Palavras-chave: Estado Socioambiental de Direito, Ambientalismo, Padrões de produção e de consumo sustentáveis, Agenda 2030.

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A SOCIEDADE DE MASSAS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CONCEBIDO A PARTIR DO CONSUMO CONSCIENTE Luyse Vilaverde Abascal Munhós 1 Livia Gaigher Bósio Campello 2 RESUMO: O paradigma do desenvolvimento sustentável estabeleceu uma nova ordem de valores, que conduzem a ordem econômica rumo a uma produção social e ambientalmente compatível com a dignidade humana. Apesar da incumbência dos entes estatais na promoção de políticas públicas de enquadramento das empresas em padrões ecologicamente sustentáveis, a condição político-jurídica do consumidor atribui uma parcela de responsabilidade também a seu encargo. O objetivo da pesquisa é debater os deveres jurídicos atribuídos aos consumidores no enfrentamento de práticas de consumo insustentáveis e antiecológicas. A metodologia de execução consiste na pesquisa bibliográfica e documental a respeito da garantia de padrões de produção e de consumo sustentáveis, consoante Objetivo 12 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Os resultados revelam que a tomada de consciência, em relação à origem e ao processo produtivo dos bens de consumo, confere dimensão política ao comportamento do consumidor, já que o consumidor consagra sua responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos o dar preferência às empresas sustentáveis. A conclusão que se afere é que, ao abandonar seu estado de apatia política, promovida pela sociedade de massas que perpetua o fetichismo de mercadorias e a desorientação ética, o consumidor liberta-se da condição de súdito do mercado e reafirma sua condição política de cidadão em meio a uma democracia ecológica. Palavras-chave: Estado Socioambiental de Direito, Ambientalismo, Padrões de produção e de consumo sustentáveis, Agenda 2030. 1 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS 2 Doutora em Direito pela PUC-SP. Professora do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS.

O paradigma do desenvolvimento sustentável, identificado no art. 170, inciso VI, da CF/88, estabeleceu uma nova ordem de valores, capazes de conduzir a ordem econômica rumo a uma produção social ambientalmente compatível com a dignidade humana, de forma a vincular as condutas públicas e privadas. Nessa perspectiva, a Constituição Federal prevê o desenvolvimento sustentável ao confrontar o direito de propriedade privada e a livreiniciativa com a defesa do meio ambiente, de forma que a ordem econômica designa uma capitalismo socioambiental ao compatibilizar a livre iniciativa, a autonomia e a propriedade privada com a proteção ambiental e a justiça social, tendo, portanto, como norte normativo a proteção e promoção de uma vida humana digna e saudável para todos os membros da comunidade nacional. Assim, o princípio do desenvolvimento sustentável cria uma tensão dialética entre a proteção ambiental e o desenvolvimento socioeconômico. Afinal, o direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, representando uma expressão da própria liberdade individual. Em contrapartida, a proteção ambiental se fundamenta na questão da justiça entre gerações humanas, em que a geração presente teria a responsabilidade de deixar como legado às gerações futuras condições ambientais idênticas ou melhores do que aquelas recebidas das passadas (SARLET, 2014). Além disso, consoante art. 225, caput, da CF/88, a construção de um mundo sustentável é uma responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade. Nesse sentido, pesar da incumbência dos entes estatais na promoção de políticas públicas de enquadramento das empresas em padrões ecologicamente sustentáveis, a condição político-jurídica do consumidor atribui uma parcela de responsabilidade também a seu encargo, já que o comportamento de consumo representa um instrumento de controle individual e social das práticas produtivas e comerciais. Dessa forma, o consumo sustentável prevê o dever jurídico de consumir produtos e serviços ecologicamente sustentáveis, criando um controle individual e social das práticas produtivas e comerciais dos fornecedores. Assim, está intrinsecamente relacionado à participação pública em matéria ambiental, afinal, não há um propósito exclusivamente econômico, mas sim a formação de um espaço de atuação política a partir de práticas de consumo de bens e serviços individuais ajustadas a um padrão ecologicamente sustentável. Ocorre que, na contemporaneidade, a desorientação ética promove comportamentos orientados a partir da busca por prosperidade individual e de consumo de bens materiais

frequentemente desnecessários. Nesse sentido, padrões de consumo insustentáveis são frequentes em países desenvolvidos, que consomem e esgotam boa parte dos recursos naturais, gerando escassez progressiva de recursos e degradação ambiental. A crítica ao consumismo da sociedade de massas perpassa as práticas de consumo pautadas no fetichismo de mercadorias e no tratamento do mercado como medida do valor das coisas e pessoas. Portanto, os cidadãos-consumidores têm um dever fundamental de ajustarem suas práticas de consumo de modo a proteger o ambiente para as gerações presentes e futuras. Assim, consumo sustentável é o uso de serviços e produtos que respondam às necessidades básicas de toda população, trazendo melhoria da qualidade de vida ao mesmo tempo em que reduzem o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Nesse sentido, o consumo sustentável está relacionado com a participação pública em matéria ambiental, afinal, a tomada de consciência, em relação à origem e ao processo produtivo dos bens de consumo, confere dimensão política ao comportamento do consumidor, tendo em vista que, ao dar preferência às empresas em concordância com os padrões ecologicamente sustentáveis, o consumidor consagra sua responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos. Contudo, a atuação do consumidor consciente não se restringe apenas a escolher fabricantes de produtos sustentáveis, pois, engloba também a reflexão sobre a redução da quantidade de produtos a serem adquiridos, bem como, a instrumentalização de mecanismos colaborativos que visem criar dinâmicas comunitárias e espaços públicos de proximidade, como por exemplo, a troca. As iniciativas de economia solidária e consumo colaborativo combinam a dimensão pública da economia com a força dos laços comunitários da sociedade, resultando em dinâmicas comunitárias abertas à alteridade e espaços públicos de proximidade (FRANÇA FILHO, 2004). Nessa perspectiva, a troca ou permuta representa um contrato em exata sintonia com os preceitos da economia solidária e do consumo colaborativo, pois representa uma comunidade de escambo na Internet, pelo qual cada uma das partes realiza uma obrigação de dar coisa em face da outra (CAMPELLO, SANTIAGO, 2013). Assim, além da responsabilidade dos entes estatais em desenvolver políticas públicas para enquadrar as atividades produtivas aos padrões ecologicamente sustentáveis, cabe ao consumidor ser responsável pela efetivação desse enquadramento ecológico, por meio de suas práticas de consumo. Afinal, é cargo do consumidor conscientizar-se da dimensão ecológica

do processo de consumo em geral, bem como de seu comportamento individual em particular. A metodologia de execução parte do método dedutivo e permeia as pesquisas bibliográfica e documental, mediante percepção do dever constitucional de solidariedade como racionalizador dos padrões de consumo a partir de instrumentos jurídicos colaborativos, como o já citado contrato de troca ou permuta, o qual representa um instrumento da solidariedade que proporciona um consumo cooperativo e sustentável. O objetivo da pesquisa é debater o dever jurídico de solidariedade atribuído aos consumidores, bem como a utilização de instrumentos jurídicos capazes de combater práticas de consumo insustentáveis e antiecológicas, afinal, não se pode conceber um cidadão apático ou mesmo conformado com os rumos delineados pela crise ecológica contemporânea. Referidos instrumentos jurídicos que incentivem mecanismos colaborativos de consumo sustentáveis, como a troca, são capazes de estimular que pessoas se desfaçam de produtos que já possuem, alcançando-se, assim, através troca, economia para todas as partes e satisfação pessoal, fugindo do superendividamento e minimizando-se o desgaste ambiental. Nesse sentido, as redes sociais têm um papel que não pode ser menosprezado em todo esse ciclo, por permitirem que mercadorias usadas sejam facilmente redistribuídas, inclusive por iniciativas não habituais (CAMPELLO, SANTIAGO, 2013). O que permite concluir que o tema é de grande relevância para o desenvolvimento sustentável, de forma a integrar, inclusive, um dos 17 objetivos do Desenvolvimento Sustentável para o ano de 2030, já que o consumo consciente é um marco de abandono do estado de apatia política, promovida pela sociedade de massas que perpetua o fetichismo de mercadorias e a desorientação ética. Assim, o consumidor liberta-se da condição de súdito do mercado e reafirma sua condição política de cidadão em meio a uma democracia participativa e ecológica. Inclusive, despertando a consciência coletiva capaz de impulsionar o consumo colaborativo, pelo qual os consumidores se tornam parceiros solidários, e não competidores vorazes, de modo a afastar a cultura hiperindividualista propagada pela sociedade de massas. Do ponto de vista da solidariedade e do desenvolvimento social, pode-se visualizar indivíduos engajando-se voluntariamente em projetos coletivos concretos, emanados do seio da sociedade civil, que instrumentalizam mecanismos colaborativos de menor impacto ambiental, sendo a troca um importante instrumento da moderna consciência social (FRANÇA FILHO, 2004). Afinal, a preservação ambiental, ainda que eventualmente não se configure como uma

consequência não intencional do consumo colaborativo, é uma consequência intrínseca, pois sustentabilidade e comunidade são partes inerentes e inseparáveis desse sistema (BOTSMAN, 2011). Portanto, o consumidor encontra-se em uma condição político-jurídica de cidadania, considerada muito além da mera perspectiva econômica, devendo tomar consciência de suas concretas necessidades existenciais e abandonar seu estado de apatia política para se ver livre das amarras do mercado publicitário, deixando a condição de súdito do mercado e atingindo uma condição política de cidadão em um paradigma democrático, participativo e ecológico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOTSMAN, Rachel e ROGERS, Roo. O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo. Trad. Rodrigo Sardenberg. Porto Alegre: Bookman, 2011. CAMPELLO, L. G. B.; SANTIAGO, M. R.. A ascensão da troca: um instrumento do consumo colaborativo e sustentável. In: Jenonimo Tybusch; Juarez Freitas; Samyra Haydee Sanches. (Org.). Empresa, sustentabilidade e funcionalização do direito. 1ed. Florianópolis: CONPEDI, 2013, v., p. 156-185. FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho de e LAVILLE, Jean-Louis. A economia solidária: uma abordagem internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. SARLET, Ingo Wolfgang. Princípios do Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2014.