De dentro para fora: Terapia Comunitária do Engenho do Meio 1



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Transcrição:

De dentro para fora: Terapia Comunitária do Engenho do Meio 1 Isabella BARBOSA 2 Isabela CARVALHO Nivea SIQUEIRA Ramone SORAYA Reuel ALMEIDA Ricardo DIMAS Cecília ALMEIDA 3 Faculdade Boa Viagem, Recife, PE RESUMO: De Dentro Para Fora é um caderno de reportagens eletrônico elaborado por alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Boa Viagem, tendo como tema as sessões e histórias dos participantes da Roda de Terapia Comunitária do Engenho do Meio (Recife/PE). A Terapia Comunitária do Engenho do Meio tem por objetivo ajudar as pessoas da comunidade, muitas delas em situação de risco, que não têm condições de pagar por uma terapia. A roda é realizada nas quintas-feiras na praça do Engenho do Meio, subúrbio da cidade do Recife. Os alunos visitaram a roda durante os meses de abril e maio do ano de 2013. O caderno mostra histórias de algumas pessoas que frequentam ou que já frequentaram a roda, seus problemas e suas atitudes em busca de uma superação. PALAVRAS-CHAVE: Reportagem; Jornalismo; Terapia Comunitária. 1 INTRODUÇÃO O quarto dever do jornalista é com sua própria consciência (NOBLAT, 2010, p. 19). Foi para exercer esse dever que surgiu o projeto De Dentro Para Fora Terapia Comunitária do Engenho do Meio, elaborado por alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Boa Viagem. Em formato eletrônico, o volume traz uma série de reportagens especiais que narram as histórias de pessoas diversas que se frequentam em um lugar comum: a roda de Terapia Comunitária do Engenho do Meio. A roda de terapia comunitária do Engenho do Meio surgiu inicialmente para cumprir uma atividade obrigatória visando à formação de terapeutas comunitários, onde, para obter a certificação, cada terapeuta precisava comandar 45 sessões. Criada em 2008 para aliviar as dores da alma daqueles que vivem na comunidade e não têm condições de pagar por um tratamento terapêutico particular, a Roda de Terapia Comunitária do Engenho do Meio 1 Trabalho submetido ao XXI Prêmio Expocom 2014, na Categoria Jornalismo, modalidade Livro Reportagem. 2 Aluno líder do grupo e estudante do 3º. Semestre do Curso de Jornalismo, email: isabellabarbosaa@hotmail.com. 3 Orientadora do trabalho. Professora Coordenadora do Curso de Comunicação Social da Faculdade Boa Viagem, email: crodrigues2@fbv.edu.br. 1

reúne semanalmente um grupo de cerca de 15 participantes alguns dos quais convivem com patologias mentais como esquizofrenia ou com situações de risco como violência, consumo de substâncias psicoativas etc. A roda tornou-se um trabalho contínuo e até hoje é espaço para um desabafo livre de julgamentos ou críticas, além de servir para reforçar os laços do indivíduo com a própria comunidade. A Terapia Comunitária pode ser definida como um espaço comunitário onde se procura partilhar experiências de vida e sabedorias, de maneira horizontal e circular, em um ambiente acolhedor e caloroso no qual todos se tornam co-responsáveis na busca de soluções e superação para os desafios do cotidiano (BARRETO, 2008). A equipe conta com profissionais que trabalham voluntariamente para ajudar essas pessoas. Socióloga, psicóloga, médico, todos trabalham juntos para beneficiar aqueles que precisam. Durante as sessões, acontece sempre um pequeno ritual: no início, cada um fala rapidamente sobre um problema que gostaria de trazer para a discussão, então os temas são postos para votação e apenas um é escolhido. As pessoas então têm a oportunidade de falar mais profundamente sobre sua relação com aquele assunto, enquanto as outras apenas escutam. Não é um espaço de conselhos, mas de aprendizado. Cada um aprende com a experiência do outro. A prática é de extrema relevância para a comunidade e auxilia no tratamento de pacientes que enfrentam as mais diversas condições de transtorno mental, em complementação ao serviço prestado pelos CAPs (Centros de Atenção Psicossocial), mas é ainda pouco difundida na região. São poucas as rodas de terapia comunitária existentes no Recife e não se trata de uma prática muito conhecida pela população. A roda do Engenho do Meio já foi tema de reportagem do Jornal do Commercio, mas, fora isso, não há nenhum tipo de promoção do trabalho realizado além do boca a boca dos próprios participantes. Daí a necessidade de investigar mais a fundo essa prática, de grande valia para a comunidade. Durante as visitas feitas a roda foi possível perceber o entrosamento entre profissionais e participantes, as experiências compartilhadas ali serviram muitas vezes de ensinamento para os demais, mesmo com uma das regras sendo não dar conselhos, as histórias compartilhadas indiretamente serviam de grandes conselhos. 2 OBJETIVO O principal objetivo deste trabalho é mostrar a importância e o reflexo da roda de terapia na vida das pessoas que a frequentam. Além disso, dar visibilidade ao trabalho 2

voluntário dos profissionais que fazem parte desse projeto de grande importância, afinal, todos que frequentam a roda precisam de acompanhamento terapêutico, mas não podem pagar por ela. 3 JUSTIFICATIVA O trabalho dos profissionais envolvidos na terapia comunitária do Engenho do Meio é pouco conhecido. Como já foi citado na introdução, na cidade do Recife são poucas as rodas de terapias comunitárias existentes. A maioria da população acredita que terapia é feita apenas com o profissional e o paciente, mas, como no caso de um dos personagens do livro que já teve a oportunidade de fazer terapia individual, ele acredita que a terapia comunitária teve mais efeitos em sua recuperação, graças ao compartilhamento de histórias que muitas vezes são parecidas em diversos aspectos. Dessa forma, o De Dentro Para Fora presta um serviço de mostrar a importância do trabalho voluntário desses profissionais e também o reflexo do compartilhamento de histórias na vida dos frequentadores. Os pacientes se entregam um pouquinho mais em cada sessão. No livro é possível perceber que em cada sessão da roda de terapia alguém se sente mais a vontade para compartilhar a sua ideia que na maioria das vezes, serve de exemplo e de ensinamento para os outros. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Um livro-reportagem é um trabalho feito para livro, mas feito com linguagem jornalística. Se diferencia dos demais livros por conta de três aspectos essenciais: conteúdo, tratamento e função. O conteúdo tem como objetivo mostrar a realidade sobre o assunto escolhido. O tratamento é feito com linguagem jornalística, tanto com registros formais e coloquiais, nele o autor tem mais liberdade com as palavras, podendo utilizar uma linguagem mais voltada para o emocional. Já a função do livro-reportagem é informar e orientar em profundidade sobre ocorrências sociais, episódios factuais, acontecimentos duradouros, situações, ideias e figuras humanas, de modo que ofereça ao leitor um quadro da contemporaneidade capaz de situá-lo diante de suas múltiplas realidades, de lhe mostrar o sentido, o significado do mundo contemporâneo (LIMA, 2004). 3

No texto literário, o repórter tem um pouco mais de liberdade para escrever, podendo demonstrar um pouco da sua emoção em seu texto. Os autores estão sempre atentos aos mínimos detalhes. Os sentidos do repórter se encontram na leitura dos acontecimentos seja uma cor esmaecida, um sopro quente, um aceno interrompido, uma textura áspera, um aroma inesperado, um suspiro que se liberta, um ranger intermitente (NECCHI, 2007, p. 5-6). Jornalismo literário Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe na feira (PENA, 2014, p. 6). Dessa forma, o De Dentro Para Fora tem como conteúdo a realidade e a essência das pessoas que frequentam a roda de terapia comunitária do Engenho do Meio, relatando a influência da terapia comunitária na vida dos frequentadores com o máximo de detalhes. O tratamento é feito com uma linguagem sensível, que se aproxima do jornalismo literário e da reportagem especial. Para Pena (2014), são sete as características básicas do jornalismo literário. Em primeiro lugar, ele deve potencializar os recursos do jornalismo. A segunda característica é a oportunidade que o jornalista tem, nessa modalidade, de romper com duas características básicas do jornalismo contemporâneo: a peridiocidade e a atualidade. Isso porque não há a amarra do deadline, hora do fechamento, da redação de jornal. Também não há nesse gênero a obrigação de publicar o que é novidade, de maneira que o atual não é preocupação do jornalista literário. A terceira característica é seu dever é ultrapassar os limites do jornalismo tradicional e promover uma visão ampla da realidade. O jornalista literário não ignora o que aprendeu no jornalismo diário. Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é desenvolvê-las de tal maneira que acaba constituindo novas estratégias profissionais. Mas os velhos e bons princípios da redação continuam extremamente importantes, como, por exemplo, a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a capacidade de se expressar claramente, entre outras coisas (PENA, 2014, p. 7). Ao trazer um relato intimista, De Dentro Para Fora: Terapia Comunitária do Engenho do Meio conta as histórias cotidianas de seus personagens mostrando o que há de singular em indivíduos que não apareceriam na imprensa de outro modo. De tal modo, é também um exercício de cidadania, quarta característica do jornalismo literário. 4

Um conceito tão gasto que parece esquecido. Tão mal utilizado por quem não tem qualquer compromisso com ele que caiu em descrédito. Mas você não pode ignorá-lo. É seu dever, seu compromisso com a sociedade. Quando escolher um tema, deve pensar em como sua abordagem pode contribuir para a formação do cidadão, para o bem comum, para a solidariedade. Não, isso não é um clichê. Chama-se espírito público. E é um artigo em falta no mundo contemporâneo (PENA, 2014, p. 8). A quinta característica descrita por Pena é a possibilidade de romper com as correntes do lide estratégia narrativa do jornalismo que busca responder no primeiro parágrafo seis questões básicas: Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Por quê? A fórmula favorece a objetividade, mas gera a pasteurização de textos jornalísticos. No jornalismo literário, há maior liberdade para fugir da fórmula e aplicar técnicas literárias. Evitar os definidores primários é a sexta característica. Ou seja, fugir dos entrevistados que já estão legitimados pelos próprios jornais, como governadores, ministros, advogados ou psicólogos, é uma necessidade. Nesse sentido, De Dentro para fora se aproxima de indivíduos que vivem uma vida comum e que muitas vezes são colocados à margem da sociedade, seja pelo fato de terem baixa renda, seja pelo histórico de transtorno mental. [...] é preciso criar alternativas, ouvir o cidadão comum, a fonte anônima, as lacunas, os pontos de vista que nunca foram abordados (PENA, 2014, p. 8). Por último, a perenidade da obra de jornalismo literário, que não pode ser efêmera ou superficial. O objetivo, para Pena (2014), é a permanência, não cair no esquecimento no dia seguinte. Um bom livro permanece por gerações, influenciando o imaginário coletivo e individual em diferentes contextos históricos. Para isso, é preciso fazer uma construção sistêmica do enredo, levando em conta que a realidade é multifacetada, fruto de infinitas relações, articulada em teias de complexidade e indeterminação (PENA, 2014, p. 9). Em De Dentro para fora, cada reportagem demonstra a divergência da realidade entre seus personagens e o fato de que muitos deles só tem um ponto em comum, que é frequência na roda de terapia. Relata também a importância do trabalho social para aquela pequena parcela da sociedade. Graças à publicação deste material, o trabalho voluntario desses profissionais pode ser um pouco mais conhecido pela sociedade. 5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO 5

O processo de criação do livro reportagem durou aproximadamente três meses, entre visitas à roda de terapia e encontros em locais marcados com os personagens do livro. As visitas às rodas de terapia duraram pouco mais de um mês, e são relatadas em um capítulo do livro, o Diário da Roda, onde os repórteres Isabella Barbosa e Ricardo Dimas descrevem as sessões de terapia comunitária propriamente ditas. Foi durante as sessões que os demais repórteres puderam conhecer algumas histórias e entre elas escolher as que mais lhe chamaram a atenção para contar detalhadamente. O livro conta com algumas histórias bem distintas, mas cada uma delas traz um aprendizado. Após a escolha dos personagens, os repórteres correram atrás dos contatos para que pudessem conversar pessoalmente com cada um deles, saber um pouco mais sobre o interior e a forma de vida de cada um. Também foram feitas entrevistas com os profissionais voluntários que trabalham na roda, para que o público pudesse entender melhor como tudo começou e qual o principal objetivo de cada um que trabalha pelo simples fato de amar o próximo. Após os textos prontos, foram enviados para a orientadora Cecília Almeida que conversou com cada um dos repórteres individualmente, mostrando em cada texto o que estava bom e o que poderia melhorar um pouco mais. Com a edição dos textos concluídas e as fotos dos momentos de visita a roda enviadas chegou a última etapa, a diagramação, que foi feita pelo professor Jorge Borges em colaboração com alunos envolvidos no projeto. O resultado foi um livro digital de 52 páginas, dividido em sete reportagens escritas e com fotografias feitas integralmente pelos alunos, do primeiro e segundo períodos do curso de jornalismo da Faculdade Boa Viagem. O material foi publicado na íntegra através da plataforma issuu, um site agregador de revistas, livros e outras publicações online. Está disponível através do link: http://issuu.com/ceciliaalmeida6/docs/projeto_de_dentro_para_fora 6

6 CONSIDERAÇÕES O De Dentro Para Fora mostra a prática pouco conhecida e difundida na sociedade que é a terapia comunitária, ressaltando os pontos positivos e mostrando a partir de personagens o reflexo dessa prática na vida dos pacientes frequentadores da terapia. O livro mostra em detalhes como são feitas as sessões da terapia comunitária através do capitulo Diário Roda de Terapia, mostrando o que acontece sempre no início das sessões, cantando uma canção de boas vindas a todos e por fim citando as regras para dar início a terapia. A interesse dos profissionais com essa prática é gratificante principalmente para os que não podem pagar por uma terapia individual e foi possível perceber que uma das pacientes da terapia comunitária do Engenho do Meio que já tinha feito terapia individual preferiu a comunitária, pois nela não sentia-se sozinha, afinal tinha exemplos de vida parecidos com o dela e ouvir essas experiências trazia um certo conforto para a mesma. A prática da linguagem literária, deixou os repórteres a vontade para escrever com mais liberdade o que eles viam e ouviam, o que remete ao livro um teor bastante emocional. Afinal são contadas histórias de vida distintas e de pessoas que passam ou passaram por 7

alguma dificuldade no decorrer da vida, fazendo com que os autores ficassem sempre atentos a cada gesto e palavra do personagem. O livro ainda não teve tanta repercussão, mas é claro que tocou de alguma forma as pessoas que tiveram a oportunidade de ler as histórias dele. E todos que compartilharam de forma direta e indireta para que ele pudesse se concretizar esperam que cada leitor possa perceber a importância das terapias comunitárias e que essa prática possa ser mais constante na sociedade de hoje. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, A. P. Terapia comunitária passo a passo. Fortaleza: Gráfica LCR, 2008. NOBLAT, R. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, 2008. LIMA, E. P. O que é livro-reportagem. São Paulo: Brasiliense, 1998.. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 2.ed. São Paulo: Manole, 2004. PENA, F. O jornalismo literário como gênero e conceito. Disponível em: < http://www.felipepena.com/download/jorlit.pdf>. Acesso em: 28 mar 2014. 8