PROFISSIONALIDADE DOCENTE NO CONTEXTO DOS CURSOS DE DIREITO



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Transcrição:

PROFISSIONALIDADE DOCENTE NO CONTEXTO DOS CURSOS DE DIREITO Jozimeire Angélica Vieira da Silva Doutoranda do PPG em Educação: Currículo da PUC/SP Membro do Grupo de Pesquisa Formação de Professores e Cotidiano Escolar Bolsista CAPES jozisilva@ig.com.br Dra. Marina Graziela Feldmann Professora do PPG em Educação: Currículo da PUC/SP Líder do Grupo de Pesquisa Formação de Professores e Cotidiano Escolar Orientadora da Pesquisa feldmnn@uol.com.br Eixo Temático 3: Pesquisa, Formação de Professores e Trabalho Docente Categoria: Pôster Resumo A Pesquisa em andamento, Profissionalidade Docente no Contexto dos Cursos de Direito, é uma investigação sobre os modos de atuação dos docentes nos cursos de direito de uma IES Pública do ABC Paulista. Neste estudo investigaremos o fazer docente no cotidiano de professores que não tiveram formação específica para o exercício do magistério no Ensino Superior. Não há pretensão de abarcar a totalidade e complexidade do dia a dia universitário, em específico, do Curso de Pós-Graduação desta Faculdade, mas sim compreender como um profissional que não recebeu formação específica para o exercício do magistério superior ministra suas aulas e no que se fundamenta para promover a aprendizagem de sua profissionalidade. Os sujeitos da pesquisa serão selecionados dentre os docentes que lecionam nesta Instituição. No foco deste estudo de caráter qualitativo, busca-se aporte teórico a partir dos autores que abordam as temáticas: Formação de Professores (Nóvoa, 2010); Profissão Docente (Sacristán,2000); Formação Docente na Contemporaneidade (Feldmann,2009;Nóvoa,2002); Profissionalização e Profissionalidade (Contreras,2002; Tardiff,2010). Palavras-chave: Profissionalidade docente; Formação de professores. Ensino no curso de Direito

1. Introdução O presente texto apresenta considerações parciais relacionadas à pesquisa de doutorado, em andamento, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação/Currículo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na linha de pesquisa Formação de Educadores. O interesse por esta temática surgiu há algum tempo, pois leciono a disciplina de Metodologia do Ensino, da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu, sendo minha maior questão a prática docente daqueles que lecionam nos cursos de direito sem ter formação didática para isso, que exercem suas funções, pautados na profissão jurídica em que atuam no cotidiano. Ao trabalhar metodologias de ensino e propor estratégias para contribuir com a formação docente de meus alunos, escuto que durante a graduação em direito, tiveram aulas extremamente expositivas e com pouco espaço para o intercâmbio de informações, trocas de saberes, emissão de opiniões. Imperava em muitas salas de aula destes cursos a educação bancária, que no dizer de Freire (1983), uma educação de domesticação e que precisa, de acordo com Oliveira (2009), romper com a forma depositária de conhecimento e eleger o aluno como sujeito ativo do processo de aprendizagem. Alguns alunos declararam que havia pouco estímulo para o desenvolvimento da capacidade crítica e que também predominavam, por parte do corpo discente, uma postura passiva, numa reverência silenciosa ao saber do mestre. Em minhas aulas, quando refletimos sobre as estratégias para ensinar e aprender, sobre a disposição que o professor precisa ter para aperfeiçoar o seu fazer, os alunos dizem que na prática isso quase não acontece, pois percebem que a maioria dos seus professores não prepara a aula e confia no saber técnico que possui sobre o assunto, sendo a didática, aparentemente objeto de segunda importância. Ressaltamos que nas últimas décadas o Ensino Jurídico tem sido alvo de várias críticas, principalmente pelo número reduzido de bacharéis aprovados anualmente no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), exigência legal para o exercício da advocacia no Brasil. Muitas são as justificativas e discussões em torno desta problemática, entre elas, a multiplicação no número de faculdades que promovem este curso e a outra, que está intimamente relacionada a este estudo, o ensino desenvolvido pelos professores nas diversas instituições. A pesquisa propõe historicizar a prática do ensino jurídico dos professores investigados e refletir sobre a natureza dos modelos do fazer docente do professor dos cursos de direito, e de como se constituem professores.

2. Objetos de estudo da Pesquisa Os professores, objetos de estudo desta pesquisa, pertencem a uma autarquia municipal que recebeu todos os três selos de qualidade OAB Recomenda, emitidos em 2001, 2003 e 2007 pela Ordem dos Advogados do Brasil. Oferece cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu. Foi criada em outubro de 1964 e seus funcionários, professores e auxiliares administrativos são servidores públicos municipais e ingressam nos quadros respectivos por meio de concursos públicos, ressalvadas as exceções legais. A Instituição não possui fins lucrativos. A anuidade cobrada dos alunos uma das menores de São Paulo garante sua autonomia financeira. A condição de faculdade isolada (não vinculada a uma universidade) favorece o estabelecimento de laços estreitos entre todos os membros da Comunidade Acadêmica empenhados em aperfeiçoar o ensino do Direito. Está localizada numa região que já foi o coração industrial do País, principalmente no setor automotivo. Hoje, o Grande ABC apresenta crescimento substancial nos setores do comércio e de serviços. A região também foi palco de muitos acontecimentos políticos que marcaram a História do País, como o surgimento do movimento sindical combativo nos anos 80, de partidos políticos de oposição ao regime militar e do movimento pelas eleições diretas para Presidente da República. Foi nesta Instituição que esta pesquisadora graduou-se em Direito em 1989 e a partir de 2005 tornou-se professora dos cursos de pós-graduação e no período de 2009 a 2012, coordenadora de pós-graduação. Ao atuar como professora do módulo Metodologia do Ensino Superior, que compõe as horas necessárias para a obtenção do título de especialista nesta Instituição, e que tem como um dos objetivos contribuir com a formação didática daqueles que pretendem lecionar, procuro ter como um dos pressupostos, tal como destacaram Maia; Schebel & Urban, (2009, p.14) a questão de que é necessário pensar a didática para além de uma simples renovação nas formas de ensinar e aprender. Esta escolha epistemológica, entre outras, nos encaminha a algumas reflexões, tais como: o bacharel desta área, confinado no campo formal do ensino jurídico, sem uma formação didática, depois de formado, reúne condições de atuar como professor e interpretar as ações necessárias para um ensino significativo? Importante salientar um dado que para esta pesquisa é relevante: na década de 90, por meio da Portaria n.1886/94 a formação do docente na área jurídica teve destaque, o que propiciou reflexões e debates sobre o assunto. Dez anos depois, a Resolução n.09/04, do MEC, revogou esta Portaria e estabeleceu Diretrizes

Curriculares do Ensino Jurídico, mantendo-se determinações da legislação anterior, mas que limitou a questão da formação docente a necessidade da titulação acadêmica de mestre ou doutor, como requisitos fundantes ao exercício da docência. Ao estudarmos esta legislação percebemos que esta alteração não avançou no que diz respeito à relevância do saber pedagógico para o exercício da docência. Nesta Instituição em que os professores objetos de estudo desta pesquisa atuam, predomina o saber técnico, o status e sucesso do profissional que assume o cargo de professor após conseguir ser aprovado em concurso público, inclusive realizando a prova didática, que consiste em dar uma aula sobre o ponto sorteado demonstrando saber técnico ao expor o conteúdo e na apresentação dos documentos que comprovam os títulos que possui relacionados à carreira jurídica. Ao nos defrontarmos com este quadro, analisar a prática e posteriormente discuti-la criticamente e amplamente, numa perspectiva teórica que articule as possibilidades de aperfeiçoamento do ensino superior do direito, é questão fundamental para redimensionar e ressignificar a prática docente, contribuindo com a construção do processo de profissionalidade. Em estudos a partir do ano de 2000 Tardiff (2005) e Sacristán (2000) redirecionaram o foco de análise do trabalho docente elencando as características próprias da profissão professor, destacando-a como atividade humana complexa, com características próprias, exercida por pessoas que interagem numa determinada instituição que, por sua vez, também apresenta um quadro particular que engloba elementos singulares, tais como: clientela atendida, formas de realização do trabalho docente e condições em que este é desenvolvido, contextos de trabalho, entre outros. A profissionalidade é entendida por esta pesquisadora como os elementos específicos que singularizam uma profissão da outra, que sem estes não se pode definir um profissional como sendo aquele que exerce uma determinada função. Diante desta compreensão, indagamos como denominar professor aquele que não tem habilitação para tal exercício, mas que o faz por questões relacionadas à cultura de nossas instituições de ensino em muitas das graduações (direito, medicina, engenharia, arquitetura...) por ausência de legislação que determine que somente poderão exercer a função docente os habilitados para tal. Por outro lado, quando estudamos o artigo IV da LDB 9394/96 e refletimos sobre o papel da universidade brasileira, constatamos que o professor é fundamental para dar concretude as propostas pedagógicas. O artigo 66 desta Legislação trata especificamente da formação de professores para a educação superior:

Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de titulo acadêmico. Ao lermos tal dispositivo legal indagamos: os cursos stricto sensu têm conseguido preparar, como menciona a Legislação, para o exercício do magistério superior? Nos momentos em que analisamos a matriz curricular de muitos dos programas de mestrado ou doutorado em direito, verificamos que a abordagem e aprofundamento de estudos são sobre as matérias técnicas. Não há menção de disciplinas didático-pedagógicas e nem preparo para o magistério superior. Pressupõe-se que se o estudante domina o conteúdo técnico ele terá condição de atuar em sala de aula. Em decorrência deste paradigma da área do Direito indagamos: Quais são as concepções aprendidas durante a graduação, que são projetadas na prática a fim de se assumir a docência? Somente técnicas? Técnicas/pedagógicas? Desse modo, o estudo sobre a profissionalidade revela-se fecundo, pois há a intencionalidade de analisar a docência como outro trabalho qualquer de acordo com Tardiff (2000), com ênfase no trabalho no cotidiano (fazer) e na construção dos saberes docentes mediante interação com alunos e colegas de trabalho a fim de contribuir para a valorização de uma profissão que requer saberes específicos e configurações próprias. Uma de nossas hipóteses é de que na medida em que a docência em direito constituir-se como profissionalidade, os resultados do processo ensino aprendizagem docente e discente serão mais satisfatórios, pois como em bom número de profissões de interações humanas, o trabalhador precisa encontrar um equilíbrio entre o que ele pode fazer e o que precisa fazer. (Tardiff, 2000, p.282). Para nós, o equilíbrio entre o poder e o precisar encontra-se entre algumas variáveis, tais como o saber como fazer, que denominamos neste trabalho de saber pedagógico. pesquisa: 3. Objetivos Centrais da Pesquisa Entendendo dessa forma, há que se determinar como objetivos centrais desta

1) Analisar os procedimentos adotados por professores do ensino de Direito; 2) Compreender como ensinam os professores de direito implicados pela prática jurídica; 3) Refletir sobre os procedimentos e concepções da ação docente dos professores investigados. Durante a elaboração desta pesquisa pretendemos contribuir com a reflexão do trabalho docente dos juristas em exercício do Magistério do Ensino Superior, pois as questões das práticas cotidianas em sala de aula podem ser examinadas por quem pesquisa e por quem é o objeto da pesquisa, a fim de se analisar o que se faz e o porquê do que se faz (sentidos do fazer) e os caminhos da aprendizagem docente em pleno exercício da docência- a profissionalidade. Ainda, investigaremos o que estes docentes compreendem como saberes necessários à prática pedagógica e a atuação no contexto universitário. No pensamento de Sacristán (1998, p.148), os professores são agentes culturais e que a cultura adquirida por estes, assim como suas concepções são reveladas nas suas práticas, assim como os sentidos do seu trabalho junto ao corpo discente e complementa o currículo é uma determinação da ação e da prática, assim como o são as valorizações sobre o que é "cultura apropriada". Então, aquilo que será entendido por cultura será um fator dinâmico na fundamentação das ações na educação, tanto das pessoais como das estratégias para dirigir os complexos sistemas educativos. 4. Procedimentos Metodológicos O estudo será realizado a partir dos pressupostos da dimensão qualitativa, envolvendo análise documental e investigação reflexiva por meio de procedimentos de observação, de coleta de dados, de registros de fatos, de entrevistas, depoimentos, questionários, leitura de bibliografia científica sobre o assunto a ser focalizado; e assistência a filmes e vídeos, que abordem o ensino jurídico. Outro instrumento a ser utilizado será o Diário de Campo, que servirá como registro das observações das aulas, no qual descreverei impressões, observações e informações sobre os fazeres dos professores do curso de direito, objeto desta investigação, trazendo a cena situações captadas do cotidiano para serem

estudadas e analisadas a fim de repensarmos o trabalho docente, tal como afirma Marli André (1997, p.25) situações do dia a dia que não são exatamente as que o professor vivencia, embora se assemelhem muito a elas, este tipo de estudo pode favorecer um olhar mais crítico e menos preconcebido sobre o trabalho docente. E como se o professor estivesse olhando para um espelho. Onde a imagem não fosse a sua, mas a lembrasse muito aproximadamente. A análise de resultados será expressa pela técnica de descrição e interpretação dos dados para mapear como os professores de direito desta pósgraduação constroem saberes docentes. A análise dos dados consistirá na tabulação e exame das informações coletadas, buscando compreender, esclarecer e refletir sobre o saber e fazer docente do professor de direito. Poderão ser utilizados gráficos e tabelas para apresentação das informações adquiridas. A pesquisa terá como base de interpretação, o arcabouço teórico contido na bibliografia escolhida e naquelas que forem sugeridas e/ou indicadas durante o doutorado. 5. Considerações Parciais Compreendemos a docência conforme destacou Feldmann (2009) como profissão de interações humanas que objetiva o aperfeiçoamento da relação entre sujeitos aprendentes. Até o momento observamos, tanto como professora de cursos de pósgraduação em direito, como também enquanto exercíamos o cargo de coordenadora de pós-graduação e escutávamos os alunos em sala de aula ou em momentos de atendimento, que o ensino do direito ainda apresenta uma postura reprodutora de conhecimento. Nesta Instituição onde trabalham os professores, sujeitos desta pesquisa, ao término de cada módulo, aplica-se um questionário aos alunos a fim de avaliar os cursos. Uma das questões a serem respondidas diz respeito à didática dos professores e metodologia utilizada. Os resultados, após dados coletados e analisados, apontam para a reprodução do conhecimento e aulas denominadas pelos alunos palestras. Há queixas sobre: 1) a falta de preparo das aulas; 2) a descontinuidade dos conteúdos abordados; 3) a

metodologia empregada; 4) a inacessibilidade ao professor que mantém a postura de dono do saber ; 5) ausência de diálogo; 6) precariedade na interação professor e aluno. Diante destas constatações há necessidade de: 1) investigarmos como os docentes se constituem e estão professores; 2) motivos de suas escolhas em relação ao exercício do magistério superior; 3) como preparam suas aulas; 4) que trocas reais realizam entre seus pares e com seus alunos; 5) se há participação em cursos de formação contínua; 6) se esta formação é relevante para eles que exercem a docência pautados essencialmente no saber técnico. Não queremos afirmar que todo professor de direito não tem condição de exercer a docência, pois conhecemos juristas que ministram aulas instigantes baseados no saber técnico. Por outro lado, não podemos negar a importância fundamental da profissionalidade docente construída ao longo da carreira e as contribuições didático-pedagógicas para a formação do professor. Seguindo tais entendimentos, desejamos contribuir para os questionamentos e as críticas para desentocar pensamentos e ensaiar mudanças, como afirma Veiga Neto (2012, p.2) ao citar Foucault, pois entendemos que ações e pensamentos entocados são resistentes, uma vez que são caracterizados pela segurança do agir e do pensar, na concepção de que se faz algo por crença de que dá certo, que funciona, sem questionar-se muitas vezes certo para quem e em qual contexto. 6. Referências Bibliográficas ANDRÉ, Marli Eliza D. A. & OLIVEIRA, Maria Rita N. S.(orgs). Alternativas no Ensino de Didática. São Paulo. Papirus,1997. FELDMANN, Marina Graziela (org.). Formação de Professores e escola na Contemporaneidade. São Paulo. Editora SENAC, 2009. FERREIRA SOBRINHO, J.W. Metodologia do ensino Jurídico e Avaliação em Direito. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança; tradução de Moacir Gadotti e Lílian Lopes Martin. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes Instáveis em educação. Capítulo 4 (Tradução de Beatriz Affonso Neves). Porto Alegre. Artes Médicas. 1999. MAIA, Christiane Martinatti; SCHEBEL, Maria Fanni & URBAN, Ana Claudia. Didática: Organização do Trabalho Pedagógico. Curitiba. IESDE Brasil S. A, 2009.

OLIVEIRA, Stênio Ribeiro de. O Ensino Jurídico no Brasil: perspectivas, in Consilium-Revista Eletrônica de Direito, Brasília n.3, v.1 jan/abr de 2009. TARDIFF, M. Trabalho Docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis. Editora Vozes, 2005. VEIGA NETO, Alfredo. Currículo: Um desvio à direita ou Delírios Avaliatórios. Texto apresentado e discutido no X Colóquio sobre questões Curriculares e VI Colóquio Luso-Brasileiro de Currículo, no dia 4 de setembro de 2012 na UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil.