Proposta de Plano de Estudos de Matemática para Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio



Documentos relacionados
RELATO DO PROJETO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO. GT 06 Formação de professores de Matemática: práticas, saberes e desenvolvimento profissional

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações para a elaboração do projeto escolar

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

11 de maio de Análise do uso dos Resultados _ Proposta Técnica

Anexo II CARGOS DE DCA

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO FACIHUS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS Educação de qualidade ao seu alcance SUBPROJETO: PEDAGOGIA

OLIMPÍADAS DE CIÊNCIAS EXATAS: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO ENSINO PÚBLICO E PRIVADO

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

CURSINHO POPULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE

PROJETO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO 1

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE SETEMBRO DE 2012 EREM LUIZ DELGADO

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Aprendizagem da Matemática: um estudo sobre Representações Sociais no curso de Administração

Projeto Político-Pedagógico Estudo técnico de seus pressupostos, paradigma e propostas

INVESTIGANDO O ENSINO MÉDIO E REFLETINDO SOBRE A INCLUSÃO DAS TECNOLOGIAS NA ESCOLA PÚBLICA: AÇÕES DO PROLICEN EM MATEMÁTICA

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

REALIZAÇÃO DE TRABALHOS INTERDISCIPLINARES GRUPOS DE LEITURA SUPERVISIONADA (GRULES)

crítica na resolução de questões, a rejeitar simplificações e buscar efetivamente informações novas por meio da pesquisa, desde o primeiro período do

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR

GUIA DE SUGESTÕES DE AÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

AS NOVAS DIRETRIZES PARA O ENSINO MÉDIO E SUA RELAÇÃO COM O CURRÍCULO E COM O ENEM

EXPERIMENTAÇÃO EM SALA DE AULA: RESISTORES

CURSO: EDUCAR PARA TRANSFORMAR. Fundação Carmelitana Mário Palmério Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


NA POSTURA DO PROFESSOR, O SUCESSO DA APRENDIZAGEM

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

Um espaço colaborativo de formação continuada de professores de Matemática: Reflexões acerca de atividades com o GeoGebra

COMO FAZER A TRANSIÇÃO

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 80 Semestre do Curso: 6º

II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Profissionais de Alta Performance

Gestão Plano de Trabalho. Colaboração, Renovação e Integração. Eduardo Simões de Albuquerque Diretor

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

Agenda Estratégica Síntese das discussões ocorridas no âmbito da Câmara Técnica de Ensino e Informação

Curso de Especialização Docente em Educação Ambiental (Lato Sensu)

COORDENADORA: Profa. Herica Maria Castro dos Santos Paixão. Mestre em Letras (Literatura, Artes e Cultura Regional)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO CURSO ESPECIALIZAÇÃO DE MÍDIAS NA EDUCAÇÃO VÂNIA RABELO DELGADO ORIENTADOR: PAULO GUILHERMETI

QUESTIONÁRIO DO PROFESSOR. 01. Você já acessou a página O que achou? Tem sugestões a apresentar?

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

Manual do Estagiário 2008

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

Resgate histórico do processo de construção da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)

Projeto de Gestão Compartilhada para o Programa TV Escola. Projeto Básico

FUNDAMENTOS DE UMA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA

Educação Física: Mais do que um espaço de desenvolvimento físico, um espaço de possibilidade dialógica.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

OBJETIVO Reestruturação de dois laboratórios interdisciplinares de formação de educadores

Pedagogia Estácio FAMAP

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

Aprendizagem da Análise Combinatória nas séries iniciais do Ensino Fundamental

CONSTRUINDO TRIÂNGULOS: UMA ABORDAGEM ENFATIZANDO A CONDIÇÃO DE EXISTÊNCIA E CLASSIFICAÇÕES

RELATÓRIO TREINAMENTO ADP 2013 ETAPA 01: PLANEJAMENTO

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Relatório da IES ENADE 2012 EXAME NACIONAL DE DESEMEPNHO DOS ESTUDANTES GOIÁS UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

José Fernandes de Lima Membro da Câmara de Educação Básica do CNE

Projetos como alternativa de ensino e aprendizagem 1

VENCENDO DESAFIOS NA ESCOLA BÁSICA... O PROJETO DE OFICINAS DE MATEMATICA

PROJETO MEIO AMBIENTE: CONSCIENTIZAR PARA PRESERVAR - RELATO DA EXPERIÊNCIA DESENVOLVIDA COM ALUNOS DO 3ºANO NA EEEF ANTENOR NAVARRO

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

ESTRATÉGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Profa. Me. Michele Costa

PÓS-GRADUAÇÃO CAIRU O QUE VOCÊ PRECISA SABER: Por que fazer uma pós-graduação?

Projeto. Supervisão. Escolar. Adriana Bührer Taques Strassacapa Margarete Zornita

Novas Tecnologias no Ensino de Física: discutindo o processo de elaboração de um blog para divulgação científica

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

USO DA INFORMÁTICA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS NO 9º ANO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PRESENCIAL DEB

PESQUISA-AÇÃO DICIONÁRIO

É projeto porque reúne propostas de ação concreta a executar durante determinado período de tempo. É político por considerar a escola como um espaço

WALDILÉIA DO SOCORRO CARDOSO PEREIRA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ALUNO COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NO ENSINO REGULAR

8. O OBJETO DE ESTUDO DA DIDÁTICA: O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

Avaliação da Educação Básica no Brasil. Avaliação Educacional no Brasil Década de 90. Questões Básicas

INSTITUTO SINGULARIDADES CURSO PEDAGOGIA MATRIZ CURRICULAR POR ANO E SEMESTRE DE CURSO

PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA e AÇÕES DO PACTO

Débora Regina Tomazi FC UNESP- Bauru/SP Profa. Dra. Thaís Cristina Rodrigues Tezani.

O Papel dos Jogos na Promoção da Aprendizagem Significativa. Adamantina São Paulo 2014

Resolução de Exercícios Orientações aos alunos

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

5 Considerações finais

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Colégio Cenecista Dr. José Ferreira

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

Campanha Nacional de Escolas da Comunidade Mantenedora da Faculdade Cenecista de Campo Largo

DEMOCRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

A EXTENSÃO EM MATEMÁTICA: UMA PRÁTICA DESENVOLVIDA NA COMUNIDADE ESCOLAR. GT 05 Educação Matemática: tecnologias informáticas e educação à distância

EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL: PRÁTICAS INCLUSIVAS E ARTICULADORAS NA CONTINUIDADE DO ENSINO EM MEIO AO TRABALHO COLABORATIVO

Escola Superior de Ciências Sociais ESCS

Transcrição:

Proposta de Plano de Estudos de Matemática para Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio Daniela Cristina Schossler 1 Claus Haetinger 2 Resumo Esta proposta de dissertação está vinculada ao Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Exatas, do Centro Universitário UNIVATES, em Lajeado/RS, e tem como objetivo elaborar um plano de estudos na disciplina de Matemática, que contemple os conteúdos, habilidades e competências contemplados nas avaliações externas a fim de auxiliar na melhoria dos índices das mesmas. Para alcançar esta meta contamos com o apoio da pesquisa intitulada Relação entre a formação inicial e continuada de professores de Matemática da Educação Básica e as competências e habilidades necessárias para um bom desempenho nas provas de Matemática do SAEB, Prova Brasil, PISA, ENEM e ENADE 3 que teve início em janeiro do presente ano e ocorre na instituição já citada. Esta pesquisa integra o Programa Observatório da Educação da CAPES/INEP. Para alcançar nosso objetivo usaremos metodologias diferenciadas. Palavras chaves: Plano de estudos; Matemática; Habilidades e Competências. Introdução O projeto de dissertação relatado neste artigo começou a ser elaborado em março do presente ano e está ligado ao Mestrado em Ensino de Ciências Exatas do Centro Universitário UNIVATES e ao Programa Observatório da Educação, pelo Edital 038/2010/CAPES/INEP. Na pesquisa estão envolvidos quinze bolsistas, dos quais três são alunas do Programa de Mestrado, sendo uma delas a primeira autora deste trabalho, seis são estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Exatas e seis são professoras da Educação Básica de diferentes escolas do Vale do Taquari. Todos são orientados por dois professores do mestrado, sendo um deles o segundo autor deste trabalho. Tomando como base os índices apresentados e divulgados nos meios de comunicação, é possível perceber a situação preocupante em que se encontra a aprendizagem da Matemática no Rio Grande do Sul e também no Brasil. Portanto o grande desafio é melhorar a qualidade da educação de nossos alunos. Para isso contaremos com as avaliações externas, Prova Brasil, SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação 1 Bolsista da CAPES pelo Observatório da Educação Edital 08/2010 - Centro Universitário UNIVATES - danischossler@universo.univates.br 2 Centro Universitário UNIVATES - chaet@univates.br 3 Este projeto conta com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES-Brasil

Básica), PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Preocupados com estes dados e com o andamento das reuniões de planejamento das escolas estaduais participantes da pesquisa, nos incomoda a maneira como é feito o plano de estudos das disciplinas. Todos os anos são exigidas mudanças pela coordenadoria regional de educação, que são impostas repentinamente, levando o grupo de professores a planejar individualmente e sem discussões, cada um para a série em que atua, naquele ano. Percebemos nos planos de Matemática das escolas que alguns conteúdos são abordados em várias séries e outros nunca são contemplados. Acreditamos que isso se deve ao fato do planejamento ocorrer de forma individual e com pouca disponibilidade de tempo. Pensamos que o planejamento e reestruturação do plano de estudos devem ser feitos em equipe, com estudos mais aprofundados, para realmente servir como orientação, contemplando os conteúdos adequados a cada série. Se o planejamento for realizado de forma conjunta, será possível evitar as lacunas de conteúdos de uma série para outra. Conversando com outros professores da rede estadual, percebemos a mesma carência de um plano que esteja em sintonia com conteúdos, habilidades e competências. Também notamos a angústia deles ao relatarem a maneira como ocorrem as reuniões de planejamento que são, geralmente, muito rápidas, sem estudos aprofundados e cada professor estruturando os conteúdos da sua disciplina para o ano. Considerando esta realidade nos motivamos para a realização deste trabalho. Pressupostos teóricos Neste início de século vivemos uma enorme transformação tecnológica, muito rápida e difícil de acompanhar, tanto individualmente, quanto para os órgãos públicos, no que diz respeito à estrutura dos laboratórios de informática das escolas públicas do Rio Grande do Sul, conforme James (1998). Apesar de já terem se passado 13 anos, notamos que as mudanças que ocorrem nas escolas são muito lentas em relação a forma como evoluem na sociedade. O autor ressalta que os avanços em alta velocidade provocaram profunda mudança ideológica, cultural, social e profissional, revelada em fenômenos persistindo as desigualdades de desenvolvimento no mundo. Diante dessa realidade, para a educação participe desta revolução, devemos segundo James (1998), acompanhar as transformações, porque elas vão ditar as competências, exigidas não só em conhecimentos e habilidades no trabalho, mas também relacionadas ao caráter e à personalidade. Para

que esta evolução aconteça nas escolas, o papel do professor é fundamental, tornando assim a formação continuada imprescindível. Considerando estas palavras, reafirmamos a importância de se ter um planejamento completo que contemple todos os conteúdos, habilidades e competências esperadas para os alunos de cada série, dando suporte ao professor na elaboração de suas aulas. Assim, favorecemos a abordagem feita pelas avaliações externas que constituem a média nacional IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), utilizada como parâmetro de desenvolvimento da educação no nosso país. Para Delors (1996), a educação deve estar organizada em quatro aprendizagens fundamentais: aprender a conhecer (adquirir cultura geral ampla e domínio aprofundado de um reduzido número de assuntos, mostrando a necessidade de educação contínua e permanente), aprender a fazer (oferecendo-se oportunidades de desenvolvimento de competências amplas para enfrentar o mundo do trabalho), aprender a conviver (cooperar com os outros em todas as atividades humanas) e aprender a ser, que integra as outras três, criando-se condições que favoreçam ao indivíduo adquirir autonomia e discernimento. Concordando com Delors (1996), temos Perrenoud e Thurler (2002) que dizem que, para a educação ser estruturada nesses quatro pilares do conhecimento, as finalidades do sistema educacional e as competências dos professores não podem ser dissociadas, de forma que a prática docente esteja em consonância com as finalidades da escola. Pesquisadores têm falado sobre a educação, indicando que os professores devem cumprir o processo pedagógico de forma mais política, possibilitando maior encontro entre as percepções e visões de alunos e docentes, que podem promover melhor qualidade de formação e atuação de ambos. Segundo Freire (1997), desde o final do século XX, tem sido discutida amplamente a Educação Transformadora. Esta deve ser feita com profunda interação educadoreducando e voltada especialmente para a reelaboração dos conhecimentos e habilidades aprendidos à produção de novos conhecimentos. Para tanto, deverão ocorrer ações como a reflexão crítica, a curiosidade científica, a criatividade e a investigação, dentro da realidade dos educandos. Nesse contexto o professor tem a responsabilidade de articular metodologias de ensino caracterizadas pela diversidade de atividades, contemplando as diferentes formas de aprender e podendo estimular a autonomia dos alunos no processo de aprendizagem.

Assim, com as palavras de Freire (1997), acreditamos que um plano de estudos bem elaborado é essencial para o andamento das aulas e integração dos conteúdos com suas respectivas habilidades e competências. No entanto, para atingir este objetivo temos barreiras a superar, como por exemplo: a falta de tempo e de organização de muitas escolas, a dificuldade dos professores que não conseguem acompanhar as profundas mudanças da atualidade, provocando freqüentes debates, e os aspectos ruins que vêm sendo veiculado sobre educação, nos meios de comunicação. Esse comportamento ocasiona, discussões sobre a urgência de mudanças na formação, atuação e desenvolvimento dos professores que elaboram o projeto educativo das escolas. Formação de professores Faz parte da docência, segundo a teoria de Pollard e Tann (1989), sermos autocríticos com nossa prática. Dessa forma, os docentes deveriam apresentar concepções: - empíricas: para saber o que está acontecendo em uma classe, deve recolher e descrever dados, as situações, as causas e os efeitos; - analíticas: necessárias para interpretar os dados descritivos, possibilitando inferir uma teoria; - avaliativas: úteis para a emissão de juízos sobre eventos e resultados da educação; - estratégicas: saber planificar a ação e antecipar a sua implementação de acordo com a análise feita; - práticas: estar apto a estabelecer relações entre a análise e a prática, assim como entre os fins e meios para alcançar um bom efeito; - comunicação: saber comunicar e partilhar suas idéias com outros colegas. Esses aspectos, se não desenvolvidos na formação inicial, podem e devem ser contemplados durante a formação continuada, favorecendo assim um planejamento que atinja as necessidades do maior número de alunos. Habilidades e competências Atualmente estamos sendo influenciados por reformas educacionais que destacam temas como planejamento por competências, avaliação do desempenho, promoção dos professores por mérito e conceitos de produtividade e de eficácia. Para Perrenoud (1999) estamos em plena revolução na educação escolar, por entender que as competências permitem relacionar conhecimentos prévios com as situações experimentadas

cotidianamente favorecendo a contextualização do conhecimento importantes metas na formação dos alunos. Elaborar um Plano de estudos de Matemática por Habilidades e Competências significa educar o estudante para um fazer reflexivo e crítico, no contexto de sua comunidade. É colocar a educação a serviço das necessidades deles, para sua vida cidadã e preparação para o mercado de trabalho. As competências são princípios organizadores de formação do aluno, pois além de estarem ligadas à vida, dão condições de aprendizagem de conteúdos. O conteúdo é visto como um recurso que o aluno usa para dar conta da realidade. Habilidades são entendidas como componentes estruturais da ação (afetiva, psicomotora e cognitiva), elas são a corporificação das competências e, baseadas nelas, através da metodologia utilizada pela escola, haverá o desenvolvimento de estratégias que tornem o conteúdo trabalhado mais significativo (MELLO, 2003). Para Vasco Moreto (2008), competência é a aptidão de organizar materiais para auxiliar na resolução de problemas com complexidade mais elevada, que está diretamente ligado ao saber fazer algo e engloba muitas habilidades. Para o autor, competências, são procedimentos de atuação, só existem em situações concretas e não podem ser aprendidas apenas pela comunicação de ideias. Já para Carbone (2006), competência é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para exercer determinada atividade e também o desempenho expresso pela pessoa em determinado contexto. Fazendo outra análise sobre este assunto, Medeiros (2006) diz que: competência é um arranjo praxiológico perceptivo-afetivocognitivo-motor, fundado em saberes, conhecimentos, habilidades, valores, atitudes e aptidões, adequado à solução efetiva de problemas. Ele enfatiza que estes problemas sejam novos e com ligação no cotidiano dos estudantes. Perrenoud (2000) classifica competência como: a faculdade de mobilizar diversos recursos cognitivos que inclui saberes, informações, habilidades operatórias e principalmente as inteligências. Assim o estudante será capaz de solucionar diversas situações problemas com mais agilidade. Baseados nos pensamentos dos autores acima podemos dizer que: habilidades referem-se ao saber fazer, relacionado com a prática da atividade, transcendendo a mera ação motora, são consideradas como algo menos amplo do que as competências. Assim, competências são constituídas por várias habilidades. Uma habilidade não "pertence" a

determinada competência, mas a mesma habilidade pode contribuir para competências diferentes. Metodologia Para iniciar os trabalhos da proposta de mestrado aqui relatada, nos apropriaremos dos dados referentes às avaliações externas, que estão sendo obtidos pela pesquisa citada no início deste texto. Estes dados referem-se aos órgãos responsáveis pelas avaliações, regras, quantidade de questões, séries contempladas e objetivos das mesmas, para entender sua importância. Na pesquisa também estão sendo resolvidas as questões de Matemática com o olhar de um estudante, no intuito de classificá-las quanto ao grau de dificuldade para cada série. Após esta etapa será possível listar os conteúdos mais abordados em cada avaliação para comparar com os planos de estudos de Matemática das escolas participantes da pesquisa. Também serão alvo de investigação nessa pesquisa, as habilidades e competências necessárias para um bom desempenho na resolução das avaliações externas. De posse desses dados, pretendemos, no desenvolvimento dessa dissertação, verificar se os planos de estudos usados nas seis escolas estaduais que fazem parte da pesquisa estão de acordo com as habilidades e competências requeridas nas avaliações externas. Após esta análise, elaboraremos um questionário de pesquisa com ajuda de um software (ainda não definido) que será respondido por professores de Matemática que atuam na Educação Básica na rede estadual participantes na pesquisa. Este instrumento tem a finalidade de mostrar a realidade das escolas e verificar se os professores estão familiarizados com as novas tecnologias e se o problema de organização curricular é isolado, ou abrange a maioria das escolas. Concluído este levantamento, elaboraremos uma proposta de planos de estudos de Matemática, abrangendo desde o 6º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, de acordo com as necessidades observadas nas avaliações nacionais e internacional, citadas anteriormente. Para esta elaboração contaremos com a colaboração dos professores da educação básica, envolvidos na pesquisa. Apresentaremos a primeira versão da proposta do plano aos professores participantes para compartilhar ideias. A seguir aplicaremos um novo questionário para verificar a aceitação da proposta do plano de estudos de Matemática pelos professores das seis escolas, bem como, o interesse dos mesmos em adotar o plano em suas escolas.

Resultados parciais Nestes primeiros meses do ano pudemos nos apropriar de alguns resultados já encontrados pelo grupo de pesquisa, do qual fazemos parte. Conseguimos realizar a pesquisa da história das avaliações e a resolução das questões de Matemática. A partir das buscas realizadas, principalmente no portal do MEC (Ministério da Educação) a respeito das referidas avaliações, podemos destacar que elas servem como diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que objetivam avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro utilizando-se de testes padronizados e questionários socioeconômicos. Durante a resolução das questões verificou-se que, de forma geral, as provas apresentam um grau médio de dificuldade, considerando-nos os discentes alvos dessa avaliação. Constatou-se também, pelos relatos das experiências vivenciadas em sala de aula pelos docentes das escolas participantes, que os conteúdos envolvidos nas questões não são trabalhados de forma tão contextualizada no ambiente escolar como apresentados nas questões. Outro complicador é a possibilidade de dupla interpretação evidenciada em alguns enunciados ou figuras, dificultando assim, para o aluno, a compreensão e resolução dessas questões. O próximo passo será buscar, na pesquisa citada, dados sobre habilidades e competências contempladas nas questões de Matemática das referidas avaliações para posteriormente elaborar um plano de estudos que aborde as habilidades, competências e conteúdos exigidos nestas avaliações. Referências Bibliográficas BRASIL, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação: Prova Brasil: ensino fundamental: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SEB; Inep, 2008. CARBONE, Pedro Paulo. Gestão por competências e gestão do conhecimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. DELORS J. Educação: um tesouro a descobrir. Lisboa (PT): UNESCO/ASA; 1996. FREIRE P. Pedagogia da autonomia. 11ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra; 1997.

JAMES J. Pensando o futuro: as melhorias técnicas de liderança para uma nova era. São Paulo (SP): Futura; 1998. MEDEIROS, Mário. Competências: diferentes lógicas para diferentes expectativas. Recife: EDUPE, 2006. MELLO, Guiomar Namo. Afinal, o que é competência? Nova Escola, nº 160, março de 2003. MORETO, Vasco Pedro. Planejamento e educação para desenvolvimento de competências. 3ª. ed. Petrópolis: Rio de Janeiro, 2008. PERRENOUD, Ph. (1999) Construir as Competências desde a Escola, Porto Alegre, Artmed Editora., Ph. (2000) Dez Novas Competências para Ensinar, Porto Alegre, Artmed Editora., Ph, Thurler MG. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre (RS): Artmed; 2002. POLLARD, A. & Tann. (1989). S. Ensino Reflexivo na Escola Primária. Um Manual para a sala de aula. Londres: Cassell. http://portal.mec.gov.br/index.php acesso em 07 de março de 2011 http://www.pisa.oecd.org, acesso em 11 de março de 2011 http://www.inep.gov.br, acesso em 25 de março de 2011