-
TRIGO GUIA DE IDENTIFICAÇAo E CONTROLE DAS DOENÇAS EDSON CLODOVEU PICININI JOSE ARTUR DIEHL ARIANO MORAES PRESTES A produção de trigo no Brasil vem sendo afetada sistematicamente por doenças, as quais constituem um de seus principais fatores de insucesso. A pesquisa tem investido quantidades significativas de recursos e esforços para solucionar o problema através da criação de cultivares resistentes às doenças, ou através do controle qu/mico que, aliados a uma lavoura conduzida adequadamente e que ofereça potencial econômico de produção, permita estabilizar a produtividade em níveis compat/veis com o conhecimento técnico e, principalmente, com as necessidades econômicas. Anualmente, as Comissões Sul e Norte Brasileira de Pesquisa de Trigo oferecem ao público recomendações técnicas que permitem à assistência técnica conhecer qual a melhor tecnologia a ser usada pelo produtor.. Este manual, tem por objetivo oferecer informações para a formulação de um diagnóstico correto das moléstias e seu cuntrole que, associados à recomendação oficial da pesquisa trarão maior segurança de uma boa produção. -
FERRUGEM. DA FOLHA A ferrugem da folha ocorre, geralmente, na fase de perfilhamento, p,od.en: do prolongar-se até a maturação. Como o fungo causador d~sta moles~la e um parasita obrigatório, este perpetua-se na cultura do trigo, em trigos guachos e, provavelmente, em gramíneas nativas. A disseminação de seus esporos dá-se através do vento. A temperatura ideal para o dese.n,:olvimento da doença é de 160C a 18 0 C sob alta umidade. Nestas condlçoes, completa seu ciclo em, aproximadamente, 14 dias. - Uso de cultivares resistentes - Eliminação de trigos voluntários FERRUGEM DO COLMO A moléstia manifesta-se principalmente em colmos, podendo infectar ainda folhas e espigas. Produz pústulas alongadas de coloração marrom-averme- Ihada, que rompem a epiderme da planta, exibindo os esporos de coloração ferruginosa (uredosporos). Próximo à maturação, estas pústulas, tornam-se maiores adquirindo coloração escura, quase negra, devido à formação dos teleutosporos. Ataques severos provocam o chochamento dos grãos, podendo causar a destruição total da lavoura. A ocorrência da ferrugem do colmo dá-se, geralmente, na fase de espigamento do trigo. Clima úmido e quente (temperatura de 19 0 C á 22 C) é ideal ao desenvolvimento da doença, que, à semelhança da ferrugem da folha, completa o ciclo a cada 14 dias aproximadamente. A disseminação dos esporos do fungo se dá através do vento. Este organismo perpetua-se na cultura do trigo e em trigos guachos, não se conhecendo, até o momento, hospedeiros intermediários para o mesmo no Brasil. - Uso de cultivares resistentes - Eliminação de trigos voluntários
MANCHA DA GLUMA A septoria infecta folhas, colmos, espigas e sementes. Os sintomas manifestam-se inlci"almente nas folhas como manchas irregulares, de cor marromclara ou escura, com halos violáceos. Com o progresso da infecção, as lesões adquirem coloração castanha, com o centro claro, contendo em seu interior os órgãos de reprodução do fungo (picnídiosl. Os nós, quando atacados, apresentam-se enrugados e quebradiços e as espigas apresentam glumas de coloração marrom-escura com aristas arrepiadas. Em ataques severos, as plantas quebram facilmente na região dos nós, produzindo grãos chochos. Os sintomas iniciais desta doença podem ser confundidos com os de helmintosporiose. O fungo sobrevive em restos de cultura do trigo, trigos guachos, em gramíneas nativas e em sementes. Sua disseminação ocorre pelo vento e por chuvas que, através dos respingos, transportam o fungo a curtas distâncias, ou ainda Ilelas sementes. Primaveras úmidas e quentes (temperatura de 2DoC a 25 0 Cl favorecem a moléstia. - Rotação de culturas e enterrio da resteva - Tratamento de sementes - Procurar manter a área livre de trigos voluntários e outras gramíneas,, Septoria tritici (Mycosphaerella graminlt:olaj Manifestam-se nas folhas sob forma de manchas alongadas, de aspecto aquoso e de coloração verde-escura, paralelas às nervuras. Com o progresso da infecção, as lesões podem afetar parte ou toda a folha, a qual adquire coloração palha, onde são observados numerosos pontos pretos e proeminentes (picn ídios). O patógeno pode atacar também outras partes da planta como espigas e colmos. A fonte de inóculo primano em nossas condições provém de restos de cultura do trigo, de trigos guachos ou hospedeiros nativos. Sua disseminação ocorre pelo vento e por chuvas que, através dos respingos, transportam o fungo a curtas distâncias. Primaveras úmidas, com temperaturas de 15 0 C a 2DoC, favorecem a doença. - Escolha de cu Itivares com o melhor nível de resistência - Rotação de culturas e enterrio da resteva - Procurar manter a área livre de trigos voluntários e outras gram íneas
HELMINTOSPORIOSE A moléstia, também denominada "mancha marrom", pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Nas folhas, os sintomas iniciais caracterizam-se por manchas pequenas, alongadas, de coloração marrom-escura ou preta, com halos amarelados. Mais tarde, quando evoluem, podem causar a morte prematura das folhas. Nos nós, as lesões são castanho-escuras podendo, em ataques severos, ocasionar o estrangulamento destes. Sob condições favoráveis observa-se a multiplicação do fungo neste local, sendo a doença, por isto, também denominada de carvão do nó. As espigas, quando atacadas, apresentam lesões de coloração escura. As espiguetas, quando mortas, adquirem coloração palha, tornando-se pretas quando há frutificação do fungo. Nos grãos, o sintoma característico é denominado de "ponta preta". Sob condições severas de ataque, os grãos produzidos têm o aspecto enrugado., /'. ", ". O patógeno sobrevive em restos da cultura, em gramíneas suscetíveis e em sementes. Chuvas, ventos e a própria semente são as principais vias de disseminação do fungo causador desta moléstia. Alta temperatura (24 0 C a 28 0 C) e umidade elevada favorecem a doença. - Rotação de culturas - Tratamento de sementes - Procurar manter a área livre de trigos voluntários e outras gramíneas
O ataque de Fusarium pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Sua importância é maior quando ocorre na floração, resultando no abortamento de flores ou na produção de grãos chochos. Nesta fase, o sintoma característico da doença é a morte de algumas espiguetas ou de toda a espiga, exibindo uma massa de coloração rosada formada pelo micélio do fungo, que mais tarde, adquire coloração escura devido às pontuações negras (peritécios) que são os órgãos de frutificação de Gibbere/la. As sementes infectadas são enrugadas e de cor rosa ou branca. O fungo transmitido através destas pode ocasionar a morte de plântulas. Culturas como o trigo, cevada, centeio, aveia, milho, sorgo e arroz, entre outras gram íneas, podem ser atacadas por este fungo. Sua sobrevivência se dá principalmente nos restos destas culturas ou em gramíneas nativas. Temperatura (24 0 C a 30 0 C) e umidade elevadas, principalmente na fase de floração do trigo, são condições favoráveis à ocorrência da doença. O fungo se dissemina através de ventos, chuvas e sementes infeçtadas. - Rotação com culturas não suscetíveis e enterrio da resteva - Tratamento de sementes
oíoio Esta doença é também conhecida como mofo ou cinza, por apresentar, nas partes aéreas da planta, formações algodonosas devido à massa de micélio do fungo. Esse micélio, inicialmente de coloração branca, passa a acinzentado com pontículos escuros (c1eistotéciosl do fungo. O ciclo biológico deste fungo, no Brasil, não é bem conhecido. Segundo a literatura internacional, ele perpetua-se na resteva, em trigos guachos e hospedeiros alternativos. Sua disseminação dá-se pelo vento. De uma maneira geral, temperaturas em torno de 17oC, umidade relativa elevada, alta densidade de plantas e doses excessivas de nitrogênio favorecem a doença. ANTRACNOSE ~ ~- _... -.. ;~~~ - -'. Caracterizam-se pela ocorrência de pequenas lesões de forma el íptica e coloração escura, principalmente na região da coroa e parte inferior do colmo das plantas. Infecções severas reduzem o vigor das plantas, causam acamamento na lavoura e produzem grãos enrugados. O fungo sobrevive na resteva de culturas como o trigo, cevada, centeio, aveia, milho, sorgo e em várias outras gramíneas cultivadas e nativas. A disseminação do organismo se dá através de sementes e restos de plantas infectadas, carregadas pelo vento e pelas chuvas. Temperatura em torno de 25 0 C e umidade elevada favorecem a doença. - Rotação de culturas e enterrio da resteva - Procurar manter a área livre de trigos voluntários e outras gram íneas - Tratamento de sementes com fungicidas
Os sintomas são mais característicos na fase de maturação. As espigas atacadas apresentam uma coloração verde intensa. Quando maduras, ficam eretas e com aspecto arrepiado. Os grãos possuem a forma piriforme, com baixo peso e apresentam em seu interior uma massa de esporos (clamidosporos) de coloração preta, pulverulenta, que exala um cheiro desagradável. O fungo se propaga durante a trilha, onde os grãos afetados se rompem, liberando grande quantidade de esporos que infestam as sementes ou ficam sobre o solo. Temperaturas baixas em torno de 1QoC e alta umidade do solo favorecem a doença. - Tratamento de sementes com fungicidas CARVÃO A moléstia é facilmente reconhecida por ocasião do espigamento. A espiga emerge da bainha mostrando as espiguetas destruídas e cobertas por uma massa pulverulenta de coloração preta constituída pelos esporos do fungo (c1amidosporos). Os clamidosporos do fungo causador desta moléstia são facilmente liberados e carregados pelo vento. Ao atingirem plantas em floração, germinam sobre os estigmas da flor, chegando ao ovário e alojando-se no embrião das sementes. As sementes atacadas têm o aspecto das sadias, sendo que a doença só se manifesta no ano seguinte. Umidade relativa elevada durante a floração e temperaturas em torno de 18 0 C favorecem a infecção do fungo e o desenvolvimento da moléstia. - Tratamento de sementes com fungicidas
NANISMO AMARELO A manifestação dos sintomas característicos da doença é dependente da estirpe do vírus, da cultivar e das condições climáticas. Nas folhas estes variam de uma ligeira clorose ao amarelo intenso, com avermelhamento da ponta. A doença geralmente ocasiona redução do vigor das plantas podendo, em ataques precoces, provocar nanismo. Na espiga pode ocorrer a esterilidade basal e apical, confundindo-se com os danos causados por geada. O vírus causador desta moléstia é transmitido exclusivamente por pulgões que, ao introduzirem o aparelho bucal nas plantas, injetam, juntamente com a saliva, as partículas do vírus. Temperaturas amenas (abaixo de 18 0 C), boa distribuição de chuvas e umidade relativa baixa favorecem a doença. - Controle dos pulgões do trigo MOSAICO São bastante variáveis dependendo, principalmente, da cultivar e das condições ambientais. As plantas atacadas apresentam nas folhas novas a característica de um mosaico formado pela intercalação das cores verde e amarelo, podendo apresentar estrias amareladas em faixas. Sob condições muito favoráveis, pode haver uma proliferação exagerada de perfilhos improdutivos e estiolados dando um aspecto de roseta. O vírus do mosaico do trigo é transmitido através do fungo vetor Po/ymixa graminis. Temperaturas baixas (100C a 15 0 C) acompanhadas de elevada precipitação após o plantio e ph do solo entre 6 e 7 favorecem o fungo causador desta moléstia.
MANCHA E5TRIADA A bactéria ataca folhas, colmos e espigas, apresentando manchas aquosas progressivas e estriadas, que tornam-se marrom-claras e, finalmente, marrom-escuras a quase pretas. A presença de exudatos (secreção bacteriana) nas lesões facilitam a diagnose da doença. As plantas são infectadas em qualquer estádio de desenvolvimento. A bactéria sobrevive em restos culturais de trigo, cevada, gramíneas nativas e em sementes. A disseminação se dá pelos respingos da chuva, por insetos e pelo contato entre plantas. A temperatura ideal para o desenvolvimento da moléstia é a de 26 0 C sob alta umidade. CRE5TAMENTO BACTERIANO Os sintomas nas folhas se caracterizam por pequenas manchas aquosas que se expandem e tornam-se necróticas, adquirindo coloração branco-amarelada. O ataque de Pseudomonas syringae pv. syringae às espigas pode ocasionar manchas estriadas de coloração marrom-escura similares às de Xanthomonas campestris pv. undulosa. Sob condições de alta umidade pode haver formação de exudatos bacterianos nas lesões. A bactéria é transportada pela água e v~nto, infectando as plantas. As sementes são importante meio de disseminação da moléstia. Os exudatos produzidos nas lesões das plantas funcionam como inóculo secundário da doença. Temperatura em torno de 28 0 C favorece a infecção da doença.
PODRIDÃO COMUM O fungo provoca lesões de coloração marrom-escura nas raízes, coroa e base do colmo. Na lavoura observa-se a morte de perfilhos secundários a redução da altura das plantas e do tamanho das espigas. Plântulas atacadas podem morrer reduzindo a densidade da lavoura. Colmo, folhas, espigas E: grãos podem, também, ser atacados pela moléstia (ver h,elmintosporiosel. A multiplicação do fungo ocorre nos resíduos de trigo, cevada, centeio e aveia. Outras gramíneas cultivadas e nativas podem, também, servir de hospedeiros. Ventos, chuvas e sementes infectadas disseminam o organismo. Temperaturas elevadas favorecem o desenvolvimento da doença. - Pousio de inverno ou rota cão de culturas - Tratamento de sementes c'om fungicidas MAL-DO-PÉ O ataque do fungo às raízes causa lesões de coloração preta brilhante. Sobre estas, podem se desenvolver crostas escuras formadas pelo micélio do fungo e suas frutificações (peritéciosl em forma de pequenos grânulos. Na lavoura, as plantas infectadas podem morrer prematuramente, produzindo espigas esbranquiçadas e eretas, com a formação de grãos chochos ou sem formação de grãos. O plantio contínuo de trigo, cevada e centeio, ph elevado, baixas temperaturas e alta umidade do solo favorecem a ocorrência da doença. O fungo sobrevive nos restos culturais de cereais, com exceção da aveia. Outras gramíneas cultivadas e nativas podem servir também para a manutenção deste organismo na lavoura. - Pousio de inverno ou rotação de culturas - Procurar manter a área livre de trigos voluntários e outras gram íneas
BARCELLOS, A.L. As ferrugens do trigo no Brasil. In: FUNDAÇÃO CARGI LL, Campinas, SP. Trigo no Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.375-419. CAETANO, V. da R. Viroses. In: FUNDAÇÃO CARGILL, Campinas, SP. Trigo no Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.543-74. DIEHL, J.A. Doenças de raízesde trigo. Passo Fundo, EMBRAPA CNPT, 1982. 15p. (Circular Técnica, 3). UNHARES, W.1. Ofdio do trigo. In: FUNDAÇÃO CARGI LL, Campinas, SP. Trigo no Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.421-71. LUZ, W.C. da. Mancha marrom. In: FUNDAÇÃO CARGILL, Campinas, SP. Trigo no Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.525-9. LUZ, W.C. da. Bacterioses. In: FUNDAÇÃO CARGILL, Campinas, SP. Trigo na Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.581-7. LUZZAR DI, G.C. &PIE ROBOM, C. R. Moléstias do trigo na Região Sul do Brasil. Pelotas, IPEAS, 1970. 24p. (I PEAS, Circular, 42). PICININI, E.C. Mancha da folha. In: FUNDAÇÃO CARGI LL, Campinas, SP. Trigo na Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.519-24. PRESTES, A.M. Mancha da gluma. In: FUNDAÇÃO CARGI LL, Campinas, SP. Trigo na Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.513-8. REIS, E.M. Sementes de trigo infectadas por Helminthosporium sativum: fonte de in6culo para a podridão comum das rafzes e seu controle pelo tratamento com fungicidas. Pesq. Agropec. Bras. (no prelo). SARTORI, J.F. Giberela. In: FUNDAÇÃO CARGILL, Campinas, SP. Trigo na Brasil. Campinas, 1982. v.2, p.535-41. SIQUEIRA,O.J.F.; KOCHHANN, R.A.; BORKERT, C.M.; BARTZ, H.R.; SCHOLLES, D.; REIS, E.M. & GOMES, E.P. Ocorrência do mal do-pé em experimentos e lavouras de trigo do planalto sul-rio-grandense e suas relações com as propriedades do solo. In: REUNIÃO ANUAL CONJUNTA DE PESQUISA DE TRIGO, 8, Ponta Grossa, PR. 1976. Salas e técnicas culturais. Passo Fundo, EMBRAPA CNPT, 1976. v.2, p.so-61. WI ESE, M. V. Compendium of wheat diseases. Saint Paul, Minn. The American Phytopathologi<;al Society, 1977. 106p. BA YER 00 BRASIL SA. CIBA-GEIGY QUIMICA S A. OU PONT 00 BRASIL S A. ICI BRASIL S. A. MERCK SHARP & OOHME ROHM ANO HAAS BRASIL S A.