Capítulo III Dificuldades de leitura em criança com dislexia do desenvolvimento Conforme descrito por Gregoire (1997), o distúrbio específico de leitura é geralmente chamado de dislexia nos países de língua Francesa e de distúrbio de leitura ( Reading Disability) nos países de língua inglesa. Apesar das divergências quanto ao nome da síndrome, há uma razoável concordância sobre sua definição. Segundo a World Federation of Neurologists ( 1968), dislexia do desenvolvimento é o distúrbio em que a criança, apesar de ter acesso á escolarização regular, falha em adquirir as habilidades de leitura, escrita e soletração que seriam esperadas, de acordo com seu desempenho intelectual. Segundo a definição do National Institute of Health Americano, a dislexia é um dos vários tipos de distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico de linguagem de origem constitucional e caracterizado por dificuldades em decodificar palavras isoladas, geralmente refletindo habilidades de processamento fonológico deficientes. Essas dificuldades em decodificar palavras isoladas são frequentemente inesperadas em relação a idade e outras habilidades cognitivas e acadêmicas, elas não são resultantes de um distúrbio geral do desenvolvimento ou de problema sensoriais. ( The Orton Dyslexia Society, 1995 p.2) Além da dislexia do desenvolvimento, anteriormente descrita, há dislexia adquirida também denominada de alexia. Nas dislexias adquiridas é causada por danos ou doenças no cérebro, tendo como causa mais comum de danos ao cérebro o acidente cérebro vascular ( perturbação do suprimento sanguíneo para parte do cérebro que pode ser causada pelo rompimento de uma artéria, causando hemorragia ou bloqueio de uma artéria por coágulo sanguíneo). Os danos cerebrais que afetam a compreensão ou a produção da linguagem falada são conhecidos como afasias. Evidente, e a dificuldade já surge durante a aquisição da leitura pela criança.
De acordo com Frith (1985), este processamento da informação escrita pode ocorrer por meio de três estratégias: A logo gráfica, a Alfabética, e a ortográfica. Nas primeiras delas, a logo gráfica, a leitura e a escrita ainda são incipientes, pois se caracterizam pelo uso de pista contextual e não linguísticas. Sem estas pistas, o reconhecimento não é possível. As cores, o fundo e a forma das palavras são algumas das pistas utilizadas para a leitura logo gráfica. A segunda estratégia, a alfabética, com o desenvolvimento da rota fonológica, implica o conhecimento das correspondências entre letras e fonemas, durante a codificação e a decodificação. Num primeiro momento, a leitura alfabética pode ser sem compreensão porque, apesar da conversão letra-som, o significado não alcançado, visto que os recursos centrais atenção e memória estão totalmente voltados a tarefas de decodificação grafo fonêmica. Num segundo momento, com a automatização da decodificação, o leitor consegue ter acesso do significado. Finalmente, na estratégia ortográfica, os níveis lexical e morfômicos são reconhecidos diretamente sem a necessidade de conversão fonológica, de modo que a leitura caracteriza-se pelo processamento visual direto das palavras. Nesta etapa, a partir da representação ortográfica, a criança tem acesso direto ao sistema semântico. Tais estratégias não são mutualmente excludentes e podem coexistir simultaneamente no leitor e no escritor competentes. A estratégia a ser utilizada em qualquer dado momento, depende do tipo de item a ser lido ou escrito, sendo influenciada pelas características psicolinguísticas dos itens, tais como lexicalidade, frequência, regularidades, grafo fonêmica e comprimento ( Capovilla; Capovilla 2001, morais, 1995) 4.2 O papel do professor O papel do professor é dirigir um olhar flexível para cada aluno que tenha dificuldade, é compreender a natureza dessas dificuldades, buscar um diagnóstico especializado, uma orientação para melhorar o dia- a- dia da criança, e se instrumentalizar, pois há muitos professores que lecionam e não sabem o que é dislexia.
Somos de opinião que o professor primário deve ele próprio construir os seus instrumentos de diagnóstico pedagógico, a fim de concluir a sua atividade coerentemente... é do maior interesse a uso de instrumentos que permitam detectar precocemente qualquer dificuldade de aprendizagem, pois só assim uma intervenção psicopedagógica pode ser considerada socialmente útil, pois quanto mais tarde for identificada a dificuldade, menos hipótese haverá para solucionar corretamente. ( Fonseca, 1995 p.35) A necessidade de encaminhar o aluno para tratamento e colaborar nesse tratamento é de suma importância por parte do professor que deseja ajudar seus alunos. Mas ele sabe também, que o atendimento gratuito é sujeito a grande espera e que o nível econômico da maioria dos escolares, não permite tratamento particular. Só através de um trabalho paciente e constante, poderá prestar a ajuda que a criança tanto necessita. Cabe ao professor recorrer a diversas atividades e técnicas de ensino e descobrir qual delas melhor se adapta a cada estudante e cada situação. É importante que o professor explique a criança o seu problema; sente-se ao seu lado, não pressione com o tempo, não estabeleça competições com os outros, seja flexível, quanto ao conteúdo das lições, faça críticas construtivas, estimule o aluno a escrever em linhas alternadas ( o que permite a leitura da caligrafia a imprecisa), certifique-se de que a tarefa de casa foi intendida pela criança, peça aos pais que releiam com ela as instruções, evite anotar todos os erros na correção ( dando mais importância ao conteúdo). Também é necessário que a correção das atividades não seja feita com lápis vermelho ( isso fere a suscetibilidade da criança com problemas de aprendizagem), e procure descobrir os interesses e leituras que prendam a atenção da criança. É de grande importância ressaltar, que a manutenção de turmas pequenas, com no máximo 20 alunos, ou menos, é de extrema relevância, para que o professor tenha oportunidade de observar de maneira adequada a todos os educandos, como também dispor de tempo para auxilia-los. Portanto, a alfabetização acontece em um ambiente que promova e estimule a aquisição da linguagem falada e escrita, no caso da dislexia
este ambiente deverá ainda respeitar as capacidades e os limites da criança, estar informada, para ampará-la em sua dificuldade. O professor da classe deve estar familiarizado e sensibilizado com a dislexia, podendo assim compreender e apoiar a criança, na sala de aula, promovendo então uma educação de qualidade ao disléxico. - Diagnóstico precoce A dislexia era vista até recentemente, como uma incapacidade sem uma base orgânica identificada, sendo, apenas visíveis as suas manifestações. Os mitos que envolviam a dislexia eram devido ao desconhecimento científico. O conhecimento do déficit fonológico subjacente á aprendizagem da leitura permite a identificação dos sinais de alerta e a consequente intervenção precoce. A intervenção precoce é provavelmente o fator mais importante na recuperação dos leitores disléxicos. Para IANHEZ estes são os sinais importantes de dislexia na idade escolar : - Lentidão na aprendizagem dos mecanismo da leitura e escrita; - Trocas ortográficas ocorres, mas dependem do tipo de dislexia; - Problema para reconhecer rimas e alterações ( fonemas repetidos em uma frase); - Desatenção e dispersão; - Desempenho escolar abaixo da média, em matérias específicas, que dependem da linguagem escrita; - Apresenta picos de aprendizagem, nuns dias parece assimilar e compreender os conteúdos e no outro, parece ter esquecido o que tinha aprendido anteriormente; - Pode evidenciar capacidade acima da média em áreas como : desenho, pintura, música, teatro, esporte, etc; ( IANHEZ, 2002 P.25) Para que as dificuldades sejam sanadas ou amenizadas é necessário que aliados aos estudos, pesquisas existentes, educadores e profissionais da educação diante da realidade em que estão inseridos, procurem através da observação, avaliar sua turma e encaminhar os alunos que apresentarem dificuldades de aprendizagem, á especialistas adequados.
4.3 Estratégias Educacionais - Usar métodos analíticos e métodos fônicos; - Relacionar letras com sons singulares; - Utilizar palavras com a mesma configuração; - Identificar sons verbais e não verbais; - Associar sons ( sintetizar sílabas); - Trabalhar com famílias de palavras; - Criar pequenas frases e pequenas histórias; - Aperfeiçoar as dificuldades visuais com situações de visuomotricidade; - Realizar discriminação de formas e figuras; - Detectar pormenores em figuras incompletas; - Treinar a visualização de orientação diferenciada de palavras; - Valorizar a velocidade de discriminação visual; - Desenvolver a correspondência entre a visão e a audição; - Utilizar métodos visuais, com o recurso de imagens e fichas coloridas e desenhadas; - Frases simples - Refinar as aquisições auditavas ( treino auditivo, discriminação e sequencias auditivas); - Imitação de sons; - códigos rítmicos; - Agrupamento de sons; - Análise e síntese de sons com reforço visual - Utilizar métodos táctilo- quinestésicos ( letras móveis); - Utilizar a leitura silenciosa; - Discussões orais e exposição de acontecimentos; - Utilização de figuras e bandas desenhadas.
Capítulo IV 5.1- A dislexia no contexto escolar na alfabetização Luma (2002) coloca que é função da escola ampliar a experiência humana, portanto a escola não pode ser limitada ao que é significativo para o aluno, mas criar situações de ensino que ampliem a experiência, aumentando os campos de significação. Do ponto de vista do desenvolvimento é da construção de significados, só pode ser significativo para a pessoa aquilo do qual ela possui um mínimo de experiência e de informações. Por isso, o disléxico precisa olhar e ouvir atentamente, observar os movimentos da mão quando escrever e prestar atenção aos movimentos da boca no ato da fala. Desta maneira, a criança disléxica associará a forma escrita de uma letra com seu som como os movimentos, pois falar, ouvir, ler e escrever, é atividade de linguagem. Segundo Sakaloski:... O disléxico precisa olhar atentamente, ouvir atentamente, atentar aos movimentos da mão quando escreve e prestar atenção aos movimentos da boca quando fala. Assim sendo, a criança disléxica associara a forma escrita de uma letra tanto com seu som como com os movimentos. Falar e escrever são atividades da linguagem. Falar e ouvir são atividades com fundamentos biológicos. ( Sakaloski.in Nico, Disponível) Fonseca retrata muito bem esta questão quando diz que:... Uma coisa é a criança que não quer aprender a ler, outra é a criança que não pode aprender a ler com métodos pedagógicos tradicionais. Não podemos assumir atitudes reducionistas que afirmam que a dislexia não existe ( Fonseca 1995 p.12) Muitos autores tem defendido o método fonético como o mais adequado na alfabetização de disléxicos e não disléxicos. Os métodos fonéticos favorecem a aquisição e o desenvolvimento da consciência fonológica que é a capacidade de perceber que o discurso espontâneo é uma sequencia de sentenças e que estas são sequencia de palavras ( consciência da palavra), que as palavras são uma sequencia de silabas ( consciência
silábica) e que as sílabas são uma sequencia de fonemas ( consciência fonêmica), o que auxiliaria muito nas dificuldades dos alunos disléxicos. De fato, a dislexia é muito mais do que uma dificuldade na leitura. A dislexia normalmente não aparece isolada, ela surge integrada numa constelação de problemas que justificam uma deficiente manipulação do comportamento simbólico que trata de uma aquisição exclusivamente humana para auxiliar o aluno disléxico em sua dificuldades, a escola deve dar encorajamento, atender e respeitar as capacidades e os limites da criança, estar informada, para amparar a criança em sua dificuldade, manter o professor do disléxico familiarizado e sensibilizado com a dislexia, podendo assim compreender e apoiar a criança na sala de aula. É necessário, ainda reconhecer a necessidade de ajuda extra e desenvolver um clima de paciência, onde as crianças possam ter tempo suficiente para cumprir suas tarefas e até mesmo, repeti-las varias vezes para retê-las. Há a necessidade da conscientização de toda a comunidade escolar, que estas, adaptações dadas aos disléxicos, representam a única forma que este tem para competir em igualdade de condições com seus colegas. A criança aprende a usar a linguagem falada, mais isto dependo do: - Meio ambiente compreensivo, estimulador e paciente - Trato vocal - Organização do cérebro - Sensibilidade perceptual para falar os sons. De acordo com Smalka:... Para a alfabetização ter sentido e ser um processo interativo, a escola tem que trabalhar com o contexto da criança com historias e com intervenções das próprias crianças que podem aglutinar, contrair, engolir palavras, desde que essas palavras ou historias façam algum sentido para elas. Os erros das crianças podem ser trabalhados. Ao contrário do que as maiorias das escolas pensam, esses erros demonstram uma construção, e com o tempo vão diminuindo, pois as crianças começam a se preocupar com outras coisas ( coo ortografia) com que não se preocupavam antes, pois estavam apenas descobrindo a escrita. ( Smalka, 1996, p.72) O sucesso na reeducação de um disléxico está baseado numa terapia
multissensorial ( aprender pelo uso de todos os sentidos), combinando sempre a visão, a audição e o tato para ajuda-lo a ler e soletrar! Os educadores não devem permitir que os problemas escolares implicassem em mau comportamento ou falta de limites, pois se o aluno disléxico não receber uma atenção diferenciada certamente não se sentirá motivado para a aprendizagem e se tornará indisciplinado
Considerações Finais A escola ainda não está preparada para receber o aluno disléxico uma vez que o professor não teve uma formação acadêmica para trabalhar com este aluno. A escola não possui recursos didáticos adequados para o aprendizado deles. Nota-se que o diagnostico precoce pode oferecer ao aluno subsídio para que ele construa perspectivos de sucesso em todos aspectos de sua vida. Por isso, ao desenvolver esse trabalho, percebe-se que é muito importante identificar a dislexia a mais cedo possível, pois ela tende a desaparecer total ou parcialmente, ao logo da evolução do individuo. Contatando-se esse distúrbio, é possível compreender melhor a variedade das manifestações da dislexia diretamente ligada ao grau de gravidade do distúrbio e a idade do individuo quanto antes for identificado o problema, antes pode ser entendido e dessa forma alunos, pais e professores terão mais facilidade para trabalhar com o problema. Atualmente, já existe professor preocupado com a aprendizagem de todos os alunos, incluindo os com necessidades educacionais especiais buscando aperfeiçoar-se cada vez mais através de leitura, cursos, palestras, etc. Objetivando um maior conhecimento acerca das diferentes dificuldades e distúrbios que acometem a maioria dos alunos em quase todas as salas de aula do nosso país e também pelo mundo a fora. Faz-se necessário que o professor conheça os diferentes tipos de problemas de aprendizagem que podem aparecer em uma sala de aula, como diagnosticá-los, o que fazer, como trabalhar com esta criança e quais as estratégias e recursos disponíveis para transmitir o conhecimento para este ser que tem direito a aprender com os demais.