DIREITOS SOCIAIS, JUSTIÇA E DEMOCRACIA

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1 DIREITOS SOCIAIS, JUSTIÇA E DEMOCRACIA Bruna dos Santos Silva Benaglia 1 Paola Flores Serpa 2 Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar os direitos sociais como princípio basilar para a justiça e a democracia, com foco no ordenamento brasileiro. O acesso à justiça, aqui, trata-se, não à justiça como meio processual, mas ao pressuposto de igualdade e ao fim do próprio direito, o que é garantido no artigo 3º, I, da nossa Constituição Federal. Assim, para o desenvolvimento dessa pesquisa foi utilizado o método dedutivo com base em uma pesquisa exploratória, descritiva, bibliográfica e documental, com intuito de identificar o conceito de justiça entrelaçado à efetividade dos direitos sociais. Entre os resultados alcançados, conclui-se que a ideia de justiça não se equivale à definição de igualdade perfeita, de dar a todos o mesmo e na mesma quantidade, mas, sim, de dar a cada um o que é seu, resguardando-se as devidas proporções e de acordo com a necessidade de cada um, como já propusera Aristóteles ao enunciar o princípio da igualdade, tão reverberada até hoje por sociólogos e juristas: Tratar igualmente os iguais, na exata medida de sua igualdade, e tratar desigualmente os desiguais na exata medida de sua desigualdade. Um dos meios para alcançar uma sociedade justa e assim efetivar a máxima aristotélica é garantir a aplicação dos direitos sociais. Palavras-chave: Direitos Sociais; Justiça; Democracia. Grupo de Trabalho: Direitos fundamentais, democracia e desenvolvimento sustentável 1 Aluna da Graduação do curso de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). 2 Mestranda em Direitos Humanos pelo programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Graduada em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Endereço eletrônico: paserp@hotmail.com

2 Problema da pesquisa Como pode haver justiça sem que as necessidades sociais básicas e essenciais dos indivíduos sejam atendidas? Objetivos Identificar através dos precedentes históricos e os fundamentos jurídicos que aliam direitos sociais, justiça e democracia a efetividade da aplicação dos direitos sociais através do papel da justiça nas necessidades humanas garantindo assim qualidade de vida. Referências teórico-metodológicos A Constituição Federal dedica seu segundo capítulo aos Direitos Sociais, haja vista a grande importância que tem esse assunto para a população brasileira, para o Estado Democrático de Direito e para a efetivação dos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos e grupos coletivos. Dos artigos 6º ao 11º temos a enumeração e definição dos direitos sociais, uma atenção especial aos direitos dos trabalhadores, à liberdade e autonomia sindical, ao direito de greve e à representatividade trabalhista. Estão no rol das garantias sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados, segundo o artigo 6º da CF. Essas são, em resumo, as prerrogativas da dignidade humana, que é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Para cada titular de um direito há um titular de um dever correspondente. Nesse diapasão, para cada direito social da população há um dever e atribuição do Estado. Por exemplo, um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, conforme o artigo 3º, III, CF, é erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Este dever pertence ao Estado desde o desenvolvimento de necessidades sociais que surgiram a partir das mazelas urbanas causadas pela Revolução Industrial e que permanecem até hoje com a evolução do capitalismo e da urbanização. O Estado exerce,

3 portanto, papel primordial na garantia do mínimo irredutível de dignidade humana e igualdade entre os indivíduos. Sobre isso, Paulo Bonavides coaduna: O Estado social é enfim Estado produtor de igualdade fática. Trata-se de um conceito que deve iluminar sempre toda hermenêutica constitucional, em se tratando de estabelecer equivalência de direitos. Obriga o Estado, se for o caso, a prestações positivas; a promover meios, se necessários, para concretizar comandos normativos de isonomia (BONAVIDES, p. 378, 2003). Os direitos de 2ª dimensão são direitos positivos, isto é, poderes de exigir do Estado prestação concreta e atendimento às necessidades sociais. Eles são uma garantia institucional, cujo sujeito é o Estado e o objeto são os serviços sociais. Esses direitos fundamentam-se, sobretudo, na solidariedade entre os homens. Da insatisfação popular com o sistema liberal que não garantia a atuação do Estado nas causas sociais, é que se origina essa dimensão dos direitos fundamentais, ao que o mestre Nilson Nunes da Silva Junior (2010) salienta: A segunda dimensão dos direitos fundamentais refere-se às prestações positivas sociais, ou seja: há clamor pela prestação de serviços estatais que visem erradicar ou diminuir as desigualdades sociais favorecendo a consagração da aclamada justiça social, para que seja materializada a igualdade formal criada pelo sistema liberal. O sistema político adotado pelo Brasil é a Democracia, que atribui ao povo a soberania do governo. Nesse regime, os cidadãos elegem seus representantes por meio de eleições periódicas e possuem liberdade de associação e de expressão. Como o povo é o soberano do governo e tem como maior anseio suas necessidades sociais atendidas e condições de vida de qualidade, os seus representantes fixaram no preâmbulo e nos dispositivos da vigente Constituição (BRASIL, 1988) o dever de alcançar o Estado Democrático e o exercício dos direitos sociais, como é citado logo de início: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bemestar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL(...)

4 Mesmo que o preâmbulo não tenha força normativa, não podemos desconsiderar a carga axiológica que ele carrega como enunciado introdutório da Lei Magna. E, como tal, busca em suas poucas linhas sintetizar os principais objetivos constitucionais do país. Como vemos, há um enfoque inicial e contundente no regime democrático, cuja maior preocupação é atender as necessidades sociais do povo. No entanto, as garantias sociais como prerrogativas do regime democrático não são abarcadas, tão somente, pela introdução da Carta Maior. Pois o primeiro artigo da Constituição contempla os fundamentos do Estado Democrático, os quais vão ao encontro da efetividade dos direitos sociais. São eles: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e o pluralismo político. Vemos, assim, que as necessidades e interesses sociais além de serem conquistas históricas adquiridas através de eventos espalhados por vários países em diferentes épocas, ao longo de muitos anos, é também o anseio primordial do povo brasileiro, do qual todo poder emana, neste Estado. Resultados Alcançados O acesso à justiça, aqui, trata-se, não à justiça como meio processual, mas ao pressuposto de igualdade e ao fim do próprio direito. No entanto, para que a sociedade tenha acesso à justiça, como é citado no artigo 3º, I, CF: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária, é necessário que seus direitos sociais sejam aplicados na prática. A ideia de justiça não se equivale à definição primária de igualdade, de dar a todos o mesmo e na mesma quantidade, mas, sim, de dar a cada um o que é seu, resguardando-se as devidas proporções e necessidades de cada um, equivalendo-se à definição de isonomia, como já propusera Aristóteles ao enunciar este princípio, tão reverberado até hoje por sociólogos e juristas, segundo o qual devemos tratar igualmente os iguais, na exata medida de sua igualdade, e tratar desigualmente os desiguais na exata medida de sua desigualdade. Destarte, para alcançar uma sociedade justa, é necessário que os direitos sociais se tornem efetivos. Segundo a Teoria da Norma jurídica, elaborada por Norberto Bobbio,

5 conclui-se que a determinação dos direitos sociais como princípio fundamental da democracia e dever primordial do Estado constitui uma norma justa, isto é, que corresponde às necessidades reais e valores da sociedade como um todo. Essa norma também é válida e, parcialmente eficaz, pois além de existir como regra e ser positivada e juridicizada é também passível de cumprimento. No entanto, mesmo que havendo certa aplicação, a efetividade da prestação de serviços pelo governo não é perfeita e está um pouco longe de ser, já que nem todos os serviços são oferecidos e, quando são, nem sempre são de qualidade ou atendem toda a população. Apesar disso, a democracia existe como ferramenta de manutenção dos direitos sociais e meio pelo qual o povo pode trocar um representante estatal, já que, quando seus direitos e necessidades não são atendidos e a sociedade justa não é alcançada, pode se usar a autonomia de poder soberano, próprio do povo, quando não desarmado pela corrupção, para eleger outro representante, com o intuito de que, desta vez, a efetivação saia do plano do dever ser para o plano do ser. Bibliografia BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo, Malheiros, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. 15. ed. São Paulo: Saraiva, SILVA JÚNIOR, Nilson Nunes da. Segunda dimensão dos direitos fundamentais. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 74, mar Disponível em: < Acesso em: 01 de ago