3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina Pr - ISSN 2175-960X O PROCESSO INCLUSIVO EM INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM SISTÊMICA



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O PROCESSO INCLUSIVO EM INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ABORDAGEM SISTÊMICA LADIMARI TOLEDO HOEPPLER 1 SILVIA REGINA RICCO LUCATO SIGOLO 2 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESCOLAR UNESP ARARAQUARA CAPES Introdução Nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), tem-se que a criança possui o direito de brincar, de ser cuidada e educada por profissionais comprometidos com o desenvolvimento infantil e com o respeito aos seus direitos. Faria (1999, p. 72) reporta-se a essa determinação quando descreve que "a educação infantil é o espaço onde se pode crescer sem deixar de ser criança, onde se descobre (e se conhece) o mundo através do brincar, das relações mais variadas com objetos e as pessoas, principalmente entre elas: as crianças". A instituição escolar de educação infantil tem como obrigatoriedade oportunizar, de forma objetiva, ao seu aluno o desenvolvimento cognitivo, social, afetivo, por meio da mediação do professor. Portanto, esse é um espaço em que a criança se desenvolverá e crescerá através das trocas afetivas e efetivas entre seus colegas de classe e com o professor, aprendendo a partir da construção de jogos e brincadeiras e da socialização. Discutir a constituição de políticas para a educação infantil é, sem dúvida, uma tarefa complexa, sobretudo quando se analisam os processos históricos sob uma perspectiva dialética, exigindo esta uma compreensão da realidade em movimento, com um olhar atento aos seus multideterminantes. Contudo, a apreensão dessa realidade oferece condições para que os pesquisadores possam identificar vários elementos constitutivos da configuração das políticas educacionais, que, no caso da educação infantil, se articulam diretamente com políticas educacionais e sociais mais amplas. Estudos como os de Craidy (1994; 2000), Cury (1998), Rosemberg (1999), Campos (1999) e Arelaro (2000) apontam a preocupação com a garantia dos direitos das crianças na educação infantil proclamados na legislação, mostrando que ainda não se conseguiu viabilizar um atendimento adequado às crianças em idade compatível com este nível de ensino. Atualmente, vivencia-se um momento em que se busca ressignificar as funções da educação infantil, compreendendo que ela se ocupa de sujeitos sociais, culturais, com dimensões tanto físicas como psicológicas, que possuem opiniões, preferências e diferenças traduzidas na incorporação do binômio educar e cuidar e a sua indissociabilidade. A criança é apreendida na sua singularidade, enquanto possuidora de sentimentos, desejos e direitos e a instituição escolar necessitaria primar pela valorização dos profissionais e de seus saberes para atender as genuínas funções da educação infantil. 1 Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara UNESP. Rodovia Araraquara - Jáu, km 01, Araraquara CEP 14800-901. E-mail: lahoeppler@hotmail.com 2 Professora do Departamento de Psicologia da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara UNESP. Rodovia Araraquara - Jáu, km 01, Araraquara CEP 14800-901. E-mail: sigolo@fclar.unesp.br 2190

A inserção escolar da criança com deficiência desde a educação infantil pode ser pensada na perspectiva da cidadania, tendo como objetivo educacional a formação de um sujeito crítico, reflexivo, um ser pensante, autônomo diante dos processos de construção para o conhecimento. Nesta perspectiva, Góes (2004, p.40) descreve: Independente das particularidades desses alunos, a educação a eles destinada deve revestir-se dos mesmos significados e sentidos que ela tem para os alunos que não apresentam deficiência; para eles como para qualquer outro aluno, deve ser reconhecida a importância dos espaços de interação que o sistema educacional pode promover de forma sistemática na apropriação do conhecimento escolar e no desenvolvimento pessoal. Esses posicionamentos ratificam o entendimento de que através das atividades, das interações, das mediações podem ser vivenciadas as dimensões culturais e históricas do ser humano. Ensinar o aluno com deficiência, principalmente na educação infantil, é oportunizar descobertas pessoais, possibilidades de socialização, aprendizagem através do lúdico. Percebendo do que essa criança gosta, a forma como ela pode aprender, a estratégia adequada para que ela produza, será encontrado o caminho pelo qual ela poderá desenvolver-se. Por outro lado, o professor, como parte integrante nesse processo, poderá obter novos conhecimentos em relação ao que é a deficiência, re-elaborando suas concepções, atribuindo diferentes significados ao seu aluno da educação infantil com deficiência. A produção científica na área evidencia que a ausência de formação profissional específica, dificulta o dia a dia dos professores, porque não dispõe de recursos para trabalhar com as diferenças. As pesquisas de Mattos (2000), Marques (2000), Medeiros (2002), Gomes (2002), Fonseca (2002) e Tessaro (2004), por sua vez, evidenciaram que a realização constante de cursos de aperfeiçoamento, de atualização, extensão e/ou participação em eventos e projetos na área da educação especial podem ampliar o entendimento dos professores para o ensino de alunos com deficiência, pois em alguns destes estudos foi possível identificar que estes não possuem total clareza sobre o que seja a inclusão, desconhecendo os seus principais pressupostos. Jusevicius (2002) e Sekkel (2003) encontraram que os professores expõem que têm medo de trabalhar com os alunos com deficiência por desconhecerem suas necessidades e limitações, apresentam frustração, desmotivação e sentimento de incapacidade para desenvolverem as atividades com os alunos com deficiência. Expressam ainda pouca credibilidade quanto à perspectiva de um futuro promissor para o aluno com deficiência (MAZZILO, 2003) e que muitas vezes percebem-no de forma idêntica àquela partilhada no meio social, reiterando o estigma presente na sociedade (MARQUES, 2000). O que se depreende dos resultados destas pesquisas é que parece incidir dois níveis de influência nas relações que se estabelecem entre professor e aluno. Um nível mais próximo que contém o ambiente no qual estas relações acontecem e outra em nível mais amplo que se refere às consistências dos sistemas de valores e concepções partilhadas por um grupo cultural. Pode-se recorrer ao referencial da abordagem sistêmica de desenvolvimento de Bronfenbrenner para proceder à análise destes processos de relações que acontecem em dimensões micro e macrossociais. Bronfenbrenner & Morris (1998) propõem um modelo compreensivo do desenvolvimento humano que envolve quatro núcleos inter-relacionados: processo, pessoa, contexto e tempo, configurando o modelo PPCT. O processo torna-se o construto essencial do modelo bioecológico, recebendo notoriedade os processos proximais que se referem a uma forma particular de interação entre a pessoa em 2191

desenvolvimento e o contexto no qual está inserida, que compreende a realização de atividades molares realizadas com outras pessoas, objetos e símbolos disponíveis no ambiente e que se complexificam ao longo do tempo. A pessoa é o segundo componente desse modelo, caracterizada por três grupos de características pessoais, estas agindo no desenvolvimento devido suas capacidades para influenciar os processos proximais, são elas: as disposições, os recursos e as demandas advindas do contexto. O contexto é o terceiro componente, é ele que permite conhecer a interação dos quatro níveis ambientais, interdependentes, que se inicia por aquele percebido como contexto mais imediato, denominado microssistema, que suscita o desenvolvimento de um padrão de atividades, o estabelecimento de relações interpessoais e o desempenho de papéis. E amplia o seu escopo distanciando-se das relações objetivas e diretas, mas mantendo as influencias indiretas sobre a pessoa em desenvolvimento, chegando ao nível do macrossistema. O último e quarto componente do modelo bioecológico é o tempo, que representa a extensão ao longo da qual o desenvolvimento ocorre, fazendo referência aos acontecimentos históricos, reunindo as alterações de características da pessoa ocorridas no tempo, bem como a passagem do tempo no ambiente e na sociedade. Assim, estudar o desenvolvimento a partir deste modelo é considerar a pessoa como um ser em constante desenvolvimento, definindo tal processo como calcado nas estabilidades e mudanças presentes nas características das pessoas. Por esse motivo, o modelo, oferece suporte para a análise dos fatores biológicos, psicológicos e os processos de evolução, não somente estabelecendo esses aspectos como limites de desenvolvimento, mas, também, declarando imperativa a qualidade das condições ambientais e das experiências, que são fundamentais para a concretização dos potenciais humanos. A partir das considerações descritas sobre o modelo bioecológico, a presente pesquisa situa-se dentro de um modelo de microssistema que tem por objetivo descrever a interconexão estabelecida entre a professora da educação infantil e seu aluno com deficiência, no decorrer de um período de tempo, a partir das relações interpessoais, atividades realizadas e papéis que professoras e alunos efetivam no contexto educacional, não deixando de considerar os contextos mais amplos nos quais estas relações estão inseridas, ou seja, o ambiente escolar que está circunscrito por orientações de natureza político-pedagógicas das secretarias de educação de um município do interior paulista. Este trabalho pretende trazer à discussão a análise do processo de inclusão de crianças com deficiência na Educação Infantil, cuja pesquisa empírica envolveu o acompanhamento por dois anos destes alunos a partir da observação da rotina de atividades da instituição e de depoimentos obtidos em entrevistas com os vários profissionais que direta ou indiretamente participavam deste processo, a saber: a professora da sala, a professora itinerante, a diretora da instituição de educação infantil e a representante da Secretaria da Educação. Método Participaram da pesquisa seis alunos com deficiência incluídos em salas regulares, nove professores de educação infantil, cinco diretores de instituição de Educação Infantil e um representante da secretaria da educação. Durante os dois anos de realização do estudo foram realizadas observações da rotina de trabalho das instituições, entrevistas com professores em três momentos distintos, aplicação de um questionário e entrevistas com diretores e representante da secretaria. As observações aconteciam uma vez por semana em cada sala, com duração idêntica ao período de aula, em um sistema de rodízio o que possibilitou contemplar as atividades em diferentes dias, perfazendo um total de 130 sessões de observação. 2192

Foram realizadas entrevistas com as docentes em dois momentos distintos, no início da pesquisa e no final desta, com os respectivos diretores das instituições infantis e com a representante da Educação Especial da Secretaria de Educação do Município estudado. Resultados e discussão Deste conjunto imenso de dados, foram feitas algumas escolhas para apresentação neste capítulo, com base no critério de análise dos contextos em separado, em primeiro o microssistema sala de aula, em seguida o escolar e depois o exossistema. Quando as professoras ficavam sabendo sobre a presença do aluno com deficiência em suas salas de aula, ficavam desmotivadas, pois se concebiam como impossibilitadas por diversas razões para desenvolver as atividades profissionais com este aluno. No entanto, através do contato diário com o aluno, algumas professoras ampliaram suas concepções, reestruturando o ambiente, reorganizando a forma de perceberem o aluno, ressignificando conceitos. As características pessoais não podem ser entendidas fora do momento histórico em que se desenvolveram ou que se desenvolvem e tampouco das expectativas por ela projetadas. Esta percepção permite o entendimento das concepções que acompanham as profissionais e o peso que estas representam na vida de cada um, o que irá favorecer a inserção de novas concepções ou não no processo da inclusão. Identificou-se que as professoras apresentaram características diferenciadas para os alunos, realidade explicada pelas informações que foram absorvidas. O que se verificou no relato de duas das professoras vem ao encontro desta afirmação, sendo que ambas caracterizaram o mesmo aluno distintamente como inquieto e alegre. O que foi possível identificar é que a primeira professora não se mostrava satisfeita em trabalhar com a inclusão, no entanto a segunda profissional evidenciava gostar do trabalho com o aluno com deficiência. Percebe-se desta forma, que as características atribuídas ao aluno apresentam certa relação com as percepções que as profissionais têm da inclusão. Partindo da perspectiva de interação entre ambiente e as características das pessoas, Bronfenbrenner e Morris (1998) consideram a pessoa como um ser em contínuo desenvolvimento, sendo possível verificar constâncias e alterações nas características biopsicológicas destas no decorrer da história pessoal. Desta forma, compreende-se o posicionamento das professoras frente a realidade vivida durante o período observado, sendo possível verificaras razões pelas quais algumas delas mudaram as concepções que até então apresentavam diante do fato do aluno com deficiência estar freqüentando o sistema regular de ensino. Esta modificação se deveu à experiência que estas profissionais vivenciaram ao trabalharem com a inclusão. Na concepção de desenvolvimento adotada neste trabalho está presente a preocupação com a análise das relações e concepções não sejam focalizadas em um único momento no tempo, mas que sejam consideradas as continuidades e mudanças que ocorrem em um determinado espaço de tempo transcorrido. È possível então examinar as alterações e permanências de atitudes e concepções que vão ocorrendo no microssistema, em relação ao aluno com deficiência. Foram através dos eventos realizados no ambiente imediato, como a aproximação afetiva entre crianças com deficiência e as professoras, a efetivação da linguagem oral, a participação em atividades, que as profissionais foram instituindo mudanças em suas concepções. Com o passar dos meses, surgiram as primeiras alterações nas concepções das professoras relativas à aprendizagem e às trocas interativas com as demais crianças, considerando que estas muito contribuiriam para o seu desenvolvimento. Estas mudanças podem ser decorrentes dos processos proximais que se fizeram presentes no microssistema, produzindo, sustentando 2193

e transformando as percepções das profissionais, ou seja, as experiências individuais e as formas como cada uma imprimiu significado aos acontecimentos foram derivadas das características subjetivas, da qualidade dos processos proximais e das percepções sobre o meio, internalizadas no decorrer do tempo. As professoras apresentavam concepções diferenciadas sobre o trabalho na perspectiva inclusiva, mesmo que este fosse efetivado no mesmo ambiente e no mesmo espaço de tempo. A reflexão permitiu que olhassem um pouco para o trabalho realizado, conhecendo e avaliando a relação com as crianças, a mediação e como os olhavam e os percebiam, esta reavaliação proporcionou que algumas professoras ressignificassem suas concepções que até então atribuíam ao aluno com deficiência, realidade vivenciada através da experiência com o referido aluno. No entanto, também foi possível verificar outras profissionais que permaneceram com as mesmas concepções, principalmente no que se referem à deficiência e à freqüência à escola regular de ensino, as quais se expressam como dúvidas quanto ao avanço alcançado, ênfase na incapacidade e na limitação do seu potencial. Quando a perspectiva de aprendizagem do aluno com deficiência está presente vem sempre acompanhada de observações como: há a necessidade de estímulo e de dedicação para que esta ocorra, o que é avaliado como difícil em decorrência de terem as outras crianças no grupo, que esta se efetiva em um processo lento, cujas mudanças ocorrem em longo prazo e muitas vezes circunscritas ao âmbito da socialização. Segundo Bronfenbrenner e Morris (1998) quando as professoras apresentam propensões para sentirem-se apáticas, inseguras, desatentas e desinteressadas terão dificuldades para empenharem-se nos processos que requeiram padrões progressivamente mais complexos de interação recíproca, permanecendo distantes das crianças com deficiência. Realidade verificada em uma das situações estudadas, na qual a professora pareceu não se interessar no desenvolvimento de relações mais próximas com o aluno, evidenciando na maioria dos encontros falta de interesse em chamá-lo a participar das atividades ou a interagir com os colegas. Por outro lado, foi possível verificar que a inclusão foi defendida por outras professoras, como um processo que oferece aos alunos deficientes a possibilidade de desenvolverem-se e que esta realidade estimula adequadamente o desenvolvimento dos referidos alunos. De modo geral os dados apresentados evidenciam que o aluno com deficiência, provavelmente, continuará sendo visto primeiramente pela deficiência que traz consigo para depois ser percebido como aluno. Entende-se que esta situação concretiza-se pelo que foi instituído como sistema de concepções ou ideologia subjacentes ao macrossistema, já que se referem à consistência observada dentro de uma dada cultura ou subcultura na forma e conteúdo dos níveis micro, meso e exossistema (Bronfenbrenner, 1996). Divergências de opiniões entre as professoras foram encontradas ao expressarem os sentimentos diante do trabalho com a inclusão, como um desafio, impotência, frustração e alegria. As profissionais discutiram a forma como este estava sendo instituído pelas escolas, sendo unânimes ao relatarem que precisariam receber apoio pedagógico e assistência por profissionais especializados para que a inclusão pudesse ser recebida com maior aceitação pelos professores. É importante a compreensão das influências dos diferentes contextos em que as profissionais estão inseridas, desde os mais imediatos aos mais remotos, além das relações destes com o próprio posicionamento frente à inclusão, cuja complexidade conceitual permite uma variedade de formas de manifestações empíricas. Desta forma, o contexto deve ser compreendido não só como o ambiente imediato, onde as professoras estão inseridas, mas como um ambiente que está relacionado a outras forças que interferem, como por exemplo, o macrossistema, pois é nele que se encontram as 2194

significações culturais, trazidas pelas professoras para o microssistema, a sala de aula. Uma questão crucial na compreensão dos fenômenos relacionados à inclusão é entendê-la como um processo, que pode ser percebido nos seus contextos históricos e sociais, nos quais as relações entre as pessoas e ambientes são múltiplas e complexas. A professora ao se relacionar com a criança adquire um conhecimento sobre o seu real potencial, a proposição de atividades intencionais, cujo domínio propiciaria uma percepção da capacidade do aluno de maneira diferenciada. Isto pode ser evidenciado a partir de solicitações diferenciadas ao aluno deficiente com o intuito de instigar a motivação, maior concentração, o raciocínio e a realização de atividades. A díade representa o bloco construtor básico do microssistema, pois é na relação entre os dois participantes (professora e aluno com deficiência) que haverá condições favoráveis à aprendizagem. É na reciprocidade desta relação que poderá concretizar-se a perseverança e o engajamento em padrões de interação progressivamente mais complexos, resultando na possibilidade da professora ressignificar as concepções frente à deficiência e o processo de inclusão. Os resultados da pesquisa mostraram que as atividades, as mediações, as relações interpessoais experenciadas no microssistema escolar entre professora e aluno com deficiência, se constituíram em decorrência de uma expectativa de papel da pessoa deficiente veiculado dentre o conjunto de valores culturais no âmbito de macrossistema, que em algumas circunstâncias permaneceu intacta e, em outras apresentou alterações ao longo da pesquisa. Foi possível identificar no ambiente imediato que as percepções que as profissionais traziam dos alunos com deficiência foram transmitidas para os demais alunos. A maneira como as professoras falavam dos alunos, as expressões utilizadas por estas, eram reproduzidas pelas crianças que passaram a perceber o colega com deficiência da maneira como é visto pela professora, o que resultou em maior ou menor aproximação entre as crianças. Ter acompanhado o processo de inclusão por dois anos possibilitou verificar mudanças e continuidades em função de alterações inerentes ao contexto escolar, como alterações de sala e das respectivas professoras. Foi possível verificar que uma criança manteve seus contatos interpessoais em um mesmo nível ao longo dos dois anos, independente de mudança de professora de um ano para o outro, outra criança foi procurada pelos colegas com maior frequência no segundo ano da pesquisa e o inverso aconteceu com outro aluno. No primeiro caso prevaleceu a semelhança nas concepções das duas professoras que trabalharam com a aluna e nos demais as constatações podem ser associadas às diferenças de concepções apresentadas pelas profissionais, uma vez que a relação, a mediação e o apego entre criança com deficiência e professora constituíram-se de maneira diferente de um ano para o outro. As relações com os colegas da sala não podem ser unicamente explicadas pelas mediações das professoras, mas também por características pessoais do próprio aluno. A realidade de um dos alunos se mostrou distinta dos exemplos anteriores, pois mesmo as professoras apresentando diferenças na forma de trabalhar, de interagir e de mediar foi possível identificar uma relação intensa com os demais colegas da classe, independentemente do ano letivo observado. A criança se apresentava muito comunicativa e mesmo não sendo procurada tomava a iniciativa do contato e sempre era bem sucedida, o que favorecia a busca futura de interação com os colegas. No contexto microssistema escolar houve a necessidade de observar as relações que se efetivaram entre as professoras e as diretoras diante do trabalho de inclusão que estava sendo desenvolvido nas instituições, com o objetivo de compreender a estruturação do trabalho inclusivo, o envolvimento da direção e o apoio que esta oferecia às professoras. Na concepção das diretoras o trabalho da professora itinerante era bom, oferecendo resultados 2195

positivos, pois a profissional auxiliava no que era preciso, informação discrepante com os relatos das professoras considerando que a presença da professora especializada na escola era reduzida, o que lhes originava a permanência de dúvidas frente ao trabalho com o aluno com deficiência. O antagonismo também apareceu na exposição de outra diretora quando narrou que o trabalho da itinerante não funcionava, devido ao tempo escasso da presença em sala de aula, narração contrária ao que outras professoras trouxeram nos depoimentos, pois se apresentaram satisfeitas com o trabalho que a profissional desenvolvia. Alguns depoimentos indicavam que a consulta a material bibliográfico ficava por conta da própria docente e em outros a informação de que as professoras itinerantes discutiam sobre as indagações e ofereciam materiais elucidativos sobre a deficiência. Fica clara a divergência nas declarações entre as professoras e destas com as diretoras Quando as diretoras foram questionadas quanto ao funcionamento da inclusão nas instituições de Educação Infantil constatou-se que suas concepções se apresentavam em contraposição com as expressas pelas professoras. As diretoras de forma geral afirmaram que o processo de inclusão se efetiva na escola porque não há discriminação, os alunos são aceitos e bem recebidos pelas professoras. Contudo, foi possível observar que algumas das profissionais que fazem parte da equipe escolar posicionam-se contra a presença dos alunos com deficiência no ensino regular, há muitas divergências entre os professores e que o processo não funciona por várias razões como: a imposição de uma política sem discussão prévia, ausência de suporte para o desenvolvimento desta tarefa, formação precária dos professores para uma atuação efetiva As relações entre os microssistemas sala de aula e direção, no decorrer da investigação, não se apresentaram de maneira harmônica, realidade identificada pela pesquisadora, como inibidora do processo de inclusão, uma vez que professoras e gestoras não se posicionam em sintonia, ou seja, através da inserção ecológica, foi possível verificar que as diretoras permaneceram distantes dos trabalhos que estavam sendo efetivados nas turmas com alunos com deficiência, apresentando um discurso desarticulado do que estava sendo vivenciado pelas profissionais. Conhecer a visão, o interesse e a disponibilidade das diretoras em relação ao aluno com deficiência, é poder verificar como as informações e as concepções das gestoras chegam até as professoras, oferecendo estímulos frente ao trabalho com a inclusão ou não. O significado que as diretoras atribuem à deficiência, mesmo que de maneira implícita, atuam através de seus sistemas de concepções como forças ambientais que podem funcionar, dependendo da dinâmica de seu conteúdo, como elementos ativadores ou inibidores nas relações de reciprocidade com as professoras, e conseqüentemente destas com seus alunos com deficiência. Bronfenbrenner (1996) menciona o vínculo apoiador, conceituando este como o momento em que uma pessoa de ligação (itinerante) se envolve nos dois ambientes (escola e Secretaria). A professora itinerante poderia se constituir o elo de ligação entre as instituições de Educação infantil e Secretaria, com o objetivo de propiciar às professoras informações sobre alunos com deficiência, oferecendo através do diálogo dados que pudessem enriquecer o trabalho da professora no trabalho com o aluno com deficiência. Na opinião das profissionais, a professora itinerante seria um apoio profissional, traria atividades específicas para trabalharem com o aluno com deficiência, ou ainda o próprio apoio especializado, retirando o aluno da sala para trabalhar com este individualmente. De acordo com a compreensão da representante da Secretaria Municipal de Educação, foram oferecidos aos professores os recursos necessários para o desenvolvimento do trabalho. Há discordância por parte das professoras, a Secretaria não contribui com quase nada, pois 2196

consideram os recursos pedagógicos escassos e o trabalho da itinerante pouco efetivo. A partir desta análise, compreende-se que se as conexões entre secretaria, direção e professoras forem conflitantes as possibilidades de que estas interrelações favoreçam o desenvolvimento ficam mais remotas. Ainda é necessário verificar o grau de satisfação das professoras com os recursos oferecidos na realidade. É preciso estabelecer um ajuste entre o que é oferecido e como este é percebido pelas profissionais que o recebem, além de mobilizar um movimento ativo de busca de soluções, sem ficar aguardando que as possibilidades de ação sejam dadas de forma unilateral pelas instâncias especializadas. Para que o trabalho com os alunos com deficiência seja efetivado, há a necessidade das professoras envolverem-se, mobilizarem-se na busca de conhecimentos que lhes ofereça melhores esclarecimentos sobre a deficiência. Verificou-se que as professoras consideram que a Secretaria não oferece suporte, diante da concepção de apoio que estas apresentam realmente este órgão não está contribuindo, pois foi possível identificar através das observações e das entrevistas que o que as profissionais esperam é que seja mostrado passo a passo como devem agir, interagir e ensinar os alunos com deficiência, no entanto o que a Secretaria oferece são recursos para que as professoras possam se engajar no processo respeitando a heterogeneidade das deficiências. Para a compreensão dos processos proximais, da importância do papel da escola como contexto do desenvolvimento humano e do processo de socialização, é necessário ressaltar a mediação entre aspectos individuais em desenvolvimento e as características dos ambientes imediatos nos quais as professoras estão inseridas. Considerações finais O delineamento longitudinal também se mostrou muito pertinente ao estudo do processo de inclusão através da possibilidade de acompanhar o desenvolvimento deste fenômeno. Certamente um estudo transversal não permitiria a análise aqui apresentada. Depreendem-se quatro relevantes pontos no trabalho das professoras da educação infantil com seus alunos com deficiência. O primeiro deles é que todas as participantes da pesquisa carregam as concepções que foram instituídas no decorrer da história em relação à deficiência: deficientes apresentam incapacidade intelectual, não tendo condições de participarem do contexto social, realidade que ao trabalharem com a inclusão, inicialmente, lhes causava desconforto e insegurança. Em segundo, tem-se a comiseração, sentimento este que perpassa na percepção de todas participantes, uma vez que manifestaram em seus relatos, tanto informal, quanto na entrevista, sentimentos que inspiram a compaixão frente ao aluno com deficiência. Em terceiro, identificou que a ausência de informações que as professoras têm em relação à deficiência dificulta o trabalho pedagógico, por não terem a compreensão do potencial dos alunos, o que favoreceu a ansiedade profissional, não permitindo tranqüilidade na efetivação do trabalho e, por último traz-se as contradições de comunicação, concretizadas dentro do ambiente ecológico escolar (direção X Secretaria), o que, no depoimento das professoras causa dúvidas, desgosto, indignação e desanimo, evidenciando o desamparo, a falta de apoio e o grau de insatisfação com o trabalho realizado. A escolha da perspectiva bioecológica como suporte teórico foi de extrema valia, uma vez que este modelo possibilitou aos pesquisadores ampliar o conhecimento do processo da inclusão em contextos de Educação Infantil. A partir das contribuições deste modelo, a inserção ecológica pode ser efetivada, compreendendo com precisão a dinâmica estabelecida entre professores e alunos com deficiência no ambiente imediato, sendo possível a identificação das interações e mediações entre professoras e alunos, bem como as concepções das primeiras 2197

sobre inclusão e deficiência. O modelo teórico permitiu ainda, conhecer as interconexões do microssistema escolar e do exossistema, pois foi através do contato com estes participantes que a pesquisa foi contemplada com uma visão ampliada do que acontece em instituições de educação infantil. REFERÊNCIAS ARELARO, L. R. G. Para onde vai a Educação Infantil no Brasil? Algumas considerações face à nova LDB e à Emenda Constitucional 14/96, In: Educação Infantil em Tempos de LDB. Fundação Carlos Chagas, São Paulo, p. 51-63, 2000. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. 3v. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. (Original 1979). & Morris, P. The ecology of developmental processes. In R. M. Lerner & W. Damon (Org.), Handbook of child psychology, volume 1. New York: John Wiley & Sons, 1998. CAMPOS. Maria Malta. A Mulher, a Criança e seus Direitos. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 106, p. 117-127, 1999. CRAIDY. C. M. A Política de Educação Infantil no Brasil. In: SEMINARIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL, 1994, Brasília, Anais... Brasília: 1994.. Educação Infantil e as Novas Legislações. In: Educação Infantil Pra que te quero? Artmed, Porto Alegre, p.23-26, 2000. CURY, C. R. J. A educação infantil como direito. In: Subsídios para Credenciamento e Funcionamento de Instituições de Educação Infantil. Brasília, MEC/SEF, COEDI, v.ii, 1998. FARIA, A. L. G. de. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma pedagogia da educação infantil. In: FARIA, Ana Lúcia G. de; PALHARES, Marina S. (orgs.). Educação Infantil pós-ldb: rumos e desafios. Campinas, SP: Autores Associados- FE/UNICAMP, São Carlos, SP: Editora da UFSCar, Florianópolis: Editora da UFSC, p. 67-98, 1999. FONSECA, S. M. de F. P. da. Testemunhos de professores sobre a integração/inclusão de lunos com necessidades educativas especiais: um recorte da realidade de Natal/RN. 2002. 251 p. Dissertação. Pontificia Universidade do Rio Grande do Sul, 2002. GÓES, M. C. R. de. LAPLANE, A. L. F.de (org.). Políticas e práticas de educação inclusiva. Campinas, SP: Autores Associados. Coleção educação contemporânea. 2004. GOMES, M. R. B. Inclusão: uma perspectiva educacional real ou imaginária? 2002. 128 p. Dissertação (Educação). Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2002. JUSEVICIUS, V. C. C. Inserção escolar de alunos com necessidades educacionais especiais: pensamentos de professores. 2002. 150 p. Dissertação. Pontífica Universidade Católica de Campinas, S.P., 2002 MARQUES, M. O. Professores falantes de si na sala de aula, na escola e na constituição pedagógica. In: Valeska F. De Oliveira. Imagens de Professor: significações do trabalho docente. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, (coleção educação) 2000. MATTOS, E. A. De Contribuições do estudo e proposta para o processo de inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais - deficiente mental na escola regular. 2000. 232 p. Tese (Educação). Universidade de São Paulo/SP. 2198

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