado do exercício constante em leitura dos diversos gêneros textuais, e esta criticidade vai se refletir na escrita com opinião, e principalmente na construção da leitura de mundo. Segundo as palavras do educador Paulo Freire "a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra" (1990:11), todavia, a leitura da palavra não se limita ou se conclui na decodificação dos grafemas, mas se articula à vivência e aos saberes do mundo e da sociedade, elementos que conferem sentidos e significação às palavras.

O entendimento das relações sociais se faz perceptível a partir do acesso às informações e da adequada interpretação dos fatos. E a possibilidade de intervenção nas relações que se estabelecem na sociedade, só se materializa na real compreensão da leitura da palavra e do mundo. Segundo MORAIS (1996): A leitura é indiscutivelmente um problema da sociedade. O desenvolvimento econômico é condicionado pela possibilidade que todos os homens e mulheres ativos (e não apenas certas camadas sociais) tem de tratar a informação escrita de uma maneira eficaz. (p. 19) A importância do jornal neste processo está na possibilidade de democratizar as informações e conhecimentos, e o papel do professor que utiliza o jornal como ferramenta educativa é oportunizar ao estudante a reflexão sobre as informações e a consequente reelaboração em direção à escrita argumentativa e ao posicionamento crítico diante dos fatos. A meta do professor que realiza este trabalho é efetivar uma leitura de mundo, na qual deve estar contemplada a formação crítica e cidadã. O "Projeto Ler e Pensar" propõe também o trabalho com o jornal on-line que tem como premissa a utilização das tecnologias educacionais, articulando-as às atividades de leitura, decorrentes do uso do jornal em sala de aula, conferindo uma nova dinâmica ao aprendizado escolar. A experiência do trabalho com mídias e tecnologias a serviço da educação, assentada em uma adequada base teórica e orientação contínua do professor, possibilitará, sobretudo uma reflexão crítica sobre mídia, tecnologias e desenvolvimento social. 2. O JORNAL NA SALA DE AULA A busca por alternativas pedagógicas que favoreçam o aprendizado, particularmente da leitura e escrita, perpassa as diferentes épocas e educadores. O trabalho com jornal em sala de aula faz parte deste contexto, inscrevendo-se como busca por opções atrativas e mesmo prazerosa de exercitar e leitura e possibilitar assim, a escrita de forma qualitativa. Na década de 20, o pedagogo francês Célestin Freinet recorre a um curioso instrumento para enriquecer suas aulas: a tipografia. A partir da articulação desta à prática em sala de aula, Freinet daria vazão ao surgimento da imprensa escolar. A implementação da imprensa escolar como atividade rotineira no universo escolar, iniciaria um trabalho não só de incentivo a leitura e escrita, mas de motivação pelo aprendizado e gosto pelo aprender. Faziam parte deste contexto, atividades como a correspondência interescolar, o jornal escolar, viagens-intercâmbios. Fruto deste trabalho realizado com paixão por educador e educandos o texto livre, nascido das diversas produções exercitadas nas tipografias, será o elemento indicador de uma pedagogia voltada para a práxis, com o objetivo de efetivar

qualitativamente o processo aprendizagem da escrita e da leitura, com resultados positivos visíveis na produção intelectual de seus estudantes. A imprensa escola acabou por se mostrar um método completo de ensinoaprendizagem, visto que não apenas propiciava a aprendizagem da leitura, como também instigava melhores produções escritas. Contudo o trabalho com a imprensa escolar partia da elaboração e confecção do jornal escolar e, posteriormente, do jornal mural, ou seja, partia da produção escrita, tendo como consequência a leitura. A criticidade das produções ficava relegada a um segundo plano. É certo que o contexto social e histórico em que ocorre a implementação desta atividade determinou os rumos do aprendizado daqueles para a qual era empregada. Ainda assim, o advento da imprensa no cotidiano escolar tornou-se referência para outras experiências desta natureza, refletindo-se nos mais variados projetos de leitura e escrita com a utilização do jornal em sala de aula, por todo o mundo. No decorrer da história da educação, outros estudiosos lançaram seus olhares e também contribuições sobre o jornal como recurso pedagógico. Mais contemporaneamente, citamos Bahia (2007), Camargo (2006) e Ferreira (2006) que trataram do uso do jornal em sala de aula enquanto proposta de parcerias por parte da iniciativa privada, caso do "Projeto Ler e Pensar". Faria (2001) e Rodrigues (2006) abordaram o tema a partir da formação continuada de profissionais e a sua intervenção na prática educativa. A proposta de utilização do jornal em sala de aula tem como meta elevar a patamares mais eficientes a leitura e consequentemente a escrita, mas traz sobretudo a possibilidade de oportunizar aos educando maiores espaços na sociedade, visto que o acesso à informação tende não somente democratizar conhecimento, mas principalmente propiciar a elaboração de novos conhecimentos que se constroem a partir da articulação do conhecimento prévio do sujeito à interpretação adequada das informações que são veiculadas diariamente. Ainda que o acesso a Informações seja possível por meio de diversos canais, sem o devido preparo e orientação, esses subsídios se perdem, se tornam vazios em seu conteúdo. A necessária interpretação crítica da informação se faz com base no aprendizado da leitura, da palavra e do mundo, conforme Melo (1985). Neste contexto, o jornal contribui não somente como material para o incentivo a leitura, mas propicia o desenvolvimento de noções de cidadania (FARIA, 2001:91), possibilita ainda a constituição de um senso crítico necessário para o exercício de "ler e interpretar" o mundo, pois "o domínio do saber representa condição indispensável para o exercício da cidadania" (MELO, 1985:10). Quando o professor faz uso do jornal em sala de aula possibilita a articulação entre o mundo e a escola, favorece a contextualização dos fatos e conteúdos escolares (BAHIA, 2007:174). Essa aproximação torna o aprendizado mais significativo e implica na afirmação de um posicionamento em que participação do estudante na rotina escolar se constrói de maneira ativa e crítica. 3. O "PROJETO LER E PENSAR"

O "Projeto Ler e Pensar" parte também da experiência de Celestin Freinet, objetivando primordialmente o incentivo à leitura e escrita de forma prazerosa, interessante e desafiadora. Embora, assim como a imprensa escolar de Freinet também parta do uso do jornal, diferencia-se em alguns aspectos práticos, pois utiliza o jornal imprenso como base para a leitura e interpretação das notícias, para então partir para a estruturação do jornal, seja no formato jornal da escola, do jornal mural ou do jornal eletrônico. O formato deste projeto prevê a discussão da estrutura do jornal de forma que o estudante possa se familiarizar com o mesmo e entender a distribuição das informações no jornal e o porquê, qual a lógica desta distribuição, por que abordar as notícias em cadernos temáticos (esporte, política, classificados, etc.), direcionando o conteúdo de acordo com a preferência ou interesse de cada consumidor. Trabalha também com a seleção de informações por temas: as hemerotecas, que se constituem em fontes de pesquisa criadas pelos próprios estudantes. Todas estas atividades vão implicar em ler e compreender. Em um primeiro momento, a leitura se faz buscando o entendimento daquilo que se lê, entretanto esta leitura, adequadamente orientada, irá ser aprofundada com discussões que possibilitem o pensar sobre o que se lê e buscar além do que está pautado nas linhas, ler as entrelinhas, tornando-se, portanto, um leitor crítico com reais condições de opinar, intervir e questionar informações e pontos de vistas, muitas vezes ocultos nas notícias que são veiculas pelas mídias. Como fruto deste trabalho também a escrita é aprimorada, pois em consequência da intensificação da leitura com um material diversificado, com um vocabulário amplo e diverso, a produção escrita será enriquecida com maiores possibilidades, seja em termos de conteúdo, gramática e ou ortografia, ou seja, o estudante que lê e compreende a realidade tem maiores chances de opinar, de expressar por escrito, de argumentar e defender o seu posicionamento sobre determinado assunto ou acontecimento. Outro espaço incorporado ao trabalho com o jornal como recurso pedagógico é o das tecnologias de informação e comunicação, em especial o jornal eletrônico. A construção do jornal eletrônico ou on-line requer não somente a compreensão da estrutura do jornal, a utilização da linguagem adequada, tipologia, etc., mas exige o domínio dos recursos tecnológicos, e principalmente a organização do trabalho em equipe, pois cada etapa da construção do jornal eletrônico prescinde de cuidados e atenção. Embora toda produção escrita deva ser cuidadosamente organizada, no caso do jornal eletrônico, deve-se considerar o alcance deste, o que certamente irá exigir maior preocupação por parte de seus criadores. O "Projeto Ler e Pensar" é desenvolvido nas escolas da Rede Municipal de Educação de Curitiba desde 2003, atualmente das 174 escolas da RME, 78 participam do projeto. Deste total, 48 escolas desenvolvem o projeto somente na modalidade online. Embora se trate de uma modalidade de trabalho recente, incentivada pela Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, que disponibiliza todos os recursos necessários para tal, ainda requer uma maior caminhada entre os professores, porém algumas unidades já têm se destacado, servindo de modelo e estímulo. Realizam o trabalho de leitura do jornal a partir da interface com os canais tecnológicos disponíveis em nossas escolas, e aprimoram sua escrita na postagem das notícias, que são rigorosamente verificadas e avaliadas para este fim. Obviamente, este trabalho também se reflete na produção escrita em sala de aula e na articulação com outros conteúdos escolares.

A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba vem desde 2007 realizando sistematicamente avaliações em todas as escolas da rede nas áreas de língua portuguesa e matemática. Essas avaliações têm como objetivo não somente verificar o processo ensino-aprendizagem, mas principalmente orientar o trabalho quanto a esses resultados. A partir das análises realizadas o trabalho pedagógico é reorganizado no sentido de intensificar e aprimorar o ensino de conteúdos que indiquem baixos índices de aproveitamento escolar. Para assegurar a eficácia deste trabalho, a SME tem investido cada vez mais em cursos de capacitação e formação contínua, produção e implementação de materiais pedagógicos que condizem com as Diretrizes Municipais para a Educação de Curitiba, como os cadernos pedagógicos nas diversas áreas do conhecimento, aplicação de projetos de atividade complementar, e tem realizado o acompanhamento constante junto ao corpo docente das escolas. Como resultado deste trabalho as escolas da RME vem elevando significativamente o seu Índice de Desenvolvimento de Educação Básica - IDEB. As escolas que desenvolvem o "Projeto Ler e Pensar" apresentam também um relevante aumento no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica, o que aponta para a necessidade de verificar-se em que grau o trabalho com jornal contribui para compor os índices do IDEB e qual os seus efetivos resultados no aprendizado da leitura e escrita. 4. RELATOS O desenvolvimento do "Projeto Ler e Pensar" prevê como parte de sua programação, reuniões periódicas para o acompanhamento do projeto. O objetivo desses encontros é perceber de que maneira o projeto tem sido realizado nas escolas e qual o envolvimento do grupo de professores. Mas o ponto principal desta integração entre as escolas participantes do projeto é o momento de apresentação dos trabalhos desenvolvidos. Todos têm a oportunidade de mostrar o que tem sido feito em sala de aula, e ocorre uma intensa troca de experiência quanto às praticas pedagógicas com o jornal. O acompanhamento das escolas que realizam o trabalho com o "Projeto Ler e Pensar" aponta resultados relevantes, em especial quanto à compreensão da leitura e produção escrita. Na escola que aqui iremos denominar como escola X, que participa do projeto desde 2003, a professora que acompanha a turma durante as duas etapas que compreende o ciclo II, relata as transformações de cunho qualitativo que são visivelmente perceptíveis quanto à escrita de seus alunos. A escola em questão, em 2005, teve como rendimento o índice de 3,8 no IDEB; em 2007, apresentou um crescimento de 34,2% em relação a 2005, com um índice de 5,1. (MEC/INEP, 2008). Embora a escola participe desde 2003 do projeto, ano em o mesmo teve início na rede municipal, é preciso considerar a necessidade de um determinado intervalo de tempo, para que se possam observar os resultados de um trabalho específico.

Obviamente, são vários os fatores que incidem sobre os índices do IDEB, não sendo ainda possível mensurar em números em que medida o desenvolvimento do projeto contribuiu para esta elevação, pois a Rede Municipal de Ensino de Curitiba tem como já citado anteriormente, investido nas diversas frentes para efetivar a melhoria da qualidade na educação. Contudo não se pode também desconsiderar a aplicação de atividades envolvendo o uso do jornal e os resultados do mesmo. Diversos são os relatos sobre o avanço dos alunos em leitura e escrita, e em especial na fala daquelas professoras que acompanham suas turmas de uma etapa para outra do ciclo, dando continuidade ao trabalho com jornal em sala de aula. Os relatos trazem aspectos relativos ao aprimoramento da escrita e da leitura, e também quanto à oralidade, pois uma das atividades de maior preferência dos alunos é a apresentação de telejornais, que aborda o trabalho com a mídia televisiva. O mapeamento preciso que possibilite mensurar a influência do projeto no aprendizado escolar implica em estudos futuros, que incluem instrumentos específicos para avaliar as turmas e estudantes que participam do projeto e que resultados especificamente podem ser observados a partir da aplicação deste. 5. CONCLUSÕES A proposta do presente trabalho não se baseia em apontar resultados conclusivos, mas indicar caminhos e possibilidades, articular discussões e opções para o enriquecimento e ampliação da prática pedagógica, sobretudo da leitura e escrita. A Secretaria Municipal da Educação, ao deflagrar o processo avaliativo, propôs aos seus profissionais reavaliar a prática educativa e também buscar inovações que aliem o pedagógico e a tecnologia, elementos que compõem a necessária formação do estudante em consonância com a dinâmica social contemporânea. Nesta perspectiva, o "Projeto Ler e Pensar", imbuído de uma intencionalidade pedagógica de trabalhar a informação e a notícia, possibilita o aprimoramento da leitura crítica e da escrita argumentativa, e traz significativas contribuições para a conquista de uma ampliação na qualidade de ensino, constituindo-se como mais um instrumento a serviço da formação crítica e cidadã de nossos estudantes. 6. REFERÊNCIAS

BAHIA, José Péricle Diniz. Jornal na escola: estratégias de uso para a construção de cidadania. Revista Faced, Salvador, n. 11, p. 171-187, jan/jun 2007. CAMARGO, Eliana nardeli de; FELDMAN, Maruba Graziela. PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO. Programa de Pós-Graduação em Educação. Formação de professores no programa jornal, escola e comunidade. 2006. 174 f. Tese (Doutorado) - Pontifica Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006 COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002. FARIA, Maria Alice de oliveira. O jornal na sala de aula. 11. ed. São paulo: contexto, 2001. FERREIRA, Kátia Zanventtor; Frigotto, Edith. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Educação. Quem lê jornal sabe mais? As relações discursivas entre educação e jornal. 2006. 129 f. Dissertação (Mestrado) - universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2006. FREINET, Célestin, As técnicas Freinet da escola moderna. Lisboa : Estampa, 1973. FREINET, Célestin, O jornal escolar. Lisboa: Estampa, 1974. FREINET, Élise, O itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na pedagogia de Freinet. Paris : Payot, 1977. FREIRE, Paulo, A importância do ato de ler: em três artigos que se completam, 47. ed. São Paulo, Cortez, 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MELO, José Marques. Para uma leitura crítica da comunicação. São paulo : Paulinas, 1985. MORAIS, José. A arte de ler. Paulista, 1996. São Paulo: Editora da universidade Estadual OLIVEIRA, Eliane Abel; MEYER, Patrícia. Jornal eletrônico escolar: uma nova abordagem de produção do conhecimento. In: VIII Congresso Nacional da Educação da Pontifica universidade Católica do Paraná (EDUCERE). Curitiba, 2008. Anais, Curitiba, PUCPR, 2008. RODRIGUES, Márcio de oliveira; VOSGERAU, Dilmeire Sant anna Ramos. PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANA Programa de pós- Graduação em Educação. A integração do recurso-jornal na prática pedagógica do professor: estudo de uma proposta de formação continuada. 2006. 156f. Dissertação (Mestrado) - Pontifica universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006. BRASIL, MEC - Ministério da Educação. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - Resultados e Metas. Disponível em: < http://ideb.inep.gov.br/site/.> Acesso em 20/07/2009.