Relato de experiência: Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição

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Transcrição:

Relato de experiência: Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição Aruanã Emiliano Martins Pinheiro Rosa 1 Adriele Martins 2 RESUMO No presente relato de experiência, procura-se demonstrar como se desenvolveram as atividades do Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição, voltado para a valorização e o respeito à diversidade humana, buscando uma equidade de acesso a direitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988 (CF/88). As atividades promovidas com a comunidade acadêmica e externa se deram através de cines debate, rodas de conversa e fixação de painéis pelos corredores da universidade abordando a diversidade sexual, religiosa e cultural. Os resultados reforçam a importância de projetos que trabalhem com os direitos humanos no campus e na comunidade externa em geral, pois diversas foram as manifestações de cunho discriminatório na página oficial do projeto, nos painéis que abordavam a temática trabalhada e até mesmo diretamente aos membros participantes. Palavras-chave: Direitos humanos. Diversidade. Inclusão. 1 Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus Santana do Livramento. Voluntário e bolsista do Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição e Membro do Coletivo LivraElas. E-mail: aruana13@hotmail.com. 2 Mestranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Políticas e Intervenção em Violência Intrafamiliar pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus Santana do Livramento. Assistente Social pela Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ). Assistente Social Judiciária do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. E-mail: adrielemartins@hotmail.com. Revista Extensão & Cidadania Vitória da Conquista v. 3, n. 6 p. 11-16 jul./dez. 2015

12 Aruanã Emiliano Martins Pinheiro Rosa e Adriele Martins RESUMEN En esta experiencia informe busca demostrar cómo se han desarrollado las actividades del Proyecto Viviendo con la diversidad 2ª Edición, frente al reconocimiento y respeto de la diversidad humana, buscando la equidad del acceso a los derechos establecidos en la Constitución Federal de 1988 (CF/88). Las actividades promovidas por la comunidad académica y externas realizadas a través de secuencias de cines, ruedas de conversación y fijación de paneles por los pasillos de la universidad abordar la diversidad sexual, religiosa y cultural. Los resultados refuerzan la importancia de proyectos que trabajan con los derechos humanos en el campus externo y comunidad en general, porque fueron varias las manifestaciones discriminatorias de imprenta en la página del proyecto oficial, en los paneles que abordaron el tema trabajado e incluso directamente a miembros participantes. Palabras-clave: Derechos humanos. Diversidad. Inclusión. O processo de globalização e as crescentes mudanças provocadas por esse fenômeno trouxeram à sociedade mundial e à sociedade civil brasileira significativas mudanças no que se refere ao acesso à informação, ao mesmo tempo, reforçando a necessidade de uma luta permanente pela construção de uma sociedade mais igualitária e que respeite os direitos humanos. No Brasil, após a redemocratização social em 1985, a população em geral vivenciou um período de mudanças tanto no que se refere ao contexto social quanto ao político e econômico, uma vez que os anos de ditadura militar reprimiram qualquer ato de liberdade de opinião e expressão. É importante ressaltar que as universidades brasileiras e os estudantes, apesar da resistência, também sofreram com esses anos de repressão, na medida em que o regime estabelecido não permitia qualquer contestação da ordem vigente e qualquer ação coletiva de questionamento à situação social dos civis, que poderia ser caracterizada como um ato subversivo. A universidade, como descreve Fávero (2006), deve ser o espaço em que se desenvolve um pensamento teórico-crítico de ideias, opiniões,

Relato de experiência: Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição 13 posicionamentos, como também o encaminhamento de propostas e alternativas para solução dos problemas e próxima à comunidade, pois o conhecimento deve ultrapassar os limites. Nesse sentido, é preciso pensar em uma universidade inclusiva, atenta às questões sociais-teóricos, capaz de proporcionar soluções para as demandas da sociedade e contribuir para o combate às desigualdades. Pensando em uma universidade inclusiva como espaço de troca de ideias e opiniões, além de ser promotora de mudanças na comunidade em que está instalada, a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), criada pela Lei 11.640 de 11 de janeiro de 2008, vêm firmar-se, segundo descreve o Estatuto da UNIPAMPA (BRASIL, 2008), como bem público que se constitui como lugar de exercício da consciência crítica, no qual a coletividade possa repensar suas formas de vida e sua organização política, social e econômica. A universidade deve ser construída como espaço coletivo de crítica e de pensamento teórico que atente aos problemas sociais e que possa ser extensão de uma sociedade que luta pelo combate às desigualdades causadas no sistema capitalista. A crescente violação dos direitos humanos na sociedade contemporânea demonstra o caráter de urgência de criação de uma educação superior que promova o respeito às diferenças, o reconhecimento da pluralidade e à diversidade regional por meio da interdisciplinaridade, unindo o conhecimento à prática do saber. É nesse pensamento que se insere o Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição, e busca combater as disparidades sociais e políticas através do conhecimento, do debate e do empoderamento da comunidade externa e acadêmica da cidade de Santana do Livramento, no oeste do Rio Grande do Sul. O projeto surgiu através da demanda de discentes da UNIPAMPA no ano de 2014, por vivenciarem experiências de preconceito e discriminação, seja no âmbito institucional ou fora deste. Até o presente momento está apresentando resultados satisfatórios. Uma das linhas de atuação foi a fixação de papel pardo nos corredores da Universidade

14 Aruanã Emiliano Martins Pinheiro Rosa e Adriele Martins com frases instigando as pessoas a esboçarem suas opiniões sobre o tema diversidade humana, abarcando a diversidade religiosa, sexual, cultural e o preconceito contra pessoas com deficiência. As mais variadas opiniões foram expostas nos painéis e, apesar de algumas conquistas, o mais recorrente nesses comentários foram expressões de cunho machista, homofóbicos e de total desrespeito a temática abordada, principalmente o que versava sobre diversidade sexual, e trazia como título a visibilidade trans. Dessa maneira, percebe-se que ainda é preciso tratar sobre esses temas nas instituições públicas brasileiras e formadoras de opinião, já que esse é um espaço privilegiado para o debate e luta contra o conservadorismo. Além das frases carregadas de preconceito, o desenho da suástica nazista foi encontrado em um dos painéis, nos remetendo aos crimes nazistas contra a humanidade e demonstrando que o preconceito e o ódio gratuito ainda estão presentes na comunidade acadêmica local. A exibição de filmes e documentários abertos ao público sobre diversidade sexual também estiveram presentes na atuação do projeto, com participação da comunidade externa brasileira e uruguaia, país vizinho de Santana do Livramento. Através dessa atividade, foi possível perceber que a comunidade uruguaia presente, no que se refere ao tema da sexualidade, está mais familiarizada com o tema. A temática diversidade sexual está mais presente no projeto por entendermos que a crescente demanda dos discentes deveria ser tratada de forma mais assídua em razão dos casos relatados ao Núcleo de Desenvolvimento Educacional (NUDE) do campus, além de que alguns alunos sofreram preconceito dentro da Universidade por causa da sua orientação sexual. Como consta no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), (BRASIL, 2013), entre suas ações programáticas estão a inclusão, o acesso e a permanência de pessoas com deficiência e aquelas alvo de discriminação por motivo de gênero, de orientação sexual e religiosa, entre outros seguimentos geracionais e étnico-raciais. Entende-se que a universidade, então, tem papel fundamental em

Relato de experiência: Projeto Convivendo com a Diversidade 2ª Edição 15 construir e realizar projetos que fomentem transformações educacionais e sociais no meio em que está inserida. Partindo do pressuposto do Artigo (I) da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), promulgada na Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, de que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade (ONU, 1948), o Convivendo com a Diversidade 2ª Edição procura levar à comunidade de Santana do Livramento e Rivera, no Uruguai, reflexões sobre diversidade, uma vez que se propõe a ampliar os espaços de debate e contribuir para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa, pautada em uma educação em direitos humanos que respeite todos os indivíduos. Podemos perceber que a realidade local de Santana do Livramento é uma sociedade conservadora, machista e homofóbica, na medida em que as opiniões nos painéis e os comentários na página oficial do projeto demonstram que ainda é preciso trabalhar arduamente para combater os preconceitos em suas diferentes formas. O incêndio no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) em 2014, que nacionalmente ficou conhecido por causa da possibilidade de realização de um casamento homoafetivo no local, evidencia as características do município em que o projeto está inserido, além de reforçar a importância dele. Em junho de 2015, o projeto iniciou as atividades nas escolas de ensino médio do município com intuito de conscientizar e realizar um diagnóstico da atual situação das instituições públicas e privadas no que se refere ao tratamento dado ao tema da diversidade, pois, através de discussões, e como resultado de oficinas, percebeu-se a necessidade de levar o tema aos adolescentes, gestores educacionais e comunidade em geral. A temática de diversidade e respeito aos direitos humanos tem como objetivo promover troca de experiências e aproximação entre a instituição do ensino superior e os demais órgãos educacionais da cidade.

16 Aruanã Emiliano Martins Pinheiro Rosa e Adriele Martins Referências BRASIL. Portaria nº 373 de 03 de junho de 2009. Estatuto da Universidade Federal do Pampa. Disponível em: <http://www.unipampa.edu.br/portal/universidade/403#t1>. Acesso em: 25 maio 2015. BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília, 2013a.. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: ano de 2012. Brasília, 2013b. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/pdf/relatorioviolencia-homofobica-ano-2012>. Acesso em: 20 maio 2015. FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A universidade no Brasil: das origens à reforma universitária de 1968. Educar, Curitiba: Editora da UFPR, n. 28, p. 17-36, 2006. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral da ONU, 1948. Disponível em: <http://www.humanrights.com/pt/what-are-humanrights/universal-declaration-of-human-rights/preamble.html>. Acesso em: 20 maio 2015. ROCHA, Cássio Bruno Araujo. Um pequeno guia ao pensamento, aos conceitos e à obra de Judith Butler. Cad. Pagu, Campinas, n. 43, p. 507-516, dez. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=s0104-83332014000200507&lng= en&nrm=iso>. Acesso em: 18 maio 2015. RODRIGUES, Mariana Meriqui; IRINEU, Bruna Andrade. As políticas públicas para população LGBT no Brasil e seus impactos na conjuntura internacional: para inglês ver? In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO, 2013, Florianópolis. Anais eletrônicos... Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2013. Fazendo gênero 10: desafios atuais dos feminismos.