A Influência do Alongamento no Rendimento do Treinamento de Força



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Transcrição:

Revista Treinamento Desportivo / 2006 Volume 7 Número 1 Página 01 a 05 A Influência do Alongamento no Rendimento do Treinamento de Força 1 A Influência do Alongamento no Rendimento do Treinamento de Força The Influence ff the Stretching Exercise in the Strength Training Performance FÁBIO LUÍS BOTELHO DE ARRUDA 1, LEANDRO BITTAR DE FARIA 1, VAGNER DA SILVA 1, GILMAR WEBER SENNA 1, ROBERTO SIMÃO 2, JEFFERSON NOVAES 2, ALEX SOUTO MAIOR 1,3 1 Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu em Musculação e Treinamento de Força da Universidade Gama Filho (CEPAC). 2 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) EEFD Departamento de Ginástica. 3 Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Bioengenharia Universidade do Vale do Paraíba. RESUMO O objetivo do estudo foi verificar o teste de 10 repetições máximas (10RM) no exercício supino reto na máquina utilizando diferentes tipos de aquecimento. Foram selecionados 22 indivíduos do sexo masculino e divididos em dois grupos, grupo com aquecimento prévio de alongamento (GA) (n=11), e grupo aquecimento específico (GE) (n=11). Os indivíduos da amostra foram submetidos ao teste de 10RM, em dois dias. No primeiro dia, realizou-se o teste de 10RM igualmente para ambos os grupos, seguindo o modelo tradicional do teste. No segundo dia, o GE realizou o teste de 10RM com aquecimento de duas séries com 15 repetições a 55% da carga de 10RM. O GA antecedeu o teste de 10RM com o aquecimento através de exercícios de alongamentos pelo método estático, com duas séries de 20 segundos de duração para cada posição, após atingir o limiar de dor. Foi mantido um intervalo 20 segundos de uma série para outra. Concluímos que não existem diferenças estatisticamente significativas através do teste t-student (p>0,05), no desempenho do teste de 10RM no exercício supino reto através do aquecimento específico, o mesmo não sendo observado quando o teste de 10RM foi precedido por exercícios de alongamento (p<0,002). Palavras Chave: aquecimento específico, flexibilidade, teste de 10RM. ABSTRACT The aim of the study was to verify the test of 10 maximum repetitions (10RM) in the straight chest press exercise in the machine being used different types of warm up. Twenty two individuals of the men gender and divided in two groups had been selected, group with previous heating of flexibility (GF) (n=11), and group specific warm up (GS) (n=11). The individuals of the sample had been submitted to the 10RM test, in two days. In the first day, one equally became fulfilled the test of 10RM for both the groups, following the traditional model of the test. In as the day, GS carried through the test of 10RM with heating of two series with 15 repetitions 55% of the 10RM load. The GF preceded the test of 10RM with the heating through exercises of flexibility for the static method, with two series of 20 seconds of duration for each position, after to reach the pain threshold. It was kept an interval 20 seconds of a series for another one. We conclude that no significant differences through the test t-student (p>0.05) in the performance of the test of 10RM in the straight chest press exercise through the specific warm up, the same not being observed when the 10RM test was preceded by exercises of flexibility (p<0.002). Key-words: specific warm up, flexibility, 10RM test. INTRODUÇÃO Nas ações musculares percebemos o envolvimento de diferentes valências físicas, tais como, flexibilidade e a força muscular, que são de importância imprescindível para o aumento da eficiência do movimento 1,2. O aumento da flexibilidade está intimamente relacionado com a maior facilidade para a execução de ações cotidianas representadas na qualidade de vida e saúde 3. Assim, a redução da flexibilidade pode prejudicar o desempenho atlético aumentando também a possibilidade de lesões, pois, com o encurtamento músculo-tendíneo as fibras musculares poderiam se romper em um maior esforço com movimentos amplos 4. Entre os métodos utilizados para o treinamento da flexibilidade (TF) o movimento estático parece ser o mais comumente utilizado pela facilidade e segurança na sua aplicação 5. Porém os componentes metodológicos, entre eles o volume e a intensidade do TF, são questionáveis quando pensamos na influência deste treinamento na força muscular. Segundo Simão et al. 6 a força e a potência muscular são valências relevantes na qualidade de vida e a prescrição 1

2 Fábio Luís B. de Arruda; Leandro B. de Faria; Vagner da Silva; Gilmar Weber Senna; Roberto Simão; Jefferson Novaes; Alex S. Maior de exercícios que facilitem seu aprimoramento em indivíduos sadios, bem como naqueles que apresentam necessidades específicas, parece ser de grande validade para a saúde e qualidade de vida. Atualmente o número crescente de pesquisas na área da força deslumbra diferentes populações com objetivos variados, levando a busca pela melhor periodização para a otimização de seus resultados 7. Segundo Gomes e Franciscon 8 a insuficiência de amplitude articular pode limitar o desenvolvimento de contrações voluntárias máximas aumentando assim o gasto energético e tornando mais difícil o trabalho a ser realizado. Os exercícios de alongamento podem manter ou aumentar a flexibilidade, sendo assim aplicados para prevenir encurtamentos teciduais otimizando o desempenho muscular, em que contribui também para o treinamento da força e potência muscular 5. O TF realizado antes dos exercícios resistidos (ER) pode estar associado ao aquecimento prétreinamento, a prevenção de lesões, a melhora do fluxo sangüíneo e melhor resposta das propriedades elásticas do tecido muscular e conjuntivo, porém tais colocações não se encontram completamente elucidadas 9. Vários estudos na literatura abordam a influência negativa do TF quando relacionado com os ER, porém, o volume e a intensidade dos alongamentos parecem não ser homogêneos e seus resultados também podem variar, consequentemente, prejudicando a confiabilidade no ato da prescrição. Desta forma, com base nessa discussão, o presente estudo tem por objetivo verificar a influência aguda de exercícios de alongamento estático previamente aos ER. MATERIAIS E MÉTODOS A amostra foi composta por 22 indivíduos do sexo masculino, divididos em dois grupos: Grupo de aquecimento específico (GE) (n=11) e o grupo de aquecimento com alongamento (GA) (n=11). Os indivíduos apresentavam idades entre 20 e 30 anos, peso médio de 75±15 kg e estatura de 180±12 cm. A amostra era familiarizada há mais de seis meses com o treinamento de força exercitando-se pelo menos três vezes por semana. Eles apresentavam prévio conhecimento sobre as técnicas de execução do exercício selecionado. Para melhor objetivar os resultados da amostra, foram utilizados os seguintes critérios de exclusão para os indivíduos participantes do estudo: a) portadores de cardiopatia; b) portadores de lesões articulares nos últimos seis meses; c) portadores de contratura muscular nos últimos seis meses; d) submissão a cirurgias articulares nos últimos 12 meses; e) portadores de instabilidade acentuada nos joelhos e tornozelos; f) portadores de hérnia discal; g) portadores de formas severas de doenças articulares degenerativas. Antes da coleta de dados todos responderam negativamente aos itens do questionário Par-Q e validaram sua participação voluntária assinando o termo de consentimento conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para experimentos com humanos, após a aprovação do comitê de ética da instituição. A coleta de dados foi composta por duas visitas não consecutivas: 1º dia - Todos os indivíduos realizaram o teste de 10 repetições máximas (10RM) seguindo o protocolo tradicional, sem aquecimento prévio, utilizando o incremento de cargas no teste como o próprio aquecimento; 2º dia - Ocorreu 48 horas após a primeira visita, em que foi realizado o re-teste de 10RM no GE com o aquecimento específico (duas séries de 15 repetições com 55% de 10RM) no exercício de supino reto na máquina. No GA (alongamento + força) o re-teste 10RM foi precedido de quatro exercícios de alongamento, que foram aplicados nos músculos peitorais, deltóides e tríceps. Utilizou-se o método estático para o TF, com duas séries de 20 segundos de duração para cada posição, após atingir o limiar de dor. Foi mantido um intervalo 20 segundos de uma série para outra. O teste de 10RM foi utilizado para a avaliação da força muscular como medida não invasiva e critério padrão de referência, a fim de objetivar a carga máxima para a realização do protocolo de treinamento no exercício supino reto na máquina (Technogym @ ). A utilização deste aparelho no teste de supino reto facilitou o controle da angulação de 90º do cotovelo na execução, em função da trava que limitava o movimento garantindo a amplitude padrão para todos os indivíduos. Os valores das cargas máximas no teste de 10RM foram obtidos ao longo de duas até cinco tentativas, quando o avaliado não conseguia mais realizar o movimento completo de forma correta. Desse modo validouse como carga máxima a que foi obtida na última execução. A cada nova tentativa realizava-se adição de incrementos progressivos de acordo com as cargas disponíveis do equipamento, sendo dado um intervalo de três a cinco minutos entre cada tentativa. Objetivando reduzir a margem de erro durante a realização do teste, foram adotadas as seguintes estratégias: 1) Instruções padronizadas foram oferecidas antes do teste, de modo que o avaliado esteja ciente de toda a rotina que envolve a coleta de dados; 2) O avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício; 3) O avaliador estava atento quanto à posição adotada pelo praticante no momento da medida. Pequenas variações no posicionamento das articulações envolvidas na ação poderiam recrutar outros músculos, distanciando do foco específico da pesquisa, possibilitando interpretações errôneas dos escores obtidos; 4) Para maior veracidade do teste, os indivíduos não tiveram conhecimento da carga de resistência durante a avaliação. Foi solicitado aos indivíduos a manterem as mesmas atividades físicas diárias, contanto que não exercitassem os grupos musculares envolvidos no teste. Para a análise estatística foi utilizado o teste t-student, a fim de comparar as cargas máximas obtidas no teste de 10RM após os dois tipos de protocolos no aquecimento (p< 0,05). RESULTADOS O GA apresentou valores significativamente reduzidos (p<0,002) em relação ao pré-teste (10RM) demons-

A Influência do Alongamento no Rendimento do Treinamento de Força 3 trando que parece acontecer uma diminuição no número de repetições máximas quando utilizado anteriormente o TF com o volume e a intensidade supracitada. Na figura 1 é relatado o comportamento do número de repetições máximas realizadas pelos indivíduos do GA, e na figura 2 observa-se o resultado do GE. Nº repetições Figura 1 Mostra média e desvio-padrão do grupo GA. Pré teste de 10RM sem flexibilidade; Pós teste 10RM com flexibilidade. # = p<0,002. Nº repetições 12 10 8 6 4 2 0 12 11,5 11 10,5 10 9,5 9 8,5 pré pré pós flex. Figura 2 Mostra média e desvio-padrão do grupo GE. Pré e pós-teste 10RM. DISCUSSÃO O objetivo deste estudo foi observar as respostas agudas de dois protocolos de aquecimento previamente ao teste de 10RM, sendo que um grupo utilizou o aquecimento específico, e o outro o aquecimento através de exercícios de alongamento. E como observado nos resultados, o efeito do TF se mostrou negativo em relação ao teste de força, pois, houve um decréscimo no número de repetições máximas. Nossos resultados se assemelham ao estudo de Tricoli e Paulo 1, em que foi observada uma diminuição no resultado do teste de uma repetição máxima (1RM) para o exercício de extensão e flexão de joelho após realização de exercícios de alongamento estático. O tempo # pós total de alongamento foi de aproximadamente 20 minutos com a execução de seis movimentos para membros inferiores. Os resultados mostraram um decréscimo médio de 13,8% na determinação da carga obtida no grupo com alongamento em relação ao grupo sem alongamento. Seguindo esta linha, Fowles et al. 10 identificaram redução na capacidade de desenvolver força voluntária máxima dos flexores plantares após 33 minutos de alongamentos, e ainda concluiu que este efeito perdura por aproximadamente 1 hora. Behm et. al. 11 verificou que regimes prolongados de alongamentos passivos estáticos podem inibir a contração voluntária máxima na ativação do músculo extensor do joelho. O tempo total de alongamento neste estudo era de aproximadamente 20 minutos de duração. No estudo de Kokkonen et al. 12 que utilizaram também TF com duração total de 20 minutos. Foi verificada nos resultados a diminuição da capacidade máxima de força no teste de 1RM em até 7,3% para os músculos flexores do joelho. Este declínio foi mais acentuado quando se verificou a resposta do músculo extensor do joelho (- 8,1%). Em relação à velocidade de execução e tempo de TF, Nelson et al. 13 utilizaram exercícios de extensão dos joelhos em cinco velocidades diferentes no aparelho isocinético com o tempo total do TF foi aproximadamente 15 minutos prévio ao teste. Concluíram que existe uma redução de 7,2% na capacidade de desenvolver força em velocidades reduzidas. Em relação aos estudos supracitados, todos se diferenciaram do nosso estudo em relação ao tempo total de TF, que foi de aproximadamente 5 minutos, demonstrando assim, que mesmo com pequenos volumes de TF podem interferir negativamente na capacidade de se desenvolver força máxima. Entretanto, contrapondo os estudos supracitados Simão et. al. 14 verificaram que pequenos regimes de alongamentos visando o aquecimento podem não acarretar diminuições significativas na capacidade de produzir força máxima. Os exercícios utilizados no experimento foram de extensão e flexão dos joelhos na máquina e protocolo do TF foi cerca de 10 segundos para cada movimento em seis exercícios diferentes (adaptados do flexiteste). Contudo, este estudo ressalta que o alongamento comparado com o aquecimento específico não apresenta significativa capacidade de redução no deslocamento de carga. Outro estudo que não verificou o comprometimento de forma significativa na capacidade máxima gerar força através do método Facilitação Neuro-Propioceptiva (FNP) para o teste de 1RM foi de Simão et al. 15 que compararam dois tipos de protocolos para aquecimento, o específico e o FNP. Nesse estudo concluiu-se que não existem diferenças estatisticamente significativas no desempenho do teste de 1RM no exercício supino reto, com diferentes tipos de aquecimento aplicados. A partir disto analisou-se que tanto no aquecimento específico como no alongamento através do método FNP, a carga máxima manteve-se a mesma em ambos os testes. Se não ocorre redução de desempenho no teste de 1RM sugere-se que o teste seja realizado conforme o objetivo, métodos e adaptação do sujeito. Os nossos achados contrapõem

4 Fábio Luís B. de Arruda; Leandro B. de Faria; Vagner da Silva; Gilmar Weber Senna; Roberto Simão; Jefferson Novaes; Alex S. Maior o estudo supracitado, talvez devido a utilizarmos o teste de 10RM e também pelo volume total do aquecimento através do alongamento ser maior. Achour 4 comenta que não se poderia demonstrar o potencial de força se o músculo não conseguir uma amplitude de movimento adequado, mas cita, também, que o alongamento estático antes dos exercícios de velocidades poderia interferir de maneira negativa, pois, as mensagens motoras poderiam ser transmitidas lentamente, por causa de deformações dos componentes plásticos musculares. Muito tempo de alongamento possibilita o relaxamento das fibras musculares e ocasiona redução no tônus muscular e ativação do sistema parassimpático 16. Outros estudos também especulam os mecanismos fisiológicos que possivelmente causam este efeito, um destes apresenta que o decréscimo na ativação das unidades motoras pode ser o responsável pela queda na capacidade da força máxima após exercícios de alongamento 10. Outros estudos mostraram que o método estático de TF com tempo de duração entre 15 a 30 segundos por grupamento muscular está relacionado com a redução da ação do recrutamento das unidades motoras 17,18,19. Essa perspectiva também é indicada por Behm et al. 11 que verificou a redução na ativação do músculo em até 2,8% com verificação por eletromiografia. Entretanto, parece não existir um consenso na literatura sobre o tempo ideal de alongamento para que não ocorra a redução da força muscular 20. No estudo de Wilson et al. 21 é relatado que um sistema músculo-tendão mais maleável passaria por um rápido período de diminuição de comprimento, com ausência de sobrecarga, até que os componentes elásticos do sistema fossem ajustados o suficiente para a transmissão da força, colocando o componente contrátil numa posição menos favorável em termos de produção de força nas curvas de força-comprimento e força-velocidade. Entretanto Kokkonen et al. 12 observa-se que o Órgão Tendinoso de Golgi gera uma inibição autogênica ou reflexa nos músculos alongados e seus sinergistas. Assim, é acionado, o receptor de dor nos músculos e tendão articular. Um outro fator que gera a diminuição do tempo de contração é a inibição do potencial de ação. A análise do estudo feito através da resposta aguda correlacionou diminuição no número de repetições, em que mostrou ser significativa. Se observarmos através do efeito crônico, o problema poderia ser mais relevante, ou seja, concordando que um programa de treinamento pode estar dividido em até quatro exercícios com três a quatro séries para um determinado grupo muscular, poder-se-ia prever um déficit de repetições, e se analisarmos que esse grupo muscular será trabalhado, pelo menos, duas vezes por semana, somando-se oito vezes por mês, observamos um déficit maior ainda de repetições, o que poderia fazer uma grande diferença e significância no objetivo a ser alcançado no final do programa de treinamento. É claro que somente estamos hipotetizando os resultados o que não seria totalmente correto, pois, o nosso estudo foi feito com apenas um grupo muscular, e que, talvez, essa diferença encontrada no estudo, não viria prejudicar todo o programa de treinamento. Abriria-se, assim, a necessidade de um estudo com os demais grupos musculares na intenção de novas respostas para a busca de uma melhor prescrição de um programa de treinamento e otimização dos resultados a serem alcançados. CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos no estudo, podemos concluir que exercícios de alongamento estáticos, executados antes do teste de 10RM, na máquina de supino reto provocam queda no número de repetições máximas. Por ocasionar essa diminuição, sugere-se que os exercícios de alongamento estático sejam dispensados, quando posteriormente a atividade envolvida venha requerer grande produção de força, como por exemplo, em um teste de força máximo. Deve-se, também, observar qual o objetivo que se está buscando ao realizar o alongamento. Contudo, é observada a perda de força ou aumento da possibilidade de lesões durante o levantamento de peso máximo, quando precedido de exercícios de alongamento para desenvolver a flexibilidade 16. Sugere-se que mais estudos devem ser encaminhados para satisfazer as varias possibilidades metodológicas tanto para o treinamento de força como para o treino da flexibilidade e ainda em diferentes áreas musculares, tentando assim, responder as lacunas que ainda permanecem na literatura científica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Tricoli V, Paulo AC. Efeito agudo dos exercícios de alongamento sobre o desempenho de força máxima. Rev Atividade Física Saúde 2002, 7:6-13. 2. American College of Sports Medicine. Position stand on progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2002, 4:364 80. 3. Coelho CW, Araújo CGS. Relação entre o aumento da flexibilidade e facilitações na execução de ações cotidianas em adultos participantes de programas de exercícios supervisionado. Rev Bras Cinean Des Humano 2000, 2:31-41. 4. Achour Jr A. Alongamento e aquecimento: Aplicabilidade na performance atlética. Rev Assoc Prof Educ Fís Londrina 1995; 10:50-69. 5. 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