CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA NO BRASIL



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Transcrição:

CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA NO BRASIL Elisa R. Guirardi 1, Friedhilde M. K. Manolescu 2 1;2 Universidade do Vale do Paraíba, Brasil/Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento, Curso de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional, Av. Shishima Hifumi, 2911 Urbanova CEP 12.244-000 SJCampos SP Tel/fax: (0xx12) 3947-1000 elisa.guirardi@hotmail.com, frida@univap.br Resumo- A criminalidade tem se agravado dia após dia no Brasil, os estudos sobre violência e crime no país ganharam fôlego a partir dos anos 70 e, desde então, sofisticaram o debate sobre os significados que tais conceitos têm assumido na sociedade. Nos últimos 30 anos, os conceitos passaram a comportar múltiplas interpretações e, por conseguinte, impuseram um desafio complementar àqueles que produzem estatísticas e indicadores sociais e, em especial, aos que têm como atividade profissional consolidar e/ou descrever tendências e movimentos da criminalidade, sejam institutos de pesquisa, instituições nacionais e/ou regionais de estatísticas ou órgãos governamentais. Neste sentido, este artigo teve por objetivo verificar a criminalidade e suas causas, considerando a opinião dos diversos autores quanto aos estudos como forma de criminalidade e violência no Brasil. A análise dos dados obtidos no presente artigo permitiu observar que as causas e os efeitos da violência e da criminalidade no Brasil são muitas, pois trata de um tema amplo e complexo, afetando drasticamente a vida dos cidadãos pela imposição de fortes restrições econômicas e sociais, além de causar uma sensação de medo e insegurança. Palavras-chave: criminalidade, violência, variáveis econômicas e sociais. Área do Conhecimento: Planejamento Urbano e Regional Introdução Vivenciamos um mundo marcado por várias formas de violência, porém, defini-la é uma tarefa complicada. Observamos no processo civilizatório, muitos tipos e formas de violências que serviram (e servem) de justificativa para a libertação (ou dominação) dos povos. Por ser o termo violência amplo e complexo, existem algumas definições, como a adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (2002) onde essa diz que a violência é [...] o uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Atualmente, no tocante a criminalidade, pesquisas de opinião publica têm revelado que a crescente criminalidade é uma das maiores preocupações da sociedade brasileira. Sua investigação econômica surgiu nos Estados Unidos com Fleisher (1963, 1966); Smigel- Leibowitz (1965) e Ehrlich (1967) no final da década de 60. Foi, entretanto, com Becker (1968) e Ehrlich (1973) que a investigação econômica do crime ganhou um arcabouço teórico. O envolvimento de economistas na investigação econômica do crime, a partir de então, entre os quais se destaca Levitt, Medalha Jonh Bates Clark, a fim de melhor entende-lo para delinear e propor políticas públicas, que possam contribuir, para a prevenção e combate da criminalidade cada vez mais comum. Inegavelmente, a hipótese de que as condições econômicas afetam a criminalidade é bastante plausível, o que conduz aos economistas a serem afetos a mais esta questão. Segundo Gutierrez (2004) não tem sido fácil evidenciar o verdadeiro canal pelo qual algumas dessas variáveis promovem o crime, uma vez que ainda não ha um consenso para o efeito da maioria delas. Considerando que possui no Brasil, uma forte tradição no estudo da criminalidade sob a ótica da sociologia, da antropologia e da criminologia, o presente artigo teve por objetivo verificar as causas e os efeitos da violência e da criminalidade no Brasil. Metodologia Este artigo utilizou de pesquisa quantitativa, de caráter exploratório, permitindo através de pesquisas comparativas de diversos trabalhos voltados para o tema da criminalidade verificar as causas e os efeitos da violência e da criminalidade no Brasil. O estudo foi desenvolvido de março a julho de 2009. Os dados obtidos a partir das pesquisas realizadas permitiram verificar que as causas e os 1

efeitos da violência e da criminalidade no Brasil são muitas, visto que se trata de um tema amplo e complexo, afetando drasticamente a vida dos cidadãos pela imposição de fortes restrições econômicas e sociais, além de causar uma sensação de medo e insegurança. Resultados A análise dos dados obtidos no presente estudo permitiu observar que a violência, para a OMS se converteu num dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo. No ano de 2000, a cifra, de 850 mil suicídios, é particularmente trágica e preocupante, sobretudo por causa dos conseqüentes fenômenos de contágio. Trata-se de um problema mundial cada vez mais grave. Um crescente número de pessoas não quer mais viver: perderam o significado da vida, seu sentido de segurança e seu sentido de integração com a sociedade. São, definitivamente, pessoas que cultivam a raiva e o ódio pela vida e, para elas, o suicídio se converte numa forma de vingança, contra si mesmos e contra a sociedade (NARVÁEZ, 2004). Os dados apontam que a grande maioria de vítimas é de jovens, na faixa etária entre 14 e 25 anos, negros, do sexo masculino e moradores em áreas que apresentam indicadores de grande vulnerabilidade social. Em 2000, segundo o Banco de dados do Sistema Único de Saúde, o DataSus, somente a região sudeste respondeu por quase 60% dos homicídios no Brasil. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória, capitais dos estados dessa região, apresentaram, durante a década passada, taxas de homicídios semelhantes às de países onde existe guerra civil, como a Colômbia. Segundo estudo realizado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (Senasp), divulgado no final de 2004, analisa a ocorrência dos homicídios entre 1998 e 2002, também utilizando os dados do sistema DataSus/Ministério da Saúde. O relatório parte do princípio que a dinâmica itinerante da criminalidade impõe o desafio de que os governos devem desenvolver políticas de segurança pública que não selecionem o seu público alvo em função do limite geográfico imposto pelas áreas de municípios ou estados, dado que diversos fatores determinantes dos eventos criminais são dispersos e itinerantes, ultrapassando as fronteiras estabelecidas pelos limites legais entre as unidades geográficas. Os técnicos da SenaspM desse modo, optaram em ter como público alvo das políticas de segurança pública para a confecção do trabalho as regiões metropolitanas. O relatório investiga e estabelece as relações existentes nas regiões metropolitanas entre o perfil dos eventos criminais e suas características urbanas e populacionais. Um estudo que analisou as 26 Regiões Metropolitanas (RMs) brasileiras, especificando a análise para onze dessas regiões: Recife, Maceió, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, Baixada Santista, Campinas, São Paulo, Porto Alegre e Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno do Distrito Federal (Ride-DF). A seleção baseou-se em três critérios: maior participação percentual no total do número de vítimas de homicídios registradas pelo Ministério da Saúde, entre 1998 e 2002; taxas de vítimas de homicídios registradas por 100 mil habitantes com valores mais significativos em 2002 e crescimentos percentuais das taxas de vítimas de homicídios registrados por 100 mil habitantes cujos valores mostraram-se significativos. Observou-se nas RMs analisadas, um número aproximado de 30 mil vítimas anuais de homicídio entre 1998 e 2002, sendo que 21 mil foram mortas por armas de fogo. Um aumento de 28,4%. No período analisado, o aumento do número de vítimas de homicídio foi da ordem de 9,4%. Somente duas dessas regiões concentraram cerca de 60% das vítimas (São Paulo e Rio de Janeiro). A média da taxa de vítimas de homicídio por 100 mil habitantes entre as regiões metropolitanas foi de 46,7 por 100 mil habitantes. Valor esse que está bem acima da média da taxa nacional, que foi de 28,6 vítimas por 100 mil habitantes. Ou seja, a incidência de homicídios nas regiões metropolitanas é quase duas vezes maior que a incidência nacional. A média das taxas anuais de vítimas de homicídios causados por armas de fogo por 100 mil habitantes entre as regiões metropolitanas, durante o período estudado, foi de 31,4 por 100 mil habitantes. Esse valor está acima da média das taxas anuais nacionais, que foi de 19,2 vítimas por 100 mil habitantes. Diversos estudos produzidos no Brasil têm apontado que os homicídios estão concentrados nas áreas onde há maior vulnerabilidade social. Entre outros, os textos de Filho&Souza (2003) que analisam o crescimento dos homicídios na cidade de Belo Horizonte a partir de 1998, e Cardia (2004), que trata do papel do mercado de trabalho como fonte de socialização dos jovens e as relações entre o aumento do desemprego e o recrudescimento de certas modalidades de crimes. O Centro de Estudos de Criminalidades e Segurança Pública (CRISP), em seus estudos aponta que as favelas com alta concentração espacial de homicídios associados a ela possuem vários indicadores de bem-estar social e de qualidade de vida ruins. Assim, o acabamento das residências nessas regiões é quase oito vezes inferior ao das outras regiões da cidade e o número médio de anos de estudo é de três anos a menos (5,53 contra 8,51). 2

Segundo Filho&Souza (2004) as populações, nessas regiões, são mais jovens, com idade média de 25 anos de idade, em contraste com os 29 anos da média da cidade. A taxa de ocupação no mercado formal é maior em outras regiões da cidade do que nas de elevado número de homicídios. Além disso, as crianças morrem em maior proporção nessas regiões, há maior número de analfabetos, o índice de infra-estrutura urbana é significativamente mais deficiente (cerca de cinco vezes inferior) e, de maneira geral, o índice de proteção social é cerca de um terço das outras regiões da cidade. De acordo com Johnson (1990) para muitos jovens desses aglomerados urbanos das periferias das grandes cidades é fatal a entrada no tráfico de drogas. O estudo feito pelo CRISP aponta, também, que diversas formas de associação entre crimes predatórios e drogas têm sido estudadas na literatura. São comuns tópicos como afinidade entre o uso de drogas e a propensão para cometer crimes, formas de financiamento da dependência, crises de abstinência, formas de resolução de conflitos extralegais e necessidade de armas caras para tais fins. Cardia (2004) citando estudos de Crutchifield e Pitchford (1997) mostra a relação entre emprego e desemprego e a prática de crimes violentos e contra a propriedade. A perda dos empregos não só empobrece as famílias, mas pode afetar a estrutura delas e, deste modo, o relacionamento dos jovens com os pais. Esta cadeia de eventos pode ter impacto sobre o desempenho dos jovens na escola, desempenho que talvez seja uma das poucas saídas, ainda que não totalmente segura, deste círculo vicioso de pobreza e desesperança. Segundo Silva (2004) pesquisas buscam verificar a relação entre os indicadores de desordem e crime nas grandes cidades. Apontam, algumas dessas, para a importância de considerar a dimensão de desordem como causa dos elevados índices de criminalidade. Isto é, em regiões socialmente degradadas, existem os ingredientes necessários à ocorrência de crimes. As pesquisas, de outro lado têm mostrado que os níveis de desordem na vizinhança estão altamente relacionados a taxas de crimes, medo de crime e crença de que a criminalidade é um problema na vizinhança. Além disso, desordem e crime seriam explicados por um terceiro conjunto de fatores característicos da vizinhança, como pobreza concentrada, instabilidade residencial e heterogeneidade étnica. Becker em seu modelo teórico sugere várias implicações: quando os salários são baixos, o desemprego é alto e a probabilidade de prisão é pequena, o custo de oportunidade de entrada no mercado de crimes diminui. Condições estas, num suposto mercado de crimes, que aumentam a oferta de criminosos potenciais. Por outro lado, quando a tolerância social com o crime é reduzida e o Estado é eficiente na prisão e punição dos criminosos, tem-se a redução da oferta de criminosos. A análise dos dados obtidos no presente estudo permitiu também observar que um dos fatores que pode potencializar a criminalidade é o tamanho da população residente. Com o intuito de testar essa hipótese. Oliveira (2005) utilizou dados longitudinais de todas as cidades brasileiras. Os resultados sustentam a hipótese de que o tamanho das cidades é um dos determinantes das taxas de crimes, que exerce especificadamente um efeito positivo, no sentido de que quanto maior a população, maiores serão as taxas de crimes. É válido ressaltar que, uma vez que se considerou a taxa de homicídio por cem mil habitantes como variável dependente, já se fez um tipo de controle baseado no tamanho da população das cidades. Veja nos mapas 1 e 2 Distritos do Município de São Paulo. Vulnerabilidade Juvenil nos Distritos do Município de São Paulo Fonte: Fundação Seade Mapa 1. Grupo de Vulnerabilidade Juvenil No mapa 1, as regiões mais vermelhas são áreas onde a juventude está mais exposta ao crime e à violência. 3

Condição sócio-econômica nos Distritos do Município de São Paulo Mapa 2. Condição Sócio Econômica No mapa 2, as áreas mais claras representam os subdistritos com menor poder aquisitivo. A coincidência, mapas 1 e 2 não é o acaso. Os resultados de Araujo Junior; Fajnzylber (2001) sugerem que o ambiente econômico é parcialmente culpado pela criminalidade observada no Brasil no período entre 1981 e 1996 e que, em alguma medida, o efeito das variáveis econômicas é diferenciado dependendo da faixa etária considerada. Em particular, para as pessoas mais jovens algumas relações são mais fortes, o que sugere que uma atenção diferenciada seja dada aos jovens em programas desenhados para a redução da criminalidade, política já proposta por Andrade e Lisboa (2000). Os estudos mostram ainda, de forma robusta, que um ano de aumento na escolaridade da população produz um aumento de 10% no crescimento econômico. Revelam, também, que cada ano de acréscimo na escolaridade dos trabalhadores aumenta a produtividade geral média da economia em 2,8%. Hipoteticamente, um país com uma taxa de matrícula média no ensino secundário 50% maior do que outro país cresceria 1,5 pontos percentuais a mais. Isso representa, em 25 anos, um salto de 45% no Produto Interno Bruto. Discussão Observa-se aumento significativo nos indicadores de outras modalidades de crime nas últimas décadas, em todo o país, mas presenciamos um vertiginoso aumento da criminalidade violenta, principalmente nas maiores cidades brasileiras. É assustador o número de homicídios, responsáveis por ceifar a vida de mais de 40 mil pessoas por ano (OMS 2000; NARVÁEZ, 2004). Segundo os pesquisadores da SENASP, é fundamental para o planejamento de uma política de segurança pública, no Brasil, a elaboração de um diagnóstico que busque analisar os padrões da incidência dos homicídios entre as regiões metropolitanas brasileiras, enfatizando a relação entre estes padrões e as características populacionais e urbanas destas regiões. Assim, acabaram por explicitar o necessário investimento em estudos, tecnologia e desenvolvimento de estratégias eficazes e modernas para se fazer frente ao recrudescimento da criminalidade violenta no Brasil. Os estudos em geral encontraram evidências a favor da hipótese de que as taxas de crimes estão sujeitas aos efeitos de inércia (ARAUJO JUNIOR; FAJNZYLBER, 2001), (ANDRADE; LISBOA, 2000), (GUTIERREZ; KUME 2004) e (ALMEIDA, 2005). Uma justificativa para a ocorrência de inércia é que, por hipótese, semelhantemente ao caso de atividades legais, há uma especialização da atividade criminosa implicando aumentos de produtividade também em atividades ilegais. Existe ainda o fato de que há maiores incentivos a entrada no crime devido a falta de solução dos crimes e conseqüente impunidade dos culpados. Nesse sentido, parte da criminalidade atual é transferida para o futuro, o que torna mais difícil o seu combate, ocasionando a necessidade de se constituírem políticas de segurança pública de longo prazo para a prevenção e combate a criminalidade. Os resultados sugerem que a taxa de desemprego, a urbanização e a desigualdade de renda exercem inequivocamente efeitos positivos sobre a taxa de homicídios. Quando se procura explicar a incidência diferenciada da criminalidade nas cidades, onde ocorre a maior parte dos crimes, deve-se levar em conta a presença de fatores exógenos e endógenos. Entre os fatores exógenos, podemos citar: o grau de aversão ao risco; a existência de probabilidades de punição diferenciadas; e os valores dos indivíduos dados pelo histórico de relacionamento e formação familiar. Além disso, deve-se mencionar ainda que a oferta de empregos, o nível de renda, o acesso e a qualidade da educação, bem como a dimensão do mercado informal nas cida- 4

des são, em larga medida, determinados por políticas nacionais. Entre os fatores endógenos estão as características das cidades que afetam os custos do crime. Por exemplo, a estrutura e dinâmica econômicas, o grau de exclusão social (existência de grandes concentrações de moradores em situação de pobreza), a proximidade entre ricos e pobres e, ainda, a rede de organizações sociais atuantes na comunidade (instituições públicas, clubes, igrejas etc.). Nos locais de grande vulnerabilidade social, observa-se grande número de jovens com baixa renda e baixos índices de emprego, ou seja, locais onde há uma desordem social evidente, uma superposição de carências e uma ausência sistemática de políticas públicas, principalmente de ações de promoção da cidadania há o aumento de certas modalidades de crime (FILHO&SOUZA, 2003) e (CARDIA, 2004). Também o crescimento da economia é influenciado pela educação através do aumento da produtividade individual dos trabalhadores e da elevação dos patamares do conhecimento e da pesquisa científica e tecnológica. Tais conclusões são compatíveis com a teoria do Capital Humano, segundo a qual, o crescimento econômico não pode ser visto somente como uma função dos fatores de produção tradicionais - terra, capital e trabalho, devendo incorporar também o capital consubstanciado na educação e habilidades dos indivíduos. A educação relaciona-se, assim, com a oferta e a demanda de mão-de-obra, a estrutura salarial e a geração de condições para o crescimento econômico sustentado. Nessa medida, a educação é uma variável importante na configuração do custo e benefício dos crimes, além de estar relacionada com a habilidade do trabalhador e, portanto, com sua capacidade de competir no mercado de trabalho. E, finalmente, a Unidade Familiar procura medir o grau de organização social e de supervisão sobre os integrantes jovens de determinada comunidade. Diante da complexidade que envolve a violência faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas quantitativas e qualitativas confiáveis, para a partir delas ser possível a formação de uma política de segurança pública eficaz, passo fundamental para iniciar a melhoria da segurança para a população. Conclusão O presente artigo através dos estudos de diversos autores voltados ao tema observou que as causas e os efeitos da violência e criminalidade no Brasil são muitas, pois o seu aumento trata de um fenômeno social complexo, do qual ainda não se detem conhecimento suficiente para identificar com precisão seus fatores. Desde os anos 70, o discurso predominante, era de que os verdadeiros problemas e questões seriam evidentemente a miséria crescente, o desemprego, a falta de serviços públicos eficientes, em especial no setor da saúde e da educação, e a ausência de políticas sociais, todos entendidos como violência perpetrada pelo Estado contra a população necessitada. Portanto as causas e os efeitos da violência e da criminalidade abrange desde a desordem social, pobreza concentrada como salário baixo e desemprego alto, instabilidades residenciais, heterogeneidade étnica, tamanho da população residente, até a qualidade da educação e a unidade familiar. Trata pois de um tema amplo e complexo, afetando drasticamente a vida dos cidadãos pela imposição de fortes restrições econômicas e sociais, além de causar uma sensação de medo e insegurança. Referência - ANDRADE, M. V. & Lisboa, M. B. Desesperança de vida: Homicídio em Minas Gerais. In Henriques, R., editor, Desigualdade e Pobreza no Brasil. IPEA, Rio de Janeiro, 2000. - BECKER, G. S. Crime and Punishment: An Economic Approach. Journal of Political Economy 76 (no. 2): 169-217, March/April, l968. - BUONANNO, P. Crime and Labour Market Opportunities in Italy, 1993-2002. - CÁRDIA, NANCY & SCHIFFER, SUELI. Violência e desigualdade social, Ciência e Cultura, vol.54, n 1, p.25-31, Junho/Set. 2002. - FAJNZYLBER, Pablo; ARAUJO JR, Ary; Violência e Criminalidade, In; Microeconomia e Sociedade no Brasil. 1ª ed. Rio de Janeiro - RJ: Contra Capa/FGV, v.1, p. 333-394, 2001. - FLEISHER, B. M. (1963). The e_ect of unemployment on juvenile delinquency. The Journal of Political Economy, 71(6):543{555. - FLEISHER, B. M. (1966). The e_ect of income on delinquency. The American Economic Review, 61(1):118{137. - Fundação Seade. Sistema de Estatísticas Vitais 2000. - GOLDSTEIN, P.J. (1985) The Drug-Violence Nexus: A Tri-partite Conceptual Framework. Journal of Drug Issues Vol. 5: pp. 493-506. 5

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