23) Respaldado no seu elevado nível cien- tífico, adquirido na pós-graduação de Arara- quara e no convívio com o professor Peter H.



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Entrevista com altura maior que 3mm, sua ação passa a ser de protrusão dos arcos dentários e maxilomandibular, devido à incidência das forças mastigatórias ser mais oblíqua em relação ao longo eixo dentário. Quando construído com altura igual ou menor que 3mm, sua ação passa a ser de restrição da erupção dentária, pela incidência destas forças ser ao longo do eixo dentário, afetando o crescimento vertical dentoalveolar com rotação mandibular anti-horária, diminuição da convexidade facial e fechamento da mordida aberta. Esta abordagem pode ser aplicada a pacientes com problemas verticais com potencial de crescimento, com a utilização do Bite block ou aparelhos ortopédicos com cobertura oclusal posterior. Em pacientes adultos sem crescimento, com problema vertical suave, esta abordagem aplicada na forma do Bite block ou associada à força extrabucal vertical (Thurow modificado), conforme mencionei anteriormente, pode ser decisiva na resolução do problema. Em pacientes adultos com mordida aberta esquelética, dolicofaciais, temos aplicado com sucesso o Sistema de Ancoragem Esquelética (SAS), que consiste em placa de titânio fixada ao pilar zigomático. Os dados do trabalho de tese realizado em nosso curso de pós-graduação e resultados de casos tratados permitem dizer que o SAS é a melhor opção para intrusão do segmento posterior, mesmo considerando a possibilidade de utilização dos miniparafusos, que indicaria para intrusão de dentes isolados. A solução definitiva para pacientes verticais com excesso maxilar vertical é a cirurgia ortognática, sem sombra de dúvida. 22) Considerado um dos expoentes da pesquisa científica no Brasil, como o senhor analisa a influência do crescimento vertical da face no desenvolvimento da má oclusão? Roberto Hideo Shimizu No padrão de crescimento dolicofacial ou vertical, existe uma tendência à redução no perímetro do arco pelo padrão de erupção dos dentes anteriores mais para posterior, o que traz como conseqüência a falta de espaço ou apinhamentos dentários. Os arcos dentários apresentam largura diminuída, agravando a falta de espaço e dificultando o correto alinhamento dos dentes. A largura facial diminuída, característica do indivíduo com padrão vertical, é acompanhada por uma largura diminuída da cavidade nasal, que aumenta a resistência à passagem de ar, dificultando a respiração nasal. Pequenos aumentos teciduais da amígdala faringeana (adenóide), tubária, palatina (amígdala) e lingual, edemas da mucosa nasal, como nos casos de rinite alérgica, desvios de septo e obstruções teciduais ou anatômicas outras, causam uma respiração bucal, que por sua vez agrava o padrão vertical de crescimento. O aumento da altura facial anterior muitas vezes não é acompanhado por um aumento proporcional no comprimento dos lábios superior e inferior, que dificulta o selamento labial e favorece a respiração bucal. Na respiração bucal, alterações posturais de lábios, língua e mandíbula promovem alterações dentoalveolares (excesso de erupção de dentes posteriores e anteriores, atresia maxilar, mordidas cruzadas posteriores e abertas anteriores) e esqueléticas (agravamento do padrão vertical de crescimento, aumento da convexidade facial, rotação mandibular para baixo e para trás). 23) Respaldado no seu elevado nível científico, adquirido na pós-graduação de Araraquara e no convívio com o professor Peter H. Bushang (Baylor College of Dentistry, Dallas Texas) durante o seu pós-doutorado, como o professor avalia a tendência da pesquisa científica no Brasil? Roberto Hideo Shimizu Complementando o que já respondi no questionamento 4, considero que na área da Ortodontia, estamos entrando numa fase de maturidade científica e de grande desafio. A pesquisa hoje no Brasil atinge níveis e padrões muito elevados, que requerem dos que se dedicam a ela muita perseverança, conhecimento e dedicação. Hoje grupos de pesquisa com linhas e objetivos muito bem delimitados são essenciais na manutenção deste padrão alcançado. 24) Sendo a respiração bucal uma das linhas de pesquisa de sua escola. Qual o protocolo que o senhor sugere para estes pacientes na R Dental Press Ortodon Ortop Facial 30 Maringá, v. 12, n. 1, p. 19-32, jan./fev. 2007

SANTOS PINTO, A. anamnese, no tratamento e na proservação? Roberto Hideo Shimizu Na respiração bucal, é importante que se faça um bom exame clínico, anamnese e exame radiográfico, para se determinar o fator etiológico desta alteração funcional. No exame clínico e anamnese, podemos verificar a presença de obstruções teciduais e anatômicas, tais como amígdalas hipertróficas, desvios de septo e rinites alérgicas. O exame da telerradiografia lateral pode evidenciar hipertrofias de adenóide e amígdalas lingual e palatinas, hipertrofia de cornetos nasais ou da cauda do corneto inferior. Na telerradiografia frontal ou panorâmica podemos verificar se os cornetos nasais médio e inferior estão normais ou hipertrofiados, obstruindo a cavidade nasal, se existe desvio de septo nasal, se os seios maxilares estão normais ou velados (sinusites), se existem patologias ou outros achados. A remoção do fator etiológico da respiração bucal e normalização da respiração para um padrão nasal são importantes na estabilidade do tratamento ortodôntico. O auxílio do médico otorrinolaringologista, da fonoaudióloga e do fisioterapeuta é importante no diagnóstico e tratamento do paciente respirador bucal. Em pacientes com atresia maxilar e mordida cruzada posterior, a disjunção palatina tem produzido diminuição da resistência nasal e melhora no padrão respiratório, desde que a causa da respiração bucal não seja obstrução naso ou buco-faringeana. 25) Professor Ary, o senhor considera importante o pós-graduando em Ortodontia ter o conhecimento e a prática de Edgewise em sua formação? Roberto Hideo Shimizu O ortodontista deve ter conhecimento profundo dos aspectos biológicos e mecânicos envolvidos na utilização dos diversos tipos de aparelhos, destreza manual, sensibilidade para detectar os desvios da normalidade e habilidade para traçar metas e definir formas de atuação. Deve ter ainda flexibilidade na forma de atuação, isto é, deve ser capaz de encontrar alternativas e soluções similares na condução do tratamento da má oclusão, aliando perseverança e grande poder de persuasão para que suas instruções sejam seguidas pelo paciente. Assim, como forma de adestramento, a técnica Edgewise convencional torna-se um recurso importante, diria até essencial. Charles H. Tweed, pessoa de mente brilhante e talentosa, aluno do prodigioso Edward H. Angle, abraçou a idéia do desenvolvimento do aparelho Edgewise e revolucionou o conhecimento e prática da Ortodontia. Sua lição foi aprendida, constituindo-se nos alicerces da Ortodontia corretiva, que continuam sendo aperfeiçoados até os dias de hoje. Bandas pré-fabricadas, colagem direta dos braquetes, incorporação de compensações nos braquetes para as diferenças vestíbulo-linguais, inclinações e angulações das coroas dentárias podem ser citados. Na atualidade, novos conceitos biomecânicos e procedimentos foram agregados à mecânica desenvolvida por Tweed. A evolução dos materiais odontológicos, em especial dos fios de ligas alternativas ao aço inoxidável (cromo-níquel), como cobre, titânio, molibdênio e fios térmicos com mudança de fase austenítica e martensítica com a variação da temperatura bucal, tornaram imprescindível a utilização de braquetes pré-angulados e pré-torqueados na clínica diária. Assim, a técnica Edgewise, como foi concebida inicialmente por Tweed, deve fazer parte integrante da formação técnica de base do ortodontista, mas, assim como o aluno sobrepujou o mestre mostrando evidências claras e inegáveis de seus conceitos e métodos, evoluindo a passos largos, nós temos a obrigação de ir adiante e também evoluir. Esta é a linha mestre da Ortodontia de Araraquara, da qual você teve oportunidade de participar e desfrutar. 26) O senhor é um dos professores que preconiza a técnica do arco segmentado de Burstone. Qual o diferencial que esta filosofia apresenta em relação às demais? Roberto Hideo Shimizu A técnica de arco segmentado (TAS) tem como característica ser uma filosofia contemporânea, originada de conceitos biomecânicos, que se aplica a qualquer sistema de braquetes existente no mercado. Nesta técnica aplica-se o conceito de dois dentes, onde é possível se estabelecer quais serão os elementos ativos (que serão movimentados) e reativos R Dental Press Ortodon Ortop Facial 31 Maringá, v. 12, n. 1, p. 19-32, jan./fev. 2007

Entrevista (que servirão de ancoragem) facilitando o entendimento e controle do sistema de forças a ser aplicado. A segmentação aumenta a distância entre os pontos de aplicação de forças, criando espaço para amplas ativações dos dispositivos construídos com fi os de alto coefi ciente de elasticidade, que geram baixa proporção carga/defl exão. Esta baixa proporção carga/defl exão tem a vantagem de resultar na liberação de forças leves e constantes, que minimizam as alterações direcionais no movimento dentário, evitam danos biológicos e aceleram a movimentação dentária. A TAS ainda permite a utilização de dispositivos pré-fabricados e pré-calibrados, o que aumenta a efi ciência clínica e também dá maior precisão para o ortodontista no controle das forças aplicadas. Alguns exemplos são as alça em T, arcos de intrusão, braços de alavanca (cantilever), alças retangulares, barra palatina e arco lingual, dentre outros. Estes recursos são utilizados hoje de forma rotineira e na maioria dos tratamentos, principalmente naqueles de alta complexidade, que requeiram amplas movimentações, ou onde as estruturas de suporte estejam comprometidas e em pacientes adultos, constituindo o alicerce da mecânica ortodôntica. 27) Como o senhor avalia o ensino da Ortodontia na graduação e na pós-graduação stricto-sensu das universidades brasileiras. Da mesma forma, e o ensino de Ortodontia nas especializações ministradas nos institutos de ensino superior? Roberto Hideo Shimizu Existe uma diferença fundamental nos objetivos, carga horária e periodicidade do curso de especialização para o de mestrado. No curso de mestrado, a presença em tempo integral é requerida, de forma a favorecer a incorporação de conceitos básicos, noções fundamentais e específi cas, preparo fi losófi co, didático e científi co. A produ - ção tecnológica e científi ca ocupa grande parte do tempo dos mestrandos. No curso de especialização, o objetivo é a formação e adestramento técnico para o exercício da profi ssão, que exige menor tempo e esforço. As universidades brasileiras têm um compromisso inerente com o desenvolvimento científi co da profi ssão, havendo um estímulo e até cobrança neste sentido, que as diferencia de institutos de ensino superior, que na maioria das vezes são de iniciativa privada e regulados pelas leis de mercado, com mínima vocação científi ca, que gera altos custos, investimento em infra-estrutura, suporte material e pessoal e demanda de profi ssionais altamente qualifi cados. Adriano Marotta Araujo - Doutor em Ortodontia - UNESP / Araraquara. - Pós-graduado na Baylor College of Dentistry - Dallas, TX. - Professor na Disciplina de Ortodontia - UNESP / São José dos Campos. Ricardo Sampaio de Souza - Mestre e Doutor em Ortodontia e Ortopedia Facial UNESP / Araraquara. - Professor Titular da Disciplina de Ortodontia Preventiva e Interceptadora - UNIPAR / Cascavel. - Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da UNIPAR / Cascavel. Daltro Enéas Ritter - Especialização e Mestrado em Ortodontia - UERJ / Rio de Janeiro. - Doutorado em Ortodontia - UNESP / Araraquara. - Professor do Curso de Especialização em Ortodontia da UFSC / Florianópolis. Paulo Cesar Raveli Chiavini - Professor pós-graduação e mestrado em Ortodontia do Centro Universitário Hermínio Ometto - Araras/SP. - Professor Titular dos cursos de especialização em Ortodontia da Universidade de Santo Amaro - São Paulo; Universidade Regional de Blumenau - SC e CESTEP/Unievangélica - Tocantins. - Mestre e Doutor em Ortodontia pela UNESP / Araraquara. - Especialista em Radiologia pela USP- FUNBEO / Bauru. Dirceu Barnabé Raveli - Professor Adjunto na Disciplina de Ortodontia, UNESP / Araraquara. - Vice-coordenador do Programa de pós-graduação em Ciências Odontológicas e responsável pela área de Ortodontia. - Pós-Graduação em Ortodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade de Toronto-Canadá. Roberto Hideo Shimizu - Mestre e Doutor em Ortodontia e Ortopedia Facial pela Faculdade de Odontologia de Araraquara UNESP. - Professor Adjunto Doutor da Disciplina de Ortodontia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP-PR). - Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da UTP-PR. - Professor da Pós-graduação em Ortodontia da ABO-Cascavel e ABO-São José dos Pinhais. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 32 Maringá, v. 12, n. 1, p. 19-32, jan./fev. 2007

A r t i g o In é d i t o Células-tronco em odontologia Ana Prates Soares*, Luégya Amorim Henriques Knop*, Alan Araujo de Jesus **, Telma Martins de Araújo*** Resumo Introdução: existe um grande interesse no desenvolvimento de técnicas para a manipulação de células-tronco, no intuito de instituirem-se tratamentos restauradores de tecidos e órgãos. Para que a bioengenharia seja eficaz, faz-se necessária a presença de três fatores: as próprias células-tronco, uma matriz extracelular e fatores de crescimento. Existem inúmeros fatores de crescimento envolvidos no desenvolvimento do órgão dentário. Por isso pesquisadores ainda não foram capazes de formar um órgão completo, embora existam diversos estudos evidenciando a formação de esmalte e dentina a partir de células-tronco isoladas da polpa dentária. Recentemente, também foram isoladas células-tronco da polpa dos dentes decíduos. Sabe-se que estas células são altamente proliferativas, sendo de grande importância para o cirurgiãodentista o conhecimento do seu comportamento biológico e técnicas de obtenção. Objetivo: este estudo teve como objetivo realizar uma revisão de literatura acerca das atuais tendências das pesquisas com células-tronco na Odontologia, além de discorrer sobre os fatores implicados para o sucesso na utilização prática dessas células. Palavras-chave: Células-tronco. Bioengenharia. Pesquisa em Odontologia. introdução A perda dentária e dos tecidos periodontais pode resultar em movimento dos dentes remanescentes, dificuldade na mastigação, fonação, desequilíbrio na musculatura e comprometimento da estética dentária e do sorriso, comprometendo a auto-estima. Atualmente existem diversas terapias para substituição dos órgãos dentários, todas elas baseadas em técnicas não-biológicas e sujeitas a falhas 26. Apesar desta condição ser uma anormalidade comum e não ameaçar a vida do paciente, esforços têm sido dirigidos para o desenvolvimento de mecanismos para a utilização de células-tronco na reposição de tecidos bucais 12. Para a bioengenharia é essencial uma tríade composta por células-tronco ou progenitoras, uma matriz que funcione como arcabouço e proteínas sinalizadoras, denominadas fatores de crescimento, como estímulo para diferenciação celular (Fig. 1). O objetivo desta revisão de literatura foi discorrer acerca das técnicas da bioengenharia e relatar os resultados obtidos nos experimentos com células-tronco, bem como suas reais tendências na aplicação em Odontologia. * Acadêmicas do Curso de Graduação em Odontologia - UFBA. ** Especialista em Prótese Dental (ABO/Ba). Mestre em Odontologia (FOUFBA). Doutorando em Biotecnologia UEFS/FIOCRUZ. *** Doutora e Mestre em Ortodontia UFRJ. Professora Titular de Ortodontia UFBA. Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 33 Maringá, v. 12, n. 1, p. 33-40, jan./fev. 2007

Células-tronco em Odontologia Células-tronco ou progenitoras Células-tronco são definidas como células indiferenciadas com grande capacidade de auto-renovação e de produzir pelo menos um tipo celular altamente especializado. Existem duas categorias de células-tronco: as células-tronco embrionárias pluripotentes e a linhagem de células unipotentes ou multipotentes, denominadas células-tronco adultas, que residem em tecidos diferenciados 22. A maior vantagem do uso de células-tronco embrionárias é a sua capacidade de proliferação e de diferenciação em diversos tipos celulares. Mas existem desvantagens, como a sua instabilidade genética, a obrigatoriedade de sua transplantação para hospedeiros imunocomprometidos, o risco de formação de teratocarcinomas e de contaminação através do seu cultivo em fibroblastos de ratos 22, além da questão ética 18. A viabilidade do uso de células-tronco adultas na regeneração e reconstrução de tecidos tem suscitado grande interesse na comunidade científica, dado o aumento de leis em diversos países que proíbem o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas 24. Já as células-tronco adultas apresentam a vantagem de serem autogênicas, não incorrendo em limitações morais, e responsivas aos fatores de crescimento inerentes ao hospedeiro. No entanto também apresentam desvantagens, como o fato de não serem pluripotentes, a dificuldade de obtêlas, purificá-las e cultivá-las in vitro, além de sua presença em menor quantidade nos tecidos 24. A principal fonte de células-tronco adultas é a medula óssea. Estas células têm a capacidade de se diferenciarem em células dos tecidos ósseo, adiposo, cartilaginoso e muscular, o que demonstra sua alta plasticidade 9. Inúmeros estudos têm isolado células altamente proliferativas, derivadas da polpa dentária 3,8,18,19,20,27.Constatou-se que tais células são multipotentes e possuem a capacidade de autorenovação e de diferenciação em diversos tipos celulares. Foi observada uma conversão fenotípica destas células, através da expressão de proteínas adiposas (PPAR 2, sigla do inglês peroxisome proliferator activated receptor 2, e a lipoproteína lipase), após o estímulo por um meio de matriz células-tronco fatores de crescimento FIGURA 1 - Fatores necessários para a bioengenharia na Odontologia. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 34 Maringá, v. 12, n. 1, p. 33-40, jan./fev. 2007

Soares, A. P.; Knop, L. A. H.; Jesus, A. A.; Araújo, T. M. cultura com alto potencial indutivo adipogênico. Ademais, as células-tronco da polpa dentária expressaram nestina e proteína glial fibrilar ácida (GFAP, sigla do inglês glial fibrilar acid protein), que são marcadores de precursores neurais e células gliais, respectivamente 7. Existem evidências de que células-tronco de dentes decíduos são similares àquelas encontradas no cordão umbilical. Quando comparadas às células-tronco provenientes da medula óssea e da polpa de dentes permanentes, notou-se que as SHED (stem cells from human exfoliated deciduous teeth) apresentam uma maior taxa de proliferação. Além disso, os dados desse estudo indicam que as SHED possuem habilidade de se diferenciarem em células odontoblásticas funcionais, adipócitos e células neurais, além de estimularem a osteogênese após transplantação in vivo (Fig. 2) 16. Pesquisas demonstraram que células-tronco da polpa requerem um meio indutor apropriado e um arcabouço composto por hidroxiapatita/tricálciofosfato para induzir a formação de osso, cemento e dentina in vivo 3,8. Alguns autores demonstraram a formação de tecido ósseo fibroso autólogo a partir de células-tronco provenientes de polpas de indivíduos com idades acima de 30 anos, assim como a diferenciação dessas células em odontoblastos 11. Os marcadores para as células-tronco são de extrema importância, pois estas células residem em diferentes locais dentro do tecido 26. São necessários mais estudos sobre marcadores específicos que possam identificar nichos de células-tronco presentes na polpa dentária in situ e sobre como se dá o desenvolvimento desses nichos 9. É possível que as células-tronco da polpa humana e do ligamento periodontal estejam associadas com a microvasculatura 8,25. Atualmente são utilizados os seguintes marcadores microvasculares, para localização de tais células: STRO-1 (marcador de células do estroma), Fator Von Willebrand e CD146 (molécula da superfície de células endoteliais) 18,25,26. A expressão da telomerase celular em tecidos normais parece estar associada à presença de células-tronco. Técnicas de detecção in situ dessa ribonucleoproteína têm a possibilidade de atuarem como marcadores celulares 9. células-tronco isoladas adipócitos odontoblastos células neurais FIGURA 2 - Células-tronco isoladas do tecido pulpar de dentes decíduos têm alta capacidade proliferativa e são capazes de se diferenciarem em odontoblastos maduros, adipócitos ou células neurais. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 35 Maringá, v. 12, n. 1, p. 33-40, jan./fev. 2007

Células-tronco em Odontologia Pesquisadores cultivaram células-tronco da medula óssea e da polpa humana, provenientes de terceiros molares impactados, e analisaram a expressão genética dessas células, através do método cdna Microarray. Foi demonstrado um padrão gênico altamente similar entre esses dois tipos celulares, com exceção de alguns genes, incluindo o IGF-2 (fator de crescimento insulínico-2, sigla do inglês insulinic growth factor-2) e colágeno tipo XVIII 1, no entanto ainda é desconhecida a expressão dessa diferença 27. Matriz Para bioengenharia de tecidos, uma matriz é essencial, pois fornece o arcabouço necessário para o transporte de nutrientes, oxigênio e resíduos metabólicos. Esse arcabouço deve ser biocompatível, não irritante e resistente. A matriz é composta por materiais sintéticos ou naturais 18. Os componentes da matriz funcionam ativando morfogenes das células implantadas 19,20, enquanto esta é gradualmente degradada e substituída pelo tecido regenerado 19. Para a formação de tecido dentário têm sido utilizadas as matrizes PGA (ácido poliglicólico, sigla do inglês polyglycolic acid) 6,10 e PLGA (ácido poli co-glicolídeo copolímero, sigla do inglês poli co-glycolide copolymer), ambas apresentando similaridade no suporte de crescimento de tecidos dentários altamente organizados 6. Também pode ser usado um sistema de matriz com a configuração tri-dimensional, a partir do colágeno tipo I, para o cultivo de células-tronco em experimentos, visando sua diferenciação em odontoblastos 5. Neste estudo objetivou-se avaliar a resposta de células-tronco provenientes do primeiro arco branquial de ratos ao estímulo por TGF- 1 (sigla do inglês transforming growth factor 1) e DNCP (proteína não-colagênica da matriz extracelular dentária, sigla do inglês dentin non colagenic protein) através da expressão de proteínas características de odontoblastos. Apenas no grupo tratado somente com fator de crescimento TGF- 1 não houve a formação de tecido semelhante ao complexo dentino-pulpar, sugerindo que proteínas derivadas da matriz extracelular desempenham uma função essencial na diferenciação odontoblástica. Fibroblastos isolados a partir da polpa dentária foram cultivados em matriz composta por fibras de ácido poliglicólico e, após 60 dias, exibiram celularidade similar à encontrada na polpa humana normal, indicando que esta matriz apresenta boas propriedades para a bioengenharia 17. Fatores de crescimento A morfogênese dentária envolve uma série de interações dinâmicas e recíprocas entre o ectoderma e o mesênquima 29. Os fatores de crescimento são proteínas secretadas extracelularmente que governam a morfogênese durante tais interações e compreendem cinco famílias protéicas: proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs, sigla do inglês bone morphogenetic protein); fatores de crescimento para fibroblastos (FGFs, sigla do inglês fibroblast growth factor); proteínas Hedgehog (Hhs), proteínas wingless e int-related (Wnts) e fator de necrose tumoral (TNF, sigla do inglês tumor necrosis factor) 19. Apesar destas famílias distintas estarem envolvidas no desenvolvimento dentário, as BMPs são suficientes para a formação de dentina terciária 20. Alguns autores demonstraram ainda que a regeneração da polpa induzida por hidróxido de cálcio é mediada pela sinalização Notch célula-célula. Os resultados foram consistentes para afirmar que esta sinalização controla o destino de célulastronco provenientes da polpa, durante a regeneração da mesma 15. A família BMP faz parte da super-família TGF-, composta de 25 fatores moleculares 15. As BMPs podem ser divididas em 4 sub-famílias distintas: a primeira BMP-2 e 4; a segunda BMP-3 e BMP-3B, esta última também conhecida como fator de crescimento/diferenciação 10 (GDF-10, sigla do inglês growth/differentiation factor); a terceira BMPs 5, 6, 7 e 8 e a quarta GDFs 5, 6 e 7, também conhecidas por proteínas morfogenéticas 1, 2 e 3 derivadas da cartilagem 20. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 36 Maringá, v. 12, n. 1, p. 33-40, jan./fev. 2007

Soares, A. P.; Knop, L. A. H.; Jesus, A. A.; Araújo, T. M. Em um estudo observou-se a expressão de BMP- 2, BMP-4, BMP-7, BMP-8, GDF-5 e GDF-6 através do método de hibridização e posterior análise com PCR nas polpas dentárias de incisivos de ratos. Os autores afirmaram que tais fatores são críticos para o desenvolvimento dentário e reparo pulpar. Não foi detectada a expressão de BMP-3 neste tecido 21. As BMPs também são expressas no epitélio estrelado do órgão do esmalte durante a fase de capuz e estão associadas com a diferenciação dos ameloblastos e odontoblastos 20. O hormônio de crescimento pode induzir a expressão dessas BMPs durante a formação dentária 12. No início da morfogênese dentária, BMP-2, BMP- 4 e BMP-7 agem como importantes sinalizadores epiteliais que regulam a diferenciação do mesênquima derivado da crista neural em uma linhagem odontogência 12, 28. Tais sinalizadores ainda determinam o número e a posição das cúspides dos dentes 29. Células da polpa dentária de porcos, cultivadas e tratadas com BMP-2, foram transplantadas para dentes despolpados de cães, com o objetivo de observar a diferenciação odontoblástica e a formação de dentina. A expressão do RNAm de sialofosfoproteínas da dentina (Dspp, sigla do inglês dentin sialophosphoprotein) e de metaloproteinases-20 da matriz (MMP-20, em inglês matrix metalloproteinases-20) confirmou a diferenciação de células pulpares em odontoblastos. Tal resultado comprovou o efeito estimulatório da BMP-2 para a formação de dentina 10. Foi demonstrado que a BMP-4 é expressa pelos pré-odontoblastos da bainha epitelial da raiz. Ademais, BMP-2 e BMP-7 são observadas em pré-odontoblastos e em odontoblastos durante um período relativamente curto de diferenciação, estando ausentes em odontoblastos maduros localizados na superfície da dentina coronária e radicular. BMP-3 foi localizada em ambas as células na área da raiz, mas não em odontoblastos diferenciados e secretores presentes na coroa dentária 21. Os membros da família FGF agem em diferentes momentos da odontogênese, desde o início do desenvolvimento dentário até a formação da última cúspide 29. FGFs regulam a expressão de diversos genes e induzem a proliferação do mesênquima 20. Dentre os três membros da família Hedgehog (Hh) presentes nos vertebrados, Shh (sigla do inglês Sonic Hedgehog) é o único ligante Hh expresso nos dentes, sendo expresso durante o desenvolvimento inicial do germe dentário 29.Com o objetivo de investigar a função da proteína Shh, pesquisadores bloquearam sua sinalização através de anticorpos neutralizantes e observaram que Shh possui duas funções no início da odontogênse. A primeira é durante a formação do botão dentário, ao estimular a proliferação epitelial, e a segunda é o aumento da sobrevida da célula epitelial durante o estágio de capuz 4. A maioria dos genes Wnt é expressa pelo epitélio dentário. Sugere-se que o Wnt7b interaja na sinalização Shh para estabelecimento dos limites entre o ectoderma oral e dentário, posicionando assim os locais de formação das estruturas dentárias 29. Sabe-se que os fatores de necrose tumoral (TNF) são cruciais na formação das cúspides dos molares 29. Aplicações em Odontologia A terapia com células-tronco adultas geralmente é precedida pela compreensão de todas as suas propriedades, o controle de sua proliferação e os fatores que determinam sua diferenciação. A regeneração de um órgão dentário não é simples, pois seu desenvolvimento é determinado por interações complexas e inúmeros fatores de crescimento 29 e, ainda, a diferenciação celular está ligada a mudanças morfológicas no decorrer da formação do germe dentário 9. Tem sido proposta a utilização de células-tronco adultas em diversas áreas da Odontologia. Em um estudo in vitro 2, células-tronco mesenquimais obtidas da medula óssea de ratos foram isoladas e induzidas a se diferenciarem em células condrogênicas e osteogênicas através de estímulo com fator de crescimento tumoral (TGF-β1). As mesmas foram encapsuladas em R Dental Press Ortodon Ortop Facial 37 Maringá, v. 12, n. 1, p. 33-40, jan./fev. 2007

Células-tronco em Odontologia duas camadas de matriz composta por hidrogel de polietilenoglicol, moldadas em forma de côndilo de humanos. Esses moldes de acrílico foram implantados em dorsos de ratos imunodeficientes. Foi observada a formação de uma estrutura condilar após 8 semanas da implantação. Tal achado representa uma ferramenta útil para um futuro desenvolvimento de côndilos mandibulares através da engenharia tecidual 2. Em outra pesquisa, células-tronco mesenquimais provenientes de porcos foram isoladas, cultivadas em matriz de ácido poli-dl-láctico-coglicólico e incubadas por 10 dias em meio de cultura com suplemento osteogênico. Posteriormente a este período, as amostras foram transplantadas para defeitos ósseos mandibulares induzidos cirurgicamente e após 6 semanas realizou-se a análise histológica, clínica e radiográfica. Observou-se que os defeitos foram preenchidos com um tecido denso, semelhante ao osso, apresentando osteoblastos, osteócitos, vasos sanguíneos e osso trabeculado 1. Inúmeros esforços têm sido direcionados para a regeneração periodontal. Laino et al. 11 demonstraram a presença de células tronco-adultas no ligamento periodontal, com propriedade clonogênica e alta taxa proliferativa. Essas células foram estimuladas in vitro a diferenciarem-se em células tipo cementoblastos, através de um meio rico em L-ascorbato-2 fosfato, dexametasona e fosfato inorgânico; após 4 semanas observou-se acumulação cálcica, embora em menor proporção quando comparada com as células-tronco provenientes da medula óssea e da polpa dentária. A análise imunohistoquímica e Western blotting demonstraram que as células-tronco do ligamento periodontal expressaram uma variedade de marcadores cementoblásticos/osteoblásticos. Ao serem transplantadas para ratos imunocomprometidos as células formaram uma estrutura semelhante ao cemento/ligamento periodontal. Em defeitos criados cirurgicamente na área periodontal dos molares inferiores dos ratos, as células se integraram ao ligamento periodontal em duas das seis amostras e, ocasionalmente, uniram a superfície do osso alveolar ao dente. Esses achados implicam em uma possível função das células-tronco na regeneração tecidual periodontal, sendo necessários estudos mais aprofundados. O objetivo da Odontologia conservadora é restaurar ou regenerar os tecidos dentários para manter a vitalidade, a função e a estética do dente. Gronthos et al. 8 iniciaram estudos para isolar células-tronco da polpa dentária a partir de terceiros molares humanos impactados. Em meio de cultura composto por L-ascorbato-2-fosfato, glicorticóide e fosfato inorgânico, foi observada a capacidade de tais células formar em depósitos cálcicos in vitro. Após transplantação em ratos imunocomprometidos, as células-tronco pulpares exibiram habilidade de formar uma estrutura semelhante ao complexo dentina-polpa, composto de uma matriz de colágeno tipo I altamente organizada, perpendicular à camada tipo odontoblástica, e tecido fibroso contendo vasos sanguíneos, análogo à polpa encontrada em dentes humanos normais. Outros pesquisadores 14 cultivaram o mesmo tipo celular em meio indutor de mineralização semelhante e observaram a formação de hidroxiapatita com pequenas quantidades de carbonatos, característicos de apatitas biológicas. A matriz extracelular fosfoglicoprotéica não-colagênica (MEPE, sigla do inglês matrix extracellular phosphoglycoprotein) foi identificada recentemente no tecido dentário, tendo o peptídeo Dentonina derivado de sua seqüência gênica. A ação da Dentonina sobre as células-tronco da polpa foi avaliada 13. Observou-se um aumento na taxa de proliferação dessas células, sendo possível o uso deste peptídeo na regeneração da polpa em resposta a injúrias como traumas e cáries. São necessários mais estudos para aplicação in vivo desta terapia. Em um estudo 23, foi testada a capacidade do epitélio odontogênico de estimular células-tronco embriogênicas e mesenquimais, provenientes dos tecidos neural e medula óssea, a expressarem genes do desenvolvimento dentário e, assim, substituírem o mesênquima dentário na bioengenharia. Em amostras com células embriogênicas e neurais, observou-se a expressão de Dspp, gene expresso por odontoblastos, R Dental Press Ortodon Ortop Facial 38 Maringá, v. 12, n. 1, p. 33-40, jan./fev. 2007