Resumo. Abstract. Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. Relato de caso (Case Report) Guilherme Marigo 1 Marcelo Marigo 2

Documentos relacionados
Tratamento cirúrgico da má oclusão de Classe III dentária e esquelética

Tratamento da má oclusão de Classe II divisão 1 a, através de recursos ortodônticos e ortopédicos faciais (funcionais e mecânicos): relato de caso

Tratamento da Classe II com Distalização do Arco Superior Utilizando Microparafusos Ortodônticos de Titânio

BOARD BRASILEIRO DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL

Má oclusão Classe I de Angle, com acentuada biprotrusão, tratada com extrações de dentes permanentes*

APRESENTAÇÃO DO APARELHO Componentes do aparelho extrabucal 3

Mordida Profunda Definição. Trespasse vertical

Reginaldo César Zanelato

Extração Seriada, uma Alternativa

TRATAMENTO DE UMA CLASSE II COM IMPACTAÇÃO DE CANINO E DE PRÉ-MOLAR

Tratamento de Classe II, Divisão 1, com ausência congênita de incisivo lateral superior

Programa Laboratorial (hands on em Manequim)

FECHAMENTO DE ESPAÇOS

Miniplacas de ancoragem no tratamento da mordida aberta anterior

EXTRAÇÕES DE DOIS PRÉ-MOLARES SUPERIORES NA MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II: PARÂMETROS DE DIAGNÓSTICO E NOVOS RECURSOS NA MECÂNICA.

IGC - Índice do Grau de Complexidade

Má oclusão Classe III de Angle com discrepância anteroposterior acentuada

Barra palatina assimétrica em L : ancoragem em casos de Classe II subdivisão tipo 2 tratados com extração de um pré-molar superior

UTILIZAÇÃO DO APARELHO DE PROTRAÇÃO MANDIBULAR COMO ANCORAGEM PARA MESIALIZAÇÃO DE MOLARES INFERIORES: RELATO DE CASO CLÍNICO RESUMO

incisivos inferiores 1,3,4,6. Há também um movimento do nariz para frente, tornando o perfil facial menos côncavo e, conseqüentemente,

Verticalização de Molares

Extração atípica de incisivos centrais superiores: relato de caso clínico Atypical extraction of maxillary central incisors: case report

CRONOGRAMA CURSO ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA. APROVADO: MEC e CFO

Mini-implante como ancoragem absoluta: ampliando os conceitos de mecânica ortodôntica

DISTALIZAÇÃO DE MOLARES SUPERIORES USANDO A ANCORAGEM ESQUELÉTICA: REVISÃO DE LITERATURA

Extrações estratégicas de segundos pré-molares superiores na má-oclusão de Classe II

Breve Panorama Histórico

Matheus Melo Pithon**, Luiz Antônio Alves Bernardes*** Palavras-chave: Classe III esquelética. Expansão rápida da maxila. Aparelho ortodôntico fixo.

UTILIZAÇÃO DE MINI-IMPLANTES PARA TRATAMENTO DA MÁ-OCLUSÃO CLASSE II DE ANGLE: RELATO DE CASO CLÍNICO 1

Mini-implantes ortodônticos como auxiliares da fase de retração anterior

Tratamento Ortodôntico da Má Oclusão de Classe II, Primeira Divisão. SAULO BORDIN MARIA

Boa leitura a todos e aguardamos seus comentários e sugestões. Ricardo Moresca

(VTO dentário) Resumo Este presente artigo teve por finalidade demonstrar, simplificadamente, o manejo

TRATAMENTO ORTODÔNTICO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR EM PACIENTES ADULTOS

APLICAÇÕES CLÍNICAS DOS MINI-IMPLANTES ORTODÔNTICOS NO TRATAMENTO ORTODÔNTICO


Aplicação clínica dos microimplantes para ancoragem

Setup: um Auxílio no Diagnóstico Ortodôntico

KELYANE VERLY MORAES

ANÁLISE DA DENTIÇÃO MISTA

Uso do aparelho de Thurow no tratamento da má oclusão esquelética de Classe II

Tratamento ortodôntico - cirúrgico de um caso clínico de Classe III esquelética e Classe III dentária.

O tipo facial e a morfologia do arco dentário no planejamento ortodôntico

Tratamento ortodôntico compensatório da má oclusão de Classe III esquelética

O aparelho de Herbst com Cantilever (CBJ) Passo a Passo

MARCOS PRADEBON TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO CLASSE II: REVISÃO DE LITERATURA

Utilização do APM no tratamento da má oclusão de Classe II, 2ª divisão, em paciente adulto

Aparelho Arco E-1886E. Partes do aparelho

RODRIGO PADILHA DE CARVALHO DISTALIZAÇÃO DE MOLARES SUPERIORES

Ciência e prática. Importância do tratamento ortodôntico como auxílio da reabilitação oral

MANTENEDORES DE ESPAÇO

O uso de distalizadores para a correção da má oclusão de. The use of distalization for the correction of Class II malocclusion

Padrões cefalométricos de Ricketts aplicados a indivíduos brasileiros com oclusão excelente

Tracionamento ortodôntico de incisivos central e lateral superiores impactados: caso clínico

Tratamento de mordida aberta anterior com ancoragem em miniplacas de titânio

Tratamento Ortodôntico da Classe III, Subdivisão: Apresentação de um Caso Clínico (Parte 1)

ATIVADOR FIXO BIOPEDIC: INDICAÇÕES E INSTALAÇÃO

Utilização de mini-implantes como ancoragem esquelética para desimpacção de segundos molares inferiores - relato de caso

Borracha Natural - conservação amônia. vulcanizado. Sintéticos carvão,petróleo e álcoois vegetais TIPOS DE ELÁSTICOS

APM: APARELHO DE PROTRAÇÃO MANDIBULAR.

Sliding Jig: confecção e mecanismo de ação

Araki AT. Tratamento da má oclusão de Classe II, subdivisão direita, segundo a terapia bioprogressiva.

O uso de miniimplantes como ancoragem ortodôntica planejamento ortodôntico/cirúrgico

A eficiência do distalizador de Carrière na correção da má-oclusão Classe llr de Angle, Divisão 1, Subdivisão

MÁ-OCLUSÃO. Ortodontista: Qualquer desvio de posição do dente em relação ao normal

A UTILIZAÇÃO CLÍNICA DO APARELHO PROPULSOR MANDIBULAR FORSUS NA

Distalização de molares utilizando microparafusos ortodônticos de titânio autoperfurantes

Prosthes. Lab. Sci. 2013; 2(6):

Hugo Trevisi Reginaldo Trevisi Zanelato. O Estado da arte na. Ortodontia APARELHO AUTOLIGADO, MINI-IMPLANTE E EXTRAÇÕES DE SEGUNDOS MOLARES

ELEMENTOS ESSENCIAIS DIAGNÓSTICO. Prof. Hélio Almeida de Moraes.

Sistema de Apoio Ósseo para Mecânica Ortodôntica (SAO ) miniplacas para ancoragem ortodôntica. Parte I: tratamento da mordida aberta

OCLUSÃO! ! Posições mandibulares. ! Movimentos mandibulares. ! Equilíbrio de forças atuantes - vestibulolingual

Descrição, passo a passo, do aparelho de Herbst com coroas de açoa. o superiores e splint removível vel inferior

Inter-relação ortoimplante na. reabilitação oral.

CONHECIMENTOS ESPECIALIZADOS

Aplicação da versatilidade do aparelho pré-ajustado MBT, nos casos que apresentam os incisivos laterais superiores em linguoversão

Série Aparelhos Ortodônticos

PRISCILLA MENDES CORREA VICTOR

Estudo comparativo da eficiência do aparelho extrabucal e da barra transpalatina como meios de ancoragem durante a fase de retração

TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO CLASSE II COM APARELHO DE HERBST CAIO MÁRCIO DE TEVES MORENO

Tratamento da classe II, com aparelho de herbst modificado relato de caso clínico

Abordagem Segmentada para Intrusão Simultânea ao Fechamento de Espaço: Biomecânica do Arco Base de Três Peças

Exodontia dos Segundos Molares Superiores para o Tratamento da Maloclusão de Classe II

FACULDADE FUNORTE MIÉCIO CARVALHO GOMES DE SÁ JUNIOR EXTRAÇÃO DE INCISIVO INFERIOR NA ORTODONTIA

Tratamento da Má Oclusão de Classe II com Extração de Pré -Molares Superiores

Trabalho de Conclusão de Curso

Mecânica de Classe III com cursor inferior e ancoragem esquelética superior

TIP-EDGE e a TÉCNICA DIFERENCIAL DO ARCO RETO.

Considerações Sobre Análise da Discrepância Dentária de Bolton e a Finalização Ortodôntica

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / IFAP MICHELI DE SOUZA CAMPOS DISTALIZAÇÃO DE MOLARES COM USO DE MINI PARAFUSO ORTODÔNTICO

Instrução de Uso. Tubos. Tubo Simples Indicado para primeiros e segundos molares. Possui um único slot para alojar o arco intraoral.

UNINGÁ Review Abr. N o 02. p MINIIMPLANTE EM ORTODONTIA

APRESENTAÇÃO DAS BANDAS TIPOS:

1. Introdução. 2. Fios ortodônticos. Centro de Pós Graduação em Ortodontia

FACULDADE DE PINDAMONHANGABA Andrea Dória Garcia Juliana Monteiro Gadioli UTILIZAÇÃO DE MINI-IMPLANTES COMO ANCORAGEM ORTODÔNTICA

Intrusão dentária utilizando mini-implantes

REVISTA GESTÃO & SAÚDE (ISSN ) EXTRAÇÃO DE INCISIVO INFERIOR EM ORTODONTIA LOWER INCISOR EXTRACTION IN ORTHODONTICS

Instituto Latino Americano de Pesquisa e Ensino Odontológico Larissa Carvalho Trojan

Uma vez estando estabelecidos os conceitos de oclusão normal, a etapa. subseqüente do processo de aprendizado passa a ser o estudo das variações

COMPARAÇÃO DO DIAGNÓSTICO RADIOGRÁFICO DE ANÁLISES CEFALOMÉTRICAS DISTINTAS *Luciano Sampaio Marques; **Luiz Fernando Eto

Transcrição:

416 Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. Tratamento da Classe II, divisão 1 com auxílio de ancoragem esquelética - relato de caso. Treatment of Class II, division 1 with the aid of skeletal anchorage - case report. Guilherme Marigo 1 Marcelo Marigo 2 Resumo A má oclusão Classe II pode ser corrigida de diversas formas, dependendo da severidade, da idade e nível de colaboração do cliente. Diversos recursos mecânicos de distalização de molares são descritos na literatura, dentre eles aparelho extrabucal, elásticos intermaxilares e distalizadores intrabucais. A ancoragem esquelética com mini-implantes tem sido um importante auxiliar na distalização de molares. Nesse relato de caso foi utilizado um mini-implante na sutura palatina mediana conjugado a uma barra transpalatina como auxiliar para a correção ortodôntica de uma Classe II, divisão 1, com sobremordida profunda e sobressaliência severa. Os resultados foram satisfatórios com uma finalização dentro dos padrões de normalidade, demonstrando que a mecânica de tratamento proposta foi eficiente na correção dessa má oclusão. Descritores: Má oclusão Classe II, mini-implantes, ancoragem. Abstract A Class II malocclusion can be corrected by several means, which may depend on severity, age and collaboration of the patient. The literature describes many techniques for molar distalization, among which are extra-oral appliances, intermaxillary elastics and intra-oral distalizers. Skeletal anchorage with mini-implants has been a very important support in the distalization of molars. In this case report, a mini-implant was utilized in the median palatal suture conjugated with a transpalatal bar as an aid for the orthodontic correction of a Class II division I, deep overbite and severe overjet. The results were satisfactory with a finalization within the standards of normality, indicating that the mechanics of the proposed treatment was efficient in the correction of this malocclusion. Descriptors: Class II malocclusion, mini-implants, anchorage. 1 Especialista em Ortodontia pela UNIVALE - MG. 2 Ms. e Dr. em Ortodontia pela UNICAMP-SP, Diplomado pelo BBO. Relato de caso (Case Report) Correspondência com o autor: guilherme@ortodontiamarigo.com.br Recebido para publicação: 06/03/12 Aceito para publicação: 09/05/2012

Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. 417 Introdução e revisão de literatura Existem diversas abordagens terapêuticas sugeridas na literatura para o tratamento da má oclusão Classe II. As condutas mais comuns são o controle do crescimento para reduzir a discrepância esquelética, movimento dentário para compensação da discrepância esquelética (camuflagem) e o reposicionamento cirúrgico dos ossos maxilares 3. Tanto a camuflagem ortodôntica quanto o tratamento ortodôntico cirúrgico combinado estão relacionados a tratamentos de pacientes que não apresentam mais crescimento 3. O tratamento ortodôntico da má oclusão Classe II, divisão 1 de Angle, de natureza dentoalveolar ou esquelética moderada, pode ser conduzido, principalmente no adulto, com extração de pré-molares ou distalização de molares superiores 13,15,18. A partir dos anos 80, as extrações de dentes com finalidade ortodôntica passaram a ser menos utilizadas com o surgimento dos distalizadores intrabucais 13. Assim, houve maior evidência dos tratamentos ortodônticos sem extração. Esses dispositivos produzem efetivamente a distalização dos molares superiores e reduzem a necessidade de cooperação dos pacientes. Porém, esse sistema provoca efeitos colaterais indesejados resultantes da força de distalização, resultando em uma inclinação dos pré-molares para mesial e a protrusão dos incisivos superiores, com o aumento da sobressaliência, além da perda de ancoragem do molar durante a retração dos dentes anteriores 18. Na atualidade, as mecânicas que independem da colaboração do paciente são as mais desejadas 4. Com o avanço tecnológico dos implantes dentários 16,17, dos mini-implantes 7,11 e das miniplacas 8,9, os problemas com perda de ancoragem e colaboração de pacientes reduziram bastante e os efeitos colaterais indesejados durante as distalizações de molares e a retração anterior foram praticamente eliminados 18. Existem na literatura diversas técnicas para distalização dos molares superiores, sendo as principais os aparelhos extrabucais, distalizadores intrabucais e elásticos intermaxilares. Apesar de serem eficientes, esses recursos apresentam pontos negativos, como a falta de estética, presença de efeitos indesejados, além da necessidade de colaboração do paciente 1. A ancoragem esquelética com o uso de mini- -implantes pode ser uma solução viável para a distalização de molares no tratamento ortodôntico das más oclusões Classe II. Os mini-implantes ortodônticos têm revolucionado a ancoragem e a biomecânica ortodôntica por meio de uma ancoragem perfeitamente estável 10,14. Esses dispositivos têm sido utilizados como um importante método de ancoragem na Ortodontia, servindo de ancoragem para os diversos tipos de movimentos ortodônticos, considerados complexos para os sistemas tradicionais de ancoragem 6,12. Um sítio de instalação de mini-implante que pode ser utilizado para distalização bilateral dos molares superiores é a rafe palatina. O DAT (dispositivo de ancoragem temporária) é instalado na sutura palatina mediana e a aplicação de força é realizada por meio de uma barra transpalatina com gancho soldado, onde é utilizado elástico corrente para ativações. Nessa mecânica é necessário aplicação de carga de força de aproximadamente 500 gramas 13. Após a distalização e correção da relação molar, inicia-se a retração dos dentes anteriores. A ancoragem neste caso pode ser realizada indiretamente, com a estabilização do mini-implante a barra transpalatina, utilizando fio de amarrilho ou até mesmo elástico corrente 13. Em casos de pacientes com palato alto, ogival, o ponto de aplicação de força é localizado muito acima do centro de resistência dos molares, dessa forma, há um efeito indesejável de inclinação mesial da coroa dos primeiros molares 2. Para correção da inclinação do molar, podem ser aplicadas dobras de tip back após a finalização do movimento de distalização 13. O objetivo do presente trabalho é apresentar uma alternativa para correção da má oclusão Classe II, divisão 1, mediante o uso de ancoragem esquelética para distalização de molares e retração anterior. Relato de caso Diagnóstico A paciente com idade de 39 anos e 1 mês, leucoderma, apresentou ao exame facial um padrão braquicefálico, sem assimetria evidentes, perfil convexo, ângulo nasolabial diminuído e retrusão labial inferior (Figuras 1a, 1b e 1c). Na avaliação intrabucal foi observado uma má oclusão Classe II, divisão 1 de Angle, com sobremordida profunda, sobressaliência acentuada e diastema entre incisivos centrais superiores (Figuras 2a, 2b, 2c, 2d e 2e). Os padrões cefalométricos apresentavam diversas variações dentoesqueléticas, Classe II esquelética (ANB= 5 o ), discreta protrusão maxilar (SNA= 85 o ), sobremordida esquelética (linha ENA- Marigo G, Marigo M.

418 Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. -Xi x Eixo Xi-Pm = 34,5 o ), trespasse horizontal aumentado (10,5 mm), ângulo interincisal de 111 o, vestibularização do incisivo superior (1-NA= 46 o ) e posicionamento do molar superior (6-PTV) de 26 mm, indicando um posicionamento anterior dos molares superiores (Figura 3). 1A 1B 1C Figura 1- (A-C) - Fotografias de face iniciais. 2A 2B 2C Relato de caso (Case Report) 2D Figura 2- (A-E) - Fotografias intrabucais. 2E

Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. 419 Objetivos do tratamento Os objetivos faciais para o caso foram melhora no perfil, obtendo um perfil reto ou ligeiramente convexo e a remoção da interposição do lábio inferior no sorriso. Os objetivos dentários propostos foram atingir relação de chave de oclusão normal para molares e caninos, correção da sobremordida e o fechamento do diastema entre os incisivos centrais superiores. 3 Figura 3 - Telerradiografia inicial. Plano de tratamento Para obtenção dos objetivos propostos, a princípio, solicitou-se uma frenectomia labial superior devido a inserção anormal, em seguida, foi planejada uma mecânica para distalização de molares superiores com a utilização de ancoragem esque- lética. A alternativa de exodontia de primeiros pré- -molares superiores não foi levada em consideração devido as características faciais e esqueléticas da paciente. Sequência do tratamento O tratamento ortodôntico corretivo foi realizado com aparatologia fixa, bráquetes 3M Unitek Gemini slot.022. Foi instalado uma barra transpalatina com gancho soldado para utilização de elásticos durante a distalização dos molares superiores. A fase de alinhamento e nivelamento dentário foi realizada com fios.014 Niti,.016,.020,.017 x 025 de aço inoxidável. Após o nivelamento inicial foi instalado um mini-implante com dimensões de 1,5 mm de diâmetro e 6 mm de comprimento na sutura palatina mediana e ativado ao gancho da barra transpalatina instalada com elástico corrente (Figura 4). Após a distalização dos molares superiores, iniciou-se a retração anterior, utilizando a barra transpalatina ligada ao mini-implante como ancoragem indireta durante toda retração anterior. Essa fase foi realizada com arco.017 x.025 de aço inoxidável com alças de retração na região distal dos incisivos laterais (Figuras 5a, 5b, 5c e 5d). No arco inferior, utilizou-se para correção da sobremordida um arco de aço inoxidável.017 x.022 com curva de spee reversa. Assim, além de uma pequena intrusão dos incisivos inferiores e extrusão dos molares inferiores, era esperada uma vestibularização dos incisivos, que neste caso, foi aceita para compensação dentária da Classe II esquelética. 4 Figura 4 - Mini-implante instalado na rafe palatina. Marigo G, Marigo M.

420 Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. 5A 5B 5C 5D Figura 5 - (A-D) - Retração anterior. Mini-implante utilizado como ancoragem indireta. Após a correção da relação molar e retração anterior, utilizou-se elásticos 1/8 para intercuspidação. Na fase de finalização e detalhamento da oclusão, depois do fechamento total dos espaços (Figuras 6a, 6b, 6c e 6d), foram removidos os arcos do aparelho fixo e estabilizado com fio de amarrilho trançado e torcido durante 3 semanas para obtenção de melhor intercuspidação e ajuste funcional da oclusão. Após remoção do aparelho fixo, foram instalados aparelhos de contenção. Foi utilizada uma placa termoplástica de acetato (1 mm) na arcada superior e contenção fixa 3 x 3 confeccionada com fio.015 coaxial (1-6) colada no arco inferior. 6A 6B 6C Relato de caso (Case Report) 6D Figura 6 - (A-D) - Fechamento de espaços remanescentes.

Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. 421 Resultados do tratamento A comparação dos exames ortodônticos iniciais e finais da paciente demonstra que os resultados obtidos foram compatíveis com os objetivos propostos. A duração total do tratamento ortodôntico foi de 18 meses. A colaboração da paciente foi fundamental para a conclusão da terapia ortodôntica em um tempo reduzido. A aparência facial foi beneficiada, apesar de não ser submetida a nenhum tratamento cirúrgico, houve melhora no perfil, atingindo um perfil facial reto. Tmabém houve melhora na postura dos lábios, principalmente durante o sorriso, não havendo mais a interposição do lábio inferior (Figuras 7a, 7b e 7c). Do ponto de vista dentário, atingiu-se relação normal de chave de molar e caninos, correção da sobremordida e sobressaliência (Figuras 8a, 8b e 8c). Após remoção do aparelho, a paciente foi encaminhada para reanatomização dos incisivos centrais superiores devido ao desgaste incisal ocorrido em função das interferências oclusais observadas antes da correção ortodôntica (Figura 9). Cefalometricamente, pode-se observar alterações dentárias significativas (Figura 10). O ângulo interincisal obtido no final do tratamento foi de 126 o, aceitável dentro dos padrões de normalidade. Como era esperado, em um tratamento ortodôntico de compensação ou camuflagem, pode ser notada uma discreta retroinclinação dos incisivos superiores (1.NA= 25 o ) e uma vestibularização dos incisivos inferiores (1.NB= 32 o ). O trespasse horizontal foi corrigido (3,5 mm), finalizando dentro dos padrões de normalidade (Tabelas 1A, 1B e 1C). 7A 7B 7C Figura 7 - (A-C) - Fotografias de face finais. 8A 8B 8C Figura 8 - (A-C) - Fotografias intrabucais. Marigo G, Marigo M.

422 Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. Tabela 1A - Resumo das análises cefalométricas. Padrão Esquelético Medidas Início Final Normal SNA (Steiner) 85 o 85 o 82 o (+-2º) SNB (Steiner) 80 o 79 o 80 o (+-2º) ANB (Steiner) 5 o 6 o 2 o (+-2º) Â Convex N-A-Pog (Downs) 7,5 o 10 o 0 o (-8,5º a +10º) Eixo Y FH-S.Gn (Downs) 53 o 53 o 59 o (59º a 63º) Â Facial FH-N.Pog 92 o 91,5 o 87 o (82º a 95º) SN-GoGn (Steiner) 26 o 27,5 o 32 o (+-2º) FMA (Tweed) 16 o 15,5 o 25 o (+-5º) Altura da Dentição (Ricketts) 34,5 o 35,5 o 45 o (+-3º) Tabela 1B - Resumo das análises cefalométricas. Padrão Dentário Medidas Início Final Normal IMPA (Tweed) 100º 111º 90º (+-5º) 1.NA (graus) (Steiner) 46º 25º 22º 1-NA (mm) (Steiner) 8 mm 2 mm 4 mm 1.NB (graus) (Steiner) 23º 32º 25º 1-NB (mm) (Steiner) 3 mm 5 mm 4 mm Ângulo Interincisal (Downs) 111º 126º 130º a 150º 1-APo (Ricketts) -1 mm 1 mm 1 mm Tabela 1C - Resumo das análises cefalométricas. Perfil Medidas Início Final Normal Lábio Superior - Linha S (Steiner) -1,5mm -1mm 0 mm Lábio Inferior - Linha S (Steiner) -4mm -3mm 0 mm A oclusão final mostrou bom relacionamento entre as arcadas, as quais proporcionaram um equilíbrio funcional e movimentos excursivos da mandíbula sem interferências, boas condições dos tecidos periodontais, além de boa estética facial e do sorriso (Figura 9). Relato de caso (Case Report) 9 10 Figura 9 - Após reanatomização de incisivos superiores. Figura 10 - Terradiografia final.

Orthodontic Science and Practice. 2012; 5(19):416-423. 423 Discussão Em pacientes adultos, a má oclusão Classe II, divisão 1 com pouco comprometimento esquelético, não é sempre corrigida com exodontias, já que muitas vezes não estão indicadas ou são rejeitadas. O tratamento dessas más oclusões pode ser conduzido com exodontias e também com aparelhos distalizadores 13,15,18, mas com o surgimento dos distalizadores intrabucais a partir dos anos 80, os tratamentos passaram a utilizar cada vez menos os recursos das exodontias 5. Porém, com o surgimento dos dispositivos de ancoragem temporários, os aparelhos distalizadores estão tornando-se cada vez menos utilizados, pois os mini-implantes proporcionam inúmeros benefícios a mecânica 7. Alguns autores 6,7,8,9,12,13, afirmaram que, através dos mini-implantes e miniplacas, os problemas relacionados a ancoragem, colaboração dos pacientes e os efeitos colaterais indesejados foram praticamente eliminados, o que corrobora com os resultados e observações desse relato. Alguns sítios para a inserção dos DAT s para a correção da má oclusão Classe II, são descritos na literatura 6,12,13,14, podendo ser instalados por vestibular na região interradicular entre segundo pré-molar e primeiros molar superior, como também, sugerem a inserção na rafe palatina e com o auxílio de barra transpalatina para distalização dos molares superiores. Os efeitos de compensação dentária ou camuflagem podem estar presentes no tratamento não cirúrgico da má oclusão Classe II em adultos 3, podendo principalmente serem observados clinicamente e cefalometricamente uma vestibularização dos incisivos inferiores e uma retroinclinação dos incisivos superiores. Considerações finais A mecânica proposta para esse caso mostrou- -se eficiente na correção da má oclusão Classe II, divisão 1 de Angle, com sobremordida profunda e sobressaliência acentuada. A ancoragem esquelética utilizada para distalização dos molares superiores e na retração anterior mostrou-se eficaz durante todo o tratamento. Como a opção foi um tratamento ortodôntico sem extrações dentárias e cirurgia ortognática, os efeitos de compensação dentária ou camuflagem eram esperados. Referências bibliográficas 1. Araújo T.M. et al. Ancoragem esquelética em ortodontia com mini-implantes. R. Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006; 11(4):126-156. 2. Araújo T.M. et al. Intrusão dentária utilizando mini-implantes. R Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2008;13(5): 36-48. 3. Artese F. Má oclusão Classe II tratada sem extrações e com controle de crescimento. R Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2009;14(3):114-127. 4. Brickman C.D., Sinha P.K., Nanda R.S. Avaliation of jones jig appliance for distal molar moviment. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2000;118:526-534. 5. Celtin N.M., Ten Hoeve A. Nonextration treatment. J Clin Orthod. 1983;17:396-403. 6. Cha B.K. et al. Soft tissue thickness for placement of an orthodontic miniscrew using an ultrasonic device. Angle Orthodontist, Appleton, v. 78, n. 3, 2008. 7. Creekmore T.D., Eklund M.K. The possibility of skeletal anchorage, J Clin orthod. 1983:17:266-269. 8. Fukunaga T., Kuroda S., Kurosaka H., Takano-Yamamoto T. Skeletal anchorage for orthodontic corrections of maxillary protrusion with adult periodontitis. 2006;71(1): 148-155. 9. Jenner J.D., Fitzpatrik B.N. Skeletal anchorage utilizing bone plates. Aust Orthod J. 1985;9:231-233. 10. Kim T.W., KIM H., Lee S.J. Correction of deep overbite and gummy smile by using a mini-implant with a segmented wire in a growing Class II Division 2 patient. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop. 2006; 130(5): 676-684. 11. Kuroda S., Sugawara Y., Tamamura N., Takano-Yamamoto T. Anterior open bite with temporomandibular disorder treated with titanium screw anchorage: evaluation of morphological an functional improvement. Am J Orthd Dentofacial Orthop.2007;131:550-560. 12. Marassi C. et al. 2005. O uso de mini-implantes como auxiliares do tratamento ortodôntico. R. Ortodontia SPO. 2005; 38(3):256-265. 13. Marigo G., Marigo M. Mini-implantes: Ancoragem esquelética na Ortodontia lingual. In: Marigo M., Eto L.F., Gimenez C.M.M. editors. Ortodontia Lingual: uma alternativa incomparável para a terapia ortodôntica estética. Maringá: Dental Press Editora; 2012. p. 343-376. 14. Park H.S., Kwon O.W., Sung J.H. Nonextraction treatment of an open bite with microscrew implant anchorage. Am. J. Orthod Dentofacial Orthop. 2006;130(3):391-402. 15. Proffit W.R. The second stage of comprehensive treatment: correction of molar relationship and space closure. In: Proffit W.R., Fields H.W. Jr, editors. Contemporary orthodontics. 3rd ed. St. Louis, Mosby-Yearbook, Inc 1997, p.573-7. 16. Roberts W.E., Helm F.R., Marshalll K.J., Gongloff R.K. Rigid endosseous implants for orthodontic and orthopedic anchorage. Angle Orthod. 1989:247-256. 17. Thurley P.K., Kean C., Schur J., Stefanac J., Gray J., Hennes J. et al. Orthodontic force application to titanium endosseous implants. Angle Orthod;1988;58:151-162. 18. Vilela H.M., Vedovello S., Valdrigui H., Vedovello F.M., Correa C. Distalização de molares utilizando miniparafusos ortodônticos. Orthodontic Sci. Pract. 2011; 4(16): 789-798. Marigo G, Marigo M.