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Transcrição:

Rede Global de Negócios BIO-RIO Autor: SILVA, Katia R. Aguiar C. 1 ; Co-autores:VARELLA, Arnaldo 2 ; CIQUEIRA, Barbara G. 3 ; MANO, Estevão C. B 4.; ROSEN, Michael 5 Resumo Este artigo tratou de demonstrar a importância e a formação da rede de negócios mundial da BIORIO, como ferramenta para a internacionalização de empresas de biotecnologia, modelo inovador no Brasil. Tal Modelo vem possibilitando que empresas nacionais se fortaleçam no mercado biotecnológico externo, contribuindo cada vez mais para o desenvolvimento e fortalecimento deste segmento de alta tecnologia no Brasil. Palavras-chave: Biotecnologia, negócios, network, cooperação técnica Autores: 1 Especialista em Gestão de Projetos e Programas COPPE/UFRJ Gerente da Incubadora e do Parque Tecnológico BIORIO - kaguiar@biorio.org.br 2 MBA em Gestão de Negócios COPPEAD/UFRJ, MBA em Sistema de Qualidade e Negócios - George Washington University, USA Consultor de Negócios da BIORIO 3 Especialista em Planejamento e Gestão Ambiental Universidade Veiga de Almeida Assessora de Desenvolvimento de Negócios barbara@biorio.org.br 4 Estudante de Graduação de Engenharia de Produção UFRJ Estagiário 5 M.B.A. em Negócios Internacionais - UNIVERSITY OF MIAMI.; Pós- Graduações realizadas em Northwestern University, Keio University (Tokyo, Japan) and Universidad Tecnica Federico Santa Maria (Santiago, Chile) Instituição: Fundação BIO-RIO Av. Carlos Chagas Filho, 791 Cidade Universitária Ilha do Fundão RJ Tel: 55 21 3525-2400 http://www.biorio.org.br 1

BIO-RIO Global Networking Author: SILVA, Katia R. Aguiar C. 1 ; Co-authors: VARELLA, Arnaldo 2 ; CIQUEIRA, Barbara G. 3 ; MANO, Estevão C. B 4.; ROSEN, Michael 5 Abstract This article has sought to demonstrate the importance of training and business networking world BIORIO as a tool for the internationalization of biotech companies, innovative model in Brazil. This model has enabled domestic firms are strengthened external market biotech, increasingly contributing to the development and strengthening of this high tech segment in Brazil. Key words: Biotechnology, business, network, Technical cooperation Authors: 1. Specialist in Management of Projects and Programs - COPPE / UFRJ - Manager of Incubator and Technology Park BIORIO - kaguiar@biorio.org.br 2. MBA in Business Management - COPPEAD / UFRJ, MBA in Quality System and Business - George Washington University, USA - Business Consultant of BIORIO 3. Specialist in Environmental Planning and Management - University Veiga de Almeida - Advisor of Business Development - barbara@biorio.org.br 4. Graduate student of Engineering UFRJ Estagiário 5. M.B.A. International Business - UNIVERSITY OF MIAMI.; Postgraduate held at Northwestern University, Keio University (Tokyo, Japan) and Universidad Tecnica Federico Santa Maria (Santiago, Chile) Instituição: Fundação BIO-RIO Av. Carlos Chagas Filho, 791 Cidade Universitária Ilha do Fundão RJ Tel: 55 21 3525-2400 http://www.biorio.org.br 2

1. Introdução O Polo BIO-RIO foi o 1º Parque Tecnológico de Biotecnologia da América Latina, é gerido pela Fundação BIO-RIO, entidade privada sem fins lucrativos, desde 1988 localizado no campus da UFRJ. Pensando na demanda das empresas, o BIO-RIO e vem desenvolvendo um projeto de internacionalização de empresas brasileiras de biotecnologia, formando uma rede mundial de negócios em biotecnologia, objeto deste artigo. 2. Desenvolvimento O final do século passado nos presenteou com uma nova conjuntura internacional. Novidades como o fim da guerra fria, a competição entre novos centros de poder, a globalização da produção e do comércio, o surgimento de novos padrões de mobilidade de capital externo e de novas correntes ideológicas marcaram os anos derradeiros do século XX tal como pautaram o florescer do novo século. No que se refere particularmente às mudanças no âmbito econômico, é notável a crescente integração dos mercados de bens/serviços e de capital, seguida por uma ascendente internacionalização da produção e uma remodelagem das formas de especialização produtiva. A intensificação deste processo deu origem a mercados mais competitivos e interdependentes fundados em transformações tecnológicas de ritmo rápido e continuado. Uma série de mudanças nas tecnologias, organizações econômicas e práticas sociais de produção no ambiente da informação em rede deram origem a novas oportunidades de se fazer e trocar informações, conhecimento e cultura. Mathews (2002) considera a intensificação da globalização nos últimos anos como a intensificação das atividades das empresas multinacionais de forma interligada em diversas cadeias de produção interdependentes. Segundo o autor, este processo impôs às empresas um novo elemento estratégico: a necessidade de adequar o seu modelo de negócio à possibilidade de se inserir nas redes de produção internacional. Este olhar em direção ao movimento global a partir do prisma temático da internacionalização dos negócios é especialmente interessante 3

na medida em que fornece elementos que claramente nos possibilitam enxergar uma mudança de paradigma advinda do novo ambiente global. A adoção prematura de modelos internacionais de negócios é provavelmente viabilizada por, grosso modo, tendências globais que reduziram substancialmente os custos de transação da expansão externa, tais como: globalização dos mercados; avanços em tecnologias da informação e comunicação; aprimoramento dos métodos de produção; desenvolvimento dos transportes e logística internacional. Estas tendências tanto criaram novas oportunidades para empreendedores quanto trouxeram ameaças competitivas aos mercados domésticos, caracterizando, portanto, uma nova configuração para os negócios internacionais. A bioindústria constitui um setor de alta tecnologia, intimamente ligado às descobertas e desenvolvimentos científicos, onde a competitividade das empresas depende, essencialmente, do domínio de conhecimentos especializados e da eficácia em processos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). O forte componente científico justifica o fato de esta ser uma indústria altamente globalizada, onde mesmo as empresas com foco de atuação local sentem, desde muito cedo, as influências e a competição internacional. Ou seja, a Biotecnologia tem-se mostrado como uma área promissora, entre os diversos desenvolvimentos tecnológicos emergentes. Contando com um conjunto de avanços em genômica, proteômica e bioinformática, a bioindústria vem contribuindo para o crescimento econômico e social trazendo novas soluções a problemas relativos à saúde humana e animal, aos agronegócios, ao meio ambiente e à criação de novos materiais. Assim, plantas que poderão ser utilizadas como vacinas, vegetais enriquecidos com vitaminas, novos medicamentos produzidos por engenharia genética, órgãos e tecidos para transplante sem os problemas de rejeição, microrganismos geneticamente modificados para biorremediação (despoluição), biomateriais de aplicação em saúde humana (nanomedicina) e de uso industrial (polímeros, produtos químicos e de eletrônica molecular) são alguns exemplos de avanços efetivos e potenciais. A inovação bioindustrial já apresenta muitos resultados de sucesso e comercialização. O desenvolvimento do Projeto de Internacionalização de Empresas Brasileiras de Biotecnologia da Fundação BIO-RIO, vem possibilitando a exposição internacional das empresas e entidades de inovação. Identificou-se, por exemplo, 4

que a demanda de uma plataforma de internacionalização e inovação é universal, assim como seu âmbito de atuação. A internacionalização de empresas e entidades tornou-se uma das principais prioridades dos parques tecnológicos, incubadoras e centros de desenvolvimento tecnológicos do segmento. Vem surgindo uma janela de oportunidade para estabelecer parceria internacional devido ao atual posicionamento do Brasil no quadro internacional: I. O país destaca-se no cenário mundial pelo rápido crescimento de sua economia e desenvolvimento, tornando-se o terceiro mais atrativo para receber investimentos de empresas multinacionais, após China e Índia; II. O desenvolvimento econômico e social nacional ocasionou um crescimento do mercado interno impulsionado pelo poder de compra da nova classe média brasileira; III. Os recursos naturais brasileiros (agricultura, petróleo, mineração, tecnologias de energias renováveis) e o potencial da biodiversidade muito contribuem para o status do país; IV. O bom relacionamento do Brasil com a América Latina, América do Norte, Europa, China, países árabes e resto do mundo contribui para colocar o país dentre os parceiros favoritos para países que não dispõem de relacionamento e reconhecimento mundial tão amplo. Este reconhecimento mundial para atuação nacional quanto às inovações tecnológicas (energias renováveis, extração de petróleo em águas profundas, tecnologias agrícolas e pecuárias) e o crescente movimento de internacionalização das empresas brasileiras podem ser potencializados em benefícios para os setores de alta tecnologia e projetos empresariais de cooperação com empresas internacionais de alta tecnologia, inicialmente para os mercados sino-brasileiros e para outros mercados internacionais. A bioindústria gera produtos e serviços de alto valor agregado, empregos qualificados e, em geral, suas aplicações em saúde tendem a repercutir positivamente na melhoria da qualidade de vida das populações usuárias, embora outras aplicações sejam fonte de debate ético e preocupação ecológica. Muito se tem dito sobre o potencial da biotecnologia e sobre um futuro ciclo de inovações que dela poderá resultar. Até o presente momento, contudo, os mais importantes desenvolvimentos bioindustriais estão concentrados nos Estados Unidos e Europa 5

(Reino Unido, Alemanha e França), tendo como principais elementos propulsores, de um lado, os investimentos de venture capital e sua habilidade de organização e conversão de empreendimentos científicos e acadêmicos em negócios cotados nas principais bolsas e mercados de ações e, de outro lado, grandes corporações das indústrias químicas e farmacêuticas que, mediante aquisições de pequenas empresas de biotecnologia, ampliam suas capacidades de inovação ou atuam na comercialização mais ampla dos produtos gerados. Não existem estudos ou avaliações em profundidade sobre como tais modelos de bioempreendendorismo internacionais se aplicam ao caso brasileiro. Tendo em vista a ausência de uma cultura de investimentos venture no Brasil, a imaturidade dos investimentos de altas tecnologias em mercados de capitais e a existência de pouquíssimos casos de aquisições de empresas de biotecnologia no Brasil (1), este artigo investiga como bioempreendedores brasileiros se estruturam, organizam e financiam seus processos de inovação e quais seriam a relevância e as perspectivas de os investimentos de venture capital efetivamente contribuírem para seu desenvolvimento empresarial. No estudo setorial desenvolvido em 2011, identificou-se 237 empresas privadas de biociências atuando em território nacional, concentradas na região sudeste do Brasil, especialmente São Paulo (40.5%), Minas Gerais (24.5%), Rio de Janeiro (13.1%) e fora da região sudeste Rio Grande do Sul (8%). São consideradas empresas de biotecnologia (empresa de biotecnologia é aquela que tem como atividade comercial principal a aplicação tecnológica que utilize organismos vivos, sistemas ou processos biológicos na pesquisa e desenvolvimento, na manufatura ou na provisão de produtos e serviços especializados - definição adotada pela revista Nature Biotechnology). Analisando apenas as empresas de biotecnologia nota-se que o padrão é similar ao setor de biociências como um todo. A região Sudeste reúne 78,1% das empresas de biotecnologia seguida para região Sul com 8% totalizando 86,1%. Em primeiro lugar está São Paulo (40,5%) seguido de Minas Gerais (24,5%), Rio de Janeiro (13,1%), Rio Grande do Sul (8 %) e Paraná (4,6%). Os demais estados juntos são responsáveis por apenas 9,2% das empresas de Biotecnologia no Brasil. Avaliando-se o perfil das empresas de biotecnologia, especificamente, observa-se que a grande maioria atua na provisão de produtos nas áreas de Saúde 6

Humana (39,7%) e Meio Ambiente e Energia (14.8%), excluindo-se aqui a indústria de etanol e cana-de-açúcar. Em seguida aparecem as empresas da área de Saúde Animal (14.3%), Reagentes (13.1%), Agricultura (9.7%), e por fim, 8.4% com perfil misto atuando em mais de uma área. Se compararmos esses números com um estudo elaborado em 2007 percebemos que entre 2006 e 2008 essas posições se alteraram; em 2006 a Agricultura também era líder com 22,5% seguida pela categoria de Insumos (21,1%), Saúde Animal (18,3%), Saúde Humana (16,9%) e Meio Ambiente (14,1%). Aqui devemos destacar o fato para a mudança de metodologia referente à indústria de cana-de-açúcar e de bioenergia. Considerando o estudo feito em 2009 (resultados de 2008) 19,7 % das empresas não estavam faturando ainda, 49,2% faturaram até um milhão e 31,1% faturaram mais do que 1 milhão. Além disso, 50,8% empregavam até 10 funcionários, 27% tinham entre 11 e 20 funcionários, 14,3% tinham entre 21 e 50 funcionários e 7,9% tinham mais do que 50 funcionários em seu quadro. Em relação aos pedidos de patentes, até 2010 cerca de 39.6% das empresas do setor de biociências afirmaram ter depositado, ao menos, 1 pedido de patente no INPI. No contexto internacional esse percentual cai para 17%. Como obstáculo para a obtenção de patentes é apontado o alto custo do processo, a falta de serviços especializados e o tempo longo para conclusão do processo. Em relação à exportação o setor de biociências apresenta, ainda, peculiaridades que devem ser levadas em consideração. Seu mercado é altamente especializado e competitivo, especialmente na Europa e Estados Unidos. Para entrar na disputa, as empresas devem apresentar um diferencial robusto, geralmente uma base tecnológica inovadora, devidamente protegida por patentes internacionais. Ao mesmo tempo, a empresa deve obter certificações e registros obrigatórios para cada produto e em cada país alvo. Frequentemente são necessárias adaptações nos produtos e processos produtivos da empresa para atender a requisitos específicos de registro, o que acaba encarecendo e prolongando o processo. Resumindo, não é uma ação pontual que permite a uma empresa de biociências tornar-se exportadora, mas todo um processo de preparação e adaptação prévia. 7

Tendo isso em mente, a presente proposta busca incentivar uma nova geração de empresas exportadoras, ao mesmo tempo em que auxilia a ampliação das vendas das empresas que já atuam no mercado externo. Segmentos que Compõem o Setor O setor de biotecnologia é composto por 5 segmentos principais e por um grupo de empresas prestadoras de serviços. A seguir serão detalhados cada um dos segmentos que compões o setor de biotecnologia: Saúde Humana: empresas que desenvolvem/comercializam produtos ou serviços especializados voltados para a saúde humana como kits de diagnóstico, vacinas, proteínas recombinantes, anticorpos, materiais para próteses, próteses e devices médicos especializados, meios de cultura, produção de reagentes e antígenos, terapia celular, curativos e peles artificiais, identificação de novas moléculas e fármacos, biossensores, etc.; Saúde Animal: empresas que desenvolvem/comercializam produtos ou têm serviços especializados voltados para a saúde animal como kits de diagnóstico, vacinas ou outros produtos terapêuticos, transferência de embriões, melhoramento genético, clonagem, diagnóstico molecular, etc.; Agricultura e Meio Ambiente: empresas que desenvolvem ou comercializam sementes e plantas transgênicas, novos métodos para controle de pragas, clonagem de plantas, diagnóstico molecular, produção de fertilizantes a partir de microrganismos, melhoramento genético, catalisadores, biorremediação, tratamento de efluentes e áreas degradadas; Insumos: empresas que produzem reagentes; por exemplo, empresas que produzem enzimas ou outros reagentes para diagnóstico. Bioenergia: empresas que desenvolvem tecnologias voltadas para a produção de etanol e biodiesel; Serviços: empresas prestadoras de serviço para o setor ou que fazem uso da biotecnologia nos seus processos e na prestação de serviços. 8

Face às crescentes mudanças que influem na dinâmica do comércio internacional, governos e empresas têm buscado estratégias que garantam ganhos em competitividade, acesso a mercados, diminuição dos riscos de operação, novas fontes de financiamento, entre outros. Observa-se a intensificação da integração dos países e empresas ao mercado mundial; a integração produtiva e comercial em busca do aumento das vantagens comparativas e recuperação de obstáculos dentro de um cenário marcado pelo forte ritmo de crescimento do comércio e do investimento entre nações. A internacionalização de empresas assume papel crucial, principalmente para as economias emergentes que formulam políticas para crescimento econômico sustentável. o tema da internacionalização de empresas desperta cada vez mais a atenção de governos nacionais, acadêmicos e setor privado no mundo todo. São muitas as teorias e argumentos utilizados para defender ou criticar este fenômeno. A internacionalização da produção ocorre quando residentes de determinado país obtêm acesso a bens e serviços com origem em outro. As empresas utilizam suas vantagens na atuação no exterior de maneiras diferenciadas, tais como:. 1) busca de mercados (acesso a mercados consumidores); 2) busca de eficiência (redução de custos, sobretudo de mão-de-obra); 3) busca de recursos (matérias-primas); 4) busca de ativos já criados (por meio de fusões e aquisições); 9

5) busca de cooperação técnica 6) outros motivos (objetivos estratégicos e políticos, redução de risco, etc). De acordo com estudo conduzido pela OECD (Organisation for Economic Cooperation and Development), as principais barreiras à internacionalização das pequenas e médias empresas, são: A. Capital de giro insuficiente para financiar as exportações; B. Dificuldades na identificação de oportunidades de negócio; C. Acesso limitado à informação sobre outros mercados; D. Dificuldade em acessar potenciais clientes estrangeiros; E. Identificação de representante confiável no exterior; F. Falta de habilidades gerenciais para lidar com a internacionalização; G. Falta de recursos humanos qualificados para conduzir o processo. Estas mesmas dificuldades foram reportadas em várias outras pesquisas e podem ser resumidas em sete itens principais: A. Exigências de qualidade e certificados heterogêneos; B. Identificação de potenciais clientes estrangeiros; C. Identificação de representantes no exterior; D. Falta de informação sobre outros mercados; E. Incerteza cambial; F. Competição externa; G. Falta de recursos financeiros. Procurou-se conhecer as estratégias da indústria nacional para incorporação da produção de biotecnológicos, a atuação da academia e das empresas de base tecnológica e o ambiente institucional em termos de regulação e politicas de fomento. Para tanto, além de revisão bibliográfica, foram Biotecnologia para saúde no Brasil foram realizadas reuniões com representantes da indústria farmacêutica, de empresas de biotecnologia e de órgãos governamentais. Necessitava-se suprir necessidades e reduzir a barreira para internacionalização e assim então, foi realizado um Planejamento Estratégico Setorial de Internacionalização para o segmento de Biotecnologia. O resultado da análise SWOT foi: 10

Pontos Fortes Existem casos de sucesso interessantes de empresas brasileiras que se internacionalizaram; Capacidade de pesquisa e geração de conhecimento é elevada; Valor agregado dos produtos de biotecnologia produzidos no Brasil; Capacidade de atração de parceiros financeiros, tecnológicos e comerciais pela rede de relacionamentos e características setoriais; Decisão de desenvolvimento da marca setorial integradora das verticais do setor. Pontos de Melhoria OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS Assimetria de informações para investimento financeiro internacional nas empresas Ausência de um mapa da biotecnologia no Brasil Ausência de monitoramento das relações de bioclusters Ausência de informações organizadas dificulta a geração de políticas públicas que beneficiem o setor Falta de informações sobre as empresas de biotecnologia e onde se localizam Desenvolvimento empresarial e capacitação Ausência de preparação das empresas para participarem de forma efetiva nas ações de promoção comercial e captação de investimentos internacionais; Defasagem no desenvolvimento de novas tecnologias com as necessidades do mercado; Desenvolvimento de um produto ou serviço biotecnológico pode levar anos e quantidades enormes de recursos; Poucos produtos inovadores atualmente para exportação. PROMOÇÃO COMERCIAL E DE CAPTAÇÃO DE INVESTIMENTOS Capacidade baixa de comunicação dentro do setor (verticais e entidades) e entre o setor e a sociedade Falta de posicionamento das empresas para participação nos eventos de promoção comercial; 11

Ausência de um posicionamento na rede internacional de biotecnologia; Ausência de mecanismos, formas, canais de relacionamento de forma a potencializar a realização de negócios; Ausência de canal comercial e diplomático para promoção da biotecnologia nos mercados; Falta de patentes bem redigidas orientando a atração de investimentos hoje disponíveis. Estudos recentes sugerem fortemente que a pesquisa em biotecnologia exige um ambiente especial, de inovação, para florescer, a começar de uma capacitação sistemática de recursos humanos e disponibilidade de financiamento de custo reduzido. Mais do que isso, porém, a possibilidade de inovar nessa área está diretamente relacionada ao grau de internacionalização das fontes de pesquisa. Isso significa que, além de produzir e reproduzir bons profissionais, é fundamental que existam laços fortes entre os pesquisadores e os centros de pesquisa, tanto no plano nacional quanto no internacional. A inovação tecnológica é um jogo estratégico industrial, econômico e social. As inovações tecnológicas na área de ciências da vida podem ser produtos dos laboratórios industriais, mas também a contribuição das pequenas empresas inovadoras ou mesmo as muito pequenas e pode ser determinante no progresso tecnológico e social, mas também nas competitivas indústrias internacionais. As relações entre os diferentes atores nacionais e no mundo público e privado abrangidas pela inovação tecnológica devem ser reforçadas com o olhar dos desafios que os mercados internacionais representam. A internacionalização e a eficiência da gestão dessas relações é por si só uma causa. Desde os primeiros desenvolvimentos realizados, nos anos 1970/80, quatro conjuntos de atores e um conjunto de infra-estruturas tecnológicas vêm sendo relevantes para a criação, produção e comercialização de inovações bioindustriais, a saber: 1) a pesquisa científica universitária; 2) as micro e pequenas empresas start ups, nascidas da pesquisa universitária ou de departamentos de P&D de empresas (spin-offs); 3) as grandes empresas químicas e farmacêuticas atuantes no mercado de produtos das ciências da vida; 4) os investimentos de venture capital em suas modalidades (angel seed, mezzanino e equity); 5) as incubadoras de empresas e parques tecnológicos. 12

A pesquisa científica é a fonte básica de conhecimentos para o desenvolvimento de produtos e serviços biotecnológicos e gerou o modelo empresarial clássico do setor: o cientista-entrepresário e a típica micro e pequena empresa spin-off universitária. Esse modelo tem sido particularmente bem sucedido nos Estados Unidos, onde o fenômento emergiu (KENNEY, 1986; BULLOCK; DIBNER, 1995). Trajetórias similares têm sido estimuladas (ou emuladas) em outros países (ROBERTS; MIZOUCHI, 1989; LEX, 1995; JANK, 1995), consolidando como paradigma empresarial o cientista carismático e empreendedor. As micro e pequenas empresas (MPEs) de biotecnologia proliferaram internacionalmente na última década, sendo elementos centrais no desenvolvimento estrutural da bioindústria. Por sua falta de habilidades gerenciais, dificuldades de financiamento, comercialização e marketing e, fundamentalmente, por sua incapacidade de lidar com o complexo regime regulatório e com os custos de propriedade intelectual (ROTHWELL; DODGSON, 1994), MPEs de biotecnologia, lideradas por empresários cientistas, tornaram-se participantes naturais de arranjos organizacionais especiais, tais como incubadoras e parques tecnológicos, geralmente de vinculação universitária. Tais ambientes ou infra-estruturas tecnológicas especiais ajudam a superar as dificuldades de empreendimento, aumentam a base de conhecimentos e o potencial de formação de redes, agrupamentos e clusters. Como ninhada de pássaros recém-nascidos, empresas de biotecnologia tendem a se manter juntas e em proximidade a grandes centros de pesquisa (CARR, 2003). Grandes empresas químicas e farmacêuticas, por sua vez, sempre estiveram tradicionalmente vinculadas a universidades por sua base de conhecimentos. Com a emergência de MPEs de biotecnologia, criaram novos mecanismos de acesso a inovação, tais como transferência de tecnologia, licenciamento, participação acionária ou aquisição propriamente dita. A complementaridade de relações e vínculos entre os três conjuntos de atores (universidades, MPEs de biotecnologia e grande indústria química e farmacêutica) tem sido amplamente reconhecida (ARORA; GAMBARDELLA, 1990; PISANO, 1991), compreendida como o resultado do processo de amadurecimento e passagem por estágios cíclicos através dos quais a estrutura industrial de biotecnologia evolui (JOLY, 1999; BARBANTI; GAMBARDELLA; ORSENIGO, 1999). 13

Criadas nos Estados Unidos no final dos anos 1950, as empresas de investimento em pequenos negócios (SBICs) constituíram os primeiros fundos de venture capital (2) com aplicações em diversos segmentos, em especial em novos empreendimentos de alta tecnologia (FINGERL, 2001).A relevância deste tipo de investimentos resulta da necessidade de prover recursos financeiros de longo prazo e suporte a gestão de empresas emergentes - de grande potencial de crescimento, mas sem condições de buscar financiamento nas organizações tradicionais de crédito (EMRICH; BAETA, 2000). Em 2001 registrava-se a existência de 365 fundos constituídos, com investimentos de US$ 12,6 bilhões nos EUA (FINGERL, 2001). No Brasil, tais fundos são muito mais recentes, só tendo começado a se constituir no final de 1990 e início de 2000. No presente momento, operam no país entre 50 e 70 fundos de venture (PRADO, 2003; PAVANI, 2003), dos quais, três com algum tipo de orientação/inclinação para investimentos em biotecnologia, a saber: FIR Capital Partners, Votorantim Ventures e Rio Bravo. Gestão de Inovação em Biotecnologia Dois importantes elementos do processo de gestão de inovação em empresas intensivas em conhecimento são o ambiente de relações em que interagem os atores internos e externos e os mecanismos e coalizões que estabelecem para o desenvolvimento de novas tecnologias e mercados (BIGNETTI, 2002). As inovações baseadas em conhecimento possuem o mais longo prazo de espera entre o aparecimento do novo conhecimento e sua aplicação e sua transformação em produtos e serviços para o mercado. Outra característica fundamental dessas inovações é que quase nunca resultam de um só fator, mas da convergência de vários tipos de conhecimento, nem todos científicos ou tecnológicos. Pela imprevisibilidade inata, seus riscos são altos (DRUCKER, 2002). Tem sido dito que as empresas de biotecnologia atuam em modelo organizacional de arquitetura aberta (POWELL, 1999), na medida em que muitas de suas funções essenciais são providas a partir das coalizões externas realizadas. Assim, dificilmente uma só entidade será capaz de fornecer todo o conjunto de necessidades das empresas participantes do setor, envolvendo aspectos diversos, como pesquisa científica e tecnológica, testes clínicos, propriedade intelectual, financiamento, capitalização, manufatura, marketing e distribuição. 14

Conseqüentemente, as parcerias, cooperações, alianças estratégicas e licenciamentos a grandes empresas químicas e farmacêuticas, joint ventures, participações acionárias, aquisições e incorporações, assim como investimentos seed, mezzanino e venture são todos elementos vitais ao avanço da bioindústria. Dificilmente, em seu atual estágio evolutivo, empresas de biotecnologia poderiam ser classificadas como estruturas permanentes ou fechadas; na verdade, trata-se antes de um campo organizacional em processo de emergência e construção social (POWELL, 1999) A bioindústria se enquadra na categoria emergente na análise estrutural realizada por Porter (1986), que descreve o cenário de nascimento industrial como estágio tecnológico (e competitivo) de fluidez, incerteza e oportunidades. Enquanto muitos subsegmentos industriais se consolidam e produzem resultados visíveis que ganham a confiança dos clientes e usuários (diagnósticos moleculares, medicamentos), outros experimentam estágios iniciais, enfrentando a resistência e confronto da opinião pública (transgênicos, clonagem para fins terapêuticos) ou, então, tropeçam em ausência ou excesso de regulamentação, longos prazos de maturação e validação tecnológica. As empresas são pequenas e fragmentadas e a organização da indústria é, em muitos sentidos, precária. São características comuns à indústria emergente os processos de tentativa e erro, os comportamentos erráticos, já que predominam a incerteza tecnológica, a incerteza estratégica e os altos custos de produção. O surgimento de spin offs (empresas desmembradas de outras empresas ou de universidades e centros de P&D) e start ups (empresas iniciantes) resulta da inexistência ou da presença de baixas barreiras à entrada, características da fase de emergência e da atratividade produzida pelos ganhos do pioneirismo no mercado. Os usuários e consumidores também são iniciantes e desconhecem os produtos/serviços, devendo nesse estágio ser informados sobre eles, até que possam ser capazes de prover feed back mais completo de suas necessidades e experimentos de consumo. Uma série de barreiras estruturais e fatores limitantes constrangem a ação das empresas no estágio industrial emergente: a ausência de infra-estrutura de instalações, de canais adequados de distribuição e suprimento de serviços complementares necessários, a qualidade irregular dos produtos, as dificuldades de obtenção de matérias primas e componentes, a ausência de padronização, escala e 15

externalidades de produção, além de um estado de confusão ou, às vezes, desconfiança por parte dos clientes e consumidores. Em outra dimensão, há incertezas quanto à imagem e credibilidade das empresas iniciantes junto à comunidade financeira e, finalmente, há atrasos e transtornos na obtenção de aprovação das regulamentações que, pouco a pouco, se estabelecem (PORTER, 1986). A todas essas características de incerteza, soma-se também um ciclo longo de maturação de produtos de bioindústria, o que resulta em investimentos e riscos altos, intensidade tecnológica e longo tempo em pesquisa, desenvolvimento, registro, manufatura e distribuição. Do ponto de vista da inovação, as agendas de pesquisa e desenvolvimento de empresas de biotecnologia são estabelecidas por uma combinação de fatores de competência científica e foco, noção de acesso a mercados, senso de factibilidade da área de pesquisa, capacidade de networking, parcerias e cooperações, capacidade de romper barreiras culturais, persistência, tenacidade. Biotecnologia e Capital de Risco Tem sido observado que, à medida que as empresas start up, baseadas em conhecimento progridem em seu ciclo de vida, as aptidões gerenciais se tornam mais importantes do que as habilidades empresariais, como se os empreendedores atingissem um limite executivo, a partir do qual sua inabilidade gerencial se torna prejudicial à empresa (ZACHARAKIS; MEYER; DECASTRO, 1999). Para Drucker (2002, p. 260), setores industriais, baseados no conhecimento, possuem momentos de ebulição e abertura de oportunidades de entrada ou janelas. O ciclo se alterna em momentos de fechamento, ou abalos, quando a indústria amadurece e se estabiliza, sendo o número de inovadores sobreviventes menor do que antes. Nessa situação "... a não ser que a nova empresa se desenvolva como um novo negócio e assegure que esteja sendo "administrada", ela não sobreviverá, não importa quão brilhante seja a idéia empreendedora, quanto dinheiro ela atraia, quão bons seus produtos, nem mesmo quão grande a demanda por eles". Conforme visto, as empresas de biotecnologia necessitam, de maneira intensa, de informações e um conjunto de insumos ou inputs externos para complementação de suas capacidades tecnológicas, mesmo que as atividades de P&D estejam 16

internalizadas. Além da intensidade de relações entre empresas e universidades ou centros produtores de conhecimento, no caso de empresas de biotecnologia, outro importante componente de P&D é sua condução por empresários cientistas. Por suas conexões acadêmicas e, principalmente, por sua percepção e profunda conscientização do papel do avanço científico e tecnológico em seu negócio, em estágios iniciais de sua empresa, o empresário cientista busca colaboradores que contribuam para o avanço da tecnologia, tendendo, em certo sentido, a supervalorizar o papel da pesquisa científica, o P do P&D, em detrimento do desenvolvimento tecnológico e da colocação do produto no mercado. Os bioempreendedores têm sido freqüentemente flagrados em comportamentos empresariais impulsionados pela emoção da pesquisa, em atitudes visionárias, que parecem oscilar entre o sentido schumpeteriano de entrepreneur (SCHUMPETER, 1991) e a devoção carismática e missionária à ciência no sentido weberiano (WEBER, 1978). Conforme nota recente survey: "The businessmenscientists who are biotechnology entrepreneurs often seem driven by motives more complex than a mere desire to make money especially when they are trying to find treatments for disease" (CARR, 2003, p. 3). Porém a empresa moderna não é baseada no líder schumpeteriano visionário ou na autoridade carismática ou missionária weberiana. Se na fase inicial de seu desenvolvimento existe pouca necessidade de sistemas de controle formais, porque os funcionários estão em constante comunicação face e face e é possível conduzir o negócio sem estruturas hierárquicas de subordinação (SIMONS, 1995), em estágios mais avançados, quando se inicia o processo de alavancagem financeira e capitalização, mediante a busca de associação com venture capital, a start up adquire maturidade e outros recursos empresariais e compreende melhor a contribuição de outras especialidades profissionais necessárias à consolidação de seu empreendimento. Com o auxílio do investidor de risco, o empresário cientista ou o empreendimento intensivo em conhecimentos diversifica seus parceiros e colaboradores, introduzindo a administração profissional de executivos (CEOs), gerentes financeiros, comerciais e de marketing. Nesse movimento, atinge nível organizacional mais complexo, em que a produção industrial e a organização financeira do negócio se estabilizam em 17

rotinas e trajetórias padronizadas, ou passam ao domínio da autoridade burocrática no sentido weberiano. A rotinização burocrática dos negócios, introduzida pelo capitalista venture, é um momento crucial no desenvolvimento empresarial. A entrada do investidor de risco age como um freio aos imperativos ou à vontade apaixonada da pesquisa que dominam o fundador empreendedor cientista, formatando, reestruturando e racionalizando o plano de negócios e as tarefas administrativas e gerenciais que podem efetivamente conduzir às fases de crescimento, escala e consolidação da empresa. Se ao empreendedor cabem a gestão da cultura e visão empresariais, ao profissional administrador ou gerente cabe especialmente a gestão do desempenho (SADLER-SMITH; HAMPSON; CHASTON; BADGER, 2003). De fato, tem sido evidenciado que empresas financiadas por investidores venture apresentam taxa mais alta de sucesso/sobrevida do que empresas não financiadas. Isso não significa que o investidor de risco saiba sempre escolher empresas vencedoras, já que cerca de 20% de empresas investidas em venture são zumbis (vivas-mortas), falhando em prover os retornos esperados pelo investidor (ZACHARAKIS; MEYER; DECASTRO, 1999). O ponto a ser enfatizado, portanto, não é a capacidade de antecipação do sucesso empresarial por parte do investidor venture, mas, sobretudo, sua capacidade de proativamente fomentar e garantir racionalmente o sucesso, particularmente por meio da gestão profissionalizada. Ao capitalista e investidor de risco cabe papel fundamental na solução do chamado dilema do fundador (ADIZES, 2002), a passagem da empresa da fase de adolescência para adulta. De outro ângulo, nem sempre investidores venture se dispõem a aplicar em biotecnologia por terem aprendido, em sua experiência, que nem sempre os produtos de biotecnologia atingem seu potencial esperado de faturamento ou sustentação de margens de vendas e que muitas vezes, nem mesmo conseguem efetivamente chegar ao mercado: podem ocorrer falhas em testes clínicos, por exemplo. Um caminho de ganhos consistentes e contínuos em biotecnologia não é totalmente claro e esse é o aspecto mais importante na avaliação de investidores. Momentos de ceticismo e desinteresse por biotecnologia ocorrem por parte de investidores venture (CARR, 2003), diminuindo o acesso à capitalização de empresas. Afinal, após 30 anos de percurso, a bioindústria não pode usar a 18

desculpa de sua juventude, tampouco é capaz de permanentemente recriar a aura de hipervalorização de seu imenso potencial futuro, como já vem há anos fazendo (ESPOSITO; OSTRO, 1998). Assim, no ano passado BIORIO criou seu primeiro escritório intenational em Chicago / Illinois, um dos maiores centros mundiais de Ciências da Vida. Temos o objetivo principal de promover oportunidades de negócios no setor de Ciências da Vvida brasileira e conectar empresas brasileiras com potenciais parceiros internacionais para desenvolver novas tecnologias ou negócios. Um desses parceiros é o Forest City Science And Technology Group, que está ajudando a BIO- RIO para identificar algumas destas oportunidades. Nossa metodologia está sendo desenvolvida através de uma plataforma de inovação e internacionalização para sistematizar todas as relações de negócios desenvolvidos. Estamos identificando, organizando e captando oportunidades de negócios, bem como de cooperação técnica. O Forest City Science And Technology Group é reconhecido como um dos desenvolvedores pioneiros nos EUA no campo de Ciências da Vida; possui um portfólio completo de mais de dois milhões de metros quadrados e mais de 5 milhões de metros quadrados de laboratórios e escritórios em consutrução e desenvolvimento em vários grandes centros nos EUA, incluindo Boston, Filadélfia, Baltimore, Chicago e Denver. Como fruto desta parceria, a BIORIO tem formado outras parcerias identificadas como estratégicas para o segmento de Ciências da Vida, tais como: ISTC Illinois Science & Technology Coalition World Business Chicago Chicagoland Chamber of Commerce Marian University Indianápolis Mass Challenge BioM Biotech Cluster Development Bay-BIO São Francisco/ USA IBIO Illionois/ USA 19

3. Considerações Finais/ Conclusão O presente artigo tratou de demonstrar a importância e a formação da rede de negócios mundial da BIORIO, como ferramenta para a internacionalização de empresas de biotecnologia, modelo inovador no Brasil. Este Modelo vem possibilitando que empresas nacionais se fortaleçam no mercado biotecnológico externo, contribuindo cada vez mais para o desenvolvimento e fortalecimento deste segmento de alta tecnologia no Brasil. 4. Referências Bibliográficas CEBRAP, Fundação BIO-RIO, Apex Brasil, Brbiotec. Mapeamento da Biotecnologia no Brasil, 2011. Disponível em: <www.cebrap.org.br>. MDIC, Termo de Referência Internacionalização de Empresas Brasileiras, dezembro de 2009. Disponível em http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1260377495.pdf JUDICE, Valéria. Competências em Internacionalização e Inovação em Biotecnologia no Brasil, J. Technol. Manag. Innov. 2006, Volume 1, Issue 4. BIGNETTI, L.P. O Processo de inovação em empresas intensivas em conhecimento. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 6, n. 3, p. 33-53, set./dez. 2002. BIO. Biotechnology Industry Organization Annual Report. 2002. Disponível em: <www.bio.org/links/international.asp>. BULLOCK, W. O.; DIBNER, M. D. The State of US biotechnology industry. Trends in Biotechnology, v. 13, n. 11, p. 463-467, Nov. 1995. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science>. CARR, G. Climbing the helical staircase - A survey of biotechnology. The Economist, London, v. 366, n. 8316, p. 50, after: 1-20, 29 de mar. 2003. CASSIOLATO, J.E.; LASTRES, H. M. M. Local systems of innovation in mercosur countries. Industry and Innovation, Copenhagen, Denmark. v. 7, n. 1, p. 33-54, june, 2000. DRUCKER, P.F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. 6ª ed. São Paulo: Thompson/Pioneira, 2002. 20