TÍTULO: DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS: VISÃO GLOBAL E SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL



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Transcrição:

TÍTULO: DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS: VISÃO GLOBAL E SITUAÇÃO ATUAL NO BRASIL CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: BIOMEDICINA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): BRUNA ANGELA ARMILIATTO SOTTILI ORIENTADOR(ES): GENTILDA KAZUKO FUNAYAMA TAKEDA

1- Resumo As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) são enfermidades que acometem principalmente populações de áreas pobres em todo o mundo podendo levar à deficiência ou à incapacitação temporária ou permanente no indivíduo. Suas incidências sempre foram altas e as causas são: baixa educação, condições sanitárias inadequadas e falta de acesso às estruturas de saúde para prevenção, diagnóstico e tratamento; são normalmente encontradas em países de baixo IDH. O combate a elas não costuma ser efetivo por parte dos governos, já que afetam populações de pequeno peso político. Desde 2010 a OMS vem analisando estas doenças traçando planos de ação para o combate, visando o controle de algumas e a eliminação de outras utilizando estratégias como: a quimioprofilaxia; a intensificação do combate precoce à doença; o controle de vetores; a melhoria das condições sanitárias e aumento do acesso à água tratada e, por fim a adoção de políticas de saúde em medicina veterinária para combater as zoonoses. No Brasil, são listadas: as leishmanioses, malária, dengue, doença de Chagas, esquistossomose e lepra. Medidas de controle têm sido adotadas havendo, em alguns países, diminuição da incidência de algumas doenças enquanto outras permanecem com quadro inalterado. Palavras-chave Doenças Tropicais Negligenciadas; Pobreza; Controle; Tratamento; Brasil. 2- Introdução Doenças tropicais negligenciadas (DTNs) são definidas como doenças que levam o indivíduo ao quadro clínico crônico e debilitante causadas por infecções bacterianas, virais e parasitárias [1]. Constituem um grupo de doenças frequentes em 2,7 bilhões das pessoas, atingindo as mais pobres do mundo que vivem com menos de US$2 por dia [3,5]. Não obstante os terríveis sofrimentos e as incapacidades permanentes que elas provocam, estas doenças são frequentemente menos visíveis em relação a outras doenças e despertam pouca atenção dos governos e, por conseguinte, são negligenciadas. Elas persistem exclusivamente nas comunidades mais pobres e mais marginalizadas que vivem nas regiões tropicais e subtropicais; assolam os locais onde não há água potável e nem saneamento básico satisfatório, onde as condições de habitação são deploráveis e o acesso aos cuidados de saúde é limitado [1,3,5].

Segundo dados do Centers for Disease Control and Prevention [7] (CDC): Cem por cento dos países de baixo rendimento são afetados por pelo menos cinco DTNs, simultaneamente, em todo o mundo; 149 países e territórios são afetados, no mínimo, por uma DTN; as DTNs são responsáveis por estimados 534.000 casos de morte, no mundo, por ano; são causa principal da carga da doença resultando em cerca de 57 milhões anos de vida perdidos devido à morte e invalidez prematuras; os indivíduos muitas vezes são atingidos por mais de um parasita ou infecção e o custo do tratamento para a maioria dos programas de administração de drogas em massa nas DTNs é estimado em menos de US$ 0,50 por pessoa por ano. Atualmente foram recenseadas 40 doenças tropicais negligenciadas, podendo, na sua maioria, ser prevenidas ou eliminadas [6]. Em 2010, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou seu primeiro relatório sobre estas, desde então elas têm despertado uma atenção maior no âmbito internacional, fazendo surgir um novo esforço visando o seu controle e erradicação [6]. 3- Objetivos Este trabalho tem como objetivo mostrar a atual situação das DNTs em um âmbito global, o trabalho feito pela OMS na busca de sua erradicação, os resultados obtidos até agora no mundo e também a situação dessas doenças no Brasil. 4- Metodologia Para elaborar este trabalho foi realizada pesquisa em artigos científicos publicados no Pubmed, Scielo e relatórios da OMS e do Ministério da Saúde do Brasil. 5- Desenvolvimento 5.1. Principais Doenças Tropicais Negligenciadas Artigos publicados em 2005 e 2006, na PLoS, forneceram uma lista de 15 DTNs, 13 das quais foram consideradas de particular importância em termos de taxas de mortalidade anual e carga global. Esta lista formou o escopo inicial da revista de livre acesso on line PLoS Neglected Tropical Diseases. Estavam incluídas nove infecções por helmintos (Teníase/Cisticercose, trematodíase, drancunculíase,

filaríase linfática, oncocercose, esquistossomose), três geohelmintoses (ascaridíase, ancilostomose e tricuríase), três protozooses (doença de Chagas, tripanossomíase humana africana e leishmaniose) e três infecções bacterianas (úlcera Buruli, lepra e tracoma). 6 Na mesma época, OMS listou algumas doenças adicionais como: doenças diarréicas/epidêmicas (cólera, febre hemorrágica da dengue/dengue e trepanomatoses endêmicas como a bouba, pinta e sífilis). Atualmente a lista foi ampliada para 40 doenças [6]. 5.1.1. Características comuns das Doenças Tropicais Negligenciadas a) Pobreza e exclusão; b) afetam as populações menos visíveis e com pouco peso político; c) a incidência é muito maior em mulheres e crianças; d) não se propagam em todo o mundo; e) são prevalentes em todos os países que possuem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); f) são causa de discriminação e marginalização; g) causam um grande impacto na morbidade e na mortalidade; h) não despertam grande interesse para a investigação; i) existem soluções eficazes e realistas para o combate, prevenção e eliminação. 5.1.2. Controle das DNTs Cinco são as estratégias para controle, eliminação e erradicação das DTNs: (1) quimioprofilaxia; (2) técnicas inovadas e intensificadas para controle de doenças; (3) controle do vetor e administração de pesticida; (4) água potável para consumo, condições sanitárias e de higiene adequadas e educação; (5) saúde pública veterinária [2]. 5.1.2.1. Quimioprofilaxia Tem como principal foco a redução da prevalência de doenças. No contexto das DTNs, define-se quimioprofilaxia como a distribuição em larga escala de medicamentos seguros, de dose única, de forma isolada ou em combinação de drogas [3,8]. Dentre as DTNs, destacam-se filariose, oncocercose, esquistossomose, geohelmintíases (ancilostomose, ascaridíase e tricuríase) e tracoma, pois as drogas necessárias para seu tratamento são seguras e, as indústrias farmacêuticas as fornecem como doação ou a baixo custo. Essa estratégia tem como objetivo erradicar e/ou controlar essas doenças até 2020, sendo que em algumas regiões essa meta poderá ser alcançada já em 2015. São 124 os países onde é necessária a implementação da quimioprofilaxia, sendo que há 1,9 bilhões de pessoas vivendo

nessas áreas. Destas, 55% precisam de medicamentos para tratar uma ou duas doenças, e 45% para 3 ou mais doenças; são 40 os países onde é preciso intervenção para 3 ou mais doenças, 33 deles estão na região africana. A administração preventiva de medicamentos é considerada especialmente importante em áreas em que essas doenças são de alta prevalência [3,8]. A cobertura global da quimioprofilaxia preventiva tende a se expandir nos próximos anos devido ao aumento da disponibilidade dos medicamentos doados, ao desenvolvimento dos planos de ação nas regiões afetadas e ao compromisso dos governos e das agências de doações em fortalecer e superar os danos causados pelas doenças [8]. 5.1.2.2. Técnicas inovadas e intensificadas para controle de doenças Muitas DNTs são de difícil diagnóstico e tratamento. O tratamento requer análise de caso e de conduta nos pacientes [8]. Dada à complexidade destas doenças, os pacientes necessitam de hospitais equipados e profissionais bem treinados. A realização sistemática de testes na população exposta é necessária, já que pode haver muitos casos de pessoas infectadas, mas que ainda estão na fase assintomática da doença. As ações primordiais para o controle adequado das DNTs consistem: no diagnóstico precoce; no tratamento para curar ou diminuir o número de infecções e morbidades; na administração de estratégias que respondam apropriadamente aos diferentes níveis de endemicidade e na capacidade dos sistemas de saúde [8]. Segundo a OMS [6] quatro medidas são recomendadas para prevenir e controlar as DNTs: 1. Intensificar o controle - Envolvendo diagnóstico precoce, tratamento imediato, medicamentos disponíveis e de baixo custo, centro de tratamentos apropriados e equipados, monitorização apropriada e vigilância epidemiológica; 2. Inovação - Incluindo implementação de estratégias adaptadas para o sistema nacional de saúde e da epidemiologia destas doenças e quando necessário, modificando as intervenções. 3. Pesquisa e desenvolvimento - Fornecendo novos métodos diagnósticos e drogas mais seguras ou que possam ser usadas em casos remotos e situações mais delicadas. 4. Fortalecimento da capacidade - Realizando esforços para manter e gerar a experiência necessária em nível nacional e melhorando os programas de controle para se adaptar às condições locais.

5.1.2.3. Controle do vetor A OMS promove o controle do vetor através do plano IVM [8] (Integrated Vector Management) e a aplicação devida de pesticidas, e também do programa WHOPES [8] (WHO Pesticide Evaluation Scheme), que visa avaliar os pesticidas usados em âmbito de saúde pública internacional, agindo nos focos específicos. A WHOPES define o IVM como uma abordagem racional que visa otimizar a utilização dos recursos e isso faz parte do plano global da OMS para o combate às DTNs. A abordagem do IVM também engloba a aplicação de princípios ecológicos para o controle de vetores e isso pode ser usado simultaneamente em doenças transmitidas por um ou mais vetores. Desde a publicação do primeiro relatório da OMS sobre as DTNs, a WHOPES melhorou os protocolos para monitorização do uso de pesticidas e os resultados de seus usos. Nos últimos anos, a entidade apoiou mais de 20 países analisando as necessidades de cada um deles, além de desenvolver ações para adequar o direcionamento do uso de pesticidas em cada uma das regiões. Em 2 anos as recomendações para o uso de 8 pesticidas foram finalizadas e há ainda 18 deles em avaliação para otimizar seu emprego [8]. 5.1.2.4. Higiene, Água e Política Sanitária A OMS está associada ao UNICEF em um programa de política sanitária e de fornecimento de água. A meta inicial era reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso a água potável até 2015, porém o relatório de 2011 mostrou que ela foi alcançada já em 2010. Apesar desse sucesso ainda há em torno de 780 milhões de pessoas sem acesso a água de qualidade. Em relação à política sanitária, a OMS apontou uma correlação existente entre a melhora das condições de vida e a redução dos riscos de transmissão de geohelmintíases. Os objetivos em relação a esse tópico estão longe de serem atingidos, pois há mais de 2.5 bilhões de pessoas vivendo em áreas onde as condições são precárias [8]. O relatório também aponta uma grande disparidade entre as regiões avaliadas; por exemplo, 40% das pessoas que não tem acesso à água potável de qualidade vivem na África, mais especificamente na região subsaariana, local onde se encontram muitas DTNs. Há também discrepância em relação às instalações sanitárias. Embora desde 1990, 271 milhões de pessoas

tenham esse acesso, ainda temos 1,1 bilhões de pessoas com problema. Destes, 626 milhões vivem na Índia e isso representa metade de sua população [8]. 5.1.2.5. Política na Saúde Veterinária A medida consiste no uso da ciência veterinária abordando a interação entre homens e animais para proteger a saúde humana. Entre as DTNs, várias são zoonoses, sendo que elas tendem a ser esquecidas; isto ocorre principalmente porque estas doenças afetam primordialmente populações pobres que vivem na área rural, levando à deterioração da saúde e produtividade do gado, causando infertilidade, morte, diminuindo a produção de leite, além de tornar a carne imprópria para consumo. Exemplos dessas zoonoses: a raiva, teníase/cisticercose, tripanossomíases, leishmaniose e equinococose. Em 2010 a OMS realizou uma conferência internacional sobre zoonoses negligenciadas e identificou 5 pontos que demandam atenção urgente: assegurar a avaliação da prevalência das DTNs, levando em conta seu duplo peso, afetando saúde de humanos e animais e, dessa forma, seu custo total para a sociedade; priorizar estudos que enfoquem tanto as zoonoses em si como também os hospedeiros, visando aperfeiçoar os esforços para seu controle; quando viável, ampliar as intervenções para controle e eliminação em locais onde pode ocorrer epidemia; promover colaboração entre os setores envolvidos, saúde pública, agricultura, pecuária, recursos naturais e vida selvagem, e desenvolver políticas conjuntas; reforçar o apoio para o controle dessas doenças entre as partes interessadas, informando-os sobre o fardo social causado e promover educação para a população afetada, para criar uma demanda pelo controle em todos os níveis da sociedade. O custo estimado das ações em política de saúde veterinária gira em torno de US$ 20 milhões ao ano, por 5 anos entre 2012 e 2016 para assegurar os resultados esperados ao final desse período. 5.2. DNTs no Brasil O Brasil tem características comuns aos outros países onde há prevalência de DTNs [5]; havendo muitas regiões em que predomina a pobreza, com condições sanitárias inadequadas. Possuindo baixo IDH, o Brasil ocupa a 79ª posição no ranking [3]. As

DTNs são prevalentes nas regiões mais pobres, no norte e nordeste, locais em que os indicadores econômicos e sociais são significativamente piores. As DTNs mais prevalentes no Brasil são Leishmanioses (Visceral e Tegumentar), Malária, Dengue, Tuberculose, Doença de Chagas, Esquistossomose e Lepra (Tabela 2). Tabela 2. Prevalência das Doenças Tropicais Negligenciadas no Brasil (1998-2007) Fonte: Lindoso, J. A. L., Lindoso, A. A. B. P. Neglected Tropical diseases in Brazil. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo: 51(5): 247-253, 2009. 5.2.1. Leishmanioses Doença causada por mais de 20 espécies do gênero Leishmania e transmitida pelo inseto flebotomíneo. No Brasil, está presente em todas as regiões, havendo aproximadamente 31.000 novos casos ao ano. Apesar de existir um programa adequado para o controle da leishmaniose, o número de casos aumentou e isso se deve às mudanças ambientais, como desmatamento, urbanização e migração de pessoas não imunes para áreas endêmicas [5]. 5.2.2. Malária Causada por protozoários do gênero Plasmodium e transmitido pela fêmea de mosquito do gênero Anopheles, a malária é uma doença cuja incidência e mortalidade tem diminuindo no Brasil nos últimos anos, graças aos esforços integrados de controle entre os governos federal, estadual e municipal. Os principais fatores que contribuíram para essa redução foram: ampliação de hospitais e estruturas para diagnóstico e a disponibilização de medicamentos para o tratamento [5]. 5.2.3. Doença de Chagas

A doença de Chagas é transmitida por insetos hemípteros e causada por Trypanosoma cruzi. Essa doença possui formas crônicas que causam insuficiência cardíaca, arritmias, megacólon e megaesôfago. É responsável por queda na qualidade e diminuição da expectativa de vida nas pessoas infectadas. Para seu controle são necessárias medidas de controle do vetor e estas foram efetivas, pois a transmissão vetorial no nosso país foi eliminada [5]. Atualmente o principal problema são doentes crônicos, especialmente aqueles com mega-cólon e insuficiência cardíaca. 5.2.4. Dengue Causada por um arbovírus que possui 4 subtipos, a dengue é transmitida pelo mosquito fêmea Aedes aegypti. Dados da OMS mostram que 50 a 100 milhões de pessoas são infectadas a cada ano no mundo, em todos os continentes com exceção da Europa. Ela é responsável pela hospitalização de 550 mil pessoas/ano e, é causadora de 20 mil mortes/ano. No Brasil as condições ambientais e as condições sociais brasileiras contribuem para a disseminação da doença porque a pobreza, baixa educação, urbanização desorganizada e condições sanitárias inadequadas e clima a auxiliam a propagação do Aedes aegypti e o aumento do número de casos de dengue. Existe um programa nacional para o controle da dengue que inclui mobilização e educação da população, mas até o presente momento os esforços foram insuficientes para controlar adequadamente a doença [5]. 5.2.5. Lepra Causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, a lepra é mais uma doença fortemente ligada a pobreza. No Brasil ela é mais prevalente nos estados do Maranhão, Mato Grosso e Pará [5]. Mesmo com um bom programa de controle da doença no país, as taxas ainda são altas Apesar dos esforços, a incidência ainda está acima 2 casos para cada 10 mil habitantes, longe da meta da OMS, de no máximo 1 caso para cada 10 mil [8]. 5.2.6. Esquistossomose No Brasil, a doença, causada pelo Schistosoma mansoni, está intrinsicamente relacionada à pobreza e às condições sanitárias inadequadas; presente em 19 estados é endêmica em oito. O programana nacional de controle da Esquistossomose, implementado em 1975, foi baseado em melhorias das condições

sanitárias, na educação sanitária, no abastecimento de água potável, na profilaxia e controle em larga escala do molusco [5]. 6- Resultados A OMS mostra grande preocupação quando se fala do combate à DTNs. Vimos que várias medidas vêm sendo tomadas e que o objetivo é a eliminação de algumas e o controle da incidência de outras dessas doenças. A quimioprofilaxia mostrou bons resultados em algumas áreas e no combate a algumas DTNs, porém, entre os países analisados, apenas 25 países conseguiram atingir as metas em relação ao combate a uma doença. Quando se fala em controle de 3 ou mais, apenas 5 países obtiveram resultado satisfatório [8]. No controle de vetores também houve avanço, mas apesar dos esforços, notou-se uma diminuição no arsenal de inseticidas eficazes no seu combate. Por conta disso é necessário o desenvolvimento de novos produtos, seguros e efetivos. Além de acelerar a descoberta de novos inseticidas também é preciso acelerar sua liberação para venda nos mercados onde são requeridos [8]. Quanto ao saneamento básico, também houve evolução. O relatório da OMS mostra que, entre 1990 e 2010, houve melhoria das instalações sanitárias para 1,8 bilhões de pessoas. Por outro lado, ainda existem 2,5 bilhões onde não ocorreu nenhuma melhoria em 20 anos e destas, 75% vivem em áreas rurais. Em relação à política sanitária é improvável que a OMS consiga atingir suas metas até 2015 impedindo que algumas das 17 DTNs sejam eliminadas conforme se programou [8]. O Brasil mostra quadro semelhante ao enfrentado pelos outros países onde as DTNs são prevalentes. Algumas delas tiveram seu controle melhorado, como esquistossomose, malária, lepra e doença de Chagas. Ainda assim, o número de novos casos de lepra ainda está acima do objetivo da OMS. Quanto à doença de Chagas, a incidência diminuiu, mas ainda tem que se zelar pelos doentes crônicos. Quando se fala de outras DTNs a situação é mais complicada, sendo que os casos de leishimaniose e de dengue aumentaram. Assim como em outras regiões do mundo, as áreas mais pobres e com menor peso político recebem menor atenção [5]. 7- Considerações finais

Em áreas de extrema pobreza em todo o mundo aparecem condições ideais para incidência de doenças, conhecidas como DTNs, devido a baixas condições sanitárias, falta de acesso a água potável e falta de acesso e investimentos em estruturas para tratamento e diagnóstico. Observando esse fato, a OMS elaborou um plano ambicioso de combate, visando o controle dessas doenças e a eliminação de algumas delas até 2015 e outras até 2020. Embora bons resultados já tenham aparecido, ainda há áreas onde a intervenção não surtiu o efeito esperado. Em relação ao Brasil, a situação é semelhante, sendo que as áreas onde se encontram as piores situações também são aquelas onde há população mais pobre, com menor peso político. Também aqui medidas foram adotadas e a incidência de algumas diminuiu, porém há outras ainda fora de controle, apesar de haver planos disponíveis para o combate. 8- Fontes Consultadas 1- Zhang, Y; MacArthur, C; Mubila, L; Baker, S. Control of neglected tropical diseases needs a long-term commitment. BMC Medicine, 8: 67, 2010. 2- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Sustaining the drive to overcome the global impact of neglected tropical diseases: second WHO report on neglected diseases. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data, 2013. 3- Hotez, P. J., Molyneux, D. H., Fenwick, A., Kumaresan, J., Sachs, S. E., Sachs, J. D., Savioli, L. Control of Neglected Tropical Diseases. N Engl J Med, 357:1018-27, 2007. 4-http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDH-Global-2013.aspx-Relatório sobre desenvolvimento humano, 2014,PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, acessado em 16 de agosto de 2014, às 18h 5- Lindoso, J. A. L., Lindoso, A. A. B. P. Neglected Tropical diseases in Brazil. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo: 51(5): 247-253, 2009. 6- Utzinger, J., Becker, S. L., Knoppa, S., Blumb, J., Neumayr, A. L., Keiser, J., Hatz, C. F. Neglected tropical diseases: diagnosis, clinical management, treatment and control. Swiss Med Wkly, 142: w13727, 2012. 7- Center for Disease Control and Prevention CDC Global Health, 2014. 8-http://www.who.int/neglected_diseases/countries/bra/en/, acessado em 15 de agosto de 2014, às 15h